[ANPPOM-Lista] prêmio funarte de composição clássica (sic) 2016: finalistas

Camila Zerbinatti camiladuze em gmail.com
Qua Nov 9 11:01:03 BRST 2016


Olá professor Didier,

Muito obrigada por responder. De fato, uma pesquisa quantitativa com
relação à identidade de gênero dos/as candidatos/as da Bienal merece e urge
ser feita, assim como feito em Darmstadt neste ano. Obrigada pela sugestão
e por responder.

Enviei meu e-mail anterior sem revisar e, infelizmente, ele acabou indo com
alguns erros, que faço questão de corrigir aqui:


"Cara Eliana,

Pois é, e não é a primeira vez. O que é chocante é que isto siga
acontecendo em pleno século XXI, em plenos anos de 2016/2017, na véspera da
já terceira década deste século, depois de tantas e históricas
transformações sociais com relação à (in)equidade de gêneros no Brasil e no
mundo, inclusive nas artes e inclusive no(s) mundo(s) da(s) música(s). Há
um escandaloso e inegável ~~descompasso~~ (e cujas consequências estão
muuuuuito longe de serem interessantes, relevantes, éticas, inovadoras,
transformadoras ou sequer inteligentes do ponto de vista da diversidade e
da representatividade) não apenas *nos resultados* deste tipo de seleção,
mas, também, ou muito mais, nas lógicas e sistemas dominantes que estão por
trás dos resultados, objetiva ou subjetivamente, consciente ou
inconscientemente, perpetuadas e perpetuadas *ad infinitum, *em uma
estagnação quase sintomática e quase patológica, ao mesmo tempo, como
aliás, em geral, funcionam, calculadamente, os sistemas de opressão,
exclusão, discriminação e dominação.


Olhando ao redor, neste mesmo ano de 2016, choca ver que, por exemplo,
no(s) mundo(s) da(s) Arte(s) no nosso próprio *Brasil,* aqui no*Sul *do
mundo, vemos que:

- *a Flip (Festa Literária de Paraty) 2016* teve presença significativa de
mulheres escritoras em sua programação, após anos de crescimento
quantitativo da presença de mulheres no evento, num objetivo, aliás, clara
e declaradamente sustentado e apoiado pela organização do evento:
http://brasil.elpais.com/brasil/2016/05/03/cultura/1462242705_287264.html ;
embora a vergonhosa ausência de mulheres negras da programação oficial
tenha sido obviamente questionada e criticada: http://
blogueirasnegras.org/2016/07/01/na-flip-das-mulheres-
tambem-nao-fomos-convidadas/

*- a 24a Bienal Internacional do Livro em São Paulo*, no segundo semestre
de 2016, também se preocupou com a representatividade e protagonismos das
mulheres escritoras em sua programação, promovendo não só os trabalhos
destas artistas mas também importantes debates sobre as condições das
mulheres escritoras: http://brasileiros.com.br/2016/08/o-protagonismo-da-
mulher-na-bienal-livro/

*- na 32a Bienal de São Paulo,* outro gigante e importantíssimo evento
artístico no Brasil, as mulheres não só foram representadas em maioria
dentre os/as artistas selecionados/as como esta foi inclusive uma
preocupação proposital da organização da própria Bienal, antenada não só
com o tempo, com o contexto social e histórico em que vivemos, mas, também,
com séculos (ou milênios) de invisibilização das mulheres nas Artes: *"A
organização diz que a presença feminina – 47 nomes ao todo – é proposital.
(...) Em entrevista ao "Bom Dia São Paulo", o curador da mostra, o alemão
Jochen Volz, afirmou: "Artistas homens são muito mais representados do que
artistas mulheres."*  http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2016/09/
32-bienal-de-sp-abre-nesta-quarta-mulheres-sao-maioria-dos-artistas.html


E, nesta pequena mas representativa lista, estamos falando apenas de
grandes e reconhecidos eventos das artes no Brasil, que se situam dentro
dos *Cânones* artísticos, sem falarmos de outros ainda mais revolucionários
como por exemplo a *FLUPP (Festa Literária das Periferias*, https://www.
facebook.com/FluppRJ/?notif_t=page_invite_accepted&notif_id=1478652322195967),
e o* Festival Música Estranha - Encontro Nacional de Música Exploratória* (
https://www.facebook.com/events/788968557817235/), que, neste ano, abriu
uma chamada de criação de música-visual em parceria com a *Rede
Sonora* especificamente
para *Mulheres Criadoras*(http://www.sonora.me/2016/10/
07/convocatoria-criacao-musical-visual-mulheres-criadoras/), chamada esta
que, ora vejam só, recebeu *mais de 60 propostas (64) *em um curtíssimo
período de abertura do edital (http://www.sonora.me/2016/11/04/805/).


