[ANPPOM-Lista] prêmio funarte de composição clássica (sic) 2016: finalistas

ms.eliana em usp.br ms.eliana em usp.br
Qua Nov 9 13:23:36 BRST 2016


Bravíssima Camila!!!!!
Enquanto perguntas como a que fiz aqui na lista suscitarem apenas uma resposta como a do Prof Didier Guigue - a quem agradeço a atenção - parece que estamos muito longe de saber as causas deste descompasso.
E mais longe ainda de corrigi-lo.
Grande abraço
Eliana Monteiro da Silva

----- Camila Zerbinatti <camiladuze em gmail.com> escreveu:
> Cara Eliana,
> 
> Pois é, e não é a primeira vez. O que é chocante é que isto siga
> acontecendo em pleno século XXI, em plenos 2016/2017, na véspera da já
> terceira década deste século, depois de tantas e históricas transformações
> sociais com relação à (in)equidade de gêneros, inclusive nas artes e
> inclusive no(s) mundo(s) da(s) música(s). Há um escandaloso e inegável
> ~~descompasso~~ (e cujas consequências estão muuuuuito longe de serem
> interessantes, relevantes, éticos, inovadores, transformadores ou sequer
> inteligentes do ponto de vista da diversidade e da representatividade) não
> apenas nos resultados deste tipo de seleção, mas, também, ou muito mais,
> nas lógicas e sistemas dominantes que estão por trás dos resultados,
> objetiva ou subjetivamente, consciente ou inconscientemente, perpetuando-se
> e perpetuando-se *ad infinitum, *em uma estagnação quase sintomática e
> quase patológica, ao mesmo tempo, como aliás, em geral, funcionam,
> calculadamente, os sistemas de opressão, exclusão e dominação.
> 
> 
> Olhando ao redor, neste mesmo ano de 2016, choca ver que, por exemplo,
> no(s) mundo(s) da(s) Arte(s) no nosso próprio *Brasil,* aqui no* Sul *do
> mundo:
> 
> - *a Flip (Festa Literária de Paraty) 2016* teve presença significativa de
> mulheres escritoras em sua programação, após anos de crescimento
> quantitativo da presença de mulheres no evento, aliás, num objetivo clara e
> declaradamente sustentado pela organização do evento:
> http://brasil.elpais.com/brasil/2016/05/03/cultura/1462242705_287264.html ;
> embora a vergonhosa ausência de mulheres negras da programação oficial
> tenha sido obviamente questionada:
> http://blogueirasnegras.org/2016/07/01/na-flip-das-mulheres-tambem-nao-fomos-convidadas/
> 
> 
> *- na 24a Bienal Internacional do Livro em São Paulo*, no segundo semestre
> de 2016, também se preocupou com a representatividade e protagonismos das
> mulheres escritoras em sua programação, promovendo não só os trabalhos
> destas artistas mas também importantes debates sobre as condições das
> mulheres escritoras:
> http://brasileiros.com.br/2016/08/o-protagonismo-da-mulher-na-bienal-livro/
> 
> 
> *- na 32a Bienal de São Paulo,* outro gigante e importantíssimo evento
> artístico no Brasil, as mulheres não só foram representadas em maioria
> dentre os/as artistas selecionados/as como esta foi inclusive uma
> preocupação proposital da organização da própria Bienal, antenada não só
> com o tempo, com o contexto social e histórico mas também com séculos (ou
> milênios) de invisibilização das mulheres nas Artes: *"A organização diz
> que a presença feminina – 47 nomes ao todo – é proposital. (...) Em
> entrevista ao "Bom Dia São Paulo", o curador da mostra, o alemão Jochen
> Volz, afirmou: "Artistas homens são muito mais representados do que
> artistas mulheres."*
> http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2016/09/32-bienal-de-sp-abre-nesta-quarta-mulheres-sao-maioria-dos-artistas.html
> 
> 
> E, nesta pequena mas representativa lista, estamos falando apenas de
> grandes e reconhecidos eventos das artes no Brasil, que se situam dentro
> dos Cânones artísticos, sem falarmos de outros ainda mais revolucionários
> como por exemplo a *FLUPP (Festa Literária das Periferias*,
> https://www.facebook.com/FluppRJ/?notif_t=page_invite_accepted&notif_id=1478652322195967),
> e o* Festival Música Estranha - Encontro Nacional de Música Exploratória* (
> https://www.facebook.com/events/788968557817235/), que, neste ano, abriu
> uma chamada de criação de música-visual em parceria com a *Rede Sonora*
> especificamente para *Mulheres Criadoras *(
> http://www.sonora.me/2016/10/07/convocatoria-criacao-musical-visual-mulheres-criadoras/),
> chamada esta que, ora vejam só, recebeu mais de 60 propostas (64) em um
> curtíssimo período de abertura do edital (
> http://www.sonora.me/2016/11/04/805/).
