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Jorge Antunes antunes em unb.br
Sáb Jun 22 21:09:24 BRT 2013


Caras amigas, caros amigos:

Minha ópera *OLGA* está programada no III Festival de Ópera de Brasília.
Ela será apresentada na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional, nos dias 3, 5
e 7 de julho.

Nos papéis principais estarão: Martha Herr (OLGA); Adriano Pinheiro
(PRESTES) e Homero Velho (FILINTO MÜLLER).

A oportunidade de assistir ao espetáculo é ímpar. Assim, convido vocês a
virem a Brasília.

Para aqueles que não tiverem condições de aqui vir, informo que a ópera
pode ser assistida, na íntegra, no Youtube:

1º Ato:
http://www.youtube.com/watch?v=lOHQRjeWjRY

2º Ato:
http://www.youtube.com/watch?v=cyqSlBTm52o

3º Ato:
http://www.youtube.com/watch?v=txEYvB8paMc


Abaixo incluo um depoimento sobre a história dessa minha ópera.

Abracos,
Jorge Antunes

*ÓPERA OLGA*

*RELATO DO COMPOSITOR*

Jorge Antunes

Compus a ópera Olga entre 1987 e 1997. O libreto é de Gerson Valle,
escritor e poeta carioca. O livro base, para o libreto, foi o livro *Olga* de
Ruth Werner, publicado na Alemanha em 1962. Ruth Werner foi companheira de
Olga Benario no campo de concentração de Ravensbruck.

A história de Olga foi-me sempre familiar, desde criança, porque minha mãe
falava muito dela. Os nomes de Olga e Prestes eram, entre os anos 1950 e
1980, verdadeiros mitos, banidos da história oficial. Era perigoso
mencionar seus nomes e contar suas histórias. Esse mistério me fascinava
mais ainda. Minha mãe, quando solteira, morou em Caxambi, no Méier, bairro
do Rio de Janeiro. A casa dela foi uma das invadidas no carnaval de 1936
pela polícia de Filinto Müller que caçava Prestes e Olga.

Enfim, durante décadas acalentei a ideia de compor uma ópera contando a
saga de Olga Benario. Quando a última ditadura militar no Brasil começou a
dar indícios claros de sua derrocada, Fernando Morais começou a escrever o
livro sobre Olga. Eu, ao mesmo tempo, já munido do livro de Ruth Werner,
comecei a planejar a ópera e convidei meu amigo e ex-aluno, o poeta Gerson
Valle, a escrever o libreto.

O libreto passou a ser escrito ao mesmo tempo em que eu compunha. Eu e
Gerson discutíamos muito. Após alguma relutância dele, consegui convencê-lo
a, no segundo ato, fazer uma correspondência entre as duas histórias de
amor: Prestes-Olga e Tristão-Isolda. O amor dos dois casais surgiu em uma
viagem de navio. Tristão levava Isolda para o rei Mark, mas um filtro do
amor, a bordo, acrescentou novos rumos à história. Prestes levava Olga para
a revolução brasileira, mas um coquetel, a bordo, acrescentou novos rumos à
história. Assim, no segundo ato uso muitas citações de Wagner.

Após concluir o primeiro ato, em 1987, tive que deixar de lado a composição
por causa dos outros compromissos profissionais que tomavam meu tempo. A
continuação do trabalho aconteceu em 1989, quando a Fundação Vitae me
concedeu uma bolsa para composição do segundo ato. O terceiro ato só veio a
ser escrito entre 1995 e 1997, quando o CNPq concedeu-me uma bolsa de
pós-doutorado para pesquisa história e musical. Eu precisava encontrar
várias melodias e cantos revolucionários dos grupos de que Olga participou.
Precisava também esclarecer vários pontos obscuros dos últimos sete anos de
vida de Olga: o período em que ela passou por três campos de concentração.

O fascínio por Olga, que sempre habitou minha mente, veio a ser um pouco
explicado durante minha pesquisa nos arquivos de Bernburg: descobri que
Olga havia sido assassinada, na câmara de gás, três semanas após a Páscoa.
Nova pesquisa sobre essa festa móvel da igreja, naquele ano de 1942, me
estarreceu. Olga morreu exatamente no dia em que eu nasci: 23 de abril de
1942.

Em 1988 eu e Gerson visitamos Prestes que leu a sinopse e fez algumas
sugestões. Anita Leocádia acompanhou meu trabalho durante dez anos. Ela fez
críticas ao libreto e corrigiu rumos: por exemplo, pediu que não desse
muito espaço ao Rodolfo Ghioldi que, segundo ela, foi quem dedurou Prestes
e Olga contando a Filinto que o casal se escondia no Méier.

No período compreendido entre 1993 e 2006 lutei intensamente buscando
teatros, diretores, maestros, orquestras, empresas financiadoras, para a
encenação. Não encontrei. Todos achavam que o libreto tratava de uma
história de subversivos, exaltando Olga e Prestes comunistas, e eu com uma
música contestadora e revolucionária.

Em 2003 montei exposição na UnB, com cerca de 60 cartas recebidas de
empresas e teatros, com negativas a meus pedidos. Ao mesmo tempo organizei
um abaixo-assinado dirigido ao governador do DF, pedindo a programação do
espetáculo no Teatro Nacional. Chegamos a mais de 10 mil assinaturas. O
governador não queria conceder audiência, para a entrega do documento.
Organizamos então uma carreata rumo ao Palácio do Buriti, com mais de 200
músicos: orquestra, banda de música, orquestra de flautas, coro sinfônico.
Foi um espetáculo à parte. Na frente da carreata ia o carro de som do
SINTFUB, tocando a gravação da Abertura da ópera.

Mas não deu em nada: o governador recebeu o documento, e ficou tudo por aí
mesmo.

Em 2003/2004 a Globo Filmes fez o filme Olga. Então tudo ficou mais fácil.
Todos começaram a pensar: "Ah! Se a Globo faz, então o tema não é mais
subversivo".

Enfim, minha ópera foi estreada no Theatro Municipal de São Paulo em
outubro de 2006, 19 anos depois de ter sido sua composição iniciada, 13
anos depois de a ópera ter sido concluída.

Agora, finalmente, nos 3, 5 e 7 de julho de 2013, a ópera será encenada em
Brasília.

A ópera OLGA usa uma linguagem musical moderna mas, de modo eclético, adota
o uso de melodias e árias neotonais.
-------------- Próxima Parte ----------
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