[ANPPOM-Lista] Matéria sobre avaliação diferenciada entre arte e ciência

Rodolfo Caesar rodolfo.caesar em gmail.com
Ter Jun 19 18:20:45 BRT 2012


Oi Rodrigo,


Não sou contrário ao casal arte & ciência, não. Acho que pode ser produtivo.
O que receio é a possibilidade, viabilizada por uma ABNT das Artes
(seja lá em qual ministério ela venha a ser sediada), de que só esse
casamento (ciência ou academia, tanto faz) seja capaz ou merecedor de
fazer filhotes saudáveis.
Gosto de acreditar - talvez ingenuamente - que todo o enorme leque de
coisas que chamamos de arte tem o direito de viver e sobreviver, sem
necessariamente se submeter a hegemonias.
Que eu me lembre, os Arts Councils de lá fomentam produções, segundo
critérios curatoriais e flutuantes, por pontuações pouco
transparentes, e não fornecem sistemática p/ pontuar produção em
currículos.

Valorizo tb as artes que se opõem às ciências: Duchamp e o dadaísmo
sendo duas das muitas faces, hoje muito presentes nas Artes Visuais.
Indo mais longe, falta falar das artes que se opõem e questionam os
mecanismos de mecenato, como o Hans Haacke. E ainda tem as artes que
não estão nem aí pra isso tudo: as de países fora do eixo do mercado,
étnicas, etc..

Abraços,
Rodolfo

2012/6/19 Rodrigo Cicchelli Velloso <rodcv em acd.ufrj.br>:
> Olá, Rodolfo.
> Permita-me discordar fundamentalmente de um ponto de sua argumentação.
> O problema foi justamente terem afastado arte e ciência, que sempre
> estiveram próximas e se reconheciam sem maiores problemas. Porém, na
> tentativa de reaproximá-las, estão cometendo o desatino de submeter a
> essência de uma aos procedimentos da outra, como alguém que admiramos
> já observara há tempos.
> No mais, concordo plenamente que a tentativa de escalonar espaços,
> eventos, curadorias etc. para conceder galardões de qualificação
> resultará em tabelas muito trabalhosas, provavelmente defasadas,
> quando não ridículas e constrangedoras, e que serão sempre
> questionadas... E aqui recorro a um princípio que admiro: entia non
> sunt multiplicanda praeter necessitatem. E lembro também de uma máxima
> que os colegas ingleses gostavam de repetir: "concursos de composição
> [e critérios de qualificação etc.] estão sempre errados, a não ser
> quando somos premiados!"
> Talvez a sugestão do Jorge faça todo sentido e a criação de um
> Conselho das Artes (se o chamarmos de Arts Council ele terá
> circunscrição internacional e maior importância, Sílvio?) ajudasse a
> colocar toda esta discussão em outra perspectiva. Afinal, devemos
> proceder da forma mais simples possível, mas não mais simples do que
> isso.
> Abraços,
> Rodrigo
>
>
>
> Em 17 de junho de 2012 15:28, Rodolfo Caesar
> <rodolfo.caesar em gmail.com> escreveu:
>> Caros,
>>
>> Como vai ser difícil, esse trabalho, Silvio!
>> Na minha opinião o qualis artístico só 'funciona' em regime de
>> precariedade. Daí, em lugar de ansiarmos por um ponto final,
>> deveríamos contar mais com uma flexibilidade esperta e ajustes anuais,
>> uma vez que a maldição parece inevitável.
>> Porque:
>> - a proposta de vincular o ponto à autoridade da difusora (editora,
>> sala de espetáculo, evento, etc.) implica em dependencia do sistema às
>> leis de mercado.
>> - p.ex.: as artes visuais, historicamente mais velozes que a música,
>> tratam, por exemplo das 'ocupações' (de terrenos baldios, prédios
>> abandonados) como obra/política. Nós, aqui, escalonando a partir do A1
>> Carnegie Hall, estamos mesmo muuuito por fora!...
>> - de tão caretas que somos, nem pontuaríamos os incríveis mashups
>> gratuitos no youtube, soundcloud, etc.. (talvez tb. porque seus
>> autores não estejam em dia com a OMB).
