[ANPPOM-Lista] RES: Posição de docentes quanto às politicas de cotas

Igor Reis Reyner reynerpianista em yahoo.com.br
Dom Dez 30 10:34:10 BRST 2012


Direto da UFMG, um detalhe: sobre os resultados da "lei de cotas".

http://audioboo.fm/boos/1133416-notas-de-cortes-revelam-menor-distancia-entre-candidatos-cotistas-e-de-livre-concorrencia-no-vestibular-da-ufmg


abs,
Igor.


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 De : Ale Fenerich <fenerich em gmail.com>
À : silvio ferraz <silvioferrazmello em gmail.com> 
Cc : ANPPOM <anppom-l em iar.unicamp.br> 
Envoyé le : Samedi 29 décembre 2012 15h40
Objet : Re: [ANPPOM-Lista] RES: Posição de docentes quanto às politicas de cotas
 

Respondo com calma às ótimas provocações... o assunto é prioritário, me parece...


Sim Mannis! No meu (nosso) tempo de Unicamp, a impressão que eu tenho é que os professores mais criativos vinham com as bombas para destruir a ponte que unia um conhecimento estável e monótono herdado dos conservatórios com um futuro bonachão. Hoje me parece, ao menos nas federais, que os professores que vêm com a bomba nas mãos constatam que não há ponte, fundamento, nem mesmo projeto, e que é preciso construí-la. Em quatro anos, sobra pouco tempo para explodí-la.

Isto quer dizer que um curso superior cumpre o papel da educação básica. Nos nossos cursos talvez isso não seja dramático, como disse o Silvio. Numa engenharia, um aluno sem fundamentos em matemática de segundo grau vai pastar nos cálculos, sendo consistentemente reprovado. Eu concordo com Silvio: não faz mal ensinarmos teoria musical, leitura, rítmica muito básica (eu tenho feito isso); a Universidade não precisa formar apenas compositores e intérpretes. No entanto, o desafio talvez esteja em ensinar isso com qualidade, pouco tempo e de modo a não constranger os alunos. Isso sim é sambar miudinho...

Em Juiz de Fora não temos cursos regulares e com a qualidade dos da Unibanda ou da ULM; parece-me que será a licenciatura em música (a ser criada na UFJF em breve) que cumprirá esse papel. Há portanto uma tendência a pensar que a licenciatura seria uma graduação mais fraca, que permite com que alunos sem formação musical nela se inscrevam e concluam um curso genérico em música. E há a tendência apontada pelo Daniel em tentar se extinguir a prova específica em música.

A meu ver, este pacote de entendimento da licenciatura em música (que vem das reitorias, alinhadas com o governo federal e ávidas por inserção social) é totalmente equivocado. Um curso de licenciatura em música pode vir a ser genérico sim, mas não deve ser de má qualidade, e além disso deve exigir a mesma prova em conhecimentos específicos (pelo menos em teoria musical) dos bacharelados, fazendo com que seus ingressantes tenham o mesmo comprometimento musical que seus colegas bacharéis.

Enfim... perdoem o saco de gatos, mas creio que os assuntos cotas, licenciaturas e politicas de inserção em massa são interligados, fazendo com que os pensemos como um bloco.

ASF 


Em 29 de dezembro de 2012 13:17, silvio ferraz <silvioferrazmello em gmail.com> escreveu:

concordo com o alê no que diz respeito a uma projeção futura.
>
>
>no momento, a unicamp tem um sistema (o profis) que seleciona alunos do ensino médio de escolas públicas conforme seus resultados de enem; há também o upa (universidade portas abertas) quando justamente estes alunos visitam a unicamp e conhecem os cursos. Em janeiro acontece o ciência&artes nas férias, sempre oferecemos a alunos do ensino médio cursos de música. Além disto desde um bom tempo temos a Unibanda (hoje Escola Livre de Música) que dá aulas de instrumento (melhor até que no departamento) para jovens geralmente de bandas da região ou gente que vem de Tatuí.
>
>
>também temos estas diferenças entre o aluno com mais ou menos experiência musical. Isto sempre existiu, no tempo em que estudei era assim também. somos um curso pequeno e a questão das cotas deverá mesmo é incidir sobre cursos fortes (medicina, engenharia) e cursos muito pequenos ainda (nutrição, enfermagem). 
>
>
>mas vejo a coisa com bons olhos, acho que a universidade não é apenas para o músico de carreira (compositor-instrumentista), é também para aquele que vai migrar para a sonologia, que vai ser musicólogo e é nossa obrigação ensinar estas coisas que são simples (harmonia, contraponto e história da música)… bem mais simples que as exigências em física e química. 
>o que precisamos é redesenhar nossos cursos diferentemente daquilo que herdamos dos conservatórios… e isto sim é urgente, com um novo desenho do curso de música veremos que as cotas não alterarão em nada o curso de nosso trabalho (além do que atualmente no departamento de música temos 45% dos alunos que se enquadrariam na política de cotas, e justamente eles os músicos de carreira).
>
>
>no campo político talvez a questão seja outra, bem distante desta que discutimos: dar um golpe ao sistema de cotas federal…  as 3 universidades oferecem um college que seleciona à sua maneira os alunos de escolas públicas dois anos antes do vestibular conforme notas no enem, garante assim que um bom número de prováveis cotistas estejam mais bem preparados para o ingresso na universidade… ou seja, o sistema canhestro é substituído por outro em que ainda se tem como critério o preparo do aluno para prosseguir em um curso superior…. e com isto alkmin garante seu lugar entre dilma e aécio…. 
>
>
>abssilvio 
>
>
>
>
>On Dec 28, 2012, at 12:00 PM, <jamannis em uol.com.br> <jamannis em uol.com.br> wrote:
>
>Caro Alexandre,
>> 
>>Você expôs um claro exemplo de como está empurrando um veículo encalhado com o freio de mão acionado.
>> 
>>Se o condutor pudesse, de sua cabine (refrigerada), pelo menos soltar o freio de mão, aqueles que estão sob o sol e com os pés no chão, teriam mais eficiência para seu esforço.
>> 
>>Mannis
>> 
>> 
>>De: Ale Fenerich [mailto:fenerich em gmail.com>>Enviada em: quinta-feira, 27 de dezembro de 2012 12:49
>>Para: jamannis em uol.com.br
>>Cc: ANPPOM
>>Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] Posição de docentes quanto às politicas de cotas
>> 
>>Caro Mannis e demais colegas,
>>
>>
>>Gostaria de expor minha pobre análise a este respeito de modo bem direto, sem a elegância de sua mensagem mas de forma explícita.
>>
>>No trabalho que temos desenvolvido na Federal de Juiz de Fora, o sistema de cotas traz desafios muito grandes para os docentes. De fato temos classes cujos alunos possuem diversos níveis de maturidade musical. Isso faz com que tenhamos que elaborar estratégias diversas para tentar sanar essa desigualdade, muitas vezes profunda. Há alunos, por exemplo, com dificuldades imensas em assuntos muito básicos, da educação fundamental. Como professores de música, nossa obrigação é tentar contornar estes problemas, e nem sempre é fácil, pois estas lacunas se refletem no modo como aprendem.
>>
>>Entretanto, em comparação com a minha própria formação, realizada na Unicamp nos anos 90, temos hoje uma estrutura social mais horizontal, na qual há menos competição entre os alunos e mais colaboração entre eles, principalmente entre os cotistas. Há também uma distância entre os alunos "profissionais" de música e aqueles que tiveram menos recursos de formação, a qual temos que tentar equilibrar. Esta distância passa por uma arrogância de alguns alunos mais maduros musicalmente (e talvez menos maduros enquanto cidadãos), os quais desprezam os demais e, consequentemente, acabam por desprezar o curso e os esforços de aprendizado geral. 
>>
>>Enfim, são notas sobre um panorama geral, nas quais observo mais valores positivos que negativos. São o preço de uma democratização do ensino superior realizada talvez de forma um pouco canhesca no Brasil, mas que talvez tenha resultados positivos em 10, 15 anos. Assim espero.
