[ANPPOM-Lista] RES: O "Ciência sem Fronteiras": Editorial O Estado de S.Paulo

luciano cesar lucianocesar78 em yahoo.com.br
Seg Jan 28 22:48:23 BRST 2013


Prezado professor Mannis, 

  Concordo com tudo. O texto já está alterado? Se sim, esperamos um pouco para mais manifestações e o liberamos na rede...

Abraço!

Luciano

--- Em seg, 28/1/13, jamannis em uol.com.br <jamannis em uol.com.br> escreveu:

De: jamannis em uol.com.br <jamannis em uol.com.br>
Assunto: RES: [ANPPOM-Lista] O "Ciência sem Fronteiras": Editorial O Estado de S.Paulo
Para: "'luciano cesar'" <lucianocesar78 em yahoo.com.br>, "'Jorge Antunes'" <antunes em unb.br>
Cc: "'Marcus S. Wolff'" <m_swolff em hotmail.com>, "'etnomusicologia lista'" <etnomusicologiabr em yahoogrupos.com.br>, "'lista ANPPOM'" <anppom-l em iar.unicamp.br>
Data: Segunda-feira, 28 de Janeiro de 2013, 18:52

Senhoras Senhores  O texto está bem elaborado, amarrado e coeso.  Proponho acrescentar algumas modificações para dar precisão a referencias, coerência nas denominações, sobretudo das áreas do Conhecimento – acredito que devemos considerar pelo menos em parte a classificação do CNPq que é o órgão do governo que tem essa competência). E replicar pelo menos em algum momento se o déficit de profissionais qualificados não afeta as Humanidades. Outra coisa: fazer sempre referência `as mesmas áreas como escrito no editorial “Ciências exatas e biológicas” incluindo as engenharias.  Manifesto da comunidade acadêmica ligada às Artes e Humanidades; Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Música; etc.  Nós, abaixo assinados artistas, estudantes e professores universitários manifestamos nosso desagravo e crítica para com as ideias publicadas no editorial do jornal O Estado de São Paulo, 19 jan. 2013, intitulado O
 ‘Ciência sem Fronteiras’ (Disponível em: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,o-ciencia-sem-fronteiras-,986117,0.htm  Acesso em: 28 jan. 2013), apresentando as posições do Tribunal Federal do Ceará e do Sr. Ministro Aloizio Mercadante a respeito das iniciativas para o avanço da ciência. O editorial acaba tratando também das respectivas discordâncias e atitudes forçadas de demais áreas que, sendo também ciência, lutam pela viabilidade de suas pesquisas: os 20 cursos de ciências humanas e sociais (incluindo letras, sociologia, artes, publicidade e comunicação) que procuraram amparo nos recursos do programa Ciência Sem Fronteiras. O nome do programa se apresenta hoje em contradição, já que lida com fronteiras conceituais muito claras. O discurso que questiona essas fronteiras foi silenciado de maneira violenta e imponderada, razão pela qual julgamos necessária uma manifestação.  Embora o conceito de ciência seja amplo
 e multifacetado, o editorial apresenta uma visão limitada que poderá ser responsável pela continuação do extraordinário desequilíbrio no desenvolvimento intelectual de uma sociedade gigantesca como é a brasileira. Desenvolvimento desequilibrado não é desenvolvimento, como temos podido experimentar durante séculos de história no Brasil. Nossa discordância representa a indignação para com a visão restritiva por parte de pessoas que comandam as ações oficiais do Estado Brasileiro e o apoio da imprensa para com tal ignorância.  O primeiro aspecto a ser observado é o equilíbrio de ações de financiamento e estratégias abrangentes que equalizem os recursos públicos. Nesse sentido, não é verdade que “... nas humanidades, o Brasil já tem uma expressão bastante grande", como alega o Ministro Mercadante. Essa avaliação prescinde de consulta aos acadêmicos das diversas áreas e acaba justificando um investimento muito maior em
 pesquisa nas áreas de ciências exatas e biológicas, cuja prioridade não é consenso fora dos interesses (corporativos, por que não, neste caso?) dessas áreas específicas. A afirmação em questão, além de desautorizar a opinião dos especialistas ligados às demais áreas, e em nosso caso às humanidades, também acaba desautorizando a autonomia acadêmica, ao permitir que uma decisão de fomento sofra intervenção de um tribunal de justiça. Tal avaliação cabe aos próprios acadêmicos e profissionais das áreas e os responsáveis diretos pela administração dos recursos. Além disto, não foram citadas subáreas de “Ciências Humanas” como Filosofia, Geografia, História, Sociologia, tampouco subáreas de Linguística, Letras e Artes. Há uma redução como área de prioridade em Ciências Humanas a Administração de Empresas e Economia. Trata-se de um campo de interesse direto da iniciativa privada, cujo aplauso parece ser o maior
