[Dicasdeiluminacao-l] Com o perdão da palavra neste momento…- Paulo Oliveira

Valmir Perez valmirperez em gmail.com
Ter Jan 29 10:38:37 BRST 2013


Prezado(a) assinante, bom dia,

Eu não poeria deixar de passar para vocês esse texto do amigo Paulo
Oliveira<http://paulooliveira.wordpress.com/>
.

Nesse momento tão triste, o texto chega em hora propícia aos profissionais
de iluminação do Brasil que, na minha humilde opinião, precisam realmente
se debruçarem sobre ele com seriedade e entenderem a gravidade do assunto
que veio á tona com os acontecimentos de Santa Maria.

Até quando nos calaremos quando, em meio a espaços e estruturas que trazem
riscos á vida humana, deixarmos de fazer a nossa parte, denunciando abusos,
incompetências e promiscuidades?

Chega o momento do Basta! De assumirmos verdadeiramente nosso papel na
sociedade. Sem medos e receios, pois, certamente quando optamos pela
atitude correta, certamente estaremos amparados pelas forças positivas.

Abraços,

Com o perdão da palavra neste
momento…<http://paulooliveira.wordpress.com/2013/01/28/com-o-perdao-da-palavra-neste-momento/>

[image: 734783_441401202595994_315484948_n]<http://paulooliveira.files.wordpress.com/2013/01/734783_441401202595994_315484948_n.jpg>

Primeiramente deixo aqui o meu pesar às famílias que perderam seus entes
(crianças ainda) nesse desastre horrível na boate Kiss em Santa Maria – RS.

Deixo também o meu pesar aqueles que perderam amigos de modo tão absurdo.

Deixo o meu pesar também à bela e acolhedora cidade de Santa Maria que tive
o prazer de conhecer ano passado quando fui palestrar na UFSM durante a
Semana Acadêmica de Design.

Rogo a Deus que derrame sobre todos vocês as suas bênçãos, sua paz e em seu
infinito amor conforte seus corações nesse momento tão triste e doloroso.
[image: 235234-970x600-1]<http://paulooliveira.files.wordpress.com/2013/01/235234-970x600-1.jpeg>

fonte: Folha de São Paulo

A imagem acima representa o que estou sentindo neste domingo sombrio e
triste. Compartilho a dor e o desespero de meus irmãos rio-grandenses.

Mas, com o perdão da palavra neste momento de tanta dor e desolação, faz-se
necessário expor algumas verdades.

É de conhecimento de todos que a maioria absoluta das casas noturnas e
espaços de diversão e entretenimento aqui do Brasil não respeitam as normas
de segurança. Isso se deve a diversos fatores que levanto a seguir:

*1 – PROPIETÁRIOS DE ESTABELECIMENTOS*

É muito comum no dia a dia profissional, quando apresentamos projetos para
proprietários desse tipo de estabelecimento (por vezes até mesmo em
residências, lojas, etc) que eles comecem a chiar, reclamar por causa dos
custos. É um tal de corta isso, tira aquilo que dá medo. O fato é que eles
priorizam a estética (beleza) deixando de lado a técnica (segurança).

Quando nos negamos a eliminar itens essenciais para a segurança e
acessibilidade, muitos clientes fazem os acertos nos bastidores com os
mestres de obras e pedreiros que desconhecem, na maioria, as Leis. Quando
chegamos à obra para fiscalizar o andamento a coisa toda já foi feita.
Muitas coisas foram alteradas sem a permissão ou aval do profissional
responsável pela obra. E, quando o profissional percebe tais alterações e
solicita a assinatura por parte do cliente de um documento relatando as
alterações projetuais, isentando-o da responsabilidade nestes itens
especificamente, geralmente inicia-se uma guerra entre os dois lados e
dificilmente o profissional consegue tal assinatura.

Isso tudo quando existe algum profissional por trás do projeto, pois é
sabido que existem muitas casas desse tipo que nem isso tem. Muitos
proprietários simplesmente acham que o seu bom gosto basta e montam
verdadeiras arapucas para os usuários destes espaços.

Não devemos nos esquecer também que, em caso de pânico, até prove-se a
veracidade do acontecimento, as portas dos estabelecimentos são fechadas
para que ninguém saia sem pagar a sua comanda. E isso são ordens dos
proprietários, gananciosos e dinheiristas. Outro detalhe é que, no caso,
apesar da estrutura baixa do palco aliada à irresponsabilidade do
proprietário em contratar a banda permitindo o uso de fogos sabendo que o
isolamento era de espuma logo, altamente inflamável. E agora a pergunta:
Que diabos – ou quem foi o diabo – que especificou espuma para isso sendo
que existem inúmeros produtos mais adequados e, especialmente, anti-chamas?

*2 – PROFISSIONAIS DAS ÁREAS ENVOLVIDAS*

Já cansei de ver profissionais curvando-se aos pedidos dos clientes. Aquela
velha história de “*o cliente sempre tem razão*” infelizmente muitos levam
ao pé da letra desconsiderando as questões acima já citadas.  Já outros
preferem o lado negro da atuação profissional buscando o “jeitinho
brasileiro” para resolver os problemas.

