[ANPPOM-Lista] [Educação Musical] Ensino da performance nas Licenciaturas em Música

luciano cesar lucianocesar78 em yahoo.com.br
Ter Out 11 10:53:03 BRT 2011


Cara Simone, 

   Acredito que haja uma distinção (entre educadores e performers), mas no foco do trabalho, no objeto, na finalidade, e não na pessoa que exerce a atividade. Oscilamos entre eles. Um jovem que seguirá carreira de concursos e concertos devido a contingências de formação precoce, incentivo socio-familiar, etc., tem diante de si especificidades em relação a finalidades mais abrangente da formação musical como parte essencial da vida. Essas especificidades devem ser tratadas com o cuidado que não nos leve a pensar nos profissionais da performance como representantes do mito da genialidade, mas como trabalhadores como outros quaisquer, com suas ferramentas a conhecer, desenvolver e cultivar. 
  Lidar com essas especificidades não é fácil porque as tais "sandálias da humildade" tem que ser calçadas por nós próprios, na intimidade de nossa reflexão cotidiana. O procedimento educativo que leva a uma liberdade do sujeito e não a preservação indesejada do mito do gênio (que é uma mentalidade difícil de se escapar) exige uma avaliação pessoal constante, mas também uma atuação política. Prescrever aqui é impossível, porque mesmo uma aula completamente alucinada por desenvolver habilidades "de técnica avançada" (e bons professores raramente diferenciam técnica de músicalidade, talvez aí esteja parte da questão) pode ser muito mais inclusiva social e intelectualmente do que um método pretensamente construtivista apoiado em uma generalidade que não atinge a ninguém.
   O problema se resolve na elaboração de currículos, na finalidade elencada para as disciplinas, no dia a dia institucional, no embate com chefias e com alunos e deles conosco, ou seja, na coletividade. O principal "pecado" que vejo na pedagogia é admitir que um método possa resolver o problema da interação com o aluno, sendo que nosso objeto é, no mínimo, arte exercida por seres humanos e no máximo, seres humanos exercendo arte. Na performance esse crime é o risco da exclusão, o pensamento de castas e o isolamento característico desse pensamento, que nos trouxe até esta condição miserável de semi-inutilidade social atual da música feita em profundidade. Entre um e outro, como acreditar que não há separação? 
   Creio que esta é uma separação feita e desfeita constantemente por nós mesmos nessa coletividade. Uma auto-compreensão sempre renovada dos professores (seus próprios preconceitos, suas próprias amarras intelectuais e musicais) é que pode levar a um papel construtivo no processo de atar e desatar as pontas entre esses extremos. 
Abraços, 

Luciano Cesar Morais

--- Em ter, 11/10/11, simone braga <moninhabraga em gmail.com> escreveu:

De: simone braga <moninhabraga em gmail.com>
Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] [Educação Musical] Ensino da performance nas Licenciaturas em Música
Para: "luciano cesar" <lucianocesar78 em yahoo.com.br>
Cc: professoresdemusicadobrasil em googlegroups.com, anppom-l em iar.unicamp.br, "Daniel Lemos" <dal_lemos em yahoo.com.br>
Data: Terça-feira, 11 de Outubro de 2011, 8:00

Olá, Daniel e demais colegas!
 
Não querendo polemizar, mas sobre o que diz: "Assim, os Educadores devem ampliar seu enfoque educacional não se restringindo à Educação Básica, pois os instrumentistas necessitam de fato dos conhecimentos pedagógicos para um melhor ensino do instrumento". Muitas vezes, esta restrição dos "educadores" (é engraçado, mas nós acabamos usando terminologias ou conceitos que aumentam a pseudo lacuna entre "educação" e "performance"...não é uma coisa só?) é compartilhada por nós professores de instrumento, alucinados para o desenvolvimento de habilidades para a execução instrumental. 

 
Como vc mesmo diz sobre a falência do "mito do concertista", quais as nossas ações, enquanto professores de instrumento, sobretudo, em cursos de licenciatura, para a articulação entre a formação instrumental e a formação pedagógica? Ou devemos alimentar o mito do concertista?

