[ANPPOM-Lista] Composição em Grupo

Valério Fiel da Costa fieldacosta em gmail.com
Qua Mar 21 11:26:00 BRT 2012


Oi Silvio.

Só respondendo a sua pergunta.

O processo da Cantata Bruta foi coletivo em todas as suas etapas: desde a
escolha dos textos até a definição do formato final. A sua estrutura
permitia isso: uma série de quadros, baseados em fragmentos escolhidos, por
afinidade, por cada compositor (extraidos do capítulo "A Gigantesca Morgue"
do livro "História Universal da Angústia" de W. J. Solha), dispostos no
tempo segundo um esquema geral que visava um equilíbrio entre forças
orquestrais/vocais/eletrônicas, energia (delicadeza x potência) e assuntos
do texto. Foram realizadas diversas reuniões nas quais cada membro mostrava
aquilo que havia composto, sugestões eram feitas, ajustes técnicos gerais,
etc. A costura final ficou a cargo de um dos colegas (pontes, criação de
objetos e situações que permeassem toda a peça gerando unidade, etc) e o
resultado foi avaliado por todos e foi ao palco.

Uma experiência muito rica e respeitosa sobre a qual pretendemos falar na
próxima ANPPOM.

Abç

VFC


Em 19 de março de 2012 16:52, silvioferrazmello <
silvioferrazmello em uol.com.br> escreveu:

> oi daniel
>
> ..interessante tua resposta.
> então:
> o que estava colocando na roda era questionar o próprio conceito de
> composição coletiva e trazendo para o debate a produção das oficinas.
> mozart usava este modo de trabalhar e, pelo que sabemos, stockhausen a
> retomou na composição de Licht.
>
> um oficial (como se chamava os trabalhadores das oficinas) pode bem deixar
> sua marca e até mesmo ser determinante na feitura de um trabalho.
> são diversos os relatos de trabalhos coletivos no renascimento.
> e por vezes se contratava um artista e se garantia que a obra ficaria
> pronta contratando dois oficiais (o que nos garantiu uma meia duzia de
> quadros de da Vinci, por exemplo, e nos garantiu o Requiem).
> e os oficiais podem não apenas garantir como também interferir
> decisivamente no resultado, visto que mesmo na mais ampla democracia
> teórica sempre existirá a diferença de velocidade de trabalho dos
> participantes de uma obra.
>
> o que é importante realçar é que o que há de novo na composição coletiva
> não deve ser apenas o fato de ser feita por muita gente.
> é necessário outro ingrediente ou estaremos apenas reinaugurando o
> passado, embevecidos por imaginar estar inventando a roda.
>
>
> algumas modalidades podem ser mapeadas:
>
> 1) composição coletiva como prática pedagógica...mas neste caso há uma
> orientação.
> 2) isto é bem distinto do processo que parece ter havido na composição do
> grupo da paraíba (mando a pergunta ao valério: houve uma condução de um dos
> participantes ou realmente todas decisões foram coletivas?).
> 3) e há a produção coletiva em que participantes tem funções diferentes
> (tomar cuidado com a proposta de retomar a produção fordista...seria
> interessante estudar a música do realismo socialista e a do cinema
> americano...alguém assina, ou o proletariado assina, e um bando de anônimos
> trabalha e até mesmo é demitido em meio ao processo caso não esteja
> rendendo)
> 4) há tembém trabalho em que cada um que participa o faz às cegas e o
> resultado é o amálgama díspar (cage+merce cunningham)
> 5) o trabalho do tipo improvisação livre coletiva (trabalho de iazzetta e
> rogério costa na usp)
> 6.1) o trabalho de colaboração (o técnico informático ou eletrônico e o
> compositor, como acontece no ircam, grm e tal)
> 6.2) o trabalho de colaboração compositor-instrumentista como o realizou e
> dovumentou giacinto scelsi.
>
> ou seja, existem modalidades desta prática.
>
> no mais, quanto a Mozart...ele não assina a obra, não teve tempo pra isto.
> ele teria assinado talvez (nem disto se sabe ao certo) o contrato para
> realização da obra.
> temos de tomar cuidado com nossa noção de propriedade romântica e a noção
> de propriedade pré-romântica...dois mundos a parte.
> vale à pena a leitura do pequeno livro  de Szendi sobre a escuta musical
> em que trabalhar justamente o conceito de autoria.
>
> a quem pertence o stabat mater, o qual bach reproduz hipsis literis em seu
> salmo 51...esta peça, o salmo, é de bach ou pergolesi?
>
> abs
> silvio
>
> On Mar 19, 2012, at 1:26 PM, Daniel Lemos wrote:
>
>
> Caro Sílvio,
>
> Obrigado pelas informações. Interessante observar que há de fato
> iniciativas de composição "formal" coletivas. Agora não imaginava que a
> composição do Requiem de Mozart poderia ser considerada uma metodologia de
> composição coletiva. Neste caso, em que sentido especificamente? Se o
> compositor estiver aberto a sugestões musicais de intérpretes, seria isto
> uma composição coletiva? Do aspecto da autoria, poderia não ser, pois
> Mozart assina a obra. Ainda, a aproximação entre intérprete e compositor,
> assim como nas Sequenze de Berio, poderiam ser consideradas "composição
> coletiva"?
>
> Um abraço,
>
> Daniel Lemos
>
> Curso de Música/DEART - musica.ufma.br
> ufma.academia.edu/dlemos - audioarte.blogspot.com
> Universidade Federal do Maranhão
>
>
> --- Em *dom, 18/3/12, silvioferrazmello <silvioferrazmello em uol.com.br>*escreveu:
>
>
> De: silvioferrazmello <silvioferrazmello em uol.com.br>
> Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] Composição em Grupo
> Para: "Valério Fiel da Costa" <fieldacosta em gmail.com>
> Cc: "ANPPOM-L" <anppom-l em iar.unicamp.br>
> Data: Domingo, 18 de Março de 2012, 23:27
>
> Caro Daniel,
>
> Lembro aqui de uma experiência.
> Em 1994 Flo Menezes, eu e os alunos do festival de campos do jordão
> compusemos uma grande peça para isntrumentos e eletrônica como resultado do
> curso de composição.
> A peça, intitulada Campos de Pássaros, está gravada em CD Música
> Maximalista (creio que o segundo volume)
> Mas existem diversas formas de composição coletiva.
> Mozart mantinha uma verdadeira oficina e seu Requiem é resultado desta
> oficina bem como suas ultimas sinfonias e a Cantata Maçônica.
> Cabe saber bem o que entende0se por composição coletiva e o quanto seus
> participantes realmente participam do processo desde seus primeiros passos.
> Cito o exemplo de Campos pois dele participaram, dentre os 9 alunos do
> curso, alguns que hoje se destacam no panorama da música brasileira como
> Pedro Kroeger e Sérgio Kafegian.
> Pelo visto temos diversas experiências no Brasil.
> Fora do Brasil uma experiência surpreendente é o trabalho do grupo
> L'Itineraire, que realizaram diversas obras coletivas nos anos 80.
>
>
> Abs
> Silvio Ferraz
>
> On Mar 18, 2012, at 11:55 AM, Valério Fiel da Costa wrote:
>
> Caro Daniel.
>
> Se estiver interessado em composição coletiva "formal", estamos
> programando para a ANPPOM um painel sobre a experiência de composição
> coletiva desenvolvida ano passado aqui em João Pessoa pelo COMPOMUS.
> Trata-se da "Cantata Bruta", obra para orquestra, coro, solistas,
> narradores e eletrônica composta por 6 membros do núcleo. Tal prática,
> muito bem sucedida, motivou mais duas experiências de grande porte,
> envolvendo vários compositores, programadas para este ano.
>
> chamada aqui:
>
> http://www.paraiba.com.br/colunista/edileide-vilaca/52137-cantata-bruta-em-comemoracao-aos-70-anos-de-w-j-solha
> Algumas críticas aqui:
> http://www.portal100fronteiras.com.br/noticias.php?id=10505
> http://www.portal100fronteiras.com.br/noticias.php?id=10503
>
> Abç
>
> VFC
>
> Em 17 de março de 2012 15:20, Daniel Puig <danielpuig em me.com> escreveu:
>
> olá, daniel!
>
> no campo da educação musical você encontra bastante coisa, se interessar.
> procure nos livros de Robert Murray Schafer, Brian Dennis, George Self e
> John Paynter. nos textos e livros de Keith Swanwick você pode achar algum
> aparato teórico que ajude, embora os questionamentos dele sejam voltados
> para a idade escolar. também em "Minds on Music: composition for creative
> and critical thinking" de Michele Kaschub e Janice Smith.
>
> vários textos na área da música contemporânea, ligados principalmente à
> improvisação, você vai encontrar questionamentos que interessem. no momento
> não me lembro de nenhum que aborde unicamente o assunto "composição em
> grupo", mas tenho certeza que outros colegas de lista poderão completar as
> informações.
>
> abraço,
>
> puig
>
>
> Em 16/03/2012, às 15:10, Daniel Lemos escreveu:
>
>
> Olá,
>
> Gostaria de saber se vocês conhecem referências bibliográficas sobre
> prática de Composição em grupo. Não tenho tido sucesso nas pesquisas até
> agora. Muito obrigado pela atenção.
>
> Cordialmente
>
> Daniel Lemos
>
> Curso de Música/DEART - musica.ufma.br
> ufma.academia.edu/dlemos - audioarte.blogspot.com
> Universidade Federal do Maranhão
> ________________________________________________
> Lista de discussões ANPPOM
> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
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