[ANPPOM-L] ufa!,ufac,ufa!

Jorge Antunes antunes em unb.br
Qua Nov 7 10:44:51 BRST 2007


Caro Farlley:

Suas colocações e relatos são bem interessantes.
Isso enriquece o debate.
Gostaria de intervir nas suas ponderacões, lembrando o seguinte: a música popular ocidental, até onde sei, usa o sistema tonal. E, mais que isso, usa o sistema temperado. Esse não é o caso da música eletroacústica que, hoje, é ensinado em quase todas as Universidades.
Já tentaram fazer mpb com sistema dodecafônico. Não pegou. Foi difícil vender.
É necessário existirem lugares cujos formandos instrumentistas tenham condições de sair podendo tocar música de Alois Haba, Boulez ou Ligeti.
Agora, mais uma coisa: essa formação precisa acontecer em quatro anos.
Acho que o bom lugar para isso é a Universidade.
Abraço,
Jorge Antunes





Farlley Jorge Derze wrote:

> Mas afinal: uma Universidade tem ou não tem autonomia para decidir como
> selecionar aquele indivíduo que nela procura ingressar?
>
> Tenho receio de haver compreendido pelo avesso o que diz a LDB/MEC/BRASIL.
>
> Creio que o cerne da questão é na nomenclatura que se perpetua no âmbito de
> nossas Universidades: "Curso de Música".
>
> A sociedade, ou, imagino eu, os adeptos de tantas outras práticas musicais,
> findam por se iludir com a nomenclatura tão abrangente. Para o modelo ainda
> vigente e operante em muitas Universidades e mentes, talvez fosse o caso de
> elucidar ao candidato, a quem se lhe aplica um teste de habilidade específica,
> que ele está prestes a ingressar num Curso de Música Erudita, em que se
> encontram agregadas inúmeras correntes estéticas e suas respectivas expressões
> sonoras, teóricas e práticas. Obviamente, músicos (compositores) como Caymmi,
> Djavan e o Pedro (regente do Coral 16, aqui na Asa Norte de Brasília - músico
> fenomenal), ficariam de fora deste sistema, cuja validade é inquestionável
> (sou fruto dele), mas incapaz de atender o Pedro, que foi reprovado no teste
> de habilidade específica da UnB. Lamentei por isso. Ele leu a nomenclatura:
> Curso de Música (tal, desprovida de suas especificidades vigentes).
>
> Se no Edital ou noutra Universidade constasse um alternativa àquela, algo
> como "Curso de Música Popular Brasileira", (com outro modelo de admissão para
> os candidatos que por esta vertente se interesse), possivelmente o Pedro
> pudesse ter contemplado, pela Universidade em questão (utópica), o seu
> talento, igualmente inquestionável, haja vista a lisura com a qual se
> apresenta seu grupo Vocal 16, muitos dos componentes, com formação musical
> idêntica à minha - padrão erudito, acadêmico, sistemas de notação específicos
> caso-a-caso.
>
> Vejo que Antunes tem razão, se olho para o letreiro onde se intitula
> determinado Curso de Música ...; vejo que outros colegas possuem razão,
> igualmente, olhando para o outro lado da rua, para o outro Outdoor.
>
> Finalizando, penso que seria o caso de especificar  a nomenclatura, tão
> abrangente quanto o período de tempo que jaz desde seu surgimento.
>
> Longe encontro-me da intenção de levantar meu dedo para oferecer "A" solução.
>
> Abraços cordiais.
>
> Farlley Derze
> Brasília - DF
>
> Caro Eduardo Luedy:
> >
> >Não existem saberes mais legítimos que outros.
> >Acho que começamos a nos repetir. O que você diz no email, já disse em outros
> anteriores.
> >Eu também começo a me repetir.
> >Não existe colonização nos currículos. Eles são amplos, abertos.
> >A colonização, quando se revela, é na sala de aula e não no currículo.
> >Olhe as ementas das disciplinas. Elas são amplas, abrangentes.
> >Mas quando o professor começa a ministrá-las, ele puxa o conteúdo para a sua
> sardinha.
> >Sempre digo que os currículos não precisam de reforma. Quem precisa de
> reforma é o professor.
> >A melhor maneira de se considerar-valorizar aquilo que os alunos já sabem, é
> a prática da prova de habilitação específica em música, para o ingresso na
> Universidade. Na UnB, para ingresso no Curso de Composição Musical, o
> candidato, além de demonstrar sua formação básica musical, tem que apresentar