> 
> 
> 64 propostas. Então, aí nos perguntamos, se dentre* 46* projetos
> selecionados na chamada para anônimos/as da Bienal de Música da Funarte *apenas
> uma mulher* foi bravísssimamente selecionada, e, se dentre os/as *15
> *compositorEs
> que aos/às quais foram comissionadas obras, *"selecionados por uma comissão
> eleitoral de dez intérpretes, de notório saber"*, *consta apenas,
> novamente, uma única mulher*, num país que hoje conta com uma longa lista
> de mulheres compositoras reconhecidas, das mais diversas faixas etárias,
> trajetórias, e estilos/ vertentes composicionais, como compreendermos esta
> representatividade quase nula das mulheres na Bienal de Música da Funarte,
> em plenos 2016/2017, em pleno fim da já segunda década do século XXI, sem
> passar pela perspectiva de gênero, dos feminismos, do sexismo e do machismo
> predominantes na história da música? E nos perguntamos, que ~notório saber~
> é este que segue perpetuando um olhar histórico e socialmente acrítico para
> a e na música, o mesmo olhar propagado há séculos, num mundo que é muitas
> coisas, mas não o mesmo dos séculos XVII, XVIII e XIX, o mesmo olhar que
> perpetua e repete sistemas de sub (ou praticamente nula) representatividade
> de gênero na música? O que entendemos por notório saber quando o que
> consideramos notório saber reproduz, acrítica e tão normativamente, *ad
> infinitum*, *permanentemente*, *inalteradamente*, sistemas e lógicas de
> opressão, exclusão e discriminação de gênero na música?
> 
> 
> Neste momento compreendemos porque a discussão sobre as relações de Gênero
> foram um pontos importantes e reconhecidos do *Festival de Darmstadt* deste
> *2016* (
> http://www.internationales-musikinstitut.de/news-oben/207-news-ferienkurse2016/2451-grid.html),
> que promoveu neste ano o *GRID - Gender Relations in Darmstadt*, uma série
> de discussões e pesquisas no mínimo tão constrangedoras quanto reveladoras
> e transformadoras sobre a representatividade e a presença de mulheres no
> Festival (https://griddarmstadt.wordpress.com/).
> 
> 
> Compreendemos também, aí, porque até mesmo os festivais mais *mainstream*
> do *Norte* do mundo como o *Lucerne Festival* (Suíça) e o *Aspen Music
> Festival and School* (Eua), *no mesmíssimo ano de 2016,* estão colocando
> como prioridade e pauta principal (ou uma das pautas principais) de suas
> programações mulheres e as questões das mulheres e de gênero na música,
> escolhendo mulheres compositoras como as compositoras residentes, como *Kaija
> Saariaho* (
> https://www.aspenmusicfestival.com/events/performers/kaija-saariaho/ e
> http://www.aspentimes.com/entertainment/activities-events/composer-kaija-saariaho-on-stage-and-in-the-classroom-in-aspen/
> ) e *Olga Neuwirth * (
> https://www.lucernefestival.ch/en/program/summer-festival-2016/composer-in-residence),
> além de discutir a presença das mulheres regentes, intérpretes,
> instrumentista e compositoras na música como um todo (
> https://www.lucernefestival.ch/en/program/summer-festival/primadonna e
> https://www.lucernefestival.ch/en/program/women-of-the-berlin-philharmonic/104
> ).
> 
> 
> Compreendemos também porque mulheres do *Sul* do mundo, brasileiras,
> principalmente, dos mais diversos estilos e vertentes musicais, se
> engajaram com tanta força, dedicação e mesmo sem qualquer patrocínio, na
> realização do *Sonora - Ciclo Internacional de Compositoras*, no mesmo ano
> de 2016, em mais de 24 cidades e 6 países (
> https://www.facebook.com/sonora.compositoras/?fref=ts e
> https://www.facebook.com/sonorafemalesongwriters/?fref=ts).
