[ANPPOM-Lista] reconhecimento de postagem de Anppom-L

Cristina Tourinho cristtourinho em gmail.com
Segunda Março 1 12:22:43 -03 2021


Todo o meu apoio pessoal e irrestrito a este manifesto. O mais importante é
que possamos nos reconhecer no outro a nossa igualdade de existência e
oportunidade.

Em seg, 1 de mar de 2021 09:50, eurides santos <euridessantos em gmail.com>
escreveu:

> MANIFESTO DAS PESSOAS NEGRAS CONTRA O RACISMO NOS CURSOS DE MÚSICA
>
> A luta negra no Brasil e no mundo é uma luta por justiça e reparação
> histórica. Nós pessoas negras - estudantes, docentes, compositoras/es,
> performers, pesquisadoras/es, pesquisadas/os – nos posicionamos
> publicamente contra o racismo institucional, estrutural e individual que
> historicamente estabelece, estrutura e mantém os cursos de música no
> Brasil sob o domínio de uma suposta excelência branca que resulta em
> posturas supremacistas e que impedem a entrada de pessoas negras em postos
> de maior prestígio no campo acadêmico musical. Também dificulta a
> inserção de epistemologias musicais produzidas por pessoas negras nas
> universidades ou fora delas. Essa realidade, que atravessou o colonialismo
> e se sustenta na colonialidade, coloca as pessoas negras em uma perversa
> condição de desvantagem em relação às pessoas brancas e não negras da
> área musical.
>
> Após mais de uma década da implementação das políticas de ações
> afirmativas nas universidades públicas brasileiras notamos alguns
> avanços, porém, percebemos que temos muito a caminhar.
>
> As políticas de cotas possibilitaram o aumento da entrada de estudantes
> negras/os ao longo destes anos, mas ainda existe uma demanda por
> permanência desses corpos negros nas universidades do Brasil. Além disso,
> as políticas de ingresso têm sido, por muitas vezes, sabotadas pelo
> racismo nas suas diversas formas - estrutural, institucional e individual,
> o que corrobora para o exercício da desigualdade social que assola a vida
> das pessoas negras.
>
> Mesmo diante do aumento de pessoas negras formadas nas graduações e pós-
> graduações em música, notadamente, não houve uma transformação na
> configuração dos corpos docentes dos cursos de música, que permanecem
> majoritariamente formados por profissionais brancas/os e não negras/os.
>
> Outrossim, as políticas afirmativas possibilitaram discussões sobre
> relações étnico- raciais, porém, não trouxeram para os currículos de
> música, de maneira efetiva, as epistemologias, metodologias e visões de
> mundo produzidas pelas populações negras.
>
> Em vista desta realidade, e para além da implementação do Estatuto da
> Igualdade Racial (Lei 12.288/2010); de Ações Afirmativas em todos os
> programas de Graduação (Lei 12.711/2012); e Pós-Graduação (Portaria
> Normativa 13/2016); e Aplicação das Leis de Cotas no Serviço Público
> (Lei 12.990/2014);
>
> Nós Pessoas Negras da área musical nos manifestamos contra as diversas
> formas de racismo nesse campo e reivindicamos
>
>    1.
>
>    A criação de um campo transversal de estudos da Música Negra
>    Brasileira, afro-diaspórica e africana nos cursos de formação
>    profissional e técnica, graduação e pós-graduação em música. Com
>    investimento no desenvolvimento de um quadro teórico, epistemológico,
>    artístico, prático para o avanço da etnomusicologia negra,
> musicologia
>    negra, educação musical negra, composição negra, práticas
>    interpretativas negras, entre outros subcampos que existem ou que
> venham a
>    existir.
>    2.
>
>    A inclusão de repertórios de compositoras/es negras/os nas práticas
>    de conjunto dos cursos de música;
>
>
>    1.
>
>    A implantação de projetos de extensão direcionados a estudantes
>    negras/os com objetivo de contribuir, entre outros aspectos, para sua
>    entrada nos cursos superiores de música; E projetos de iniciação
>    científica com objetivo de contribuir, entre outros aspectos, para a
>    entrada de pessoas negras nos cursos de pós-graduação em música;
>    2.
>
>    A aplicação da lei de cotas para pessoas negras nas orquestras e
>    demais conjuntos musicais das instituições públicas;
>    3.
>
>    A aplicação da lei de cotas nos festivais e masterclasses realizados
>    em instituições públicas, incluindo uma revisão nos critérios de
>    inscrição que envolvem limite de idade, considerando que muitas/os
> jovens
>    negras/os levam mais tempo integralizar a formação;
>    4.
>
>    A presença de docentes e estudantes negras/os nas comissões de
>    formulação e reformulação dos currículos dos cursos de música, nos
>    diversos níveis;
>    5.
>
>    A presença de docentes negras/os em comissões de concursos, em bancas
>    de TCC, mestrado e doutorado;
>    6.
>
>    A inclusão de saberes acadêmicos produzidos pela intelectualidade
>    negra nos editais de concursos, tanto nas referências bibliográficas
>    quanto nos pontos a serem trabalhados nas provas;
>    7.
>