 
Encerro com suas palavras: "devemos "calçar as sandálias da humildade" e assumir que precisamos uns dos outros. O perfil individualista do músico ainda assombra nossa área, temos que acabar com isso". Acrescentando que nós professores tb devamos repensar sobre as nossas práticas e assumir que somos educadores e nos impor na academia através de trabalhos realizados em parceria.

 
Abs, Simone Braga.
 
Em 9 de outubro de 2011 23:10, luciano cesar <lucianocesar78 em yahoo.com.br> escreveu:





Palestrina, Bach, Leopold Mozart, Beethoven, Liszt, Chopin... Quantos mais temos que citar como exemplos de músicos que exerciam a atividade musical como um conjunto entre composição, performance E ENSINO?


Assino em baixo com o Daniel e com a profa. Rejane Herder. 
Abraços, 

Luciano

--- Em dom, 9/10/11, Daniel Lemos <dal_lemos em yahoo.com.br> escreveu:



De: Daniel Lemos <dal_lemos em yahoo.com.br>
Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] [Educação Musical] Ensino da performance nas Licenciaturas em Música

Para: professoresdemusicadobrasil em googlegroups.com, anppom-l em iar.unicamp.br

Data: Domingo, 9 de Outubro de 2011, 16:42 










Caros Parceiros Musicais,

Gostaria de reforçar algumas questões muito pertinentes colocadas por diversos integrantes das Listas, a citar as mensagens de Bruno Torres, do prof. Jorge Antunes e da profa. Rejane Harder (inclusive citei alguns artigos dela ultimamente, pois possuem excelentes idéias), fundamentais para continuar este diálogo. Em primeiro lugar, gostaria de colocar em xeque a diferenciação entre Performance e Educação Musical, realizada em nossas Instituições por questões históricas. Assim, proponho algumas idéias que possam nos "libertar":


1) Compreender que Educação Musical e Performance são áreas afins. O performer deve assumir que na atualidade - com exceção de alguns poucos como Nelson Freire -  ensinar é fundamental para o exercício da Performance Musical. Por dois motivos:


O primeiro é a necessidade de passar este conhecimento a gerações futuras, pois o Ensino da Performance é fortemente ligado à tradição oral, não por falta de pesquisas como alegam alguns colegas "pesquisadores" da Música (alguns fazem questão de se diferenciar), mas pela incapacidade de nossa atrasada tecnologia em registrar informações cinestésicas e táteis, fundamentais para a transmissão dos conhecimentos na Performance Musical (por exemplo ver Teaching Piano em Groups de Christopher Fisher, cujas idéias são pertinentes a todos os instrumentos). Jamais se aprenderá a tocar um instrumento somente ouvindo gravações e lendo livros; precisamos SIM de professores de Instrumento, que ensinem as informações cinestésicas de acordo com as particularidades fisiológicas de cada aluno.

O segundo seria a própria questão de sobrevivência: o "mito do concertista" não é - nem nunca foi - um perfil musical viável e ativo na sociedade. É uma lenda; temos na verdade que ser, além de instrumentistas, professores, administradores, educadores e produtores culturais (entre as habilidades necessárias ao instrumentista da atualidade).


2) Do lado "oposto", os educadores devem assumir que a Educação Musical existe sim há 40.000 anos (vide o livro 40.000 Ans de Musique de Jacques Chailley), e que há pelo menos 39.800 anos a Educação Musical se voltou à prática da Performance Musical. Música na Educação Básica é um fenômeno recente, que pela restrita visão de nossas Licenciaturas - temos que assumir isto - tem se ententido que a Educação Musical começa com Dalcroze ou Martenot, passando por Orff, Schafer e Swanwick, entre outros. Em geral, há um esquecimento de que esta área é tão antiga quanto a Performance Musical, e que os primeiros referenciais didáticos da Educação Musical são justamente métodos de ensino do instrumento, em especial para Cravo e Órgão, Flauta, Violono e Violoncelo, desde o surgimento da escrita na sociedade Ocidental, em torno do Século XVI.


