[ANPPOM-Lista] Lucas Robatto sobre o Mestrado Profissional em Música da UFBA

Jorge Antunes antunes em unb.br
Dom Fev 3 12:41:03 BRST 2013


Olá, Daniel:

Creio que não devemos nos preocupar com o conteúdo destas suas frases:
*"... Nelson Freire é um dos pianistas mais importantes da história do
país, mas se o mesmo fosse professor em uma Universidade brasileira, o
reconhecimento de sua produção certamente seria bem menor."*
*"... muitas dissertações visam a analisar o trabalho de músicos
importantes, mas se estes mesmos músicos estivessem na academia, seu
trabalho seria pouco valorizado."*
Acho que se o Nelson Freire fosse professor de alguma Universidade
brasileira, ele não seria apenas o grande músico e concertista que é,
cativando plateias de todo o mundo. Certamente ele, além de ser o que é, e
fazer o que faz, passaria também a destinar parte de seu tempo a uma
importante produção acadêmica. Ele se atém àquela atividade, e não também a
esta, porque não é professor universitário.
Outra coisa que considero importante, é não se achar que todo mundo que é
bom no que faz, deva ter título acadêmico ou equivalente.
Zeca Pagodinho é bom no que faz. Os rapazes do *Exalta Samba* também são
muito bons naquilo que eles fazem.
Quanto a mestrados e doutorados, é bom lembrar que, desde os anos 1980,
graduados não mais buscam a pós-graduação porque têm ideias e projetos de
tese acadêmica na cabeça ficando na busca de cursos onde possam desenvolver
o trabalho de pesquisa. Ao contrário, desde os anos 1980 graduados buscam o
mestrado e o doutorado para poderem ingressar na carreira acadêmica e/ou
melhorar seus salários, muitas vezes sem qualquer ideia tética na cabeça.
Muitos chegam ao ponto de trocarem totalmente de projeto de tese, após
ingressarem na pós.
Outra coisa, lembremo-nos de que muitos jovens músicos que concluem a
graduação em instrumento, em Universidades brasileiras, têm, como etapa de
vida seguinte, o ingresso em um Conservatório europeu, que são meros
Conservatórios, sem qualquer atividade acadêmica.
Pior, alguns acham que, em Conservatório europeu estará fazendo uma
"espécie de mestrado".
Aliás, conheço professores de universidade que conseguiram equivalência de
mestrado, porque conseguiram um tradutor juramentado que traduzisse "master
class" para "aula de mestrado".
Entendo que é um equívoco o uso da expressão "mestrado profissionalizante"
ou "mestrado profissional". A nomenclatura correta seria: "curso de
aperfeiçoamento" e/ou"curso de especialização".
Abraço,
Jorge Antunes





Em 2 de fevereiro de 2013 23:28, Alvaro Henrique
<alvaroguitar em gmail.com>escreveu:

> Concordo especialmente com sua última frase, Daniel. Acho um equívoco essa
> noção "socialista" que a educação tem no Brasil. Acredito que cursos com
> propostas diferentes, em cidades diferentes, tendem a ser uma solução
> melhor que todo mundo ensinando o mesmo do mesmo jeito.
>
> Abraços,
> Alvaro Henrique
> www.alvarohenrique.com
> ----
> http://www.youtube.com/watch?v=44Kf0yBMgKU
>
>
> Em 1 de fevereiro de 2013 14:27, Daniel Lemos <dal_lemos em yahoo.com.br>escreveu:
>
>>
>> Prezados,
>>
>> A discussão está interessante, permitam-me adicionar um ponto de vista.
>>
>> Se a criação do mestrado profissionalizante na UFBA desperta boas
>> perspectivas com sua criação, ocorre também porque o formato de mestrado
>> acadêmico vigente falhou em termos de consolidar de forma satisfatória a
>> prática musical como parte constituinte da produção essencial de Música. Se
>> isto tivesse ocorrido de fato, não seria necessário propor um modelo
>> profissionalizante de Mestrado. Um exemplo bizarro disso é que muitas
>> dissertações visam a analisar o trabalho de músicos importantes, mas se
>> estes mesmos músicos estivessem na academia, seu trabalho seria pouco
>> valorizado. Por exemplo: Nelson Freire é um dos pianistas mais importantes
>> da história do país, mas se o mesmo fosse professor em uma Universidade
>> brasileira, o reconhecimento de sua produção certamente seria bem menor.
>>
>> Segundo ponto: o distanciamento entre teoria e prática não advém
>> necessariamente da existência de dois tipos de pós-graduação, mas de como
>> *nós enquanto professores, alunos e indivíduos em exercício musical
>> aplicamos de fato em nossas atividades musicais*. Há pesquisas de
>> mestrado acadêmico de forte caráter prático, e isso não se deve à proposta
>> do programa em si, mas à atitude de um determinado orientador e seu
>> orientando frente ao modelo institucionalizado. Assim, este distanciamento
>> ocorre porque muitas pessoas ainda falham em conduzir pesquisas e outros
>> tipos de atividade que equilibrem estas duas dimensões do conhecimento
>> musical.
>>
>> Por último, reforço que é importante diversificar as opções de formação
>> existentes. Se há mestrados profissionais e acadêmicos, será um grande
>> ganho para a área de Música como um todo. Agora, é importante conceber que
>> um não é melhor que o outro: eles apenas possuem propostas diferentes,
>> assim como ocorre entre Licenciatura e Bacharelado.
>>
>> Abraços,
>>
>>
>> Daniel Lemos Cerqueira
>>
>> Coordenador do Curso de Música
>>
>> Coordenador do PIBID de Artes
>>
>> Membro da Comissão Permanente de Vestibular
>>
>> Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
>> http://musica.ufma.br <http://musica.ufma.br>
>>
>>
>> --- Em *qua, 30/1/13, luciano cesar <lucianocesar78 em yahoo.com.br>*escreveu:
>>
>>
>> De: luciano cesar <lucianocesar78 em yahoo.com.br>
>> Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] Lucas Robatto sobre o Mestrado Profissional
>> em Música da UFBA
>> Para: "“anppomlist“" <anppom-l em iar.unicamp.br>,
>> professoresdemusicadobrasil em googlegroups.com,
>> silvioferrazmello em uol.com.br
>> Data: Quarta-feira, 30 de Janeiro de 2013, 18:31
>>
>> Caros Lucas, Silvio e colegas/professores,
>>
>>   Eu estava pensando há dias nesse assunto.
>>   Confraternizo-me com as questões levantadas. Partamos da consideração
>> de que 1) Um dos problemas da performance artística (e da composição
>> experimental de vanguarda) é ter um espaço para resguardo das exigências
>> profissionais de mercado e instituições promotoras de concertos para
>> desenvolver pesquisa especulativa e 2) Que esse espaço tem sido suprido em
>> parte pela pesquisa na universidade nos seus modelos que melhor reconhecem
>> a produção artística...
>>     Então quais as consequencias de um mestrado profissionalizante que,
>> se entendi bem, propõe retirar a ênfase da reflexão teórica, resguardada
>> para professores de cátedra e pesquisadores, e enfatizar a prática como
>> aplicação das teorias? Ou seja, separar teoria de prática exatamente num
>> momento em que cresce um movimento de integração entre essas instâncias?
