[ANPPOM-Lista] Missas na CAPES
Camila Zerbinatti
camiladuze em gmail.com
Ter Ago 2 17:40:29 BRT 2016
Olá professor Jorge Antunes,
Tempos sombrios e preocupantes estes em que vivemos. Compartilho, sobre
este episódio que você trouxe em seu e-mail, um pequeno relato cheio de
urgentes reflexões do pesquisador, professor e autor Doutor Paulo
Cavalcante, Professor Associado na UNIRIO:
"Ontem, a divulgação, por Keila Grinberg, da fotografia deste cartaz
afixado nas dependências da CAPES, gerou o diálogo que abaixo reproduzo com
o cuidado de não identificar o meu interlocutor.
Pode?
Eu - Não pode. No interior de repartições públicas, não pode. O Estado é
laico.
Ele - Não pode ser promovido pela instituição, mas as pessoas poderiam
utilizar. E não seria prioridade dos cristãos, mas se outro grupo quiser se
reunir, que problema há? Como se diz, laicidade não é ateísmo.
Eu - Não. Repartição pública, por ser PÚBLICA, não é lugar de culto. Quem
quiser rezar que o faça em sua casa ou em seu templo, igreja etc.
Ele - Já que é pública, é pra todos.
Eu - Sim, exatamente por isso não pode ser apropriada por nenhuma religião
Ele – Quem disse?
Eu - Trata-se do princípio do Estado laico.
Ele - Já disse, se é laico, não é ateu. Está aberto a todos.
Eu - Quem está falando de ateísmo aqui é você. Laico quer dizer
independente de qualquer confissão religiosa. Para ser INDEPENDENTE não
pode abrigar e propagar nenhuma religiosidade. E isto é o princípio que
assegura a liberdade de cada um de nós professar a religião que bem
entender.
Ele - Não pode propagar em nome da instituição. Mas os funcionários podem,
pois tem liberdade de crença.
Eu - O espaço não é dos funcionários. É público e estatal. Não pode ser
utilizado para cultos. Lugar de culto é no seu respectivo templo.
Ele - Lugar de Culto é onde tiver gente. É apenas uma reunião de oração,
pelo que parece, na hora do almoço. Não há problema algum.
Eu - Não. Não nas repartições públicas. O Estado só deixa de ser uma
abstração e passa a ser uma realidade concreta por intermédio de seus
espaços e das pessoas (funcionários públicos) e suas relações entre si e
com a sociedade. Se os espaços do Estado se tornarem palco de cultos
patrocinados pelos próprios funcionários públicos isso significa o fim do
estado laico. Assumem posição contra a laicidade do Estado aqueles que, de
propósito ou por falta da devida compreensão, querem tornar "normal" a
prática cultos nas dependências do Estado. Você parece não compreender a
grandeza para a paz social do estatuto do estado laico. O Ocidente levou
séculos de guerras e perseguições religiosas para construir esta ideia e
institucionalizá-la. O Estado não pode ter religião nem propagá-la. Isso
resulta em guerra civil. A Época Moderna é farta em exemplos.
Ele - Por ter gente fazendo orações num lugar, gera guerra civil? Tá bom.
Eu - Agora, você tergiversa. O problema enfrentado não é o de "gente
fazendo orações num lugar". O problema é a preservação do Estado laico.
Sobre as guerras religiosas na Época Moderna, penso que não convém fazer
uma explicação detalhada, afinal, você é um colega professor de História."
Saudações cordiais,
Camila.
Em 1 de agosto de 2016 20:01, Jorge Antunes <antunes em unb.br> escreveu:
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