[ANPPOM-Lista] sobre pianos e toca-discos

Daniel Lemos dal_lemos em yahoo.com.br
Dom Dez 1 21:43:34 BRST 2013


Caro Hugo,

Meu discurso continua o mesmo jstamente porque tenho convicção dos ideais que defendo.

Creio que você está levando ao pé da letra o conceito de "autonomia artística" que trago à lista. Em primeiro lugar, critico o fato de que nas políticas culturais brasileiras de hoje, não existe a intenção de oferecer ao artista espaço para que ele possa produzir sua arte de forma natural. O sistema de projetos traz uma série de exigências e adequações das propostas artísticas - envolvendo público-alvo específico, temáticas ligadas ao projeto, prestação de contas, etc. - e caso você não cumpra com estas exigências, tu corres o risco de não conseguir empresas para apoiar teu trabalho. Na prática, empresa e governo não perdem nada, pois o dinheiro apenas vai para o governo como um imposto que a empresa já devia. Quem sofre com isso é, como sempre, o proponente do projeto. Provavelmente por você ser estatutário há muito tempo e não depender de aprovar projetos para tocar guitarra, fazer uma turnê com a sua banda e/ou ter
 salário e aposentadoria garantidos, esta realidade esteja muito distante para você, assim como é para mim também. Porém, pretendo analisar e contribuir na medida do possível para com os músicos que não possuem esta "benesse" (traduzindo: nossos alunos), e dependem de chachets e políticas culturais para trabalhar (claro que seguindo as exigências dos contratantes com relação a repertório: decidindo o que deve ou não ser tocado). Só assim para suscitar uma visão crítica sobre como o sistema de financiamento cultural no Brasil tem funcionado.

Um exemplo clássico de restrição da "autonomia criativa" é o próprio surgimento dos fonogramas. Existia um padrão de mercado que impunha sessenta minutos para a duração média de um álbum de uma banda. Isso hoje tem sido revisto após a circulação do MP3 e a criação do sistema de vendas de faixas separadas via internet. Outro exemplo claro de que as mídias massivas interferem na criação é o fenômeno da música Faroeste Caboclo, pois sua duração de cerca de 8 minutos é considerada inadequada para os padrões das rádios. Porém, seu sucesso foi tão grande que uma exceção foi aberta. Trata-se de uma situação evidente da "luta" do músico contra as limitações estéticas do mercado. Inúmeros músicos tratam desse tema.

Daniel Lemos






Mais detalhes sobre a lista de discussão Anppom-L