Alguns anos atrás fui convidado para participar do projeto de uma casa aqui
em Londrina. Na primeira reunião que tive com a arquiteta e o proprietário
ela estava se gabando, super feliz por uma coisa que tinha conseguido
efetivar durante o dia: a liberação do projeto junto ao Corpo de Bombeiros.
Porém o fato é que o projeto tinha diversos problemas relativos à segurança
e, nada que um bom “cachê” não resolvesse. E resolveu. O projeto foi
liberado, uma casa que comporta mais de 3000 pessoas, com apenas UMA saída
de emergência minúscula. O piso superior da casa não dispunha de uma saída
independente levando os usuários, em caso de pânico, a ter de descer uma
escadaria e entrar no meio do empurra-empurra para tentar alcançar essa
única saída de emergência afunilada.

Podem se perguntar se eu fiz a denúncia e respondo: não fiz. Não sou
arquiteto e tampouco engenheiro, não é responsabilidade minha fazer isso,
especialmente porque a fulana é uma das bambambãns daqui. Outro fator é que
em Londrina imperam os cartéis, as máfias, os grupinhos que adoram tirar
vantagem de todos e tudo. Não iria virar alvo fácil para sei lá o que. No
entanto, conversei com diversos profissionais de arquitetura e engenharia
sobre o caso na esperança que estes levassem a denúncia ao CREA e que este,
como órgão fiscalizador, cumprisse o seu papel. Mas a casa foi inaugurada e
está funcionando normalmente sem qualquer alteração. E onde estão os
fiscais que deveriam bater em todas as obras analisando se tudo está
realmente sendo feito de acordo com o projeto para o qual a ART foi
assinada? Será também que estes fiscais desconhecem tais normas e leis de
segurança e não conseguem perceber esses erros em suas visitas de
fiscalização?
[image: Fonte: G1]<http://paulooliveira.files.wordpress.com/2013/01/planta.jpg>

Fonte: G1

Outro fator que deve ser considerado são as falhas projetuais cometidas
pelos profissionais.  A imagem acima é a planta baixa da boate Kiss
(desconsidere a legenda ao lado direito e preste atenção na planta). Muitas
vezes vemos coisas básicas que não deveriam acontecer como, por exemplo,
banheiros com péssima – ou nenhuma – ventilação salvo aqueles exaustores
minúsculos que, em caso de pane elétrica, param de funcionar. Deve-se
levantar também que raramente vemos banheiros espaçosos.

Se formos analisar os projetos de espaços de diversão, perceberemos
facilmente muitos problemas relativos à segurança e acessibilidade. Por
essas e outras há mais de 10 anos que não frequento mais boates e
similares, lugares fechados onde eu não conheça ou não tenha uma perfeita
visualização através da sinalização, das rotas de fuga.

Fato é que é muito comum os empreendedores buscarem edificações nas regiões
mais centrais das cidades, logo, são edificações já cercadas por todos os
lados por outras edificações, não havendo a possibilidade da inserção de
rotas de fuga a não ser pela frente. Poucas são as casas noturnas que
instalam-se em locais afastados e em terrenos amplos permitindo que as
questões de segurança sejam realmente efetivadas nos projetos.

Isso está errado, muito errado e precisa ser revisto com urgência!!!

*3 – ÓRGÃOS DE FISCALIZAÇÃO*

Nem de longe quero aqui desmerecer esta magnífica corporação de verdadeiros
heróis que é o Corpo de Bombeiros, homens que muitas vezes dão a própria
vida na tentativa de salvar outras vidas.

No entanto, sempre há uma ou outra laranja podre nas corporações e, como
citei acima, departamentos como este de fiscalização deveriam ser alvo de
constante vigilância. Este departamento é de suma importância para que as
normas de segurança sejam cumpridas mas o que vemos muitas vezes são ações
que vão na contramão disso.

Aqui em Londrina é muito mais difícil você aprovar a aplicação de um piso
vinílico – por mais que haja liberação legal do produto e comprovação de
que o mesmo é anti-chamas – para uma escadaria de um edifício, que aprovar
uma casa noturna que tenha apenas uma saída de emergência com pouco mais de
1m de largura num local praticamente invisível para quem está afastado dela.

Onde está a fiscalização? Segundo relatos o extintor do palco simplesmente
não funcionou. Isso jamais deveria acontecer! Será que alguma vez foi
vistoriado seja pelos Bombeiros ou pela administração da boate?
[image: Fonte: G1]<http://paulooliveira.files.wordpress.com/2013/01/62917_595466453801754_1972589702_n.jpg>

Fonte: G1

O foco está errado, as diretrizes e prioridades estão equivocadas. É
preciso uma revisão urgente nestes departamentos. Uma investigação profunda
sobre os profissionais neles alocados e, havendo comprovação, a devida e
exemplar punição.