 critério para aprovar políticas de financiamento. Porém, administrar se refere a lucro e a funcionalidade de estratégias de auto-gestão monetária. O próprio conceito de “conhecimento” em Administração é definido em termos de utilidade para a viabilidade pecuniária das iniciativas empresariais. Dar por resolvida a questão por ser o programa elogiado “pela iniciativa privada” sem uma consideração dos interesses desse setor é aceitar um corporativismo no mínimo equivalente ao que acusa o autor do editorial do Estado de São Paulo. É desconsiderar valor e propósito do pensamento que inclua, supere e critique os modelos de gestão de capital, que podem ou não ter a ver com cultura e conhecimento. As pressões das diversas comunidades acadêmicas são tão legítimas quanto as de qualquer outra instância da sociedade.  Optar por um lado, nesse caso, confirma o velho senso comum que afirma não interessar ao governo ter cidadãos
 pensantes e críticos, mas operadores servis e ignorantes dóceis às manobras políticas e – estas sim – corporativistas dos setores com mais poder dentro da difícil relação governo-setores privados.  É sabido que um país desenvolvido é um país com forte atividade cultural e amplo debate de intelectuais nos diversos setores sociais. O hospital Albert Einstein, de São Paulo mantem uma orquestra de cordas formada por seus médicos. Cientistas como Werner Heisenberg e Albert Einstein tocavam, respectivamente, órgão e violino. O brasileiro José Leite Lopes era também pintor. É bastante questionável pensar se teriam sido tão geniais em suas áreas, se os projetos e produções dessas pessoas e instituições teriam sido tão bem sucedidas se não tivessem mantido em seu horizonte, como um todo, o patrimônio cultural e intelectual disponível em seu tempo. O que possibilitou esse acesso foi uma estrutura de interesse coletivo
 equilibrado, distribuído entre orquestras, músicos, pintores, escritores, filósofos, professores, arquitetos, ao lado dos engenheiros, administradores, agentes ferroviários, marceneiros, metalúrgicos, garis e todos os demais setores, visando um crescimento em conjunto. As descobertas desses físicos foram usadas para fomentar a guerra e a morte em massa justamente por militares e estrategistas que compreendiam pouco do que significa a herança cultural e humana. No entanto, é esse desequilíbrio que o governo pretende sustentar, com o aval da grande imprensa representada por este jornal.            O governo não “acertou ao lançar um programa que reduz a distância entre as universidades brasileiras e as estrangeiras mais conceituadas nas áreas de conhecimento estratégicas para o desenvolvimento do País”, ele simplesmente privilegiou um setor. Não repudiamos esse apoio. Urge, no entanto, repensar essa postura para com as
 outras áreas do conhecimento produtivo: artes, filosofia, história, comunicação, ciências sociais são tão ou mais importantes para o desenvolvimento intelectual de uma nação quanto matemática ou engenharia ciências exatas e biológicas. E esse desenvolvimento intelectual é o que realmente nos distinguiria de escravos, máquinas ou animais. Não há também déficit de profissionais qualificados em Ciências Humanas, (a Educação está em Ciências Humanas), Ciências Sociais, Ciências Sociais Aplicadas, Ciências Agrárias, Linguística, Letras e Artes? Que indicadores demonstram o contrário?            Lamentamos a atitude de desclassificar as vozes em desacordo como “pressões corporativistas”. Ora, qual é a diferença entre desacordo democrático, argumentação participativa e interesse corporativo? Não poderíamos acusar os setores de ciências exatas e biológicas (incluindo as engenharias), que estão sendo cada
 vez mais beneficiados, como corporativos? O que faz com que eles sejam tratados como prioritários e os outros como chorões e interesseiros? A resposta tem que ser dada ao esclarecer a ênfase que o governo pretende estabelecer e ao tipo de desenvolvimento a ser privilegiado.  Acreditamos ser necessário que o fomento seja equilibrado na direção das demais ciências humanas e das artes. Acusar essa posição de corporativismo é defender uma política manca, míope e restritiva sobre o que significa desenvolvimento, é expor a própria ignorância, é compactuar com o obscurantismo que nos mantem distantes dos demais países desenvolvidos TAMBÉM em áreas como cultura, escolarização. Acreditamos que essas distâncias sejam tão grandes, ou até maiores, do que as existentes nas áreas privilegiadas pela declaração unilateral deste editorial.  Ao jornal OESP, Comunidade, ANPPOM, professores, estudantes de artes, filosofia e a quem mais possa
 interessar.          De: luciano cesar [mailto:lucianocesar78 em yahoo.com.br] 
Enviada em: segunda-feira, 28 de janeiro de 2013 18:03
Para: Jorge Antunes
Cc: Marcus S. Wolff; jamannis em uol.com.br; etnomusicologia lista; lista ANPPOM
Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] O "Ciência sem Fronteiras": Editorial O Estado de S.Paulo  Prezados professores e colegas, 