>>
>>Colegas de federais, alguma opinião a respeito?
>>
>>Um abraço!
>>
>> 
>>Em 26 de dezembro de 2012 15:26, <jamannis em uol.com.br> escreveu:
>> 
>> 
>>O editorial desta data (26/12/2012) OESP, especificamente “Cotas nas universidades paulistas”, cita posição de colegiados e de ‘vários docentes’ das universidades estaduais paulistas de uma maneira que me causou estranhamento. 
>> 
>>Cito excerto: “.../ Historicamente, os órgãos colegiados da USP, Unicamp e Unesp sempre foram contrários à adoção de políticas de cotas nos vestibulares, alegando que elas distorcem os resultados dos exames, comprometem o princípio de mérito e colocam em salas de aula alunos despreparados.  Vários docentes receberam com reservas esse programa de inclusão social. Serão decisivas as reuniões das congregações das faculdades mais importantes, como as de Medicina, Direito e Engenharia. /...”
>> 
>>Sou membro de vários colegiados em minha universidade, em vários niveis, e tenho claro em minha memória que em todas as oportunidades em que ocorreu a discussão a respeito de cotas para ingresso na universidade, o principal motivo de questionamento era o de estar implementando um procedimento para remediar um problema sem sanar sua causa. ‘Colocar alunos despreparados em salas de aula’ é uma das consequências disso, mas não algo a ser observado e tratado em si e de forma restrita, senão visto num contexto amplo diante de uma situação complexa.
>> 
>>‘Comprometer o princípio de mérito’ e ‘distorcer os resultados do exame de vestibular’ são alegações que podem até ter ocorrido, mas são irrelevantes em relação ao eixo de pensamento, uma vez que o cerne da questão, sempre bem aceito por todos, era ‘buscar uma solução para combater uma desigualdade e uma injustiça’.
>> 
>>Em todos os debates foi unânime a aprovação de que uma educação fortalecida pela revitalização das escolas públicas nos níveis fundamental e médio teria um impacto marcante e decisivo sobre essa exclusão que se busca combater. Sempre perguntamos onde está o compromisso do estado (em nível federal, estadual e municipal) que deveria cumprir as metas estabelecidas quanto ao percentual orçamentário dedicado à educação. Se fossem de fato cumpridos, de forma responsável e eficiente, a desigualdade não estaria na situação em que se encontra atualmente.
>> 
>>O que os colegiados e os membros da comunidade acadêmica desejam, não é que a prova seletiva que elaboram seja aplicada exibindo sua elegância e a consistência de seus métodos. O que zelamos sempre em nosso método de trabalho é que antes de adotar e aplicar um procedimento, este deve ser suficiente e consistentemente testado e validado. Em políticas públicas esse rigor seria uma prevenção para que, com o tempo, grandes soluções anunciadas com alarde não se revelem ineficientes, senão inócuas.
>> 
>>Se temos alunos na sala de aula com dois níveis de preparação distintos, isso poderia até ser trabalhado. Temos condições e potencial criativo para encontrar soluções. Mas não queremos sair precipitadamente empurrando o caminhão, antes de ter certeza de que o motor dele de fato não pode funcionar, ou que pelo menos o freio de mão seja solto. Queremos que, antes disso, as obrigações do estado (Federação, Estado e Município) sejam cumpridas. No costume dos índios, o cacique era o primeiro a se levantar e a realizar a tarefa árdua que ninguém queria fazer. Depois dele, todos se erguiam e se punham a trabalhar. 
>> 
>>Por outro lado, como docente e pesquisador, nunca ousaria dizer que uma área do conhecimento pudesse ser mais importante do que outra. Simplesmente porque o universo, com sua estrutura e seus fenômenos, segue seu curso normal, independentemente da taxonomia que os homens inventaram para vê- lo, entendê-lo e explicá-lo, da mesma forma como aves, mamíferos, anfíbios, insetos, plantas e demais formas de vida seguem vivendo, se reproduzindo e evoluindo à revelia das frequentes e rápidas variações das classificações que lhes aplicam.
>> 
>>José Augusto Mannis (docente Instituto de Artes, Depto. de Música, Unicamp)
>> 
>> 
>> 
>> 
>> 
>>_____________________________________
>> 
>>Prof. Dr. José Augusto Mannis
>>Universidade Estadual de Campinas - Unicamp
>>Instituto de Artes
>>Depto. de Música
>>jamannis em uol.com.br
>>+55 (19) 8116-3160
>>RID: B-9522-2012
>>ORCID: 0000-0002-9484-5674
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>>Alexandre Sperandéo Fenerich
>>prof. Adjunto IAD - UFJF - http://www.ufjf.br/musica/
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