3) Por fim, reforço que devemos nos mobilizar politicamente em prol da Música. Os instrumentistas devem ter ciência que a participação em Fóruns Estaduas de Cultura asseguram o exercício democrático da distribuição de capital pelo Estado, e se não nos fizermos presentes, o dinheiro vai para outras áreas. Assim, os Educadores devem ampliar seu enfoque educacional não se restringindo à Educação Básica, pois os instrumentistas necessitam de fato dos conhecimentos pedagógicos para um melhor ensino do instrumento. Creio que todos devemos "calçar as sandálias da humildade" e assumir que precisamos uns dos outros. O perfil individualista do músico ainda assombra nossa área, temos que acabar com isso. Para as Universidades, devemos pensar Ensino, Pesquisa e Extensão de forma indissociável; a Pesquisa não é mais importante que o Ensino e a Extensão, e vice-versa.


Enfim, prometo não falar mais por um tempo... desculpem-me se incomodei alguém com estas idéias...



Daniel Lemos
Curso de Música/DEART - musica.ufma.br
Grupo de Pesquisa em Ensino da Performance Musical - musica.ufma.br/ensaio

Perfil no academia.edu - ufma.academia.edu/dlemos

Blog Audio Arte - audioarte.blogspot.com

Universidade Federal do Maranhão



--- Em dom, 9/10/11, Rejane Harder <rejane.harder em gmail.com> escreveu:



De: Rejane Harder <rejane.harder em gmail.com>
Assunto: Re: [Educação Musical] Ensino da performance nas Licenciaturas em Música

Para: professoresdemusicadobrasil em googlegroups.com
Data: Domingo, 9 de Outubro de 2011, 13:23




Caro professor Daniel e demais integrantes da lista
Aqui na Universidade Federal de Sergipe defendemos o ensino de instrumento musical por duas razões principais: Como temos provas específicas, todos os alunos que entram já tocam algum instrumento. Estes alunos tem a oportunidade de se aperfeiçoar no seu instrumento e/ou aprender instrumentos diferentes. A segunda razão é a utilidade de os futuros professores sairem do curso com a habilidade mínima de acompanhar seus alunos em sala de aula nas diferentes atividades musicais, bem como, quando possível, ensinar um instrumento musical para os mesmos. No currículo do nosso curso, o aluno cursa 6 semestres de um instrumento harmônico: ele pode optar entre piano ou violão, mas, precisa seguir com o mesmo instrumento até o fim. São também obrigatórios dois semestres de flauta doce e dois semestres de percussão. Também é obrigatória a disciplina "Pedagogia do instrumento". Ainda existem as optativas que são flauta transversal e canto, ou,
 mais semestres de violão ou piano. Temos também como obrigatórias a regência coral e a técnica vocal, ente outras disciplinas. Acreditamos na importância de o egresso do Curso de Licenciatura em Música estar preparado musicalmente o máximo que for possível, além, é claro do preparo pedagógico e experiências de ensino.

Um grande abraço,
Rejane Harder-- 
Prof.ª Dr.ª Rejane Harder
Universidade Federal de Sergipe
Núcleo de Música
(71) 9239-8584 / (79) 9966-8726


-- 
Você está recebendo esta mensagem porque está cadastrado no Grupo Professores de Música do Brasil - Lista de Discussões em Educação Musical.
Para integrar o Grupo, solicite o seu cadastro à Moderação: professoresdemusicadobrasil em GMAIL.com

Para postar mensagens, envie e-mail para professoresdemusicadobrasil em GOOGLEGROUPS.com
Para obter mais informações, acesse: https://groups.google.com/forum/#!forum/professoresdemusicadobrasil


-----Anexo incorporado----- 



________________________________________________
Lista de discussões ANPPOM
http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
________________________________________________

________________________________________________
Lista de discussões ANPPOM
http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l

________________________________________________


-------------- Próxima Parte ----------
Um anexo em HTML foi limpo...
URL: <http://www.listas.unicamp.br/pipermail/anppom-l/attachments/20111011/a8ded2e2/attachment.html>


Mais detalhes sobre a lista de discussão Anppom-L