Existem também as laranjas podres também nos departamentos de Aprovação de
Projetos nas prefeituras. Nestes é bastante comum e fácil percebermos
falhas de simples e graves.

Certa vez aqui em Londrina eu precisava de uma planta de uma edificação.
Após ter pago todas as taxas legais, fui surpreendido quando o estagiário
me extorquiu mais “algum” para uma cervejinha no final do dia, sob o olhar
do chefe do departamento que ria aprovando a ação dele. Caso eu não
liberasse, apesar de estar com todas as taxas legais pagas, ele não me
daria a cópia do projeto. Mas o problema não para aí. O que andam fazendo
os fiscais desses departamentos em suas fiscalizações? Ganhando algum por
trás também?

E os alvarás? A Kiss estava com o dela vencido desde agosto/12 e ninguém
fez absolutamente nada com relação a isso.  E o que não falta nesse país é
empresa funcionando tranquilamente com alvará vencido ou pior, sem alvará.

Aí já não é um problema apenas dos fiscais, mas sim de gestão interna dos
departamentos. Será que ainda não são simplesmente informatizados para
facilitar a busca pelos vencidos ou por vencer?

E o que dizer dos CREAs e CAUs que adoram pegar no nosso pé (designers) e
fazem vista grossa para obras mais vultuosas e perigosas que as nossas
feitas pelos profissionais de sua verdadeira alçada?

Como coloquei acima, lancei a denuncia para os profissionais desses
conselhos e pelo que percebi não levaram adiante. Tampouco os fiscais do
CREA (na época só existia esse ainda) se foram até a obra, fizeram vista
grossa também seja por qual motivo for.

*5 – BANDAS*

Não vou nem entrar no mérito muito a fundo, mas uma bandinha que precisa
utilizar destes artifícios como “identidade visual de seus shows” para
tirar “gritinhos de emoção” da plateia deve rever seriamente seu conteúdo,
sua qualidade musical e suas responsabilidades.
[image: Fonte: G1]<http://paulooliveira.files.wordpress.com/2013/01/20130127094003475112e.jpg>

Fonte: G1

*6 –  POLITIQUEIROS & AFINS*

Me enojou ver na TV a FALSA cara de drama da presidente Dilma, do
governador, de alguns deputados estaduais e federais, de alguns vereadores,
quase vomitei quando li que o molusco¹³ fez o que pode para aparecer na
mídia…

No ultimo caso claro, ele precisa voltar a aparecer como o bonzinho, o
paizinho afinal está envolvidos em inúmeros escândalos, sendo denunciado
por incontáveis falcatruas realizadas por ele e seus comparsas durante seu
mandato, está tendo várias de suas palestras canceladas… Ele¹³ precisa
voltar a ser, custe o que custar, o “painho” do brésiu.

Digo isso, pois estes são os verdadeiros responsáveis por toda essa bagunça
que anda nosso país. Os exemplos de corrupção no alto escalão, nas altas
esferas são a mola propulsora para encorajar os funcionários públicos –
aqueles desprovidos de um mínimo de moral e ética – a entrar nesse jogo
também. É fácil agora esse bando de safado aparecer na TV nesses momentos
com suas máscaras de arrasados, derramar algumas lágrimas de crocodilo e
prometendo rios e mundos, enquanto temos até hoje vítimas dos desastres de
SC, RJ e tantos outros ainda sem ter recebido qualquer tipo de ajuda
efetiva, qualquer solução para os danos sofridos. Agora, reaparecem como
santos, anjos…

Não devemos nos esquecer também de algumas laranjas podres dentro do
judiciário que fazem parte da indústria de liminares. Os órgãos de
fiscalização, quando fazem a sua parte, tropeçam em agentes do judiciário
que estão mais preocupados em agradar aos empresários que zelar pela
segurança pública. Um reprova e o outro libera geral.

É, estes que deveriam administrar e gerir decentemente este país, estados e
municípios são responsáveis também por toda essa desgraça.

Que esta tragédia não caia no esquecimento, que não seja apenas mais uma
desgraça em meio a tantas que aconteceram em nosso país.

Que a partir dela, os responsáveis e envolvidos passem a ser realmente
RESPONSÁVEIS. Que a partir dela os baladeiros de plantão sejam mais
responsáveis e não entrem em qualquer arapuca.

Que a partir dessa desgraça, os profissionais de arquitetura, engenharia e
design sejam mais responsáveis e menos corporativistas denunciando sim
sempre que souberem de alguma falcatrua afinal, é melhor eliminar a laranja
podre a deixar que ela contamine ou suje toda a caixa (classe profissional).

Que a partir de ontem, sejamos então mais *RESPONSÁVEIS*.

-- 
<http://www.luzearte.net.br/>

Valmir Perez
Lighting Designer
Laboratório de Iluminação Unicamp
http://www.luzearte.net.br/
www.iar.unicamp.br/lab/luz
http://valmirperez.blogspot.com/
Skype: lablux
Fones: 55(19) 35211478 55 e (19) 92229355
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