>> - o mundo das artes em geral é mais dinâmico que o mundo que teoriza
>> sobre elas (gosto de acreditar que ainda seja assim, ou já me
>> engano?). Se assim é, então não podemos, de cima de nossa autoridade,
>> dizer que tal coisa vale mais porque impactou com mais força, porque:
>> - para analisar impactos é preciso fazer uma avaliação do tipo
>> 'musicologia histórica': não dá pra ser na hora e no ato. Falamos de
>> impacto cultural, certo? Então que antropólogos e etnólogos ainda
>> avaliem a análise do musicólogo histórico!
>> - tenho medo desse matrimônio entre arte e ciência. Claro que existe
>> ligação histórica entre ambas, mas também muito conflito. Esse loop
>> que pretendemos montar com o qualis tende a neutralizar o conflito.
>> - sem conflito, nossa arte fica acariciando o próprio umbigo. É nós
>> aqui fazendo musicologia da própria obra ou do colega. O mesmo que um
>> bioquímico sintetizar a molécula que o colega de outro departamento
>> vai analisar. É o compositor compondo obra para (na melhor das
>> hipóteses) o colega analisar.
>>
>> Um abraço,
>> Rodolfo Caesar
>>
>>
>>
>> 2012/6/17 silvioferrazmello <silvioferrazmello em uol.com.br>:
>>> aí tenho de concordar um pouco com "o sistema"...
>>> para apresentação em uma sala grande existe um conselho, uma direção artística etc...que de certo modo qualifica o evento.
>>> a qualificação de um artigo se dá pela revista em que ele foi publicado, o de um livro pela editora...o de concertos pela equação evento/espaço.
>>> ou seja, a avaliação do conteúdo, da técnica, do repertório, etc. estaria avaliada pelo local/editora/evento/revista de difusão.
>>>
>>> abs
>>> silvio
>>>
>>>
>>> On Jun 15, 2012, at 9:18 AM, lcm em usp.br wrote:
>>>
>>>> Caro Álvaro, Silvio e demais da lista,
>>>>
>>>> Quanto ao parágrafo 5 da resposta do Álvaro ("Correndo o risco de falar uma bobagem imensa..."):
>>>>
>>>>   Me pergunto se realmente é diferente se apresentar em um evento local (a tal B1) e numa grande sala, se o conteúdo da interpretação ou composição é o que realmente faz a diferença. Já que por um vídeo na internet e broadcast yourself (desculpem: divulgar a sua produção acadêmica) é coisa que absolutamente QUALQUER UM pode fazer. A diferença não reside por aí...
>>>>   Eu gostaria que fosse considerada a questão dos critérios de modo a diferenciar a produção universitária da produção para e do mercado. Nosso modelo já é excessivamente americano, em tudo o que o modelo americano tem de ruim (comprometimento com empresas, dinheiro, produção para o mercado) sem trazer o que ele tem de bom (basicamente, recursos).
>>>>   Será que estamos realmente discutindo se o que deve ser avaliado na produção artística universitária é o conteúdo ou a embalagem? Concordo com o Sílvio que a discussão sobre conteúdo é imensamente difícil, mas avaliar o "impacto na área" (aliás, o que vem a ser "relevância" de uma obra ou de uma execução?) me parece igualmente estranho.
>>>> Abraços,
>>>>
>>>> Luciano
>>>>
>>>>
>>>> Citando Alvaro Henrique <alvaroguitar em gmail.com>:
>>>>
>>>>> Sílvio (permita-me chamá-lo apenas por seu nome), ao optar pela opção
>>>>> "responder" ao invés da "responder a todos", os e-mails acabam não sendo
>>>>> enviados à lista, mas apenas ao autor da mensagem respondida.
>>>>>
>>>>> Acredito que um qualis em performance é extremamente simples, provavelmente
>>>>> mais simples que na composição - talvez porque sou da performance vejo
>>>>> assim ;-) . Mas veja só:
>>>>>
>>>>> - não é a mesma coisa tocar no auditório do próprio local de trabalho e
>>>>> tocar no Carnegie Hall;
>>>>> - não é a mesma coisa tocar numa orquestra de projeto social e ser solista
>>>>> da Berliner;
>>>>> - não é a mesma coisa organizar a própria apresentação e ser aprovado pra
>>>>> tocar no maior congresso da sua área;
>>>>> - não é a mesma coisa fazer um recital isolado e fazer uma turnê de
>>>>> lançamento de CD.
>>>>>
>>>>> Etc...
>>>>>
>>>>> Dá trabalho, talvez não seja interessante, mas é viável. Claro que a
>>>>> primeira versão terá falhas, mas só é aprimorável o quê já existe. Já tem
>>>>> um protótipo disso, como ser performance em evento acadêmico, ter âmbito
>>>>> nacional, local ou internacional, etc.