Segue o texto com o acréscimo do maestro Jorge Antunes.
Aguardando mais contribuições e propostas para oficializar e divulgar o documento (correções ortográficas e de estilo também são bem vindas. Tanta gente escreve bem nessas listas o documento tem que ser representativo...).
Abraços, 

LucianoManifesto da comunidade acadêmica ligada às Artes e Humanidades; Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Música; etc. Nós, abaixo assinados artistas, estudantes e professores universitários manifestamos nosso desagravo e crítica para com as ideias publicadas no editorial publicado neste jornal, apresentando as posições do Tribunal Federal do Ceará e do Sr. Ministro Aloizio Mercadante a respeito das iniciativas para o avanço da ciência. O editorial acaba tratando também das respectivas discordâncias e atitudes forçadas de demais áreas que, sendo também ciência, lutam pela viabilidade de suas pesquisas: os 20 cursos de ciências humanas e sociais (incluindo letras, sociologia, artes, publicidade e comunicação) que procuraram amparo nos recursos do programa Ciência Sem Fronteiras. O nome do programa se apresenta hoje em contradição, já que lida com fronteiras conceituais muito claras. O discurso que questiona
 essas fronteiras foi silenciado de maneira violenta e imponderada, razão pela qual julgamos necessária uma manifestação.Embora o conceito de ciência seja amplo e multifacetado, o editorial apresenta uma visão limitada que poderá ser responsável pela continuação do extraordinário desequilíbrio no desenvolvimento intelectual de uma sociedade gigantesca como é a brasileira. Desenvolvimento desequilibrado não é desenvolvimento, como temos podido experimentar durante séculos de história no Brasil. Nossa discordância representa a indignação para com a visão restritiva por parte de pessoas que comandam as ações oficiais do Estado Brasileiro e o apoio da imprensa para com tal ignorância.O primeiro aspecto a ser observado é o equilíbrio de ações de financiamento e estratégias abrangentes que equalizem os recursos públicos. Nesse sentido, não é verdade que “... nas humanidades, o Brasil já tem uma expressão bastante grande",
 como alega o Ministro Mercadante. Essa avaliação prescinde de consulta aos acadêmicos das diversas áreas e acaba justificando um investimento muito maior em pesquisa das engenharias, cuja prioridade não é consenso fora dos interesses (corporativos, por que não, neste caso?) dessas áreas específicas. A afirmação em questão, além de desautorizar a opinião dos especialistas ligados às humanidades, também acaba desautorizando a autonomia acadêmica, ao permitir que uma decisão de fomento sofra intervenção de um tribunal de justiça. Tal avaliação cabe aos próprios acadêmicos e profissionais das áreas e os responsáveis diretos pela administração dos recursos. Além disto, não foi citada como área de “ciências humanas” outras disciplinas de Filosofia, Geografia, História, Sociologia ou Linguística, Letras e Artes. Há uma redução como área de prioridade em Ciências Humanas a Administração de Empresas. Trata-se de um
 campo de interesse direto da iniciativa privada, cujo aplauso parece ser o maior critério para aprovar políticas de financiamento. Porém, administrar se refere a lucro e a funcionalidade de estratégias de auto-gestão monetária. O próprio conceito de “conhecimento” em Administração é definido em termos de utilidade para a viabilidade pecuniária das iniciativas empresariais. Dar por resolvida a questão por ser o programa elogiado “pela iniciativa privada” sem uma consideração dos interesses desse setor é aceitar um corporativismo no mínimo equivalente ao que acusa o autor do editorial do Estado de São Paulo. É desconsiderar valor e propósito do pensamento que inclua, supere e critique os modelos de gestão de capital, que podem ou não ter a ver com cultura e conhecimento. As pressões das diversas comunidades acadêmicas são tão legítimas quanto as de qualquer outra instância da sociedade.Optar por um lado, nesse caso,
 confirma o velho senso comum que afirma não interessar ao governo ter cidadãos pensantes e críticos, mas operadores servis e ignorantes dóceis às manobras políticas e – estas sim – corporativistas dos setores com mais poder dentro da difícil relação governo-setores privados.É sabido que um país desenvolvido é um país com forte atividade cultural e amplo debate de intelectuais nos diversos setores sociais. O hospital Albert Einstein, de São Paulo mantem uma orquestra de cordas formada por seus médicos. Cientistas como Werner Heisenberg e Albert Einstein tocavam, respectivamente, órgão e violino. O brasileiro José Leite Lopes era também pintor. É bastante questionável pensar se teriam sido tão geniais em suas áreas, se os projetos e produções dessas pessoas e instituições teriam sido tão bem sucedidas se não tivessem mantido em seu horizonte, como um todo, o patrimônio cultural e intelectual disponível em seu tempo. O
 que possibilitou esse acesso foi uma estrutura de interesse coletivo equilibrado, distribuído entre orquestras, músicos, pintores, escritores, filósofos, professores, arquitetos, ao lado dos engenheiros, administradores, agentes ferroviários, marceneiros, metalúrgicos, garis e todos os demais setores, visando um crescimento em conjunto. As descobertas desses físicos foram usadas para fomentar a guerra e a morte em massa justamente por militares e estrategistas que compreendiam pouco do que significa a herança cultural e humana. No entanto, é esse desequilíbrio que o governo pretende sustentar, com o aval da grande imprensa representada por este jornal.            O governo não “acertou ao lançar um programa que reduz a distância entre as universidades brasileiras e as estrangeiras mais conceituadas nas áreas de conhecimento estratégicas para o desenvolvimento do País”, ele simplesmente privilegiou um setor. Não repudiamos
 esse apoio. Urge, no entanto, repensar essa postura para com as outras áreas do conhecimento produtivo: artes, filosofia, história, comunicação, ciências sociais são tão ou mais importantes para o desenvolvimento intelectual de uma nação quanto matemática ou engenharia. E esse desenvolvimento intelectual é o que realmente nos distinguiria de escravos, máquinas ou animais.            Lamentamos a atitude de desclassificar as vozes em desacordo como “pressões corporativistas”. Ora, qual é a diferença entre desacordo democrático, argumentação participativa e interesse corporativo? Não poderíamos acusar os setores de engenharia e “ciências”, que estão sendo cada vez mais beneficiados, como corporativos? O que faz com que eles sejam tratados como prioritários e os outros como chorões e interesseiros? A resposta tem que ser dada ao esclarecer a ênfase que o governo pretende estabelecer e ao tipo de desenvolvimento a
 ser privilegiado.Acreditamos ser necessário que o fomento seja equilibrado na direção das demais ciências humanas e das artes. Acusar essa posição de corporativismo é defender uma política manca, míope e restritiva sobre o que significa desenvolvimento, é expor a própria ignorância, é compactuar com o obscurantismo que nos mantem distantes dos demais países desenvolvidos TAMBÉM em áreas como cultura, escolarização. Acreditamos que essas distâncias sejam tão grandes, ou até maiores, do que as existentes nas áreas privilegiadas pela declaração unilateral deste editorial. Comunidade, ANPPOM, professores, estudantes de artes, filosofia e a quem mais possa interessar.

