[ANPPOM-Lista] giron: villa-lobos tinha dias de tirano

luciano cesar lucianocesar78 em yahoo.com.br
Qui Abr 19 11:53:37 BRT 2012


Prezado Marcus, 

  Sim, temos (todos da lista, supomos) pensado nisso coletivamente, os avanços das teorias interdisciplinares lideradas pela semiótica amparada pela sociologia, história e filosofia são inegáveis. O próprio Silvio Ferraz e o Paulo de Tarso, cujas posições apoio nesse tópico, são pesquisadores reconhecidos em semiótica musical e essa posição de ampliar a visão do que seria o "fato" musical é também deles. Claro que conhecemos essas idéias e não as rejeitamos.
   O caso que está sendo discutido, porém (o artigo de Giron na instigante, instrutiva e erudita revista Época, e peço perdão aqui pela ironia ácida),  é um artigo raso, rasteiro, nivelador e simplificador de uma realidade cultural e social complexa. Em contrapeso a este artigo é que estamos falando de uma necessidade de voltarmo-nos para o objeto sonoro e suas implicações estéticas. Não se trata de negar a realidade social influenciada pela dimensão estética, e sim de equilibrar a balança. A música de Villa-Lobos tem sido pouco ouvida, as idéias poéticas e estéticas pouco conhecidas. Nesse território mais aberto de interação simbólica e social do objeto sonoro o trabalho de Suzana Igayara é bastante esclarecedor. 
   A dimensão estética e poética, no entanto, está a míngua e pede uma maior presença nos meios de comunicação, tanto na forma de comentários escritos, quanto na forma de concertos, recitais, gravações, programas de televisão e divulgação na grande mídia escrita, que está tomada por uma visão simplista, anedótica (exclusivamente anedótica, o que é tão perigoso quanto o exclusivamente técnico que se pretende neutro).

Cordial abraço!

Luciano Morais



--- Em qui, 19/4/12, Marcus S. Wolff <m_swolff em hotmail.com> escreveu:

De: Marcus S. Wolff <m_swolff em hotmail.com>
Assunto: RE: [ANPPOM-Lista] giron: villa-lobos tinha dias de tirano
Para: lucianocesar78 em yahoo.com.br, "etnomusicologia lista" <etnomusicologiabr em yahoogrupos.com.br>, "lista ANPPOM" <anppom-l em iar.unicamp.br>
Data: Quinta-feira, 19 de Abril de 2012, 3:20







