[ANPPOM-Lista] nme comemora os 30 anos de "blue monday" (new order)

Carlos Palombini cpalombini em gmail.com
Seg Mar 18 18:20:48 BRT 2013


Hugo, tem razão, mas é necessário levar em conta que se trata de um
jornalista do *New Musical Express*, uma revista que andou em várias
direções desde sua fundação (a *Wikipedia* inglesa tem um texto bastante
completo), mas que sempre gravitou em torno do rock. Além disso, nos anos
1980, eles apoiaram a cena emergente da acid house britânica, centrada em
Manchester (Madchester), justamente de onde vem o New Order. Como se pode
ver no filme *24-hour Party People* (acho que seja *A festa nunca acaba*,
no Brasil), era o dinheiro que a Factory Records ganhava com o New Order
que mantinha o Haçienda (clube de Manchester que foi o fulcro da acid
britânica) funcionando. Assim, ao falar de um grupo que reuniu o rock e a
acid (dizem, eu não ouço rock ali, a não ser que seja por antecipação do
Prodigy), o jornalista está falando também de um símbolo da revista. O que
eu gosto no artigo, além do fantástico clipe do New Order na BBC, é quando
ele fala da intertextualidade de "Blue Mondays". Eu não identifico a origem
de nada ali, assim, se há realmente empréstimos, o ponto é relevante: eles
se organizam de um modo que oblitera o fato. (Aqui, ele está falando de um
elemento do hip-hop, a intertextualidade, utilizado de um modo diferente do
hip-hop, e o *NME* teve problems com o hip-hop.) E, independente de tudo,
"Blue Mondays" é realmente um símbolo do futuro, em retrospecto, pela
seguinte razão. Em 1983 a house estava mal começando em Chicago,
inicialmente, pela adição de bases sequenciadas de bateria eletrônica a
faixas disco, combinada com a familiaridade auditiva com o synth pop (e.g.
Eurythmics). A house chegaria à Inglaterra, principalmente por Marchester
(e por Londres, via Ibiza), em 1987 (exatamente o ano em que cheguei em
Londres pela primeira vez), através de uma vertente particular, a acid
house, que surge com "Acid Trax" em 1987. Curiosamente, Manchester, porque
ficava no norte da Inglaterra, e estava portanto mais que familiarizada com
o soul (do qual a disco e a house derivam) através da cena dançante da
juventude proletária conhecida como Northern Soul, foi mais receptiva à
house que Londres, onde house era "música de viado". O fato é que a
Inglaterra foi tomada por essa música a essa época, numa verdadeira
revolução comportamental da juventude, que já não bebia e já não brigava na
rua ou nos clubes, mas tomava água, MDMA, e se amava. "Blue Mondays" soa
muito bem num mix com qualquer coisa house ou acid (e o NME também não se
deu muito bem com a cultura DJ).

Eu vi o New Order ao vivo em Brixton em 1987, num programa que incluía Dust
Springfield e Jimmy Somerville com Bronski Beat (já desintegrados, mas
reunidos para a ocasião). Foi impressionante. Quando o New Order entrou em
cena, os aparelhos já estavam todos tocando sozinhos, e eu me perguntava o
que os músicos estavam fazendo em cena, mas já era claro pra todo o mundo
que estávamos num outro mundo, e Dusty e Jimmy haviam ficado muito atrás no
passado. O som circulava pelo espaço, literalmente, variando em todas as
suas dimensões.

Contudo, em minha opinião, um pouco mais representativos dos anos 1980 são
os Pet Shop Boys. Mas isso é assunto pra outra discussão.

Abraço,
cvp

2013/3/18 Hugo Leonardo Ribeiro <hugoleo75 em gmail.com>

Essa questão de ter "inventado" o futuro, é muito localizado, isto é, só
> entende quem conhece tal repertório. Muitos podem até achar que não há nada
> "novo" nessa música, mas uma coisa ninguém pode negar, é a cara da década
> de 80!
>
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