[ANPPOM-Lista] Produtivismo acadêmico está acabando com a saúde dos docentes

Rogerio Budasz rogeriobudasz em yahoo.com
Dom Jan 22 23:09:51 BRST 2012


Oi Damián,
Mas aí entra um problema sério, que já foi ventilado aqui em outras ocasiões. A avaliação qualitativa de um periódico baseada no fator impacto (=número de citações) simplesmente não funciona para algumas subáreas da música, em especial a musicologia histórica. Um artigo de quatro páginas na área de teoria ou cognição musical pode ter dezenas de citações e ser citado dezenas de vezes, enquanto um artigo de 50 páginas sobre um compositor obscuro do interior de Goiás vai ser citado raríssimas vezes. Avaliar o último artigo como sendo de baixa qualidade porque será pouco citado acabaria afastando os pesquisadores das áreas onde eles são mais necessários. Note que esse problema acontece também com ranqueadores internacionais, não só o Qualis da CAPES. Veja esse ranking do scopus na área de música: 
http://www.scimagojr.com/journalrank.php?category=1210
Não há nenhum periódico na área de história da música no nível Q1, que é ocupado pela Psicologia, Teoria e Educação. Os mais importantes periódicos na área de musicologia histórica aparecem nos níveis Q2 e Q3, e a maioria no Q4. Aliás os níveis Q3 e Q4 estão literalmente ocupados pela musicologia histórica. Significa isso que os musicólogos devem agora mudar de área ou adotar os métodos de pesquisa da tecnologia ou psicologia? Significa isso que os musicólogos devem parar de consultar fontes primárias porque elas estão "desatualizadas"? Esse tipo de avaliação baseado no tal "fator impacto" pode ser bom para a educação, cognição, tecnologia e teoria musical, mas é desastroso para a musicologia histórica.
Rogério



--- On Sun, 1/22/12, Damián Keller <musicoyargentino em hotmail.com> wrote:

From: Damián Keller <musicoyargentino em hotmail.com>
Subject: [ANPPOM-Lista] Produtivismo acadêmico está acabando com a saúde dos docentes
To: anppom-l em iar.unicamp.br
Date: Sunday, January 22, 2012, 12:33 PM



Obrigado a
Rogério e Silvo por ajudar a esclarecer o conceito de produtividade.


> em reunião recente a fapesp reuniu 2000 mil, dos 9000 pesquisadores participantes de seu sistema, para dizer-nos que devemos visar a qualidade, a originalidade, o impacto (sobretudo o impacto, os desdobramentos de uma pesquisa), atualidade e pertinência. ou seja, a avaliação quantitativa da produção é algo a ser evitado, pois produz monstros.

 

Eu não sei
qual é a métrica utilizada pela Fapesp e pelas outras agências de fomento na
hora de determinar a produtividade das áreas, mas se a métrica for o impacto, o
cálculo é simples e é amplamente utilizado pela comunidade científica
internacional.



Por
exemplo, se não me engano, a revista com maior impacto na área de música é o
Jounal of New Music Research. Cada artigo publicado no JNMR recebe em média
aproxidamente 7 citações. Em algumas das  principais revistas de computação a proporção
é 17. Na que é considerada uma das revistas científicas mais importantes,
Science, cada artigo gera mais ou menos 167 citações. Os números variam de ano
para ano, o ponto é que a diferença é enorme.

Obviamente,
a ANPPOM não pode mudar a inserção da área de música a nível internacional, o
que poderia ser feito é adotar mecanismos que melhorem a posição da área de
música na hora de negociar verba e espaços institucionais. Uma opção é criar
métodos próprios de avaliação e tentar convencer as outras áreas de que nós
somos diferentes e por isso devemos ser avaliados de forma diferente. Outra
opção é adotar métodos que já são consenso (como o cálculo do impacto) e tentar
ajustar as nossas práticas para que a nossa produção não fique defasada com as
outras áreas.



Um exemplo
de método sui géneris é o Qualis. Como já colocamos várias vezes aqui na lista
e também nas reuniões com os representantes da Capes, o Qualis não reflete o
impacto da produção da nossa área. Só para citar os exemplos acima, nem JNMR nem
Science constam no Qualis A1 de música. Ou seja, para a Capes nós devemos publicar
na revista Studies in Conservation, porque essa sim é Qualis A1.



Abraços,

Damián

Dr. Damián Keller -
Núcleo Amazônico de Pesquisa Musical (NAP) - Universidade Federal do Acre - Amazon Center for Music Research - Federal University of Acre -
http://ccrma.stanford.edu/~dkeller


                           
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