 Prezado Luciano,gostaria de lembrá-lo que Jean Molino, já em meados dos anos 70 escrevendo na "Musique en Jeu", percebia que a análise da obra musical e de sua estrutura, isto é, a análise do que chamou de "nível neutro" era algo provisório, pois dependente dos critérios utilizados, podendo ser superada pela introdução de novos critérios ou de novas informações oriundas de outros níveis (poiético e estésico). Aqui poderia se incluir também o anedótico, ao lado de outros signos que carregam informações sobre a criação de uma obra, as reações que causou nos alunos de Villa-Lobos, ou em outros setores da sociedade (intelectuais, políticos, etc).Já em seu artigo intitulado "O Fato Musical e a Semiologia da Música", Molino considerava o "fato musical" como "fato social total", indo muito além da análise do fenômeno sonoro em si mesmo. Sim, devo concordar que a música seja muito mais do que seu uso pelos regimes ditatoriais ou
 os discursos sobre ela, mas não é possível isolar o que chamamos de música sem correr  riscos de cair no etnocentrismo e numa grande alienação em nome de uma suposta autonomia da arte pouco comprovável. Para voltar a Molino, "nao há maior perigo do que o do etnocentrismo que nos conduz a distinguir em toda parta uma música restrita (que corresponde à nossa concepção do fato musical" como sendo o único tipo de música autêntica e uma área secundária, complementar que designamos e rejeitamos chamando-a de interpretação simbólica ou significação - um tipo de apêndice acrescentado à música pura sem mudar seu caráter" (1990, p. 114-115 - cito aqui a tradução para o inglês de 1990, mas o artigo original na "Musique en Jeu" vol. 17 foi publicado em fr. em 1975!). Por outro lado, Jean J. Nattiez, que de certo modo levou adiante as colocações de Molino, explorou a interação entre as 3 dimensões do fato musical, demonstrando
 como o signo musical é um fragmento da experiência humana, observando que "um signo ou coleção de signos, ao qual um complexo infinito de interpretantes (outros signos gerados na mente do percebedor) está ligado pode ser chamado de forma simbólica" (Music and Discourse 1990, pág.4). Não se trata exatamente de uma relação de causa e efeito, mas de uma relação triangular complexa entre o signo (no caso da obra musical), o objeto que representa para um ou vários agentes sociais e os interpretantes que gera na mente de um percebedor ou de um grupo de ouvintes, podendo o processo de semiose constituir uma rede ilimitada. Portanto, seguindo essa abordagem,  a própria avaliação crítica da obra pelo musicólogo seria, nessa abordagem, um interpretante possível e jamais a verdade absoluta, como desejavam os positivistas. Infelizmente nao tenho tempo de resumir toda essa teoria que já desde os anos 70, considerou o entrelaçamento das
 dimensões poiética (da criação musical), com a dimensão  da forma simbólica, de seus traços acessíveis através da experiencia do "percebedor",  com a dimensão estésica na qual se constrói um sentido no curso de um processo de semiose.O diálogo das ciências sociais, especialmente a história e a antropologia com a semiótica e a semiologia tem dado muitos frutos que valeria a pena acompanhar de perto. Mesmo nos congressos da IASPM-AL, conforme nos informa Juan Pablo González (Nueva Musicologia y Música popular Latinoamericana, 2007) essa necessidade de interação e diálogo da musicologia com outras disciplinas sociais e humanas tem gerado uma renovação  que vem rompendo com o isolamento do discurso analítico musicológico que tem passado a dialogar  com os estudos culturais, de gênero, da performance, da nova história, sociologia e antropologia. Bem, só para pensarmos nisso coletivamente. um abraço cordial,Marcus.
 
 
prof. Dr. Marcus Straubel Wolff
Mestre em História Social da Cultura (PUC/RJ)
Doutor em Comunicação e Semiótica (PUC/SP)
Faculdades de  Música e Comunicação
Universidade Candido Mendes, RJ.


Date: Tue, 17 Apr 2012 16:06:26 -0700
From: lucianocesar78 em yahoo.com.br
Subject: Re: [ANPPOM-Lista] giron: villa-lobos tinha dias de tirano
To: ppsalles em usp.br; silvioferrazmello em uol.com.br; anppom-l em iar.unicamp.br; etnomusicologiabr em yahoogrupos.com.br; m_swolff em hotmail.com

Prezado Marcus, 

   Creio que relacionar numa relação causal o projeto musical de Villa-Lobos com as ditaduras, o de Comte com o silenciamento da classe trabalhadora, ou atrocidades do segundo império frances com uma abrangencia no alcance da educação musical é tão falho quanto o pensamento difundido entre a burguesia de que fazer deixa as pessoas melhores, mais pacíficas e tranquilas. Ou seja, invertemos a avaliação do uso da música pelos regimes de poder, mas ficamos na mesma situação de observá-la a partir de seus usos. E a música é muito mais que isso.  
   A classe trabalhadora reinvindicaria mais com mais acesso a cultura e a música faz parte dessa formação ampla que gera cidadãos mais criticos. Para chegar nisso o que é urgente é que se autonomize a música dos mexericos, mesmo que seja
 importantíssimo entender as relações de poder nos seus desenvolvimentos e recepções junto aos Estados. Mas esse assuntotambém é autônomo da musicologia e não pode obnublar a avaliação crítica da obra, da qual se diz ainda muito pouco. Creio que esse ponto, levantado pelo Paulo, Silvio, etc. é ainda crucial. 
   Cordial abraço!

