[ANPPOM-L] artigo: teses

Marcelo Coelho muzikness em gmail.com
Sáb Set 24 17:32:15 BRT 2011


De acordo com o prof. Dr. da FGV de SP Samy Dana, várias universidades americanas (a FGV inclusive) estão digitalizando as suas bibliotecas. Os livros (que serão guardados em locais apropriados) darão espaço a um imenso salão com recursos digitais perfeitamente adaptados para consultas e reuniões. E as teses e dissertações em papel, independente da utilização de ambos os lados da folha? Não será o momento de nos adequarmos ao futuro que já se faz presente, ou deixaremos esta tarefa para a futura geração que já não se identifica com as enormes estantes carregadas de sumos da celulose?

MC

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Em 24/09/2011, às 11:44, Jorge Antunes <antunes em unb.br> escreveu:

> Caros e caras colegas da Anppom:
> 
> Abaixo reproduzo meu novo artigo, que será publicado na revista O Miraculoso e no Correio Braziliense.
> Ele aborda questão da prática acadêmica, que concerne a todos nós.
> Gostaria de receber opiniões sobre a análise e a proposta colocadas no texto.
> Obrigado,
> Jorge Antunes
> 
> As Universidades promovem o desmatamento
> Jorge Antunes
>  
>             Com quantos paus se faz uma canoa? Eta, perguntinha difícil de ser respondida! Mas existe outra pergunta mais difícil ainda: com quantos paus se faz uma resma de papel? Essa pergunta parece um tanto quanto vaga. Sejamos mais objetivos: quantas resmas de papel A4 são fabricadas com uma árvore?
>             Existem outras perguntas, sobre o mesmo assunto, que deveriam ser feitas permanentemente nas Universidades. Uma delas: quantas folhas de papel são gastas anualmente para serem impressas dissertações e teses? Outra: quantas árvores devem ser derrubadas anualmente para que possam ser impressas as dissertações e teses produzidas na Academia? 
>             Enfim, podemos formular a pergunta definitiva: quantas folhas de papel podem ser produzidas de uma árvore? Não é impossível responder essa pergunta. Para respondê-la, seria necessário inicialmente esclarecer qual árvore será derrubada. Será um abeto? Será uma araucária? 
>             No Brasil o papel é feito, às vezes, de pinus eliotti e, menos frequentemente, de pinus taeda. Mas as árvores predominantemente usadas são o eucalipto e o pinheiro.
>             Um pinheiro tem, em média, 30 cm de diâmetro e 18 metros de altura. Cálculos simples nos levam a concluir que um pinheiro nos fornece cerca de 13.346 metros cúbicos de madeira. Outra experiência simples, de pesagem, nos permite verificar que um pinheiro pesa cerca de 646 quilogramas.
> 
>             Mas, como cerca de 50% da árvore são formados de nódulos e de outras substâncias que não servem para fabricar papel, temos que apenas metade de sua madeira pode ser transformada em polpa útil. Isso quer dizer que de um pinheiro podemos produzir cerca de 323 kg de papel.
> 
>             Uma resma de papel A4 pesa, mais ou menos, 2,27 kg. Usando todos os dados podemos concluir que com uma árvore podemos fabricar, aproximadamente, 71.145 folhas de papel.
> 
>             Embora o papel da Universidade, no Brasil, ainda não tenha sido definido claramente, sabemos muito bem que o papel, na Universidade, é um dos insumos mais usados. Evidentemente, uma tese pode ter 600 páginas. Mas isso não é comum. Na prática verificamos que as teses ficam, em média, com cerca de 300 páginas. Os regulamentos e normas das Universidades determinam que as dissertações de Mestrado devem ser impressas com uma tiragem de 11 exemplares e que as teses de Doutorado devem ter tiragem de 15 exemplares.
> 
>             Outra norma acadêmica estabelece que os exemplares a serem encaminhados para a banca examinadora devem ter o texto impresso em um só lado da folha, para que o verso, em branco, possa ser usado pelo examinador para escrever suas observações.
> 
>             Chegamos a um dos busílis das manias acadêmicas. Quando manuseamos uma tese que passou pelas mãos de um membro de alguma banca examinadora, verificamos que pouquíssimas folhas, em seu verso, têm observações manuscritas. Essas anotações poderiam, quase sempre, ocupar uma única folha de papel à parte.
> 
>             Faltam estatísticas quanto à quantidade de dissertações e teses produzidas por ano nas Universidades brasileiras. Aqui mesmo em casa, em nossa UnB, não contamos com relatórios que divulguem a quantidade de trabalhos produzidos por ano. Para se ter uma idéia por alto, seria necessário garimpar cada Departamento, cada Instituto e Faculdade. Mas sabemos que a Faculdade de Comunicação produziu, em 2010, 22 teses e dissertações. No ano de 2010 a Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civil produziu 14 teses. No Departamento de Matemática foram defendidas 12 teses e dissertações. Da Ceppac, em 2010, saíram 11 teses e no Centro de Desenvolvimento Sustentável foram defendidas 10 teses e dissertações.
> 
>             Como a Universidade de Brasília conta com 66 cursos de mestrado e 45 de doutorado, numa projeção feita a grosso modo podemos concluir que em 2010 a UnB produziu mais de mil teses e dissertações.
> 
>             Voltemos à nossa aula de “matemática arborística”. Como exercício para casa, deixamos ao leitor os cálculos finais para descobrirmos quantas árvores a UnB, sozinha, faz com que sejam derrubadas por ano.
> 
>             Uma árvore serve para a fabricação de 71 mil folhas. Com a produção de mil teses, cada uma com 300 folhas e publicada com 13 exemplares, facilmente concluiremos que a UnB provoca a derrubada de 56 árvores por ano.
> 
>             Enfim, deixo aqui a proposta de se empreender uma campanha no sentido de que as Universidades não mais permitam a produção de teses com seus textos impressos em apenas um lado da folha. Que passe a ser obrigatória a apresentação de teses com suas folhas impressas em frente e verso. Metade de nossas árvores seria poupada.
> 
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