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 Em seg, 28/1/13, Jorge Antunes <antunes em unb.br> escreveu:
De: Jorge Antunes <antunes em unb.br>
Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] O "Ciência sem Fronteiras": Editorial O Estado de S.Paulo
Para: "luciano cesar" <lucianocesar78 em yahoo.com.br>
Cc: "Marcus S. Wolff" <m_swolff em hotmail.com>, jamannis em uol.com.br, "etnomusicologia lista" <etnomusicologiabr em yahoogrupos.com.br>, "lista ANPPOM" <anppom-l em iar.unicamp.br>
Data: Segunda-feira, 28 de Janeiro de 2013, 9:53Olá:  Achei o texto muito bom.Creio que, nos exemplos citados para reforçar o conteúdo, deveria ser feita também menção a um físico brasileiro.Então sugiro que no lugar de:"Físicos como Heisenberg e Einstein tocavam, respectivamente, órgão e violino"seja colocado:"Físicos como Heisenberg e Einstein tocavam, respectivamente, órgão e violino, o brasileiro José Leite Lopes era também pintor"  Abraços,Jorge Antunes              Em 26 de janeiro de 2013 13:10, luciano cesar <lucianocesar78 em yahoo.com.br> escreveu:Prezados, 

  Segue nova versão da proposta do documento, no formato mais "light" como sugerido pelo professr Marcus Wolff em um gentil email enviado recentemente. Refaço quantas vezes acharmos melhor, até que haja um documento, de fato, representativo.

