[Dicasdeiluminacao-l] Utilização das cores e formas na linguagem visual – algumas palavras...

Valmir Perez valmirperez em gmail.com
Seg Dez 3 19:21:41 BRST 2007


Utilização das cores e formas na linguagem visual – algumas palavras...



A iluminação cênica, embora seja apenas um dos elementos formadores do
conjunto de uma obra, pode ser considerada arte visual. Isso faz com que
tenhamos que pensar sua manifestação física e, portanto expressiva, em
termos de "linguagem visual".

Muitos artistas e teóricos da comunicação procuraram e procuram definir
cores e formas como conceitos de linguagem, dessa mesma linguagem visual de
que falei anteriormente. Vendo dessa forma, poderíamos pensar então que
esses elementos visuais, se realmente conhecidos e bem aplicados, fariam
parte de um imenso "alfabeto" que possibilitaria aos artistas a comunicação
de idéias, sensações e sentimentos, de uma maneira mais racional, com mais
entendimento.

Mas não devemos também esquecer que a comunicação só se dá de maneira
legítima quando as partes emissoras e receptoras conhecem os códigos de
determinada linguagem, ou seja, não adiantaria de nada o artista conhecer o
código se seu público fosse "analfabeto".

Quando somos crianças e vamos para escola, nossos pais e professores ficam
muito satisfeitos e felizes quando conseguimos escrever e entender as
primeiras palavras. Pronto! Estamos preparados para o mundo! Mas será que
estamos mesmo?

Num mundo que utiliza a linguagem visual para informar e desinformar suas
criaturas, as quais aprendem cerca de oitenta por cento de tudo o que sabem
através do sentido da visão, nosso treinamento parece não ter sido muito
completo. Alguém aí já ouviu um professor, um pai ou uma mãe falar sobre a
agudeza de um triângulo e de como sua forma é mais ríspida e provocante do
que um círculo ou uma esfera? E como esse mesmo triângulo quando preenchido
de uma cor amarela brilhosa fica ainda mais provocante do que se fosse
preenchido com um azul cálido?

Você mesmo já pensou sobre o assunto? Já percebeu porque a propaganda
utiliza mais algumas cores e tons do que outras? E como essas cores e formas
se modificam em relação ao produto que está sendo anunciado? Em relação ao
público que quer atingir?

Pois é, somos na maioria, analfabetos visuais e, por não conhecermos esse
alfabeto como deveríamos, passamos pela vida recebendo milhões de
informações diariamente sem ao menos questionarmos a sua validade e suas
escondidas intenções. Ficamos à mercê de nossos instintos, pois também aí as
cores nos fazem vibrar. De uma maneira mais básica, mas mesmo assim,
vibramos. Nessa vibração, sem entendimento da profundidade, perdemos as
rédeas de nossa lógica, de nossa vontade.

Mas se não entendemos o alfabeto e, necessariamente para que a comunicação
funcione, sempre será preciso que emissor e receptor falem a mesma "língua",
porque então nos preocuparmos com as informações veladas ou mal
intencionadas do emitente, já que não entenderemos mesmo?

Porque a informação velada do emitente sempre se dará num nível abaixo da
nossa capacidade de entendimento consciente. Assim sendo, o que funcionará
será apenas o inconsciente. Legal não é mesmo? Viveremos sonhando e achando
que a nossa realidade é só aquilo que achamos que é. Não entenderemos a
profundidade do mundo, quanto mais a da arte!

Se somos então, quase todos analfabetos visuais, precisamos urgentemente
mudar essa situação! A atualidade nos força a pensarmos seriamente no fato
de que, se quase tudo o que aprendemos entra pelos nossos olhos, então
precisamos saber filtrar o que aprendemos. Nada melhor então do que
começarmos agora mesmo nossa viagem em busca desse conhecimento. Mas como
poderemos fazer isso?

Ora, através da busca consciente dos significados das imagens do mundo! Não
digo apenas as imagens da natureza, mas todas as imagens do mundo. Para e
olhe! Não apenas olhe, veja! Esse é o sentido da apreciação da arte. O
caminho é difícil porque estamos acostumados apenas a "olhar" e não damos
conta que temos que também "ver". E "ver" significa perdermos o nosso
precioso tempo, porém, se não fizermos isso, não teremos condições de
"apreciarmos" a vida, quanto mais a arte!

Os registros visuais, sejam quais forem, estão sempre ligados às formas, que
por sua vez, são carregadas de conteúdo. Juntas, formam as composições,
linguagem que utilizamos para comunicar nossas idéias, ideais e interesses.

Muita gente me escreve pedindo fórmulas para tratar a luz de determinado
espetáculo, cena ou show. Isso mostra o desentendimento da linguagem, da sua
complexidade.

Não existem fórmulas prontas para a composição de determinados efeitos e,
portanto, para a criação de determinados sentimentos e emoções Todos os
elementos das cenas estão interligados. Não existe vermelho para as cenas
que queiram trazer imagens infernais ou de grande sensualidade. Assim como
os azuis não foram feitos apenas para as noites de luar. Isso são fórmulas
que às vezes funcionam, outras vezes não. O mais importante é "saber" que
determinada cor ou forma da luz dentro do contexto maior irá fortalecer uma
determinada expressão, ou não.

Mas como saber? Essa realmente é a grande busca dos artistas visuais. A
própria busca não tem fim e a arte torna-se com isso um campo infinito de
pesquisa e descoberta. O que devemos ter em mente é que não existem fórmulas
prontas. Não existem atalhos. Dessa forma, o que importa é nosso inteiro
comprometimento com esse universo dinâmico.

Sempre procuro despertar nas pessoas que querem trabalhar com iluminação o
interesse pelas artes pictóricas. O estudo das obras dos grandes mestres da
pintura pode facilitar nosso estudo e diretamente nossa relação e
entendimento das cores e das formas, além é claro, de contribuir para o
entendimento desses elementos quando dentro de um contexto maior, do
conteúdo subjetivo dessas obras.

Devemos saber também que a arte da iluminação é muito mais complexa que a
arte da pintura bidimensional, a dimensão tempo e a tridimensionalidade
aumentam sobremaneira esses níveis de complexidade. E isso não é tudo! Num
quadro pintado não escutamos os sons, não temos que nos preocupar com as
nuances de representação, etc.

Para concluir, procuro também, na medida do possível, alertar os
interessados pela iluminação, de que nosso trabalho não é nem apenas
iluminar e nem apenas ser a estrela do show. Devemos ser solidários para não
perdermos o melhor: o espetáculo!


-- 
Valmir Perez
Lighting Designer
Laboratório de Iluminação
Unicamp
www.iar.unicamp.br/lab/luz
http://blogdovalmir.blogspot.com/
http://imprensanaprensa.blogspot.com/
Skype: lablux
Fones:
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