Luciano Morais

--- Em sáb, 14/4/12, Marcus S. Wolff <m_swolff em hotmail.com> escreveu:

De: Marcus S. Wolff <m_swolff em hotmail.com>
Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] giron: villa-lobos tinha dias de tirano
Para: ppsalles em usp.br, silvioferrazmello em uol.com.br, "lista ANPPOM" <anppom-l em iar.unicamp.br>, "etnomusicologia lista" <etnomusicologiabr em yahoogrupos.com.br>
Data: Sábado, 14 de Abril de 2012, 22:10






Interessante a colocação do prof Pedro Paulo. Concordando com ela, sugiro a leitura da tese de doutorado de Jeanne Venzo Clément intitulada Villa-Lobos, éducateur. (Paris, Sorbonne, 1989) repleta de farta documentação, fontes primárias e secundárias, que demonstram o modo como, com o declarado objetivo de "promover a educação do bom gosto, liberando as novas gerações das influências estrangeiras" (1989: 51) e desejando despertar um "verdadeiro espírito cívico de ordem e disciplina" (idem, ibidem), o compositor/educador aproximou-se do interventor João Alberto em São Paulo, logo após a revolução de 30, mostrando a utilidade do seu projeto pedagógico. Aliás a autora não deixa os leitores pouco familiarizados com a história política brasileira esquecerem que "São Paulo foi o teatro de uma luta entre o Partido Democrático e os chefes da revolução", demonstrando a seguir como os cantos orfeônicos serviram aos interesses de
 apaziguamento, vistos pelos novos donos do poder como "intenções cívicas e patrióticas". Para um maior aprofundamento  de como as chamadas "sociedades orfeônicas" sustentaram já na França do Segundo Império (séc. XIX) determinados interesses sociais e políticos nada democráticos sugiro o texto de Jane Fulcher, profa da Syracuse University intitulado "The Orphean Societies: Music for the Workers in Second Empire France" já traduzido magistralmente para nosso idioma pelo prof. Samuel Araújo. Segundo a autora,  A. Comte delineava para o Estado um papel importante na disseminação de uma cultura para os pobres, pois estava convencido de que isso viria a estabelecer uma "verdadeira paz e harmonia social", evitando-se assim as reivindicações e os distúrbios que a classe trabalhadora vinha causando. Destaca-se no projeto estético positivista, a música como a arte mais apropriada para se fazer disponível aos
 trabalhadores, já que podia ser praticada em grandes grupos e aprendia até por analfabetos, fato esse que não passou despercebido pelo maestro Villa-Lobos. Como compreender tal projeto pedagógico sem considerar o contexto político que favoreceu seu desenvolvimento? Como neutralizar um aspecto da criação musical de um compositor, sem pensar nos elos que ligam o compositor a seu contexto, suas opções estético-políticas diante de uma ditadura que veio logo a seguir, seu debate com outros artistas/intelectuais que na mesma época assumiam posturas opostas (como Mário de Andrade) e sem pensar na "recepção" ( na reconstrução dos traços para usar J. Molino) de suas práticas musicais (incluindo neste campo estésico não só as obras como também seu projeto político-pedagógico) ? Bem, após a leitura desses autores, sinto-me incapaz de realizar tal operação de neutralização mas creio que nao seria essa a tarefa de um musicólogo do
 nosso tempo. saudações cordiais a todos,Marcus Wolff.    
 
 
 
prof. Dr. Marcus Straubel Wolff
Mestre em História Social da Cultura (PUC/RJ)
Doutor em Comunicação e Semiótica (PUC/SP)
Faculdades de  Música e Comunicação
Universidade Candido Mendes, campi Friburgo e Rio, RJ.

 


