[ANPPOM-Lista] RES: RES: Polarização das áreas do conhecimento na Universidade

jamannis em uol.com.br jamannis em uol.com.br
Sáb Dez 29 18:40:20 BRST 2012


Caro Marcelo

 

Me interesso em conhecer mais sobre o trabalho em criatividade desenvolvido
no GVcult, processos empregados e resultados obtidos.

 

Há alguma fonte para consulta disponível que possa ser compartilhada?

 

Obrigado

 

Mannis

 

De: Marcelo Coelho [mailto:muzikness em gmail.com] 
Enviada em: sábado, 29 de dezembro de 2012 12:11
Para: Daniel Lemos
Cc: JOSE A. MANNIS; ANPPOM-L
Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] RES: Polarização das áreas do conhecimento na
Universidade

 

Caro prof. Mannis,

 

Vejamos:

 

Se sabemos exercitar, treinar e educar a invenção de artistas... será?

 

...poderíamos também aplicar isso para físicos, médicos, engenheiros e
advogados.       Certamente! Mas qual a razão de ainda não ter se realizado
esse projeto interdisciplinar que beneficiaria a todas as áreas?

 

Seja como for, a FGV já se antecipou nesse aspecto. O GVcult, núcleo recente
dessa instituição do qual faço parte do board, cansou de esperar os
treinadores e educadores de artistas descerem do olimpo para explicar a
sistematização aplicada ao desenvolvimento criativo. O núcleo já trabalha
com esse tema em aulas e está expandindo para a pesquisa acadêmica
interdisciplinar com outras áreas do conhecimento. Interessante notar que os
primeiros treinadores acadêmicos escolhidos e contatados pelo núcleo são os
que apresentam também uma grande produção artística. A turma do lado
esquerdo do cérebro está disposta a aprender como apreciar antes de ser
treinada para criar. Percebo que há pouca movimentação dos treinadores e
educadores de artistas nesta direção.

 

Abraços,

 

MC

www.coelho-music.com

 

Em 28 de dezembro de 2012 14:35, Daniel Lemos <dal_lemos em yahoo.com.br>
escreveu:



Caro prof. Mannis,

Realmente, se tivéssemos o poder de mudar a escuta da sociedade assim tão
imediatamente, seria tudo ótimo né... mas este é um trabalho a longo prazo
pra Educação Musical. Torço para que tudo dê certo!

Entendo a questão da potencialidade do fazer artístico e de seus benefícios
para outras áreas do conhecimento, mas como tu mesmo disseste, somos
procurados somente por motivos de entretenimento. É justamente dentro da
Universidade que isso não pode acontecer, pois estamos nela e aí sim temos
possibilidade de mudar esta concepção. É certo de ser um caminho difícil,
mas a partir da Universidade, espera-se que os reflexos sejam sentidos na
sociedade.

Acredito que o problema central é o desrespeito com que é tratado o artista
e seu trabalho. Como tu mesmo disseste, observa-se um profundo
desconhecimento sobre Arte nas elites contemporâneas, e mesmo assim, não há
a preocupação de chamar um especialista da área para participar de decisões
importantes da administração pública. Agora, se forem construir uma ponte,
chamam um engenheiro; se há alguma enfermidade, chamam um médico...

Música é igual a futebol: todo mundo pensa que sabe, mas são poucos aqueles
que conhecem de fato a realidade do profissional.

Abraço,

Daniel Lemos Cerqueira

Coordenador do Curso de Música

Membro da Comissão Permanente de Vestibular

Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

 <http://musica.ufma.br> http://musica.ufma.br


--- Em sex, 28/12/12, jamannis em uol.com.br <jamannis em uol.com.br> escreveu:


De: jamannis em uol.com.br <jamannis em uol.com.br>
Assunto: RES: [ANPPOM-Lista] Polarização das áreas do conhecimento na
Universidade
Para: "'Daniel Lemos'" <dal_lemos em yahoo.com.br>, anppom-l em iar.unicamp.br
Data: Sexta-feira, 28 de Dezembro de 2012, 12:55

 

Prezado Daniel Cerqueira,

 

Não tive a pretensão de desejar que a comunidade acadêmica ou a sociedade
tivessem mais apreço pelo fazer musical desalinhado da industria cultural de
massa, o que implicaria numa mudança de escuta e de analise do que estão
ouvindo.

 

Mesmo se me espanta muito o nível de desinformação de algumas elites
superiores universitárias... 