Abraço a todos, 
Luciano    Manifesto da comunidade acadêmica ligada às Artes e Humanidades; Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Música; etc. Nós, abaixo assinados artistas, estudantes e professores universitários manifestamos nosso desagravo e crítica para com as ideias publicadas no editorial publicado neste jornal, apresentando as posições do Tribunal Federal do Ceará e do Sr. Ministro Aloizio Mercadante a respeito das iniciativas para o avanço da ciência. O editorial acaba tratando também das respectivas discordâncias e atitudes forçadas de demais áreas que, sendo também ciência, lutam pela viabilidade de suas pesquisas: os 20 cursos de ciências humanas e sociais (incluindo letras, sociologia, artes, publicidade e comunicação) que procuraram amparo nos recursos do programa Ciência Sem Fronteiras. O nome do programa se apresenta hoje em contradição, já que lida com fronteiras conceituais muito claras. O discurso que
 questiona essas fronteiras foi silenciado de maneira violenta e imponderada, razão pela qual julgamos necessária uma manifestação.Embora o conceito de ciência seja amplo e multifacetado, o editorial apresenta uma visão limitada que poderá ser responsável pela continuação do extraordinário desequilíbrio no desenvolvimento intelectual de uma sociedade gigantesca como é a brasileira. Desenvolvimento desequilibrado não é desenvolvimento, como temos podido experimentar durante séculos de história no Brasil. Nossa discordância representa a indignação para com a visão restritiva por parte de pessoas que comandam as ações oficiais do Estado Brasileiro e o apoio da imprensa para com tal ignorância.O primeiro aspecto a ser observado é o equilíbrio de ações de financiamento e estratégias abrangentes que equalizem os recursos públicos. Nesse sentido, não é verdade que “... nas humanidades, o Brasil já tem uma expressão bastante
 grande", como alega o Ministro Mercadante. Essa avaliação prescinde de consulta aos acadêmicos das diversas áreas e acaba justificando um investimento muito maior em pesquisa das engenharias, cuja prioridade não é consenso fora dos interesses (corporativos, por que não, neste caso?) dessas áreas específicas. A afirmação em questão, além de desautorizar a opinião dos especialistas ligados às humanidades, também acaba desautorizando a autonomia acadêmica, ao permitir que uma decisão de fomento sofra intervenção de um tribunal de justiça. Tal avaliação cabe aos próprios acadêmicos e profissionais das áreas e os responsáveis diretos pela administração dos recursos. Além disto, não foi citada como área de “ciências humanas” outras disciplinas de Filosofia, Geografia, História, Sociologia ou Linguística, Letras e Artes. Há uma redução como área de prioridade em Ciências Humanas a Administração de Empresas.
 Trata-se de um campo de interesse direto da iniciativa privada, cujo aplauso parece ser o maior critério para aprovar políticas de financiamento. Porém, administrar se refere a lucro e a funcionalidade de estratégias de auto-gestão monetária. O próprio conceito de “conhecimento” em Administração é definido em termos de utilidade para a viabilidade pecuniária das iniciativas empresariais. Dar por resolvida a questão por ser o programa elogiado “pela iniciativa privada” sem uma consideração dos interesses desse setor é aceitar um corporativismo no mínimo equivalente ao que acusa o autor do editorial do Estado de São Paulo. É desconsiderar valor e propósito do pensamento que inclua, supere e critique os modelos de gestão de capital, que podem ou não ter a ver com cultura e conhecimento. As pressões das diversas comunidades acadêmicas são tão legítimas quanto as de qualquer outra instância da sociedade.Optar por um lado,