> Date: Fri, 13 Apr 2012 18:16:25 -0300
> From: ppsalles em usp.br
> To: silvioferrazmello em uol.com.br
> CC: anppom-l em iar.unicamp.br; etnomusicologiabr em yahoogrupos.com.br
> Subject: Re: [ANPPOM-Lista] giron: villa-lobos tinha dias de tirano
> 
> Caro Silvio,
> 
> foi um alento ler suas considerações, com as quais concordo  
> plenamente. Acrescentaria apenas que, a  partir do momento em que o  
> Villa propôs e coordenou um projeto de Educação Musical de âmbito  
> nacional, atingindo a milhares de escolas e dezenas de milhares de  
> estudantes, professores e diretores de escolas, suas ações nesse  
> âmbito tomam um vulto considerável, que devem - é claro - ser  
> analisadas não no
 nível da fofoca e de análises superficiais, mas no  
> mesmo nível que sua música merece, sempre levando em conta o contexto  
> histórico e ideológico da época - como você bem apontou - e do Estado  
> Novo e suas implicações.
> 
> Forte abraço, Pedro Paulo Salles
>                USP
> ......................................
> 
> Citando silvioferrazmello <silvioferrazmello em uol.com.br>:
> 
> > Caro Carlos,
> >
> > Diversas das frases atribuídas a Villa-Lobos no texto são o jargão da época.
> > Não só ele mas uma multidão dizia o mesmo sobre a arte popular e  
> > sobre qualquer coisa que fosse moderna.
> > Não só ele mas uma turba batia em alunos, espancava colegas, brigava  
> > nas ruas...
> > Agora, muito do que se fala de Villa são piadas de costume e ele  
> > gostava que as
 inventassem..
> > Talvez fossem adepto da frase janista: "falem mal mas falem de mim"
> > De fato cultuava as bobagens a seu respeito, e deixava que  
> > proliferassem por variações e mais variações.
> > Mas o que falta mesmo é sempre a referência de cada uma das blagues,  
> > quem contou, quando contou, qual a ocasião em que se  
> > encontravam...quem? exatamente quem?
> >
> > Mas é triste é ver que sempre retornamos o método da fofóca de  
> > revista de variedades quando se trata de Villa.
> > Sua composição mesmo fica em segundo plano ou fica sob a frase "um  
> > grande compositor, precisa ser melhor estudado e blablablablabla".
> >
> > Lendo a reportagem me perguntei:
> > Quem são as "professoras revoltadas pelo teu trato" da folha  
> > datilografada sem assinatura? Aquelas mesmas que nos batiam
 nas mãos  
> > com réguas para mantermos o pulso no lugar qdo tínhamos aula de  
> > piano, ou as que nos faziam cantar o Hino Nacional com todas as  
> > crases e vírgulas..."cantem com as vírgulas....não esqueçam as  
> > crases"? ou o autor do texto acredita que eram professoras que  
> > trabalhavam sob o método Paulo Freire.
> > O mundo era outro, a norma era outra, e um texto rápido nunca escapa  
> > de ser ter grandes equívocos.
> >
> > Guanabarino: Que bom que ele não conseguiu conter a obra de Villa! E  
> > sorte que Villa não chegava aos extremos de um Varèse, Guanabarino o  
> > teria lançado literalmente à fogueira já que achincalhava tudo que  
> > sua visão pré-republicana não compreendia.
> >
> > No mais, se Villa deu uns cascudos em Vasco Mariz, ora professores  
> > que davam
 cascudos, professores que atiravam apagador em alunos,  
> > professores que nos mandavam ficar de costas no canto da sala, ir  
> > ajoelhar no milho, ter as mãos langanhadas por palmatórias, escrever  
> > na frente de seus colegas mil vezes uma frase estúpida  
> > qualquer...não me parece que isto tudo tenha sido uma prática  
> > exclusiva de Villa-Lobos ou de minha professora de música no ginásio  
> > (30 anos depois de Villa).
> >
> > O problema de toda leitura contemporânea é tentar analisar o passado  
> > pelos padrões atuais...ora, Villa não era politicamente correto, nem  
> > teria como ser, ninguém era politicamente correto.
> >
> > Então...já que não teremos mais que conviver com o sujeito  
> > Villa-Lobos, porque retomar as fofocas de vida íntima?
> > Não é já passada a hora de divulgarmos
 trabalhos de peso na análise  
> > da obra de Villa, na análise de seu contexto sócio-político, do que  
> > artigos rápidos de jornal que acabam contribuindo mais ainda à  
> > distorção desnecessárias?
> >
> > Recomendo a leitura do livro de Paulo de Tarso, a biografia escrita  
> > por Tarasti, as análises que Marcos Lacerda realizou dos Choros, e  
> > outros tantos trabalhos que por alegria caem às mãos e que iluminam  
> > um pouco do que foi abrir caminho no meio do mato para fazer  
> > adentrar nestas terras um pouco de música de invenção.
> >
> > abs
> > Silvio Ferraz
> >
> >
> >
> >
> >
> > On Apr 6, 2012, at 7:03 PM, Carlos Palombini wrote:
> >
> >> via Liliane Kans (FB)
> >>
> >> HISTÓRIA
> >> Villa-Lobos
 tinha dias de tirano
> >>
> >> Documentos inéditos mostram que o compositor tratava mal suas  
> >> alunas, brigava e regia a massa com batuta de aço
> >>
> >> LUÍS ANTÔNIO GIRON
> >>
> >>
> >> HOBBY
> >> Villa-Lobos joga bilhar na Associação Brasileira de Imprensa (1957)  
> >> Na quinta-feira 2 de junho de 1932, as professoras do  
> >> recém-instalado Curso de Pedagogia da Música e Canto Orfeônico do  
> >> Rio de Janeiro, cansadas de receber maus-tratos do compositor  
> >> Heitor Villa-Lobos, redigiram uma carta anônima ao carrasco. No  
> >> início dos anos 1930, depois de uma década na Europa, ele esbanjava  
> >> poder e surtos de estrelismo, mas isso não conteve as ofendidas.  
> >> 'Se continuas a ameaçar-nos com os poderes absolutos de que
 te  
> >> prezas faremos uma representação ao Diretor Geral', ameaçam as  
> >> missivistas. 'Não vês que tudo é contraproducente quando o chefe  
> >> não sabe ter atitudes? Não percebes que as colegas se podem  
> >> infiltrar desses teus modos estúpidos e passar a fazer o mesmo com  
> >> as criancinhas?' Encerram o ataque com a indicação: 'As professoras  
> >> revoltadas pelo teu trato'.
> >>
> >> A folha, datilografada e sem assinatura, encontra-se na Biblioteca  
> >> Nacional, no Rio (consta do espólio do maestro Sílvio Salema,  
> >> assistente de Villa), e só agora vem à luz, com outros papéis -  
> >> recortes, partituras, cartas e fotografias - arquivados ali e no  
> >> Museu Villa-Lobos. As duas instituições cariocas abrigam documentos  
> >> que esclarecem a ação e
 a obra do mais celebrado e executado  
> >> compositor erudito brasileiro. Com base nos materiais que vêm sendo  
> >> vasculhados, acontece uma alteração sensível da imagem de  
> >> Villa-Lobos para a posteridade. O tratado definitivo sobre o  
> >> assunto ainda está por ser escrito, mas uma horda de pesquisadores  
> >> corre e concorre para realizar a façanha. Uma silhueta diferente do  
> >> músico promete delinear-se ao final da competição. Tudo indica que  
> >> o 'índio de casaca', o simpático inspirador da música popular  
> >> brasileira - e de filmes como Villa-Lobos, uma Vida de Paixão  
> >> (2000), de Zelito Viana, que reduz o artista à caricatura -, saia  
> >> do palco para dar lugar ao ditador agressivo, defensor da 'arte  
> >> elevada' contra a música popular - e sobretudo paladino de seus
  
