[ANPPOM-Lista] o globo defende o fim da universidade pública

mcamara em usp.br mcamara em usp.br
Qua Jul 27 08:54:11 BRT 2016


... só acrescentando que uma interesssante narrativa sobre a criação da USP é o capítulo "São Paulo", de Tristes trópicos , de Lévy-Strauss. 

----- Mensagem original -----

> De: "luciano cesar" <lucianocesar78 em yahoo.com.br>
> Para: "Camila Zerbinatti" <camiladuze em gmail.com>, "Carlos Palombini"
> <cpalombini em gmail.com>
> Cc: "etnomusicologiabr" <etnomusicologiabr em yahoogrupos.com.br>,
> anppom-l em iar.unicamp.br
> Enviadas: Terça-feira, 26 de Julho de 2016 10:37:00
> Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] o globo defende o fim da universidade
> pública

> Camila, fecho contigo, muito obrigado por seu comentário.

> Sugiro, no entanto, um olhar mais aterrorizante:

> A universidade "pública" brasileira, nunca foi pública. A USP, por
> exemplo, nasceu de uma doação (do espólio dos barões do café, doação
> feita pela famíglia de Armando Salles) daquele terreno gigante, com
> o intuito de abrigar alguns institutos (dentre eles, a Escola
> Politécnica, de engenharia, onde o próprio Armando se graduou) e
> criar a USP. Alguns humanistas estruturalistas da França
> "(i)lustraram" o empreendimento, que começou em 1930. 1930, atenção!
> Foi o ano seguinte ao da quebra da Bolsa, início de uma crise maior
> do que a de 2008, que impediu a classe dirigente de São Paulo de
> enviar seus filhos para estudarem fora, o que sempre foi feito
> antes, enquanto a exploração do Brasil e dos brasileiros continuava
> com critérios coloniais.

> A USP foi, portanto, um projeto privado, que visava abrigar a
> formação superior dos descendentes da classe patrimonialista,
> dirigente e abastada. Armando Salles era sócio do jornal O Estado de
> São Paulo, e amigo de Julio de Mesquita Filho. A "dinastia" tem uns
> casamentos cruzados com os Marinho e com os Frias, da Folha de São
> Paulo, a mesma que, em setembro de 2014, divulgou meu salário de
> professor substituto e o de todos os colegas das estaduais paulistas
> como sendo de 7 mil e poucos reais, quando o valor em edital é de
> 1.560,00. O superfaturamento foi comparável em todas as categorias
> salariais.
> Bem, as universidades federais, então... basta dizer que se
> proliferaram nos tempos da ditadura, em campus de Minas, Goiás,
> concorrentes simbólicos e econômicos clássicos da classe dirigente
> de São Paulo.

> Ou seja, nunca houve uma campanha para privatizar o ensino. A
> campanha é para publicizá-lo.
> Isso me arrepia a nuca.
> Alguém topa se manifestar contra esse editorial? Se não fizermos
> algum barulho, o discurso se acomoda...

> Antes que se levantem as vozes fáusticas: o editorial do Globo tem
> dados errados, mesmo se analisados sob uma ótica neoliberal:
> qualquer país desenvolvido tem uma relação maior de imposto como
> componente do PIB. Os 35 por cento do Brasil estão abaixo dos 50 por
> cento de toda a Europa "desenvolvida", Suécia, Suíça, Alemanha (que
> recentemente ESTATIZOU todo o seu ensino superior). E Dilma foi
> tirada sem que analisasse o real impacto da criação de uma CPMF
> (imposto progressivo que resolveria o problema do défict de 90 bi em
> uma só tacada se consequências para a classe baixa, que movimenta
> pouca grana por banco. Temer pediu défict de 170 e até agora ninguém
> reclamou. Gente como o professor de história da Unesp Jean Marcel
> França aplaudem o impeachment de Dilma, mesmo que isso signifique
> substituí-la por um projeto não eleito...).
> Ou seja, mesmo do ponto de vista econômico, sem levar em conta
> escolhas políticas, democráticas, ideológicas ou humanistas, o
> enxugamento do Estado é um erro crasso.