>>>>>
>>>>> E, ao contrário do que pensa o autor da matéria do jornal, uma performance
>>>>> A1 tem de valer o mesmo de um artigo A1, além da performance ter de ser
>>>>> avaliada por parâmetros da performance, não por de outro tipo de produção.
>>>>> O fato de "regência de coros comunitários" ser objeto de artigos A1 não
>>>>> deve fazer com que, para o qualis de performance, reger um coro de igreja
>>>>> valha mais que reger a Wiener Philharmoniker. Afinal, a proposta dele era
>>>>> que seu livro, por poder ser hipoteticamente objeto de estudo de um
>>>>> possível artigo qualificável como A1, deve inevitavelmente pontuar mais que
>>>>> um artigo A1 sempre. Especialmente se o livro for escrito por um professor
>>>>> e o artigo por um aluno, óbvio. Mais geração x, impossível. Desculpe a
>>>>> cutucada, aqui não é o local apropriado pra discutir conflito de gerações.
>>>>>
>>>>> Provavelmente se compositores se dedicarem a pensar um pouco sobre um
>>>>> qualis de composição serão encontradas essas diferenças óbvias que podem
>>>>> gerar uma proposta de qualis que terá falhas, mas a vida é assim. Só
>>>>> podemos discutir sobre melhorar o lattes havendo um lattes, não é mesmo?
>>>>>
>>>>> Correndo o risco de falar uma bobagem imensa, por meter o dedo de outra
>>>>> área, acho que faz sentido a Bienal pontuar como B1. Ela é demasiado
>>>>> nacional, em alguns aspectos extremamente local, pra pleitear um qualis
>>>>> maior que isso, apesar da peneira certamente ser dura. Desculpe-me se
>>>>> estiver mal informado, mas me parece que os intérpretes da bienal são
>>>>> apenas músicos da cidade que a organiza. Isso é um dos fatores que limita o
>>>>> alcance e a relevância do evento em muitos aspectos, que vão desde
>>>>> a intérpretes trabalhando em ritmo de produção que compromete as
>>>>> performances à pouca repercussão das obras - afinal, é natural que
>>>>> intérpretes que preparam uma obra para um evento importante a toquem em
>>>>> pelo menos uma ocasião mais, e se 100 intérpretes de 1 cidade a toquem de
>>>>> novo, foi apenas uma reprise na mesma cidade, provavelmente pro mesmo
>>>>> público, enquanto 100 músicos de 100 cidades que a toquem de novo gerarão
>>>>> 100 outras cidades e milhares de outros ouvintes apreciando um pouquinho da
>>>>> bienal. O fato da Bienal não ser um evento itinerante e não gerar gravações
>>>>> também não ajuda. Já que apenas os moradores de uma cidade e os
>>>>> compositores prestigiados podem apreciar o evento, o alcance fica
>>>>> incrivelmente menor que eventos de pequeno porte, como o Festival de Música
>>>>> Clásica Contemporánea de Lima, que transmite as apresentações ao vivo pela
>>>>> internet, produz ao final CDs com trechos de cada um dos recitais, e conta
>>>>> com a presença de compositores e intérpretes de quatro a seis países
>>>>> diferentes.
>>>>>
>>>>> Concordo que o julgamento de qualis deve ser mais focado em relevância e
>>>>> alcance que qualidade (tanto composição quanto performance). Sem dúvida o
>>>>> fato de uma apresentação ter acontecido ou de uma composição ter sido
>>>>> tocada significa que ela já teve seu mérito de qualidade julgado como
>>>>> satisfatório, do contrário aquela performance não ocorreria.
>>>>>
>>>>> Abraços,
>>>>> Alvaro Henrique
>>>>>
>>>>>
>>>>>
>>>>>
>>>>>
>>>>> Em 11 de junho de 2012 19:44, Damián Keller
>>>>> <musicoyargentino em hotmail.com>escreveu:
>>>>>
>>>>>>
>>>>>> Reencaminhando...
