[Dicasdeiluminacao-l] A INFLUÊNCIA DA ILUMINAÇÃO CÊNICA NA ILUMINAÇÃO ARQUITETURAL

Valmir Perez valmirperez em gmail.com
Qui Maio 22 09:23:31 BRT 2008


Prezado(a) assinante, bom dia,

Segue abaixo texto/resumo de palestra sobre a influência da iluminação
cênica em projetos de iluminação arquiteturais da atualidade, ministrada por
mim em 2007, no evento Seminaluz - Vale do Aço - MG.

Um abraço,



A INFLUÊNCIA DA ILUMINAÇÃO CÊNICA

NA ILUMINAÇÃO ARQUITETURAL



Resumo de palestra no 3º. Seminaluz - 2007





Com o avanço técnico das soluções em iluminação das últimas décadas, pudemos
observar uma revolução bastante efetiva no design de iluminação de
interiores, exteriores, pública, museológica, de monumentos, etc.

Essa revolução tem como uma das principais características a busca de
elementos estéticos e expressivos da luz cênica. Isso não foi gratuito, pois
grande parte das lâmpadas, luminárias e equipamentos hoje utilizados na
iluminação arquitetural tiveram seus desenhos inspirados nos equipamentos da
iluminação cênica e em suas características ópticas, de movimento, trocas de
cores, etc. que sempre possibilitaram um leque bastante variado de
aplicações criativas sobre os palcos.

Desde então, e é claro, podemos supor que se, a performance técnica dessas
ferramentas oferece condições amplas de aplicação estética da luz sobre os
ambientes, certamente os designers de iluminação, que utilizam essas
ferramentas, acabam se tornando artistas e co-criadores das obras
arquiteturais. Dessa forma e muito provavelmente, desde essas últimas
décadas do século passado e até o presente momento, estamos assistindo ao
nascimento de novas formas de expressão artística ligadas á arquitetura e à
luz, o que também certamente nos trará abertura para discussões mais amplas
sobre essa nova arte.

Mas por que arte? Por que devemos conceber a iluminação cênica e,
consequentemente a iluminação arquitetural, como arte, e seus designers como
artistas? Serão verdadeiras essas afirmações apenas porque novas tecnologias
estão á disposição desses profissionais, ou outras questões entram no jogo?

Para responder a essas e outras perguntas, devemos primeiramente tentar
definir, mesmo que resumidamente, do que trata a arte. Como se dá sua
mecânica, entrando um pouco em sua intimidade.

Segundo alguns teóricos, a arte pode ser dividida em três aspectos: arte
como pensar, arte como conhecer e arte como exprimir. Esses aspectos ou
concepções, ora se contrapõe, ora se combinam e aliam-se, ora se excluem
mutuamente,

Sendo assim, podemos entender que é "arte do pensar" de como a luz e suas
propriedades influenciam psicologicamente as pessoas através de suas
manifestações e processos que se desenvolvem sobre os ambientes e palcos.

É "arte do conhecer", pois, desenhistas de iluminação precisam saber
claramente o que eles vêem no mundo real e como e porque as luzes se
comportam de determinadas formas, suas propriedades físicas, etc.

É "arte do exprimir", ou seja, de como esses artistas utilizam as técnicas e
conhecimentos, suas ferramentas, etc. para materializarem suas obras, suas
idéias e ideais.

Tudo isso também nos leva a pensar que podemos verdadeiramente denominar as
atividades dos designers de iluminação e iluminadores como arte, exatamente
porque essas atividades contém aspectos semelhantes a outras manifestações
artísticas, como, por exemplo, as da pintura, pois, tanto a arte pictórica
como a iluminação necessitam de suportes para que se dêem as suas
materializações; realizam-se no espaço, inclusive a iluminação também no
universo temporal; solicitam de seus criadores e executores conhecimentos
técnicos e estéticos; são realizadas e construídas com o apoio e utilização
de ferramentas e acessórios; exigem conhecimento de linguagem expressiva e,
por fim ainda, a iluminação tanto pode ser ela mesma a própria obra, como
elemento de apoio, participativo e interativo á outras.

Podemos ainda intuir que os artistas da luz dividem seu espaço e sua criação
com outros artistas e meios de expressão em busca de uma obra coerente,
harmônica, e são aqueles cujas obras estão ligadas a conceitos criativos
não-repetitivos, intencionais, cujas funções são determinadas pelos seus
momentos expressivos através da luz, e o design de iluminação, como sendo "a
arte ou o trabalho manual de criação visual através da luz e suas
propriedades". Entre essas propriedades, podemos citar o brilho, a
intensidade, a direção, o ângulo de incidência, a velocidade, a cor a
textura, a forma, o volume, o tipo movimento, a duração, etc.

Artistas se utilizam dessas propriedades da luz para determinar espaços;
evidenciar e ocultar; controlar o resultado visual das formas; modular o
tempo; reforçar e criar "climas" emocionais; criar sensações de frio, calor,
condições climatológicas, estados mentais, etc. aproximar e distanciar
seres, objetos, etc.

