[ANPPOM-Lista] Fotógrafo francês traça a ‘geografia noturna’ dos bailes funk no Rio

Ale Fenerich fenerich em gmail.com
Dom Nov 11 00:50:42 BRST 2012


Seremos nós moralistas do som ou estudiosos de fenômenos musicais?

abraços!


Em 10 de novembro de 2012 14:42, Gabriel Moreira <gfmoreira em ymail.com>escreveu:

> Não me disponho a ler todos os comentários, li alguns... mas a assinatura
> do prof. Palombini é testemunhada por mim nesse momento; vizinhos que ouvem
> proibidão a todo volume. Dou-me o direito de cidadão de achar desrespeitoso
> tanto o volume assassino no que o escutam, quanto o conteúdo das letras,
> inclusive uma delas cantada por crianças de no máximo 10 anos, mandando
> chupar isso, chamando sicrano de filho da puta, evocando caralhos, enfim.
> Não hão de se escandalizar com a literalidade dos meus comentários, assim
> como não o fazem com a música que os emoldura na sua discursividade.
> Boa tarde.
>
>
> Gabriel Ferrão Moreira
> *
> *
> *Portal Sunrays Music <http://www.youtube.com//sunraysmusic>
> *
>
>
>
> Em 9 de novembro de 2012 18:32, Pedro Filho <pedrofilhoamorim em gmail.com>escreveu:
>
> Gente...
>>
>> confesso que não tinha visto a matéria nem o site do Vincent Rosenblatt
>> depois que li o primeiro email do Palombini. Mas depois de tanta polêmica -
>> e algumas declarações abismáveis - resolvi dar uma olhada. Só serviu pra me
>> apavorar com a ortodoxia, o puritanismo e a falta de tato com qualquer
>> alteridade (o "outro", pois a gente sabe que prá maioria dos assinantes
>> dessa lista o Funk é um "outro" quase alienígena). O pior é que, de fato:
>> as fotos são belíssimas, a matéria é simples e inócua (quero dizer, não me
>> soa como ofensiva a ninguém).
>>
>> As reações exageradas falam por si.
>>
>> Para além disso, as acusações de Eurocentrismo e sei lá o quê, neste caso
>> específico, me soam bastante ingênuas. Qual é o critério para se deixar
>> colonizar? A matriz antropofágica brasileira não garantiria anticorpos?
>> E no mais, a visão/ação/intromissão até de um estrangeiro no Brasil vão
>> ser agora reivindicadas? O que fez o moço Rosenblatt pra não ser tão bem
>> aceito como um Pierre Verger, ou, mais no nosso metier, Koellreutter, ou um
>> Smetak?
>>
>> Imagino mil petições de princípio, sobretudo de princípios hierárquicos
>> de mérito, por eu ter com parado o Rosenblatt com lendas da cultura
>> brasileira (SIC!). Reitero o acima dito: as reações exageradas falam por si.
>>
>> Eu não vi nada demais (no mau sentido), só um belo trabalho.
>>
>> Abraços a todos!
>>
>> Em 9 de novembro de 2012 02:35, Rafael Marin da Silva Garcia <
>> rafaelmarin7 em hotmail.com> escreveu:
>>
>>>  Prezado Luciano,
>>>
>>> Acredito que a legitimidade do funk enquanto gênero musical
>>> representativo das classes associadas só possa ser dada por aqueles que
>>> compartilham entre si, com toda plenitude, as significações e os valores
>>> culturais e identitários que o gênero proporciona. Sendo um estrangeiro
>>> neste universo, talvez nem mesmo o etnógrafo mais criterioso em seu
>>> trabalho científico e pesquisa de campo, ainda que imergido
>>> culturalmente em seus símbolos e significações, tenha o direito de conferir
>>> tal legitimidade, embora façamos isso o tempo todo na academia (e ainda que
>>> tal pensamento nos tire a função e os propósitos que acreditamos cumprir
>>> dentro da universidade).