*64 propostas.* *64 propostas. **64 propostas. De Mulheres. De Mulheres
Criadoras na Música. *Então, aí nos perguntamos, se dentre os* 46* projetos
selecionados na chamada para anônimos/as da Bienal de Música da Funarte *apenas
uma única mulher* foi [bravísssimamente] selecionada, e, se dentre os/as
*15 *compositorEs/a que aos/às quais foram comissionadas obras, *"selecionados
por uma comissão eleitoral de dez intérpretes, de notório saber"*, *consta
apenas, novamente, uma única mulher*, num país que hoje conta com uma *longa
lista de mulheres compositoras reconhecidas e atuantes*, das mais diversas
faixas etárias, trajetórias, e estilos/ vertentes composicionais, como
podemos compreender esta sub-representatividade [quase nula] das mulheres
na Bienal de Música da Funarte, em plenos 2016/2017, em pleno fim da já
segunda década do século XXI, sem passar pela perspectiva de gênero, dos
feminismos, do sexismo e do machismo predominantes na história da música? E
nos perguntamos, que ~notório saber~ é este que segue perpetuando um olhar
histórico e socialmente acrítico para a e na música, o mesmo olhar
propagado há séculos, num mundo que é muitas coisas, mas não é, de forma
nenhuma, o mesmíssimo mundo dos séculos XVII, XVIII e XIX, o mesmo olhar
que perpetua e reproduz sistemas de sub (ou praticamente nula)
representatividade de gênero na música? O que entendemos por notório saber
quando o que consideramos notório saber reproduz, acrítica e tão
normativamente, *ad infinitum*, *permanentemente*, *inalteradamente*,
sistemas e lógicas de opressão, exclusão e discriminação de gênero na
música?


Neste momento compreendemos porque a discussão sobre as relações de Gênero
foram um dos pontos importantes, polêmicos e reconhecidos do *Festival de
Darmstadt* deste *2016* (http://www.internationales-
musikinstitut.de/news-oben/207-news-ferienkurse2016/2451-grid.html), que
promoveu neste ano o *GRID - Gender Relations in Darmstadt*, uma série de
discussões e pesquisas no mínimo tão constrangedoras quanto reveladoras e
transformadoras sobre a representatividade e a presença de mulheres no
Festival (https://griddarmstadt.wordpress.com/).


Compreendemos também, aí, porque até mesmo os festivais mais *mainstream*
 do *Norte* do mundo como o *Lucerne Festival* (Suíça) e o *Aspen Music
Festival and School* (Eua), *no mesmíssimo ano de 2016,* estão colocando
como prioridade e pauta principal (ou uma das pautas principais) de suas
programações mulheres e as questões das mulheres e de gênero na música,
escolhendo mulheres compositoras como suas compositoras residentes, como *Kaija
Saariaho* (https://www.aspenmusicfestival.com/events/
performers/kaija-saariaho/ e http://www.aspentimes.com/
entertainment/activities-events/composer-kaija-saariaho-on-stage-and-in-the-
classroom-in-aspen/ ) e *Olga Neuwirth *  (https://www.
lucernefestival.ch/en/program/summer-festival-2016/composer-in-residence),
além de discutir a presença das mulheres regentes, intérpretes,
instrumentistas e compositoras na música como um todo (
https://www.lucernefestival.ch/en/program/summer-festival/primadonna e
https://www.lucernefestival.ch/en/program/women-of-the-
berlin-philharmonic/104).


Compreendemos também porque mulheres do *Sul* do mundo, brasileiras,
principalmente, dos mais diversos estilos e vertentes musicais, se
engajaram com tanta força, dedicação e mesmo sem qualquer patrocínio, na
realização do *Sonora - Ciclo Internacional de Compositoras*, no mesmo ano
de 2016, em mais de 24 cidades e 6 países ( https://www.facebook.com/
sonora.compositoras/?fref=tse https://www.facebook.com/
sonorafemalesongwriters/?fref=ts).


O que vemos é que, tristemente,* no(s) mundo(s) da(s) chamada(s) música(s)
clássica, erudita, contemporânea ou Nova - ou como quiserem chamar- no
Brasil*, apesar de todo o contexto social, apesar do momento histórico e
presente que vivemos, apesar de décadas de reflexões e mais reflexões da
chamada nova musicologia, da etnomusicologia, da filosofia, da antropologia
e da sociologia da música, seguimos observando uma dificuldade quase
jurássica, em termos históricos, não apenas de promover espaços mais
representativos do pontos de vista de gênero na música, e também do ponto
de vista étnico-racial, regional e de classe, como seguimos observando o
que a filósofa *Judith Butler* chama de *"resistência em perder
privilégios"* ( http://www.zeit.de/kultur/2016-10/judith-butler-donald-
trump-populism-interview) [ver página 2, quando ela aborda as questões
sobre perda de privilégios], porque, sim, a manutenção de ambientes,
sistemas e espaços majoritariamente masculinos na música significa, na
prática e na teoria, um inegável e gritante privilégio para todo o qualquer
homem na música, além de uma aberrante desigualdade desprovida de lógica ou
sentido em 2016 e no século XXI.