 nesse caso, confirma o velho senso comum que afirma não interessar ao governo ter cidadãos pensantes e críticos, mas operadores servis e ignorantes dóceis às manobras políticas e – estas sim – corporativistas dos setores com mais poder dentro da difícil relação governo-setores privados.É sabido que um país desenvolvido é um país com forte atividade cultural e amplo debate de intelectuais nos diversos setores sociais. Físicos como Heisenberg e Einstein tocavam, respectivamente, órgão e violino e é bastante questionável pensar se teriam sido tão geniais em suas áreas se não tivessem tido acesso ao patrimônio cultural e intelectual disponível em seu tempo. O que possibilitou esse acesso foi uma estrutura de interesse coletivo e equilibrado, distribuído entre orquestras, músicos, pintores, escritores, filósofos, professores, arquitetos, ao lado dos engenheiros, administradores, agentes ferroviários, marceneiros, metalúrgicos,
 garis e todos os demais setores, visando um crescimento em conjunto. As descobertas desses físicos foram usadas para fomentar a guerra e a morte em massa justamente por militares e estrategistas que compreendiam pouco do que significa a herança cultural e humana. No entanto, é esse desequilíbrio que o governo pretende sustentar, com o aval da grande imprensa representada por este jornal.            O governo não “acertou ao lançar um programa que reduz a distância entre as universidades brasileiras e as estrangeiras mais conceituadas nas áreas de conhecimento estratégicas para o desenvolvimento do País”, ele simplesmente privilegiou um setor. Não repudiamos esse apoio. Urge, no entanto, repensar essa postura para com as outras áreas do conhecimento produtivo: artes, filosofia, história, comunicação, ciências sociais são tão ou mais importantes para o desenvolvimento intelectual de uma nação quanto matemática ou
 engenharia. E esse desenvolvimento intelectual é o que realmente nos distinguiria de escravos, máquinas ou animais.            Lamentamos a atitude de desclassificar as vozes em desacordo como “pressões corporativistas”. Ora, qual é a diferença entre desacordo democrático, argumentação participativa e interesse corporativo? Não poderíamos acusar os setores de engenharia e “ciências”, que estão sendo cada vez mais beneficiados, como corporativos? O que faz com que eles sejam tratados como prioritários e os outros como chorões e interesseiros? A resposta tem que ser dada ao esclarecer a ênfase que o governo pretende estabelecer e ao tipo de desenvolvimento a ser privilegiado.Acreditamos ser necessário que o fomento seja equilibrado na direção das demais ciências humanas e das artes. Acusar essa posição de corporativismo é defender uma política manca, míope e restritiva sobre o que significa desenvolvimento, é
 expor a própria ignorância, é compactuar com o obscurantismo que nos mantem distantes dos demais países desenvolvidos TAMBÉM em áreas como cultura, escolarização. Acreditamos que essas distâncias sejam tão grandes, ou até maiores, do que as existentes nas áreas privilegiadas pela declaração unilateral deste editorial. Comunidade, ANPPOM, professores, estudantes de artes, filosofia e a quem mais possa interessar.  --- Em qui, 24/1/13, luciano cesar <lucianocesar78 em yahoo.com.br> escreveu:
De: luciano cesar <lucianocesar78 em yahoo.com.br>
Assunto: O "Ciência sem Fronteiras": Editorial O Estado de S.Paulo
Para: "'Marcus S. Wolff'" <m_swolff em hotmail.com>, jamannis em uol.com.br
Cc: "'lista ANPPOM'" <anppom-l em iar.unicamp.br>, "'etnomusicologia lista'" <etnomusicologiabr em yahoogrupos.com.br>Data: Quinta-feira, 24 de Janeiro de 2013, 15:41Mannis, professores e colegas, 

Eis minha contribuição, em anexo e no corpo do email. Elaboremos o documento e pensamos em divulgá-lo.
Peço perdão pelas falhas e unilaterismos, mas escrevi o que penso a respeito, como não poderia deixar de ser. Talvez seja o inevitável ponto de partida, com todas as ressalvas possíveis. Cabe agora a nós aperfeiçoá-lo até que se torne de fato representativo.
Link para o editorial comentado:

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso%2co-ciencia-sem-fronteiras-%2c986117%2c0.htm
Abraço!