Se então, como afirmamos anteriormente, as ferramentas e instrumentos de
iluminação cênica, que possibilitam mais facilmente essas criações, tiveram
seus conceitos transferidos para a iluminação arquitetural, fica obviamente
claro que as aplicações estéticas também. Essa a influência maior que pode
ser observada nos novos projetos. Uma abertura e liberdade maiores de
expressão pelos designers de iluminação arquitetural. O que não ficou claro
ainda é como isso está funcionando ou pode funcionar, pois, se os
iluminadores cênicos possuem métodos de trabalho em suas criações
expressivas, provavelmente esses métodos estão começando a ser utilizados
pelos designers de iluminação de espaços arquitetônicos e, devem existir
então paralelos visíveis e mesmo semelhantes nessas atividades.



Para facilitar nosso resumido estudo, dividi essas atividades em algumas
etapas:



•         Pesquisa – Levantamento das informações que determinarão as bases
do processo criativo.



•         Criação – É o processo criativo do artista em funcionamento. O
desenvolvimento imagético de suas idéias e concepções visuais.



•         Desenho – Expressão visual técnica e estética dos mecanismos de
comunicação.



•         Execução – A construção material da obra sobre os suportes com a
utilização dos meios ferramentais.



•         Operação – A obra quando expressa através de mecanismos de
controle dessas ferramentas dentro de um determinado universo espetacular.



Na fase da pesquisa:



Essas pesquisas compreendem os levantamentos no interior do universo das
técnicas, ferramentas e condições oferecidas para concretização dos
trabalhos, assim como as pesquisas estéticas, visuais e do conjunto dos
elementos participantes da obra.



Na fase da criação:



Que é o processo criativo em ação, onde se dá a utilização dos elementos da
pesquisa na concepção estética da obra, a criação de esboços, onde entra a
intuição criativa, as adaptações poéticas da obra para fins harmônicos, a
utilização de ferramentas para criação de materiais de comunicação, e isso
pode também se dar através softwares de simulação. É também, em muitos
casos, a fase dos cálculos e adaptações e a busca pelas ferramentas e
suportes ideais para materialização da obra.



Na fase da execução;



Nessa fase os designers executam os projetos, mas não as obras, que são
executadas por outros profissionais. Esses projetos são mecanismos de
comunicação entre as partes envolvidas na execução da obra. É também nessa
fase que os designers definem os movimentos das luzes (quarta dimensão),
acompanham a execução dos projetos e, em alguns casos, tais como o da
iluminação cênica, podem ou não acompanhar as apresentações e suas
repetições.



Para completar nossa análise, devemos compreender que, as atividades
desenvolvidas pelos designers de iluminação cênica e os designers de
iluminação arquitetural, embora bastante semelhantes, no que diz respeito
aos processos, tornam-se muito diferentes e peculiares em aspectos mais
objetivos. Para falar sobre isso, vou analisar rapidamente a luz nos espaços
arquitetônicos em relação à luz sobre os palcos:



Na arquitetura: os personagens "são" o próprio público; os pontos de vista
são complexos; as cenas cotidianas não seguem roteiros rígidos; os atores
saem de cena apenas e quando deixam o "teatro"; a iluminação é operada pelos
próprios atores (residências); os equipamentos compõem parte da "atmosfera"
e da cenografia; a luz nos palcos, como na arquitetura, deve iluminar, mas
ao mesmo tempo contribuir para a valorização das poéticas inseridas no todo
da obra; A luz deve contribuir, na arquitetura,  para o conforto ambiental.



Podemos também concluir que a influência da iluminação cênica na arquitetura
surgiu das mudanças culturais profundas as quais vimos passando. De uns
tempos para cá, nos tornamos culturalmente mais livres, fomos levados a dar
maior importância às imagens em nossas vidas cotidianas, dessa forma,
buscamos maior sentido expressivo para nossas vidas. Somos ensinados a
comprar estilos de vida e não apenas produtos e vivemos num momento de busca
por mudanças de paradigmas na arte, na filosofia, na religião, na ciência,
etc.

Essas coisas, ou o próprio conjunto delas, provavelmente estejam também
mudando o olhar das pessoas em relação à luz. Vivemos há um tempo atrás o
mundo das máquinas, hoje vivemos o mundo dos robôs, das comunicações. Nesse
novo mundo, a mim me parece, as cores, sons, formas, movimentos, etc. são
muito mais rápidos, alucinantes, envolventes. Esse envolvimento, que é a
essência do teatro, da performance cênica, pulsa agora nas ruas de nossas
cidades, em nossas vidas diárias. Talvez por isso mesmo, a luz teatral,
cênica, aquela que vem carregada de sentidos, esteja tomando o espaço da luz
confortável, mais preocupada com o relaxamento e saúde das pessoas.
Questiono muitas vezes se estamos tomando a estrada correta ao
transformarmos nossas cidades em parques de diversão. Creio que o melhor,
seria o uso equilibrado dessas novas tecnologias, para que as gerações
futuras possam olhar para cima e ver as estrelas do céu.




-- 
Valmir Perez
Lighting Designer
Laboratório de Iluminação
Unicamp
www.iar.unicamp.br/lab/luz
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Skype: lablux
Fones:
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