 

(Se fizéssemos uma avaliação do conhecimento musical de nossa administração
superior universitária e mesmo da administração superior cultural
(secretarias, ministério, agências, órgão de fomento...) me pergunto quanto
poderiam distinguir um excerto musical Barroco de um Romântico, ou dizer o
que sabem sobre um Xote ou uma Guarânia. )

 

... o que busquei focar não era isso.

 

 

Mas sobretudo, como os campos do saber se entrelaçam e a estrutura da
totalidade se permeia entre as áreas que (desde Aristóteles) se consolidaram
e que neste momento estejam estranguladas de tanto esticadas, retorcidas e
deformadas. 

 

Um dos aspectos dessa estrutura comunicante entre campos do saber é o da
criatividade como heurística aplicada. Nas unidades universitárias, a área
de Artes trabalha intensamente a criatividade de forma sistemática. Temos
desenvolvido métodos, estratégias, procedimentos através de uma infinidade
de abordagens para ter algum domínio sobre o processo para se chegar ao
Achado (Eureka).

 

Se sabemos exercitar, treinar e educar a invenção de artistas, poderíamos
também aplicar isso para físicos, médicos, engenheiros e advogados. 

 

Esse potencial ainda não foi percebido pela comunidade acadêmica, que acaba
se lembrando de seu instituto de artes para demandas do entretenimento, por
exemplo quando precisa de uma agrupação musical para uma inauguração ou uma
comemoração ou ir a um espetáculo para relaxar a cabeça após um dia intenso
de trabalho.

 

A maneira e a sistemática que adotamos para resolver problemas criativos são
solução para muitas buscas das outras áreas.

 

Mas para que isto apareça e aconteça, é necessário, antes de tudo, que nós
possamos acreditar em nós mesmos e termos a coragem e a determinação de
bancar nossa posição e acreditarmos em nosso taco.

 

Abraços

 

Mannis

 

 

 

 

 

 

 

De: anppom-l-bounces em iar.unicamp.br [mailto:anppom-l-bounces em iar.unicamp.br]
Em nome de Daniel Lemos
Enviada em: quinta-feira, 27 de dezembro de 2012 14:47
Para: anppom-l em iar.unicamp.br
Assunto: [ANPPOM-Lista] Polarização das áreas do conhecimento na
Universidade

 



Caros colegas,

O prof. José Mannis tocou em outro assunto muito importante para discussão:
a valorização de áreas do conhecimento específicas dentro da Universidade.

Já basta a supervalorização que a sociedade brasileira dá pra áreas como
Medicina, Engenharia e Direito; a Universidade tem (ou deveria ter) o papel
transformador de reforçar a importância de cada área e dar o exemplo à
sociedade. Mas ao invés disso, vê-se que ela é na verdade uma mera
reprodução das práticas que já existem.

As áreas de Artes então, estas são sempre o "patinho feio": só dão gastos e
sua produção não visa à aplicação imediata em massa. Não existe nenhum tipo
de incentivo à produção artística se ela não estiver vinculada ou adequada a
projetos de pesquisa ou extensão (creio que deveria haver um tipo de projeto
específico voltado à produção artística, legalmente institucionalizado). E
fora da Universidade, a produção artística tem que se adequar aos padrões de
mercado, com nossas geniais "Leis de Incentivo" (ou seja: os artistas não
merecem uma política cultural digna; tem de viver de "incentivo" ou caridade
das empresas). Se não houver resistência, daqui a 50 anos o país será feito
de Micheis Teló e de "estudiosos acadêmicos da Música".

 Tem um ditado que um de nossos alunos criou, sabiamente: "a sociedade pensa
que o músico é uma prostituta: tem que viver para dar prazer aos outros".

Daniel Cerqueira

 <http://musica.ufma.br> http://musica.ufma.br


--- Em qua, 26/12/12, jamannis em uol.com.br
<http://mc/compose?to=jamannis@uol.com.br>  <jamannis em uol.com.br
<http://mc/compose?to=jamannis@uol.com.br> > escreveu:


De: jamannis em uol.com.br <http://mc/compose?to=jamannis@uol.com.br>
<jamannis em uol.com.br <http://mc/compose?to=jamannis@uol.com.br> >
Assunto: [ANPPOM-Lista] Posição de docentes quanto às politicas de cotas
Para: "'ANPPOM'" <anppom-l em iar.unicamp.br
<http://mc/compose?to=anppom-l@iar.unicamp.br> >
Data: Quarta-feira, 26 de Dezembro de 2012, 15:26

 

 

O editorial desta data (26/12/2012) OESP, especificamente “Cotas nas
universidades paulistas”, cita posição de colegiados e de ‘vários docentes’
das universidades estaduais paulistas de uma maneira que me causou
estranhamento.  

