[ANPPOM-Lista] SOS
Carlos Palombini
cpalombini em gmail.com
Sábado Julho 6 18:14:31 -03 2024
Olá!
Soube com algum retardo, através de um colaborador, que o projeto
USP-Fapesp de tradução e publicação online do Solfège de l'objet sonore, de
1967, foi concluído e está na rede:
https://www.tramausp.com.br/_trabalhos/001solfege
Trata-se da série de gravações preparadas por François Bayle, Beatriz
Ferreyra e Guy Reibel para ilustrar sonoramente o Traité des objets
musicaux, de 1966, com texto e narração de Schaeffer. Esse trabalho foi
relançado em cassete em 1983, quando Michel Chion publicou seu Guide des
objets sonores. Posteriormente, em 1998 e 2005, ocorreram relançamentos
sucessivos em CD.
https://www.discogs.com/pt_BR/master/177888-Pierre-Schaeffer-Guy-Reibel-Solf%C3%A8ge-De-LObjet-Sonore
Tomei conhecimento dessas gravações no início dos anos 1980, quando, antes
de ir estudar com Koellreutter em Tatuí (como diz New Order em
'Ultraviolence', em 1983, 'everybody makes mistakes, even me'), frequentei
o apartamento de Conrado Silva, na Cândido Espinheira, em Perdizes: na
época, uma espécie de salon da vanguarda paulistana de orientação
cageana (foi lá que li Pour les Oiseaux e conheci meu grande amigo Luiz de
Bragança). Depois, comprei as fitas, junto com o livro de Chion, e,
finalmente, a segunda edição em CD. Passado mais de meio século de seu
lançamento, essas gravações continuam a exercer seu impacto sobre as
concepções de sonoridade e musicalidade de quem se dê ao trabalho de
escutá-las.
Possuí também—e ainda possuo, em algum lugar—uma coleção de traduções por
assim dizer domésticas realizadas no Brasil, entre elas a de Maria Lúcia
Pascoal (dessa tenho certeza, do tempo de minhas residências no IA e no
IFCH Unicamp), de Rodolfo Caesar (creio), de Antonio Sousa Dias (tenho
certeza) e talvez de Conrado Silva. A presente tradução, acredito, leve em
conta esses trabalhos, já que se atribui a Adriana Lopes Moreira, António
de Sousa Dias, Maria Lúcia Pascoal, Rodolfo Caesar e Augusto Piccinin.
Fico feliz com a realização e lamento que não exista disponível nada
parecido em língua francesa. Conrado Silva identificou muito bem a
relevância do trabalho de Schaeffer para o Brasil no artigo 'Música
eletroacústica na América Latina', na Revista Art 13, de 1985. É curioso
como, aqui, a música concreta foi quase mainstream, na medida em que formou
inúmeros de nossos principais compositores, de Reginaldo (de) Carvalho a
Rodolfo Caesar (assim, de cabeça).
De nossa parte, no PPGAS-UFRJ, Adriana Facina, Igor Reyner e eu estamos
empenhados em levar o pensamento de Schaeffer além dos círculos da música
eletroacústica e aplicá-lo à análise do rap, do trap e do funk carioca.
Schaeffer, que detestou a house dos anos 1980, certamente não aprovaria,
mas, então, ele renegou o próprio projeto do Tratado e disse não haver
música além do dó-ré-mi (a que Cage deu a resposta lendária). Para nós,
esse trabalho de tradução e publicação online é de enorme utilidade.
Em nome de colaboradores, alunos e orientandos, agradeço.
Abraços,
Carlos
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carlos palombini, ph.d. (dunelm)
pv-faperj ppgas museu nacional ufrj 2023–2024
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