>>>
>>> Quanto a possibilidade de o funk ser uma licença dada pela classe
>>> dominante (uso o termo "classe dominante" por comodidade) para manutenção
>>> de estruturas sociais desiguais e estratificadas, acredito que as
>>> ressignificações que o gênero sofre dentro do grupo no qual está inserido
>>> para atender, entre outras coisas, propósitos coletivos de constituição da
>>> identidade, possui dimensões que a classe dominante nem sequer imagina.
>>> Como disse acima, tais significados dificilmente são capturados até mesmo
>>> por nós pesquisadores, pois mesmo inseridos no universo que pretendemos
>>> estudar estamos sendo mediados o tempo todo pela linguagem, pela
>>> subjetividade de nossos informantes, pelos conflitos entre valores
>>> culturais distintos etc., que dirá a classe dominante.
>>>
>>> Sobre a apologia a certas culturas (tidas por marginalizadas), penso que
>>> ela pode realmente ter o "efeito ambíguo" que você menciona e as
>>> consequências que descreve, mas o tem principalmente se a posição em que
>>> estamos é exterior a essas culturas. Digo isso pois, pensando dessa forma,
>>> poderíamos inverter a lógica e dizer que a cultura funk igualmente nos é
>>> negada pela mesma classe dominante. Ao negar o livre acesso a outras
>>> expressões culturais (e é isso, acima de tudo, o que a estratificação
>>> social proporciona), a classe dominante o nega tanto à parcela
>>> desfavorecida da população quanto à parcela favorecida. Ao afirmarmos que a
>>> cultura acadêmica, por exemplo, está sendo negada aos funkeiros, devemos
>>> afirmar que a cultura funk está igualmente nos sendo negada.
>>>
>>> Por fim, numa tentativa de me retificar, gostaria de dizer que ao esclarecer
>>> que seu posicionamento intenta desestratificar as aparentes estruturas de
>>> poder exercida através da cultura, você deixa mais claro qual era sua real
>>> intenção no primeiro comentário. O esclarecimento que você agora nos dá
>>> certamente teria evitado a parte desagradável da discussão. Minha
>>> expectativa era que a matéria enviada inicialmente por Carlos Pombalini
>>> suscitasse discussões sobre o tema, e não comentários com juízos de valor
>>> depreciativos e em tom de deboche, como equivocadamente interpretei seu
>>> comentário.
>>> Peço-lhe, portanto, sinceras desculpas pelo sentimento de ofensa e pelos
>>> infelizes termos utilizados.
>>> Espero que aceite.
>>> Abraço
>>>
>>> Rafael Marin
>>>
>>>
>>> ------------------------------
>>> Date: Thu, 8 Nov 2012 07:31:38 -0800
>>> From: lucianocesar78 em yahoo.com.br
>>> To: anppom-l em iar.unicamp.br; cpalombini em gmail.com
>>> Subject: Re: [ANPPOM-Lista] Fotógrafo francês traça a ‘geografia
>>> noturna’ dos bailes funk no Rio
>>>
>>>
>>> Prezados senhores da lista,
>>>
>>>
>>> A ligeireza com que tratei o assunto a que se refere o título desta
>>> mensagem facilitou julgamentos – esses sim, *ad hominem – *a minha
>>> pessoa, diretamente. Não reclamo da divergência de opiniões, mas me senti
>>> ofendido e humilhado por ser associado a uma lente de olhar “curioso”,
>>> “preconceituoso”, “elitista” do senso “comum”, “devoto e escravo dos
>>> ditames senhoriais” e por ter minha opinião sendo classificada como
>>> irrelevante, apesar de ter merecido a atenção dos senhores a partir de
>>> julgamentos que atingem a minha pessoa e não a opinião que emito a respeito
>>> de um gênero musical. Mas não recebi nenhum argumento.