> composições suas, em partitura ou/e as tocando. A criatividade e a "garra para
> o métier" do candidato, assim, são facilmente avaliadas, podendo ele
> apresentar suas composições, auto-didatas, tanto na área da música erudita
> quanto na de música popular.
> >Abraço,
> >Jorge Antunes
> >
> >
> >
> >
> >
> >eduardo luedy wrote:
> >
> >> Prezado Jorge Antunes,
> >>
> >> A questão, pelo menos como a entendo, seria: como e em
> >> que medida poderíamos atender à diversidade?
> >> Neste sentido, poderíamos nos perguntar também acerca
> >> de como descolonizar o currículo, de como atender à
> >> demanda por ensino e formação em música sem
> >> desconsiderar-menosprezar aquilo que os alunos já
> >> sabem?
> >> Não problematizar os testes de ingresso é aceitar (e
> >> defender) que há um saber mais legítimo que outros
> >> saberes. Numa instituição pública que se pretenda
> >> democrática estas não são questões irrelevantes.
> >>
> >> Abraços,
> >>
> >> Eduardo Luedy
> >>
> >> --- Jorge Antunes <antunes em unb.br> wrote:
> >>
> >> > Caro Eduardo Luedy:
> >> >
> >> > Obrigado por suas interessantes reflexões.
> >> > Concordo com você, no que se refere à opinião de que
> >> > todos devem poder estudar música.
> >> > Só gostaria de lembrar que existem diferentes
> >> > lugares para se estudar música, cada local com
> >> > processos, conteúdos e objetivos diferentes.
> >> > Alguns desses lugares são: Conservatórios de Música,
> >> > Escolas de Música de Nível Médio e/ou Técnico,
> >> > Universidades, Jornaleiros que vendem Métodos de
> >> > Violão sem Mestre,  Escolas de Samba, Cursos
> >> > Particulares de Música, etc.
> >> > Abraço,
> >> > Jorge Antunes
> >> >
> >> >
> >> >
> >> >
> >> >
> >> >
> >> > eduardo luedy wrote:
> >> >
> >> > > Prezados colegas associados,
> >> > >
> >> > > No intuito de fazer valer a crença na liberdade de
> >> > > expressão e de, por isso, fazer valer o direito à
> >> > > polêmica - sempre que acredite que valha a pena
> >> > testar
> >> > > nossos argumentos, aprofundar o debate, clarificar
> >> > > nossos pressupostos -, gostaria de externar minhas
> >> > > sinceras dúvidas acerca de quase tudo o que se tem
> >> > > afirmado aqui contrariamente à decisão da UFAC de
> >> > > abolir as provas específicas para ingresso em seu
> >> > > curso superior de música.
> >> > >
> >> > > Queria dizer logo que eu mesmo não manifesto
> >> > > indignação. Antes, estou nutrindo curiosidade a
> >> > > respeito de tal decisão e de seus efeitos.
> >> > >
> >> > > Quando eu era aluno, não só na educação básica,
> >> > mas tb
> >> > > na graduação, as decisões e tudo relacionado a
> >> > > reformas educacionais e curriculares, sempre
> >> > parecem
> >> > > muito distantes de nós, pobres mortais. O
> >> > currículo,
> >> > > as disciplinas, suas ementas, tudo sempre me
> >> > pareceu
> >> > > fazer parte de algo muito mais antigo e, por isso,
> >> > > merecedor de uma atitude de respeito, de
> >> > admiração,
> >> > > mas principalmente de uma atitude eminentemente
> >> > > conservadora.
> >> > >
> >> > > Pois eu fico me perguntando: falamos tanto hoje,
> >> > pelo
> >> > > menos na área de educação, em respeitar a
> >> > diversidade
> >> > > cultural; e, para além de apenas "tolerar" a
> >> > > diversidade, falamos em elaborar estratégias
> >> > > pedagógicas que façam jus à diversidade. Então,
> >> > por
> >> > > que não abolir as tais provas específicas? Na
> >> > escola
> >> > > de música da ufba, tais exames eram (são ainda?)
> >> > > chamados de "teste de aptidão". O que, obviamente
> >> > > implicava a noção de que aqueles que não
> >> > conseguiam
> >> > > ser admitidos "não tinham aptidão". Os que tentam
> >> > > ingressar e os que ingressam - os alunos e alunas
> >> > dos
> >> > > cursos superiores de música - passam a aceitar
> >> > isso
> >> > > pacificamente. Naturalizamos a noção de que o
> >> > > conhecimento musical legítimo é aquele que se
> >> > cobra
> >> > > nos tais testes de aptidão. Por que deve ser
> >> > assim?