> >> interesses particulares.
> >>
> >> Inimigos íntimos
> >> Críticos, professores e colegas tentaram derrubar o músico
> >>
> >> ATAQUES
> >> O crítico Oscar Guanabarino e outros malharam o músico em vida  
> >> Villa-Lobos sofreu ataques desde que começou a apresentar suas  
> >> peças de vanguarda, no Rio, em 1918. Foi chamado de bárbaro, louco,  
> >> petulante, autodidata. Durante a Semana de Arte Moderna de 22, em  
> >> São Paulo, foi saudado pelo público com uma saraivada de batatas.  
> >> As polêmicas só escassearam no fim da década de 40, quando obteve  
> >> consagração mundial com suas turnês pelos Estados Unidos e pela  
> >> Europa e conseguiu calar quase todos os opositores. O maior deles  
> >> chamava-se Oscar Guanabarino (1851-1937). Esse
 professor de piano e  
> >> folhetinista atuou como flagelo do modernismo e do nacionalismo. Fã  
> >> do canto lírico de Carlos Gomes, iniciou fama de mal-humorado por  
> >> volta de 1890, ao atacar os primeiros músicos que usavam o folclore  
> >> em suas peças. Quando Villa-Lobos apareceu com suas suítes  
> >> sincopadas e dissonantes, o velho crítico fulminou-o com todo o seu  
> >> arsenal de conceitos. Os dois chegaram a trocar bengaladas em um  
> >> concerto nos anos 20. Guanabarino atacou-o até morrer. Na coluna  
> >> Pelo Mundo das Artes, do Jornal do Commercio (uma das últimas a  
> >> levar a rubrica de 'folhetim'), em 1934, comentou uma festa  
> >> orfeônica organizada pelo compositor informando que 'a concorrência  
> >> foi diminutíssima - apenas 100 pessoas na platéia, se tanto, o que 
 