>>>
>>> Há dois pontos que levantei em meu comentário que, pela leveza até
>>> irresponsável do meu tratamento, foram ignorados. Primeiro, a questão de se
>>> o funk é (entre muitas coisas diferentes que caracterizam o objeto social)
>>> um gênero musical legítimo como representação das classes populares
>>> associadas a ele, ou licença, dada pela classe dominante, para manutenção
>>> de estruturas sociais desiguais e estratificadas. O segundo ponto é, no
>>> caso de se considerar o funk como manutenção de estruturas estratificadas
>>> de poder, se o olhar estrangeiro laudatório não facilitaria a celebração
>>> dessa manutenção dominante. As questões são claras, e podem ser
>>> perfeitamente discutidas sem juízo do interlocutor e a partir de uma
>>> argumentação científica. Pode ser que frequentar e fotografar bailes
>>> realmente qualifique um fotógrafo a se dizer conhecedor “por dentro e de
>>> perto”, como afirma o sr. Rafael Marin. Mas trabalhar em projetos sociais –
>>> como é o meu caso – talvez também ajude a alimentar um olhar mais
>>> aproximado sobre a representatividade que os moradores de comunidades de
>>> periferia efetivamente conferem a esse gênero musical.
>>>
>>> Não entendo como a crítica feita a partir desses dois pontos
>>> (estratificação de estruturas de poder e apologia a uma cultura isolada,
>>> uma reforçando a outra) seja a de uma “mentalidade colonizada”, até porque
>>> não aleguei em momento nenhum, comparação com qualquer manifestação
>>> cultural de “elite”. Sequer falei da relação de belo-não belo. Esse
>>> preconceito, provavelmente, está na cabeça de quem leu. A defesa que faço -
>>> em minha vida privada e acadêmica - da política das cotas, por exemplo,
>>> leva em conta exatamente a intenção de desestratificar essas estruturas de
>>> poder exercido através da cultura. A meu ver, a apologia da cultura das
>>> classes subjugadas tem esse efeito ambíguo: por um lado celebra a vida
>>> cultural de uma comunidade, mas por outro, oculta a negação do livre acesso
>>> de outras expressões culturais a uma parcela desfavorecida da população num
>>> movimento de dominação implícita.
>>>
>>> Isso não é fruto de uma pesquisa científica, mas uma opinião (embasada)
>>> a que tenho direito, com toda a probabilidade de ser refutada por
>>> convencimento da parte de pesquisadores comprometidos com a questão. O que
>>> eu não gostaria é de me ver enredado em ofensas pessoais por defender tal
>>> opinião, mesmo que tenha que discutir e reconhecer o erro de meu ponto de
>>> vista.
>>>
>>> Embaso essa discussão não só em minha opinião mas, entre outras
>>> experiências, na ação pública do escritor, cantor e artista Ferrez (
>>> http://ferrez.blogspot.com.br/p/autor.html), a quem tive oportunidade
>>> de ouvir renegando os bailes funk como representativos da cultura de
>>> periferia (palestra dada ao programa Guri Santa Marcelina em 08/02/2012).
>>> Não sei se Ferrez concordaria com minha mensagem, mas com certeza
>>> discutiria a questão em outros termos. Sou levado a pensar que talvez ele
>>> discutisse a questão e não a minha pessoa. E talvez, mesmo que concordasse
>>> comigo do ponto de vista da crítica, apreciaria a qualidade artística das
>>> fotos, como eu também apreciei.
>>>
>>> No entanto, o sr Carlos Palombini e o sr. Rafael Marin responderam como
>>> se se quisessem pareceristas de um artigo acadêmico ao que deveria ter sido
>>> a expressão livre de uma opinião. Ou seja, cientificizaram o rechaçamento
>>> de minha pessoa, de minha capacidade de raciocínio (“O restante do
>>> raciocínio, se é correto empregar este termo aqui”), rejeitaram minha
>>> experiência possível e subestimaram minha capacidade de compreender
>>> argumentos contrários que, acredito sinceramente, os senhores são
>>> perfeitamente capazes de proferir. Nesses “pareceres”, um verniz
>>> cientificista deslocado trouxe a luz uma leitura rasa que atribui à minha
>>> pessoa posições que absolutamente não defendo, além de me acusarem de
>>> ignorante sem sequer conhecer a experiência que tenho como professor de
>>> projetos sociais. Nenhum dos dois me conhece pessoalmente para justificar o
>>> seu juízo.