> >> > >
> >> > > Por que um mestre de capoeira não poderia estudar
> >> > > música se assim lhe desejasse? Por que um
> >> > adolescente
> >> > > roqueiro ou ligado às novas tecnologias de
> >> > produção e
> >> > > circulação de música, por que não djs, rappers,
> >> > > chorões, sambadores, por que não um ogã? Ou seja,
> >> > por
> >> > > que todos os indivíduos tem que reduzir tudo o que
> >> > > sabem a uma única modalidade de fazer-compreender
> >> > > música?
> >> > >
> >> > > O fato é que, apesar de todo o já bem desenvolvido
> >> > > discurso na área de educação acerca da necessidade
> >> > de
> >> > > descolonizar o currículo, o fato é que ainda
> >> > > julgamos-afirmamos, tacitamente ou não, que apenas
> >> > > aquele conhecimento em música (ou seja, o da
> >> > tradição
> >> > > européia-erudita) é merecedor de estabelecer os
> >> > > critérios e os parâmetros para admissão de quem
> >> > quer
> >> > > que deseje estudar música em nível superior.
> >> > >
> >> > > Sei dos desafios que tudo isso representa para a
> >> > > formação superior em música. Mas é justamente isso
> >> > que
> >> > > me anima aqui. Seria possível admitir um dj, por
> >> > > exemplo, com ampla e intensa experiência
> >> > profissional
> >> > > e dialogar com ele? Seria possível ensinar e
> >> > aprender
> >> > > algo com este dj? Ou será que aquilo que vale para
> >> > a
> >> > > formação de instrumentistas (no sentido
> >> > tradicional do
> >> > > termo) e, portanto, como critério para admissão de
> >> > > futuros estudantes de instrumento (ou das chamadas
> >> > > práticas interpretaitivas - no sentido já
> >> > estabelecido
> >> > > pela formação acadêmica em música) deve valer para
> >> > > todo o campo do conhecimento e formação em música?
> >> > >
> >> > > Enfim, por que ensinamos o que ensinamos e como
> >> > > poderemos justificar nossos estreitos critérios de
> >> > > admissão numa sociedade já extremamente
> >> > excludente?
> >> > >
> >> > > Eduardo Luedy
> >> > >
> >> > > --- Jorge Antunes <antunes em unb.br> wrote:
> >> > >
> >> > > > Caro Damián:
> >> > > >
> >> > > > A SBME (Sociedade Brasileira de Música
> >> > > > Eletroacústica) está preparando um documento
> >> > para
> >> > > > ser enviado ao Reitor da UFAC, Prof. Dr. Jonas
> >> > > > Pereira de Souza Filho.
> >> > > > Manifestaremos nossa indignação com o fato de a
> >> > > > Universidade Federal do Acre ter abolido a prova
> >> > de
> >> > > > habilitação em música. Comentaremos as
> >> > experiências
> >> > > > bem sucedidas e as consequências boas de tal
> >> > prova.
> >> > > > Chamaremos a atenção para os resultados
> >> > desastrosos,
> >> > > > em termos de qualidade da formação acadêmica, de
> >> > um
> >> > > > curso superior de música que não pratique a
> >> > seleção
> >> > > > de vestibulandos de acordo com suas formações
> >> > > > musicais básicas.
> >> > > >
> >> > > > Quero sugerir a você que insista com a Diretoria
> >> > da
> >> > > > Anppom, no sentido de que ela venha a fazer o
> >> > mesmo,
> >> > > > enviando carta ao Reitor.
> >> > > > A seguir destaco alguns itens do Estatuto da
> >> > Anppom
> >> > > > de acordo com os quais a Diretoria, eleita
> >> > > > democraticamente em Assembléia Geral, tem o
> >> > direito
> >> > > > e o dever, sem consultas aos associados, de agir
> >> > > > atendendo seu pedido.
> >> > > >
> >> > > > Artigo 4º - São finalidades e objetivos da
> >> > Anppom:
> >> > > > j) Contribuir para a manutenção e
> >> > desenvolvimento da
> >> > > > música, em âmbito acadêmico, enquanto área de
> >> > > > pesquisa e criação científica e artística.
> >> > > >
> >> > > > Parágrafo 2º - Cabe à Diretoria:
> >> > > > b) Dinamizar e promover as atividades que visem
> >> > ao
> >> > > > desempenho do papel social que este Estatuto
> >> > confere
> >> > > > à Anppom.
> >> > > >
> >> > > > Artigo 26 - Os casos omissos serão resolvidos
> >> > pela
> >> > > > Diretoria.
> >> > > >
> >> > > > Abraço,
> >> > > > Jorge Antunes
> >> > > > >
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