> 
> 
> O que vemos é que, tristemente, no(s) mundo(s) da(s) chamada(s) música(s)
> clássica, erudita, contemporânea ou Nova - ou como quiserem chamar- no
> Brasil, apesar de todo o contexto social, apesar do momento histórico e
> presente que vivemos, apesar de décadas de reflexões e mais reflexões da
> chamada nova musicologia, da etnomusicologia, da filosofia, da antropologia
> e da sociologia da música, seguimos observando uma dificuldade quase
> jurássica, em termos históricos, não apenas de promover espaços mais
> representativos do pontos de vista de gênero na música, e também do ponto
> de vista étnico-racial, regional e de classe, como seguimos observando o
> que a filósofa *Judith Butler* chama de "resistência em perder privilégios"
> (
> http://www.zeit.de/kultur/2016-10/judith-butler-donald-trump-populism-interview),
> porque, sim, a manutenção de ambientes, sistemas e espaços majoritariamente
> masculinos na música significa, na prática e na teoria, um inegável e
> gritante privilégio para todo o qualquer homem na música, além de uma
> aberrante desigualdade desprovida de lógica ou sentido em 2016 e no século
> XXI.
> 
> 
> 
> Lamentável.
> Lamentável e muito antiquado, para dizer o mínimo.
> 
> 
> 
> Abraços,
> Camila.
> 
> 
> 
> 
> Em 8 de novembro de 2016 14:08, <ms.eliana em usp.br> escreveu:
> 
> > Corrigindo...
> > Parece que foram duas, em duas etapas do processo. Marisa Rezende e
> > Patricia de Carli.
> > De todo modo é uma parcela ínfima das compositoras atuantes...
> > Abraços
> > Eliana Monteiro da Silva
> >
> > ----- ms eliana <ms.eliana em usp.br> escreveu:
> > > Caras e caros colegas,
> > > Infelizmente apenas uma mulher foi contemplada para a próxima Bienal.
> > > Alguém tem informação de quantas enviaram propostas? Seria interessante
> > saber se o espaço é pouco atraente às compositoras ou se elas realmente não
> > passam no crivo da comissão...
> > > Abraços
> > > Eliana Monteiro da Silva
> > >
> > > ----- Carlos Palombini <cpalombini em gmail.com> escreveu:
> > > > A Fundação Nacional de Artes – Funarte divulgou, no dia 8 de novembro,
> > a
> > > > lista de projetos selecionados para o Prêmio Funarte de Composição
> > Clássica
> > > > 2016. O prazo para interpor recurso ao Centro da Música é de dois dias
> > > > úteis a partir da divugação do resultado, ou seja, até o dia 10 de
> > > > novembro. Os pedidos devem ser enviados para o endereço eletrônico:
> > > > classicos.funarte em gmail.com.
> > > >
> > > >
> > > > *Nota de esclarecimento: *Concluída a análise dos projetos
> > identificados
> > > > apenas por números, os membros da Comissão, repetindo procedimento
> > adotado
> > > > em Comissão análoga anterior, decidiram que das dez obras previstas no
> > > > Edital para a categoria “seis a dez instrumentos”, apenas sete mereciam
> > > > aprovação. O valor correspondente aos três prêmios suprimidos foi
> > > > transferido para a categoria “um a dois instrumentos”, que passou de
> > > > dezesseis para vinte obras.
> > > >
> > > > Acesse aqui a lista de selecionados
> > > > <http://www.funarte.gov.br/wp-content/uploads/2016/08/Pr%C3%
> > AAmio-Composi%C3%A7%C3%A3o-Cl%C3%A1ssica_selecionados.pdf>
> > > > http://www.funarte.gov.br/wp-content/uploads/2016/08/Pr%C3%
> > AAmio-Composi%C3%A7%C3%A3o-Cl%C3%A1ssica_selecionados.pdf
> > > >
> > > > --
> > > > carlos palombini, ph.d. (dunelm)
> > > > professor de musicologia ufmg
> > > > professor colaborador ppgm-unirio
> > > > ufmg.academia.edu/CarlosPalombini <http://goo.gl/KMV98I>
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> > Pesquisa e Pós-Graduação em Música
> > > > https://www.listas.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
> > > >
> > > > Conforme deliberado na Assembleia Geral realizada em 24 de agosto de
> > 2016, das 17 às 19 horas, no Auditório da Fundação de Apoio e
> > Desenvolvimento da Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais, B.
> > Horizonte – Não são veiculadas nesta lista mensagens contendo ANEXOS.
> > >
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> > > Conforme deliberado na Assembleia Geral realizada em 24 de agosto de
> > 2016, das 17 às 19 horas, no Auditório da Fundação de Apoio e
> > Desenvolvimento da Educação, Ciência e Tecnologia de Minas Gerais, B.
> > Horizonte – Não são veiculadas nesta lista mensagens contendo ANEXOS.
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> > das 17 às 19 horas, no Auditório da Fundação de Apoio e Desenvolvimento da
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