Lamentável.
Lamentável e muito antiquado, para dizer o mínimo.



Abraços,

Em 9 de novembro de 2016 10:36, Didier Guigue <didierguigue em gmail.com>
escreveu:

> Olá Eliana
>
> Em tempo:
>
> As submissões na Bienal são anônimas, não aparecendo portanto o gênero dxs
> candidatxs.
>
> A tua questão , todavia, é pertinente e quem possui as respostas
> estatísticas é a Funarte mesmo, que tem em mãos a totalidade das propostas.
> Use o email do comunicado anexado para formular esta indagação, não vejo
> motivos para não comunicar esta estatística.
>
> Abç
>
> Didier Guigue
>
>
> > Le 8 nov. 2016 à 12:13, ms.eliana em usp.br a écrit :
> >
> > Caras e caros colegas,
> > Infelizmente apenas uma mulher foi contemplada para a próxima Bienal.
> > Alguém tem informação de quantas enviaram propostas? Seria interessante
> saber se o espaço é pouco atraente às compositoras ou se elas realmente não
> passam no crivo da comissão...
> > Abraços
> > Eliana Monteiro da Silva
> >
> > ----- Carlos Palombini <cpalombini em gmail.com> escreveu:
> >> A Fundação Nacional de Artes – Funarte divulgou, no dia 8 de novembro, a
> >> lista de projetos selecionados para o Prêmio Funarte de Composição
> Clássica
> >> 2016. O prazo para interpor recurso ao Centro da Música é de dois dias
> >> úteis a partir da divugação do resultado, ou seja, até o dia 10 de
> >> novembro. Os pedidos devem ser enviados para o endereço eletrônico:
> >> classicos.funarte em gmail.com.
> >>
> >>
> >> *Nota de esclarecimento: *Concluída a análise dos projetos identificados
> >> apenas por números, os membros da Comissão, repetindo procedimento
> adotado
> >> em Comissão análoga anterior, decidiram que das dez obras previstas no
> >> Edital para a categoria “seis a dez instrumentos”, apenas sete mereciam
> >> aprovação. O valor correspondente aos três prêmios suprimidos foi
> >> transferido para a categoria “um a dois instrumentos”, que passou de
> >> dezesseis para vinte obras.
> >>
> >> Acesse aqui a lista de selecionados
> >> <http://www.funarte.gov.br/wp-content/uploads/2016/08/Pr%C3%
> AAmio-Composi%C3%A7%C3%A3o-Cl%C3%A1ssica_selecionados.pdf>
> >> http://www.funarte.gov.br/wp-content/uploads/2016/08/Pr%C3%
> AAmio-Composi%C3%A7%C3%A3o-Cl%C3%A1ssica_selecionados.pdf
> >>
> >> --
> >> carlos palombini, ph.d. (dunelm)
> >> professor de musicologia ufmg
> >> professor colaborador ppgm-unirio
> >> ufmg.academia.edu/CarlosPalombini <http://goo.gl/KMV98I>
> >> ________________________________________
> >> anppom-l em listas.unicamp.br
> >> Lista de Discussão dos Associados da ANPPOM - Associação Nacional de
> Pesquisa e Pós-Graduação em Música
> >> https://www.listas.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
> >>
> >> Conforme deliberado na Assembleia Geral realizada em 24 de agosto de
> 2016, das 17 às 19 horas, no Auditório da Fundação de Apoio e
> Desenvolvimento da Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais, B.
> Horizonte – Não são veiculadas nesta lista mensagens contendo ANEXOS.
> >
> > ________________________________________
> > anppom-l em listas.unicamp.br
> > Lista de Discussão dos Associados da ANPPOM - Associação Nacional de
> Pesquisa e Pós-Graduação em Música
> > https://www.listas.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
> >
> > Conforme deliberado na Assembleia Geral realizada em 24 de agosto de
> 2016, das 17 às 19 horas, no Auditório da Fundação de Apoio e
> Desenvolvimento da Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais, B.
> Horizonte – Não são veiculadas nesta lista mensagens contendo ANEXOS.
>
> ________________________________________
> anppom-l em listas.unicamp.br
> Lista de Discussão dos Associados da ANPPOM - Associação Nacional de
> Pesquisa e Pós-Graduação em Música
> https://www.listas.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
>
> Conforme deliberado na Assembleia Geral realizada em 24 de agosto de 2016,
> das 17 às 19 horas, no Auditório da Fundação de Apoio e Desenvolvimento da
> Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais, B. Horizonte – Não são
> veiculadas nesta lista mensagens contendo ANEXOS.
>


Mais detalhes sobre a lista de discussão Anppom-L