>>    Me parece que o que está em questão aqui não é nem reduzir a
>> importância e a presença da teoria e da reflexão, que renova e retira o
>> gesso das práticas tecnológicamente aplicadas (frequentemente irrefletidas,
>> que seguem se reproduzindo por que "sempre se fez assim", por que "assim
>> funciona"), mas da manutenção do modelo de separação entre teoria e
>> prática. Ora, as artes são justamente o território em que as duas coisas se
>> mesclam de maneira mais exemplar! São o terreno em que a investigação
>> histórica e a pesquisa tem maiores consequencias no desenvolvimento e
>> aprofundamento das produções... um mestrado profissionalizante não seria a
>> instauração de um preceito questionavel, o de que na música se dividem as
>> pessoas entre os que pensam e ensinam e os que fazem e praticam?
>>     Outro ponto é a vinculação da pesquisa academica a instituições de
>> interesse. Esse modelo já solapou muitas pesquisas especulativas que não
>> despertam interesse do mercado, mas que nem por isso são menos importantes
>> ou tem menos consequencias para o que se faz nas diversas áreas. Me parece
>> que a academia acaba reconhecendo o seu lugar como patrocinadora e vincula
>> esse patrocínio a um setor de estudo, dividindo o que deveria estar
>> integrado. Ou seja, a universidade pública casa-se com o mercado
>> profissional no nível da pos-graduação.
>>     Em todo o caso, essa crítica não diminui o reconhecimento da
>> importância da iniciativa e a torcida para que as coisas aconteçam da
>> melhor maneira possivel. Se os professores da UFBA estão encontrando esse
>> caminho, com certeza é por bons motivos. Só torço para que o diálogo de
>> ideias das diversas áreas permaneça mais fluido ainda, já que estão se
>> separando quase que institucionalmente.
>>
>> Abraços,
>>
>> Luciano Morais
>>
>>
>> --- Em *qua, 30/1/13, silvioferrazmello em uol.com.br <
>> silvioferrazmello em uol.com.br>* escreveu:
>>
>>
>> De: silvioferrazmello em uol.com.br <silvioferrazmello em uol.com.br>
>> Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] Lucas Robatto sobre o Mestrado Profissional
>> em Música da UFBA
>> Para: "“anppomlist“" <anppom-l em iar.unicamp.br>,
>> professoresdemusicadobrasil em googlegroups.com
>> Data: Quarta-feira, 30 de Janeiro de 2013, 11:04
>>
>>
>> Caros Lucas e colegas,
>>
>> A proposta da UFBA é bastante interessante, e tem de ser parabenizada.
>> Porém ela dá a volta sem resolver um problema fundamental: a contínua
>> separação entre performance, criação e reflexão conceitual (ou teórica).
>> Tanto a produção composicional e de performance devem ser consideradas
>> produções acadêmicas (aquelas que se dão na academia), não se distinguindo
>> da conceitual, nem sendo complementares umas às outras.
>> Uma tese em matemática pode ter 10 linhas introdutórias e 100 páginas de
>> cálculo, que apenas os matemáticos entendem, por que uma tese em música não
>> pode ter 10 linhas introdutórias e 100 páginas de partitura ou 2 horas de
>> gravação, que só os músicos entendem?
>> Por que a música, pelo seu flerte com as ciências humanas, tem de se
>> submeter a mecanismos intelectuais do século XIX?
>>
>> Por que não podemos assumir a posição de uma ciência a parte, um real
>> estética (ciência do sensível) e com isto reservar lugar digno para a
>> produção do musicólogo (esta conceitual ou história) e para a produção
>> musical (em teses e dissertações focadas em suas práticas, nas quais os
>> textos não necessariamente se constituam em trabalhos conceituais ou
>> teóricos).
>> Claro que o texto clarifica uma proposta, ele introduz, apresenta uma
>> proposta composicional ou de performance, mas ele não pode ser o único
>> resultado esperado deixando à prática o lugar de campo de experimentação.
>>
>> Mas de qq maneira, parabenizo a iniciativa, pois já coloca a prática em
>> algum lugar na produção acadêmica.
>> Apenas pergunto se já não estaria na hora de assumirmos nossas produções
>> musicais em sua íntegra.
>> Se não formos nós a fazer tal mudança, sem dúvida ela não será feita pelo
>> departamento de engenharia elétrica.
>>
>> abs
>> Silvio Ferraz
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