> >> quer dizer que o público rejeita o sr. Villa-Lobos e a sua música,  
> >> mesmo quando lhe é oferecida gratuitamente'. Guanabarino inspirou  
> >> novos rivais, como Gondim da Fonseca e Carlos Maul (1887-1971).  
> >> Este último publicou, em 1962, o ensaio A Glória Escandalosa de  
> >> Villa-Lobos.  Ali, acusava o compositor de haver rapinado o  
> >> folclore. Villa-Lobos achava graça das acusações. A posteridade não  
> >> as levou a sério. #Q#
> >> Reprodução
> >>
> >> HUMILHADAS
> >> Integrantes do Orfeão dos Professores redigiram em 1932 uma carta  
> >> (acima) ameaçando o regente Heitor Villa-Lobos
> >> Os documentos, examinados com exclusividade por ÉPOCA, dão conta de  
> >> que Villa-Lobos possuía um gênio incontrolável e não recuava ante  
>
 >> nenhum tipo de obstáculo. Exemplo disso é a advertência das alunas  
> >> que constituíam o Orfeão dos Professores sobre sua falta de  
> >> didática. A carta, se foi recebida (não há evidências a esse  
> >> respeito), não surtiu efeito, porque o regente defendia como  
> >> expedientes o rigor para adultos e a palmatória para crianças.  
> >> Assim aconteceu num ensaio ao ar livre, na frente do prédio de seu  
> >> Conservatório de Canto Orfeônico, na Praia Vermelha, em meados de  
> >> 1936. O músico, trajado com uma espalhafatosa casaca colorida,  
> >> tentava reger um coral de milhares de meninos. Um grupo mais  
> >> barulhento não se aquietava, nem com a intervenção de um escoteiro  
> >> encarregado de organizar a multidão. A garotada começou, então, a  
> >> brigar. 'Villa saiu do
 pódio furioso e acabou com a bagunça,  
> >> distribuindo cascudos para todo lado', lembra o tal escoteiro, que  
> >> viria a se tornar o mais importante biógrafo de Villa-Lobos: Vasco  
> >> Mariz. 'Até eu levei um!'Aos 82 anos, o embaixador aposentado e  
> >> musicólogo carioca orgulha-se de ter travado relações anos depois  
> >> com Villa-Lobos e feito sua biografia. Publicada pela primeira vez  
> >> em 1949 pelo Itamaraty a partir de seis meses de entrevistas com o  
> >> compositor, Villa-Lobos, Compositor Brasileiro chegará à 12ª edição  
> >> no próximo ano pela editora Francisco Alves, com acréscimos como  
> >> cartas, iconografia, os episódios em torno das concentrações  
> >> orfeônicas e atualização biográfica e discográfica, já que a vasta  
> >> obra do compositor nunca foi tão
 executada e estudada no mundo. São  
> >> duas centenas de gravações recentes, além de 70 livros sobre o  
> >> artista. A primeira edição da biografia de Mariz desagradou ao  
> >> biografado por causa da passagem do cascudo. 'Villa se distanciou  
> >> de mim por um bom tempo, porque achava que eu o tinha descrito como  
> >> violento', revela o biógrafo. 'Foi um caso divertido e, quando lhe  
> >> contei, Villa deu gargalhadas. Ao ler, mudou de idéia. Depois, por  
> >> meio de sua mulher, Mindinha, fizemos as pazes. Mesmo com modos  
> >> grosseiros com quem dependia dele, foi muito amado.'
> >>
> >> PRINCIPAIS OBRAS
> >>
> >> Segundo o gênero
> >>
> >> 6 Óperas
> >> 12 Sinfonias
> >> 13 Peças para violão-solo
> >> 13 Poemas
 sinfônicos
> >> 17 Quartetos de corda
> >> 27 Concertos
> >>
> >> Estranho homem esse, capaz de maltratar os alunos, despertar o ódio  
> >> da crítica, e, ainda assim, ser admirado. Mariz caracteriza-o como  
> >> um eterno menino, pronto para cometer uma traquinagem ou um gesto  
> >> ditatorial. Rebate, no entanto, a acusação que lhe fazem os  
> >> acadêmicos atuais de que era um colaborador do fascismo de Vargas.  
> >> 'Ele não tinha cor política', lembra o estudioso. 'Queria divulgar  
> >> sua música. Vaidoso, não tinha paciência com a mediocridade. Mas,  
> >> se você soubesse manobrá-lo, conseguia tudo dele.'
> >>
> >> Para a pesquisadora Mercedes Reis Pequeno, autora da monumental  
> >> Bibliografia Musical Brasileira (disponível na internet no site  
>
 >> www.abm.org.br), simpatizar com o compositor podia ser difícil.  
> >> 'Era de temperamento muito desigual e não conquistava à primeira  
> >> vista. Muito seguro de seu valor, convencido mesmo, mas ao mesmo  
> >> tempo, em certas circunstâncias, quase ingênuo. Mas, quando  
> >> confiava, era para valer. Inimigos, quem não os tem nessa vida?'
> >>
> >> #Q#
> >> Fatos da vida do autor das 'Bachianas'
> >> Nascido em 5 de março de 1887 em uma família de classe média,  
> >> Villa-Lobos, ou Tuhu, seu apelido, não teve educação formal. O pai,  
> >> Raul, era músico amador e lhe ensinou as primeiras notas
> >> 	1922 ? ENFANT TERRIBLE
> >> Brilhou e foi vaiado na Semana de Arte Moderna de São Paulo
> >> 1926 ? EM PARIS
> >> Conviveu com músicos de vanguarda como
 Edgard Varèse (à esq.)
> >> 	1932 ? NO RIO
> >> Fundou o Orfeão dos Professores. Seu assistente era o maestro  
> >> Sílvio Salema (foto de 1952)
> >> 1940 ? MULTIDÃO
> >> Um coral de 40 mil alunos cantou no estádio do Vasco, sob direção  
> >> do músico (no alto, ao microfone)
> >> 	1955 ? CONSAGRAÇÃO
> >> Rege a Orquestra da Filadélfia durante ensaio em uma de suas turnês  
> >> pelos Estados Unidos
> >> 1959 ? FINALE
> >> Lançou a última peça, Concerto Grosso, para Orquestra de Sopros.  
> >> Morreu de câncer no Rio, em 17 de novembro	#Q#
> >> O músico lancetou-os com a ponta da batuta afiada - e, às vezes, do  
> >> taco de bilhar, seu passatempo favorito. Começou por estocar os  
> >> compositores populares, ou, como preferia, folclóricos. No início 
 