>>>>>>
>>>>>> Abraços,
>>>>>> Damián
>>>>>>
>>>>>> Dr. Damián Keller - Núcleo Amazônico de Pesquisa Musical (NAP) -
>>>>>> Universidade Federal do Acre - Amazon Center for Music Research - Federal
>>>>>> University of Acre - http://ccrma.stanford.edu/~dkeller
>>>>>>
>>>>>>
>>>>>> ------------------------------
>>>>>> Subject: Re: [ANPPOM-Lista] Matéria sobre avaliação diferenciada entre
>>>>>> arte e ciência
>>>>>> From: silvioferrazmello em uol.com.br
>>>>>> Date: Wed, 6 Jun 2012 10:10:29 -0300
>>>>>> CC: musicoyargentino em hotmail.com
>>>>>> To: alexandre_ficagna em yahoo.com.br; rcaesar em oi.com.br;
>>>>>> carole.gubernikoff em gmail.com
>>>>>>
>>>>>> Como minhas mensagens não são postadas na lista da ANPPOM, escrevo a vcs...
>>>>>>
>>>>>> Falando da composição, minha área de atuação:
>>>>>>
>>>>>> Existe uma grande diferença entre produção artística e produção científica.
>>>>>> A primeira dela diz respeito a arte da performance: "l'art de la
>>>>>> répétition" ... "rehearsal art"
>>>>>> O que para um teórico seria repetir, repetir um artigo ou palestra aqui ou
>>>>>> acolá, na arte é outra coisa: repetir uma obra tem implicações muito mais
>>>>>> sérias e interessantes do que simplesmente se repetir.
>>>>>>
>>>>>> Do mesmo modo que tocar um concerto duas vezes não é se repetir (o
>>>>>> repertório é sempre retrabalhado, sempre envolve boas horas de estudo), ter
>>>>>> uma obra tocada duas vezes ao ano, por grupos diferentes ou pelo mesmo
>>>>>> grupo mas em lugares muito diferentes, não é se repetir.
>>>>>> Envolve contato com o grupo, ensaios, reensaios, ajustes de partitura.
>>>>>> Por outro lado a repetição de uma obra em concerto demonstra o
>>>>>> amadurecimento de um trabalho.
>>>>>> É comum a estreia de uma obra, mas é raro ela ser reapresentada, sobretudo
>>>>>> reapresentada por grupos diferentes, o que demonstra crescimento da obra e
>>>>>> de sua recepção.
>>>>>>
>>>>>> No que diz respeito à criação propriamente dita: Ok, escrevemos a peça uma
>>>>>> vez só, no entanto não temos como publica-la. Por isto o erro de
>>>>>> considerar-se a estreia como publicação. Qdo publicação é publicação, seja
>>>>>> digital ou analógica. O mesmo vale para gravação, que também não substitui
>>>>>> a publicação nem a estreia.
>>>>>>
>>>>>> Neste sentido é que necessitamos de um qualis de composição sério,
>>>>>> distinto de qq qualis de livro ou congresso.
>>>>>> Ok, podemos ter um primeiro critério: espaços de abrangência
>>>>>> internacional, nacional, local; editoras idem; gravadoras idem.
>>>>>> Mas temos também o repertório envolvido, sua dificuldade.
>>>>>> Uma obra para orquestra tem uma certa complexidade de escrita, mas a mesma
>>>>>> coisa se dá para um solo...ou seja, não pode ser por aí.
>>>>>>
>>>>>> Por outro lado... a avaliação por pares: isto já ocorre no processo de
>>>>>> seleção para concertos, não precisa ser refeito no qualis....aliás, o tempo
>>>>>> de avaliação de uma banca para uma bienal é bem maior do que o do avaliador
>>>>>> capes...o que torna sua qualificação falha.
>>>>>>
>>>>>> Minha sugestão é:
>>>>>> 1. avaliação do local de difusão (concerto, evento, editora, gravadora:
>>>>>> internacional, nacional, local; com/sem conselho; com/sem processo seletivo
>>>>>> por pares)
>>>>>> 2. avaliação do grupo encarregado pela difusão (internacional, nacional,
>>>>>> local)
>>>>>> 3. avaliação de amadurecimento: estreia, apresentação (considerando-se
>>>>>> distancia mínima entre apresentações e se com o mesmo ensemble ou
>>>>>> performer, que configure retrabalho..equivalendo assim estreia e
>>>>>> apresentação)
>>>>>>
>>>>>> A coisa é simples e não devemos nunca entrar em méritos de qualidade do
>>>>>> trabalho: isto quem qualifica é o grupo que selecionou a obra, o evento que
>>>>>> a aceitou, a gravadora, ou a editora. Já basta ter papers esculhambado por
>>>>>> razões de discordância teórica...isto se multiplica exponencialmente no
>>>>>> caso de trabalhos artísticos...
>>>>>>
>>>>>> abs
>>>>>> Silvio
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