>>>
>>> Pergunto aos senhores onde está o argumento *ad hominem *na minha
>>> mensagem, já que não mencionei pessoas: o termo “francês ver”, de minha
>>> primeira frase, alegoriza um olhar estrangeiro, tradicionalmente
>>> deslumbrável pelo exótico com que reveste o diferente, às vezes para
>>> mostrar a beleza, mas às vezes para negar a injustiça social imanente ao
>>> fenômeno social que observa. Nas respostas, entretanto, faculdades
>>> cognitivas foram mencionadas. Fui acusado, além de elitista e ignorante,
>>> também de falacioso no “abraço” com que sempre assino minhas mensagens
>>> escritas a comunidade acadêmica de que faço parte, que amo e defendo, mesmo
>>> discordando, exercendo minha liberdade de expressão e confiança de que
>>> minhas opiniões possam ser acolhidas, compreendidas e refutadas sempre que
>>> necessário.
>>>
>>> Se falei uma imensa bobagem, peço sinceras desculpas e me disponho a
>>> pesquisar melhor os dados. Como acabo de dizer, manifestei uma opinião e
>>> estou realmente aberto a argumentos que enriqueçam essa opinião, desde que
>>> haja discussão dos pontos levantados. Mas eu, sinceramente, esperava uma
>>> reação melhor dos senhores.
>>>
>>>
>>>
>>> Grato pela atenção,
>>>
>>> Um abraço a quem aceitar.
>>>              Luciano Morais
>>>
>>>
>>>
>>>
>>> --- Em *ter, 6/11/12, Carlos Palombini <cpalombini em gmail.com>* escreveu:
>>>
>>>
>>> De: Carlos Palombini <cpalombini em gmail.com>
>>> Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] Fotógrafo francês traça a ‘geografia
>>> noturna’ dos bailes funk no Rio
>>> Para: anppom-l em iar.unicamp.br
>>> Data: Terça-feira, 6 de Novembro de 2012, 14:41
>>>
>>> Interessante como os ataques à matéria mostram uma forte propensão ao *argumentum
>>> ad hominem*, isto é, atacam o oponente, e não seus argumentos. Trata-se
>>> de uma falácia lógica ou, mais precisamente, de uma irrelevância. O
>>> restante do raciocínio, se é correto empregar este termo aqui, é
>>> tautológico. Não há qualquer sombra de elaboração teórica ou de experiência
>>> reveladora do que quer que não seja preconceito de classe, isto é,
>>> ignorância. Agradeço a gentileza dos "abraços", que não posso aceitar, por
>>> falaciosos.
>>>
>>> cp
>>>
>>> Mensagem de Rafael Marin:
>>>
>>> Ao invés de uma celebração pela etnografia fotográfica que o olhar - de
>>> perto e de dentro - de Vicent Rosenblatt nos traz (trabalho este que
>>> deveria levar, em primeiro lugar, a uma discussão acerca das pesquisas
>>> etnomusicológicas que têm como campo e objeto de pesquisa os espaços do
>>> funk carioca e suas implicações sócio-culturais), o que tivemos foi,
>>> lamentavelmente, um infeliz comentário que reflete um olhar - de fora e de
>>> longe - ingênuo (cientificamente falando), preconceituoso e elitista de
>>> um devoto e escravo dos ditames senhoriais que ainda insistem em se
>>> proclamar, através de seus porta-vozes, detentores dos critérios que
>>> distinguem o belo do não-belo, o artístico do não-artístico, o estético do
>>> não-estético, quando na verdade a única distinção que fazem é entre
>>> ciência e senso comum, entre pesquisador e curioso.
>>> Rafael Marin
>>>
>>>
>>>
>>> 2012/11/6 <lcm em usp.br <http:///mc/compose?to=lcm%40usp.br>>
>>>
>>>     Cultura pra francês ver. Às "elites" interessa exatamente isso:
>>> alienação, ignorância, superficialidade da classe popular. O funk não é uma
>>> insurreição contra nenhuma estrutura social, pelo contrário. Até defendo o
>>> o funk como expressão social e cultural de uma classe oprimida, mas a
>>> apologia e a esteticização disso me parece a mesma coisa que elogiar a
>>> pujança e a beleza das senzalas.
>>> Abraço,
>>>
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