> >> da década de 40, por exemplo, chamou o samba-exaltação 'Aquarela do  
> >> Brasil', de Ari Barroso, de oportunista. Escreveu que a música  
> >> folclórica não passava da 'acepção mínima' da música. Oque não o  
> >> impediu de se aproveitar de temas dos chorões com quem havia tocado  
> >> em noitadas na juventude, como o de 'Rasga Coração', com melodia de  
> >> Anacleto de Medeiros e letra de Catulo da Paixão Cearense, base  
> >> para os 'Choros no 10' (1925), para orquestra e coro. Por conta da  
> >> apropriação, ele amargou um processo de plágio, do qual veio a ser  
> >> inocentado só depois da morte.
> >>
> >> 'Villa-Lobos não gostava de música popular, como querem muitos  
> >> estudiosos', afirma o musicólogo Flávio Silva, que há dois anos  
> >> pesquisa os
 papéis do compositor e se candidata a ser um dos  
> >> primeiros a chegar à esperada grande interpretação. 'O canto  
> >> orfeônico formava sua plataforma e seu ponto de honra. Distinguia a  
> >> 'música elevada' da restante. É engano pensar que ele gostava do  
> >> som recreativo.'
> >>
> >> Até hoje raramente abordado, o período em que o músico implementou  
> >> projeto do canto orfeônico - de 1930 a 1945, os dois primeiros anos  
> >> em São Paulo e o restante no Distrito Federal - é o mais rico em  
> >> intrigas, manifestações e atos públicos em torno das idéias do  
> >> compositor. Aos poucos, ele ganha perspectiva histórica. Também foi  
> >> o momento em que Villa-Lobos, na chefia da trilha sonora da  
> >> ditadura Vargas, feriu o  maior número de pessoas, de normalistas a 
 