Luciano


Manifesto da comunidade acadêmica ligada às Artes e Humanidades; Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Música; etc. Nós, abaixo assinados artistas, estudantes e professores universitários manifestamos nosso repúdio, desagravo e crítica para com ideias limitadas, reacionárias e praticamente fascistas a respeito do que significa cultura e desenvolvimento. Referimo-nos ao editorial publicado neste jornal, com as posições do Tribunal Federal do Ceará e do Sr. Ministro Aloizio Mercadante, além do autor do editorial, a respeito das iniciativas para o avanço da “ciência”. O editorial acaba tratando também das respectivas discordâncias e atitudes forçadas de demais áreas que, sendo também “ciência”, lutam pela viabilidade de suas pesquisas: os 20 cursos de ciências humanas e sociais (incluindo letras, sociologia, artes, publicidade e comunicação) que procuraram amparo nos recursos do programa Ciência Sem
 Fronteiras. O nome do programa se apresenta hoje em contradição, já que lida com fronteiras conceituais muito claras. O questionamento dessas fronteiras foi silenciado de maneira agressiva, violenta e imponderada, razão pela qual julgamos necessária uma manifestação.Embora o conceito de ciência seja amplo e multifacetado, o editorial apresenta acordo com uma visão limitada que será responsável pela continuação do extraordinário desequilíbrio no desenvolvimento intelectual de uma sociedade gigantesca que é a brasileira. Desenvolvimento desequilibrado não é desenvolvimento, como temos podido experimentar durante séculos de história brasileira. Nossa discordância representa a indignação para com a visão restritiva por parte de pessoas que comandam as ações oficiais do Estado Brasileiro e o apoio da imprensa para com tais ações de ignorância. Se vivemos em uma sociedade democrática, cumprimos agora nosso dever de
 manifestação, porque não podemos nos manter reféns nem permitir que a sociedade se mantenha refém de ignorantes que chegam ao poder. O primeiro aspecto a ser observado é o equilíbrio de ações de financiamento e estratégias abrangentes que equalizem os recursos públicos. Nesse sentido, não é verdade que “... nas humanidades, o Brasil já tem uma expressão bastante grande", como alega o Ministro Mercadante. Essa avaliação de uma situação que não é de sua alçada avaliar, sem consulta aos acadêmicos das diversas áreas acaba justificando não só um investimento muito maior na pesquisa das engenharias, cuja prioridade não é consenso fora dos interesses (corporativos, por que não, neste caso?) dessas áreas específicas. A afirmação do ministro, alienada da realidade brasileira, também acaba desautorizando a autonomia acadêmica, ao permitir que uma decisão de fomento sofra intervenção de um tribunal de justiça, no caso, o
 Tribunal Regional Federal do Ceará. Quem deve fazer tal avaliação são os próprios acadêmicos e profissionais das áreas e os responsáveis diretos pela administração dos recursos. Além disto, não foi citada como área de “ciências humanas” as disciplinas de Filosofia, Geografia, História, Sociologia ou Linguística, Letras e Artes. Reduzir como área de prioridade em Ciências Humanas a Administração de Empresas é desconsiderar valor e propósito do pensamento que inclua, supere e critique os modelos de gestão de capital, que podem ou não ter a ver com cultura e conhecimento. Administrar se refere a lucro e a funcionalidade de estratégias de auto-gestão monetária. O próprio conceito de “conhecimento” em Administração é definido em termos de utilidade para a viabilidade pecuniária das iniciativas empresariais. Dar por resolvida a questão por ser o programa elogiado “pela iniciativa privada” sem uma consideração dos
 interesses desse setor é aceitar um corporativismo no mínimo equivalente ao que acusa o autor do editorial do Estado de São Paulo. As pressões das diversas comunidades acadêmicas são tão legítimas quanto as de qualquer outra instância da sociedade.%3
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