[ANPPOM-Lista] O Globo: A música está cada vez mais previsível

Rael Bertarelli Gimenes Toffolo rael.gimenes em gmail.com
Qua Ago 15 02:42:21 BRT 2012


Caros,

Primeiro, desculpe se o Reply não saiu correto.. meu webmail as vezes faz
besteria...

Enfim,
Concordo em alguns pontos e discordo em outros. Primeiro, o estudo é
realmente positivista, ingênuo, faz medição de quantidade de notas,
amplitude geral, etc, como todos já apresentaram aqui de forma
interessante, porém não podemos desconsiderar a degeneração que realmente
ocorre. Se compararmos isso com uma visão ingênua e "erudita" meio Haute
Couture, realmente não acrescentamos nada de interessante à discussão. Os
argumentos, a pouco apresentados pelo Alê, sobre o Webern e sua
"simplicidade-complexidade" estrutural foram muito bem colocados. As
críticas em relação ao repertorio escolhido também foram ótimos, entre
todos os outros argumentos muito lúcidos que foram discutidos aqui, porém
comparar os "sucessinhos" comerciais atuais ao lundú é um pouco exagerado.
Temos que considerar o que é realmente produto "autêntico", e eu diria,
honesto de um grupo social daquilo que é confeccionado à partir de um
modelo de negócios dentro de uma "super saudável" estrutura de Budget
Empresarial. Afinal, como saiu em uma dessas revistas semanais "que se
dizem jornalísticas", nas palavras do próprio artista que criou a pérola,
"a grande revolução do sertanejo atual foi a transformação da dupla
sertaneja em uma empresa comercialmente organizada como qualquer outra".
Bem, a última coisa que interessa ai é a música. Bem, o Lundu também não
interessava tanto assim a música, era quase que um rito-social,
fundamentalmente ligado à dança, ok, mas um rito social legítimo de um
grupo que dava um valor autêntico para aquela prática. Bem, devemos
considerar então que a população que ouve os Tchus e Tchas estão praticando
seus ritos sociais? Não me parece, afinal, se fosse um rito ele seria mais
constante nas escolhas musicais e até nas danças que os caracterizariam,
não seria isso que define o rito? - constância e tradição com modificações,
logicamente, pois o folclore deve ser vivo - mas o que vemos é uma troca
acelerada e descartável o que parece confirmar que os Tchus e ai se te
pegos, boquinhas da garrafa, água mineral, etc, etc, não podem ser
considerados como manifestações legítimas de grupos sociais e sim "coisas"
empurradas por ótimas técnicas de marketing para as pessoas. Não devemos
esquecer que os profissionais de Marketing são caras muito bom no que
fazem! Então acho que podemos falar sim de degradação cultural,
empobrecimento perceptual, "regressão da audição", ainda que muita gente
considere Adorno meio "batido". A pesquisa feita é em sí boba, mas as
discussões aqui estão alçando vôos interessantes e não podemos ficar
colocando tudo no mesmo saco. Citando Pound "Literatura é simplesmente
linguagem carregada de significado até o máximo grau possível" e ainda: "Se
a literatura de uma nação entra em declínio a nação se atrofia e decai.". A
despeito das discussões de se música é ou não linguagem, acho no mínimo
interessante pensarmos na música da mesma forma, já que música sendo ou não
linguagem é um processo, no mínimo, significante, carregado de sentido. Não
defendo aqui uma "erudição", tanto que me parece que o Lundú, ou qualquer
outra manifestação artístico-social não tem nada de simplificante, muito
pelo contrário, são extremamente complexos em sua natureza. E também não
defendo os pastiches que foram feitos no romantismo brasileiro e
subsequentes períodos de tentar "traduzir" esses fenômenos para as salas de
concerto num ideal de Haute Couture de uma elite branca "europeizada" da
época. Mas podemos sim separar o joio do trigo, principalmente na
atualidade e termos claros aquilo que é feito com honestidade daquilo que é
feito pra "vender plástico" (plástico do CD - se bem que hoje isso também
morreu).


2012/8/14 luciano cesar <lucianocesar78 em yahoo.com.br>

> Ok, então um levantamento de dados que acusa a falta absoluta de
> criatividade e o clichesismo da música comercial que canaliza milhões em
> dinheiro; um levantamento de dados - positivista, mas um levantamento - que
> embasa a denúncia do oportunismo da vadiagem... e isso é chamado de eugenia
> musical mal fundamentada por um acadêmico.
>
>   E tudo bem...
>
> Luciano
>
> --- Em *seg, 13/8/12, Pedro Filho <pedrofilhoamorim em gmail.com>* escreveu:
>
>
> De: Pedro Filho <pedrofilhoamorim em gmail.com>
> Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] O Globo: A música está cada vez mais previsível
> Para: "Ale Fenerich" <fenerich em gmail.com>
> Cc: anppom-l em iar.unicamp.br
> Data: Segunda-feira, 13 de Agosto de 2012, 10:16
>
> O problema (ou a salvação, vai saber) é que os vigilantes não apitam muito
> fora da cerquinha acadêmica.
> E essas pesquisas que querem provar a decadência de alguma coisa (me
> lembra um pouco Adorno, mal comparando, porque ele se aprofundava no
> próprio preconceito e até o transcendia um pouco) na verdade querem é
> reforçar uma visão rasa do que seria uma "arte maior"....como alguém
> comentou aqui: bullshit...
>
> Isso pra mim só serve pra ouvir mais conversa fiada na mesa do bar, de
> gente enaltecendo Chico Buarque e dizendo que o tchu-tchá, ou o funk, ou o
> pagodão "não são música", igualzinho ao que os sinhozinhos diziam do lundu
> outrora. Eugenia musical mal fundamentada. Que preguiça....
>
>
> Em 12 de agosto de 2012 19:37, Ale Fenerich <fenerich em gmail.com<http://mc/compose?to=fenerich@gmail.com>
> > escreveu:
>
> E não é?
>
> Webern, o Pai de Todos Nós, no fim estava compondo com 3 notinhas
> apenas... mas ele tem a péssima mania de transpor, é um sujeito
> impaciente...
>
>
>
> Em 12 de agosto de 2012 14:02, Carlos Palombini <cpalombini em gmail.com<http://mc/compose?to=cpalombini@gmail.com>
> > escreveu:
>
>  até que não está tão ruim: todo o "nosso" cânone foi criado com 12! E são
> centenas de anos de música... Conclui-se que as 4 notas para 11 músicas em
> uns poucos aninhos representam um significativo avanço. Sim, isto é ciência.
>
>
> 2012/8/12 Ale Fenerich <fenerich em gmail.com<http://mc/compose?to=fenerich@gmail.com>
> >
>
> mais ciência...
>
>
>
> http://colunas.revistaepoca.globo.com/bombounaweb/2012/08/11/11-musicas-de-micareta-criadas-com-as-mesmas-quatro-notas-musicais/
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