> Um abraço,

> Luciano

> Em Segunda-feira, 25 de Julho de 2016 20:07, Camila Zerbinatti
> <camiladuze em gmail.com> escreveu:

> Olá professor Palombini,

> Muito obrigada por trazer esta discussão também aqui para a lista da
> ANPPOM, o que faz muito e total sentido, afinal, a imensa e
> esmagadora maioria de integrantes da ANPPOM está diretamente
> relacionada à educação pública superior do Brasil de alguma forma
> (seja por serem ou terem sido alunos/as de graduação e pós-graduação
> da educação pública, por receberem ou terem recebido, em algum
> momento de suas trajetórias, bolsas públicas de financiamento de
> cursos, pesquisas, formação, eventos, seja por serem eles/as
> mesmos/as docentes da/na educação pública superior brasileira). A
> própria realização anual dos congressos da Anppom (como de tantos
> outros) depende diretamente de investimentos e recursos públicos
> para acontecer.

> Eu sinceramente me pergunto sobre toda esta gigante e notória (e
> "estranha") coincidência dos ataques diretos e indiretos que a
> Educação Brasileira -e em especial a Educação Pública- está
> sofrendo, sendo tão bombardeada e atacada, com tanta força e
> descaramento, justo neste momento em que vivemos um Golpe de Estado
> Parlamentar, ataques às instituições brasileiras, à Democracia e ao
> Estado de Direitos. Precarização acentuada de condições e salários
> no ensino Fundamental e Médio (ataques aos fundos de pensão dos/as
> professores/as, precarização das merendas, superlotação de salas,
> fim do piso nacional da educação e de seu reajuste, projetos de
> privatização dos sistemas estaduais de educação pública,
> criminalização [ilegal] dos movimentos de resistência dos/as
> estudantes secundaristas, criminalização, perseguição e censura de
> professores/as e de estudantes [contra os quais até a ONU e a UNESCO
> já começam a se manifestar]...), ~Escola Sem Partido~(sic!) e,
> agora, esta campanha midiática e aberta pelo fim do Ensino Superior
> Público e gratuito. É estranha, e muito estranha, no mínimo, tantas
> "coincidências". Me pergunto: quem se beneficia com isto? a quem
> interessa tudo isso? Uma amiga me escreveu hoje: " A agenda da
> privatização da educação superior é mais antiga do que o governo do
> PT. Estejamos atentos, com certeza. Chumbo grosso vindo por aí. "
> Quem se lembra do estado das universidades públicas em 2002, por
> exemplo, sabe, e bem.

> Sobre este editorial privatista que ataca a Educação Superior Pública
> e gratuita, compartilho dois textos:

> - Caneta Desmanipuladora:
> https://www.facebook.com/canetadesmanipuladora/photos/a.245804172452703.1073741828.245795719120215/279562565743530/?type=3&theater

> -Jean Wyllys:
> https://www.facebook.com/jean.wyllys/posts/1135364183178254:0

> Saudações cordiais,
> Camila.

> Em 24 de julho de 2016 15:43, Carlos Palombini < cpalombini em gmail.com
> > escreveu:

> > Crise força o fim do injusto ensino superior gratuito
> 
> > Os alunos de renda mais alta conseguem ocupar a maior parte das
> > vagas
> > nos estabelecimentos públicos, enquanto aos pobres restam as
> > faculdades pagas
> 

