[ANPPOM-Lista] Pergunta

Carlos Sandroni carlos.sandroni em gmail.com
Sex Abr 24 21:51:24 -03 2020


Boa noite, gente,

Em meio às fortes emoções da política e da saúde, e esperando que estejam
todas e todos bem, gostaria de fazer uma pergunta sobre tema mais prosaico,
o dos critérios de avaliação de artigos submetidos a periódicos acadêmicos.

Um amigo e colega me conta que, tendo terminado sua tese de doutorado,
resolveu, como é comum nestes casos, e com o estímulo do orientador,
submeter artigo baseado em um dos capítulos para um  periódico de Música.

Qual não foi sua surpresa, porém, ao ter o artigo recusado, não por
considerações de qualidade, mas por obra e graça de um desses programas
detectores automáticos de plágios, como Turnitin. O implacável detector,
cumprindo sua função com zelo absoluto, detectou no artigo excesso de
semelhanças com... a própria tese da qual o artigo foi extraído! A
acusação, portanto, é que o autor do artigo estaria plagiando sua própria
tese.

Não sei vocês, mas eu confesso que nunca tinha ouvido falar disso. Até
porque minha dissertação de mestrado virou um livro 90% igual a ela, e
minha tese de doutorado virou um livro 75% igual a ela; e algumas partes
que sobraram do doutorado viraram artigos também, cheios destes supostos
plágios que, para minha sorte, Turnitin nenhum ainda descobriu.

Pelo contrário, eu até agora pensava que plágios assim eram muito bem
vindos, sendo até indicados para teses boas ("Aprovado com recomendação de
publicação!"). Receberam também um famoso estímulo por parte de Umberto
Eco, na conclusão daquele livrinho *Como se faz uma tese* (São Paulo:
Perspectiva, 1977, p.169-170): "...a tese é como um porco: nada se
desperdiça (...) Como primeira utilização você extrairá dela um ou vários
artigos científicos (...)".

Compartilho com vocês minha perplexidade, e aguardo algum consolo, se
possível.
Abraços,
Carlos


-- 
"We can change the world, and all it takes is the right word choice,
syntax, and who knows how many drafts".
"Podemos mudar o mundo com palavras bem escolhidas, sintaxe, e sabe Deus
quantas revisões".
Joni B. Cole


Carlos Sandroni
Departamento de Música, UFPE
Programa de Pós-Graduação em Música, UFPE


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