> >> críticos profissionais. Recebeu o troco e sua produtividade cresceu  
> >> na razão direta dos contra-ataques. Ela se revelou tão intensa que  
> >> ainda hoje estão para ser descobertos discos e partituras que ele  
> >> produziu com diversos coros. Com uma bolsa da Fundação Vitae,  
> >> Flávio Silva levantou 20 gravações, inclusive pelo Orfeão dos  
> >> Professores. 'Algumas gravações têm qualidade,  e o grupo conseguiu  
> >> bom desempenho', julga.
> >>
> >>
> >> 'Proclamo o valor de todas as manifestações populares da música  
> >> como quem cultiva uma fonte de essências originais, nunca   
> >> apresentando-a como expressão de um povo civilizado'
> >>
> >> HEITOR VILLA-LOBOS,
> >> discurso em 15 de outubro de 1939
> >>
>
 >> O resultado só podia ser obtido pela mão forte do regente, que se  
> >> fazia sentir no moral das professoras e na moleira da criançada.  
> >> Seu sonho, ou 'plano de ataque', como dizia, era despertar o  
> >> interesse dos jovens e formar um público para a sua música por meio  
> >> do canto coletivo. Com o Guia Prático - 137 peças para diversas  
> >> formações -, desejava espalhar corais pelo Brasil em manifestações  
> >> cívicas em grandes estádios. A prática coral nas escolas não visava  
> >> a grandes artistas, mas a preparar o gosto comunitário para uma  
> >> 'fisionomia musical brasileira', como disse em discurso que  
> >> pronunciou no salão Assírio do Teatro Municipal do Rio em 15 de  
> >> outubro de 1939, segundo original da Biblioteca Nacional: 'Sei bem  
> >> que o gosto e a
 opinião pública não se impõem, mas educam-se'. O  
> >> projeto, contudo, murchou aos poucos. Todos os especialistas  
> >> entrevistados fazem uníssono ao dizer que a situação da educação  
> >> musical nas escolas brasileiras é péssima, quando não inexistente,  
> >> e a lição de Villa-Lobos foi esquecida, bem como suas idéias. Ele  
> >> perdeu a guerra para a música popular por força do rádio, que  
> >> consagrou o samba e jogou a arte erudita ao segundo plano.
> >>
> >> 'Villa-Lobos escreveu e defendeu muitas bobagens', diz Flávio  
> >> Silva. 'Poucas idéias dele se sustentam hoje.' Sua herança se  
> >> concentra na obra, embora a maior parte dela ainda precise ser  
> >> divulgada. O público brasileiro não conhece mais que uma dezena de  
> >> melodias do compositor - não por
 acaso, quase todas escritas no  
> >> período em que o maestro, vulto oficial, tangia professoras e  
> >> alunos para os estádios.
> >>
> >> Fotos e reproduções dos textos: Biblioteca Nacional/Divisão de  
> >> Música e Arquivo Sonoro
> >>
> >> http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR59656-6011,00.html
> >>
> >> --
> >> carlos palombini
> >> www.researcherid.com/rid/F-7345-2011
> >> ________________________________________________
> >> Lista de discussões ANPPOM
> >> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
> >> ________________________________________________
> >
> >
> 
> 
> 
> ________________________________________________
> Lista de discussões ANPPOM
>
 http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
> ________________________________________________
 		 	   		  

-----Anexo incorporado-----

________________________________________________
Lista de discussões ANPPOM
http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
________________________________________________ 		 	   		  
-------------- Próxima Parte ----------
Um anexo em HTML foi limpo...
URL: <http://www.listas.unicamp.br/pipermail/anppom-l/attachments/20120419/1fc50575/attachment.html>


Mais detalhes sobre a lista de discussão Anppom-L