 

Cito excerto: “.../ Historicamente, os órgãos colegiados da USP, Unicamp e
Unesp sempre foram contrários à adoção de políticas de cotas nos
vestibulares, alegando que elas distorcem os resultados dos exames,
comprometem o princípio de mérito e colocam em salas de aula alunos
despreparados.  Vários docentes receberam com reservas esse programa de
inclusão social. Serão decisivas as reuniões das congregações das faculdades
mais importantes, como as de Medicina, Direito e Engenharia. /...”

 

Sou membro de vários colegiados em minha universidade, em vários niveis, e
tenho claro em minha memória que em todas as oportunidades em que ocorreu a
discussão a respeito de cotas para ingresso na universidade, o principal
motivo de questionamento era o de estar implementando um procedimento para
remediar um problema sem sanar sua causa. ‘Colocar alunos despreparados em
salas de aula’ é uma das consequências disso, mas não algo a ser observado e
tratado em si e de forma restrita, senão visto num contexto amplo diante de
uma situação complexa. 

 

‘Comprometer o princípio de mérito’ e ‘distorcer os resultados do exame de
vestibular’ são alegações que podem até ter ocorrido, mas são irrelevantes
em relação ao eixo de pensamento, uma vez que o cerne da questão, sempre bem
aceito por todos, era ‘buscar uma solução para combater uma desigualdade e
uma injustiça’. 

 

Em todos os debates foi unânime a aprovação de que uma educação fortalecida
pela revitalização das escolas públicas nos níveis fundamental e médio teria
um impacto marcante e decisivo sobre essa exclusão que se busca combater.
Sempre perguntamos onde está o compromisso do estado (em nível federal,
estadual e municipal) que deveria cumprir as metas estabelecidas quanto ao
percentual orçamentário dedicado à educação. Se fossem de fato cumpridos, de
forma responsável e eficiente, a desigualdade não estaria na situação em que
se encontra atualmente.

 

O que os colegiados e os membros da comunidade acadêmica desejam, não é que
a prova seletiva que elaboram seja aplicada exibindo sua elegância e a
consistência de seus métodos. O que zelamos sempre em nosso método de
trabalho é que antes de adotar e aplicar um procedimento, este deve ser
suficiente e consistentemente testado e validado. Em políticas públicas esse
rigor seria uma prevenção para que, com o tempo, grandes soluções anunciadas
com alarde não se revelem ineficientes, senão inócuas.

 

Se temos alunos na sala de aula com dois níveis de preparação distintos,
isso poderia até ser trabalhado. Temos condições e potencial criativo para
encontrar soluções. Mas não queremos sair precipitadamente empurrando o
caminhão, antes de ter certeza de que o motor dele de fato não pode
funcionar, ou que pelo menos o freio de mão seja solto. Queremos que, antes
disso, as obrigações do estado (Federação, Estado e Município) sejam
cumpridas. No costume dos índios, o cacique era o primeiro a se levantar e a
realizar a tarefa árdua que ninguém queria fazer. Depois dele, todos se
erguiam e se punham a trabalhar.  

 

Por outro lado, como docente e pesquisador, nunca ousaria dizer que uma área
do conhecimento pudesse ser mais importante do que outra. Simplesmente
porque o universo, com sua estrutura e seus fenômenos, segue seu curso
normal, independentemente da taxonomia que os homens inventaram para vê- lo,
entendê-lo e explicá-lo, da mesma forma como aves, mamíferos, anfíbios,
insetos, plantas e demais formas de vida seguem vivendo, se reproduzindo e
evoluindo à revelia das frequentes e rápidas variações das classificações
que lhes aplicam. 

 

José Augusto Mannis (docente Instituto de Artes, Depto. de Música, Unicamp)

 

 

 

 

 

_____________________________________

 

Prof. Dr. José Augusto Mannis

Universidade Estadual de Campinas - Unicamp

Instituto de Artes

Depto. de Música

jamannis em uol.com.br <http://mc/compose?to=jamannis@uol.com.br> 

+55 (19) 8116-3160 <tel:%2B55%20%2819%29%208116-3160>  

RID: B-9522-2012

ORCID: 0000-0002-9484-5674

 


-----Anexo incorporado-----

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Lista de discussões ANPPOM
http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
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-- 
Marcelo Coelho
www.coelho-music.com

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