> > por EDITORIAL
> 
> > 24/07/2016 0:00 / Atualizado 24/07/2016 14:40
> 
> > Numa abordagem mais ampla dos efeitos da maior crise fiscal de que
> > se
> > tem notícia na história republicana do país, em qualquer discussão
> > sobre alternativas a lógica aconselha a que se busquem opções para
> > financiar serviços prestados pelo Estado. Considerando-se que a
> > principal fórmula usada desde o início da redemocratização, em
> > 1985,
> > para irrigar o Tesouro — a criação e aumento de impostos — é uma
> > via
> > esgotada.
> 
> > Mesmo quando a economia vier a se recuperar, será necessário
> > reformar
> > o próprio Estado, diante da impossibilidade de se manter uma carga
> > tributária nos píncaros de mais de 35% do PIB, o índice mais
> > elevado
> > entre economias emergentes, comparável ao de países desenvolvidos,
> > em que os serviços públicos são de boa qualidade. Ao contrário dos
> > do Brasil.
> 
> > Para combater uma crise nunca vista, necessita-se de ideias nunca
> > aplicadas. Neste sentido, por que não aproveitar para acabar com o
> > ensino superior gratuito, também um mecanismo de injustiça social?
> > Pagará quem puder, receberá bolsa quem não tiver condições para
> > tal.
> > Funciona assim, e bem, no ensino privado. E em países avançados,
> > com
> > muito mais centros de excelência universitária que o Brasil.
> 
> > Tome-se a maior universidade nacional e mais bem colocada em
> > rankings
> > internacionais, a de São Paulo, a USP — também um monumento à
> > incúria administrativa, nos últimos anos às voltas com crônica
> > falta
> > de dinheiro, mesmo recebendo cerca de 5% do ICMS paulista, a maior
> > arrecadação estadual do país.
> 
> > Ao conjunto dos estabelecimentos de ensino superior público do
> > estado
> > de São Paulo — além da USP, a Unicamp e a Unifesp — são destinados
> > 9,5% do ICMS paulista. Se antes da crise econômica, a USP, por
> > exemplo, já tinha dificuldades para pagar as contas, com a retração
> > das receitas tributárias o quadro se degradou. A mesma dificuldade
> > se abate sobre a Uerj, no Rio de Janeiro, com o aperto no caixa
> > fluminense.
> 
> > Circula muito dinheiro no setor. Na USP, em que a folha de salários
> > ultrapassa todo o orçamento da universidade, há uma reserva,
> > calculada no final do ano passado em R$ 1, 3 bilhão. Mas já foi de
> > R$ 3,61 bilhões. Está em queda, para tapar rombos na instituição.
> > Tende a zero.
> 
> > O momento é oportuno para se debater a sério o ensino superior
> > público pago. Até porque é entre os mecanismos do Estado
> > concentradores de renda que está a universidade pública gratuita.
> > Pois ela favorece apenas os ricos, de melhor formação educacional,
> > donos das primeiras colocações nos vestibulares.
> 
> > Já o pobre, com formação educacional mais frágil, precisa pagar a
> > faculdade privada, onde o ensino, salvo exceções, é de mais baixa
> > qualidade. Assim, completa-se uma gritante injustiça social, nunca
> > denunciada por sindicatos de servidores e centros acadêmicos.
> 
> > Levantamento feito pela “Folha de S.Paulo”, há dois anos, constatou
> > que 60% dos alunos da USP poderiam pagar mensalidades na faixa das
> > cobradas por estabelecimentos privados. Quanto aos estudantes de
> > famílias de renda baixa, receberiam bolsas.
> 
> > Além de corrigir uma distorção social, a medida ajudaria a
> > equilibrar
> > os orçamentos deficitários das universidades, e contribuiria para o
> > reequilíbrio das contas públicas. http://goo.gl/B7Q0HE
> 

> > --
> 

> > carlos palombini, ph.d. (dunelm)
> 
> > professor de musicologia ufmg
> 
> > professor colaborador ppgm-unirio
> 
> > www.proibidao.org
> 
> > ufmg.academia.edu/CarlosPalombini
> 

> > www.researchgate.net/profile/Carlos_Palombini2
> 
> > scholar.google.com.br/citations?user=YLmXN7AAAAAJ
> 

> > ________________________________________________
> 
> > Lista de discussões ANPPOM
> 
> > http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
> 
> > ________________________________________________
> 

> ________________________________________________
> Lista de discussões ANPPOM
> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
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> ________________________________________________
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Prof. Dr. Marcos Câmara de Castro 
Departamento de Música 
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto 
Universidade de São Paulo 

http://dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/4094693495303397 
http://portal.ffclrp.usp.br/sites/camaradecastro 
http://lattes.cnpq.br/8866596468646798 
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