>    O fortalecimento e reformulação das políticas de permanência nos
>    cursos de música das universidades públicas, incluindo a aquisição
> de
>    instrumentos musicais para empréstimo e disponibilização de verba
> para
>    manutenção;
>    8.
>
>    O apoio à criação de coletivos negros formados por alunas/os e
>    ex-alunas/os dos departamentos de música das diferentes áreas, como
>    espaço de interlocução e proposição de ações com vista a dar
>    visibilidade, equidade aos saberes, pesquisas e trabalhos artísticos
>    desenvolvidos pelos corpos discentes negros dos cursos de música.
>
>    O combate aos racismos na música demanda o apoio, o compromisso e a
>    mobilização de pessoas e lideranças antirracistas da área.
>
>    O combate aos racismos na área da música pressupõe
>
>
>    -
>
>    Que cada estudante, docente e pesquisadora/or negra/o seja valorizada/o
>    pela sua contribuição, pensamento, experiência pessoal e prática nos
>    estudos em música desde que esteja alinhado com a luta antirracista,
> com o
>    legado do pensamento político, social, cultural, filosófico,
> econômico e
>    musical negro afro-diaspórico e africano; levando em consideração o
>    legado das mulheres negras e sua produção de conhecimento em vastos
>    campos e áreas de conhecimento;
>    -
>
>    Que a produção acadêmica negra, em alguma dimensão, reflita
>    criticamente sobre o impacto do racismo, do sexismo, do machismo, das
>    estruturas de opressão e dominação que afetam a comunidade negra
> local e
>    global;
>    -
>
>    Que a produção acadêmica negra (artigos, dissertações, teses e
>    demais textos) demonstre e desconstrua a cumplicidade histórica dos
>    estudos em música com as estruturas hegemônicas euro-americanas
>    centradas, nas diferentes subáreas, com vista a proporcionar mudanças
> no
>    conhecimento científico da área musical, de forma a não deixar o
>    contexto atual como dado, uma vez que a luta negra reflete décadas de
>    história e organização contra a opressão;
>    -
>
>    Que a produção acadêmica negra incorpore os saberes e os
>    conhecimentos musicais das comunidades negras rurais, urbanas e
>    quilombolas, com vista a pluralizar o currículo de música com base na
> Lei
>    10639/03 e na Lei No 11.645/08;
>
>
>    -
>
>    Que se identifiquem as causas e efeitos de opressão acadêmica às/aos
>    estudantes negras/os e como isso afeta as suas vidas e suas produções
>    intelectuais e acadêmicas;
>    -
>
>    Que haja mudança na perspectiva do ensino de música, deixando de ser
>    um ajustamento de pessoas negras aos estudos de música, para tornar-se
> um
>    ensino de empoderamento do legado cultural, musical, artístico e
>    performativo negro.
>    -
>
>    Que haja um entendimento de música como algo muito mais complexo do que
>    a arte de combinar os sons, entendendo a música como um lugar da
> memória
>    e pela memória, bem como um fenômeno revelador dos modos de vida das
>    pessoas negras, suas escolhas, potenciais, críticas, ambiguidades,
>    conflitos sob a hegemonia de um sistema capitalista.
>    -
>
>    Que haja mudança na perspectiva do ensino de música, deixando de ser
>    um treinamento prático individualizado, para se transformar em troca de
>    saberes compartilhados entre estudantes negras/os e não negras/os de
>    diferentes áreas, levando em conta as necessidades e dinâmicas do
> campo
>    de estudo em música.
>    -
>
>    Que haja a proposição de um cardápio de alternativas epistemológicas
>    inclusivas, democráticas e afirmativas, baseadas nas africanidades, nos
>    valores civilizatórios afro- brasileiros, tendo como referência os
>    congressos, fóruns e encontros de pesquisadoras/es negras/os bem como o
>    trabalho dos movimentos sociais negros e seus coletivos;
>    -
>
>    Que se exija a aplicação das leis de cotas no serviço público, nas
>    universidades e nos espaços de poder, com implementação de
> políticas de
>    permanência que auxiliem a geração atual e as próximas nos estudos
> de
>    música no Brasil, com vista a uma transformação social.
>
>    O Coletivo Mwanamusiki é formado por pessoas negras pesquisadoras em
>    música com o objetivo de atuar no combate aos racismos nos cursos de
>    música do Brasil. Mwanamusik é uma palavra do idioma africano
> Swahili (banto)
>    que significa musicista independente do gênero.
>
>
> Em seg., 1 de mar. de 2021 às 09:15, <anppom-l-bounces em listas.unicamp.br>
> escreveu:
>
> > Sua mensagem com o assunto
> >
> >     Manifesto das pessoas negras contra o racismo nos cursos de música
> >
> > Foi recebida com sucesso pela lista de discussão Anppom-L.
> >
> > Página de informações da lista:
> > https://www.listas.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
> > Suas preferências:
> >
> https://www.listas.unicamp.br/mailman/options/anppom-l/euridessantos%40gmail.com
> >
>
>
> --
> *Eurides de Souza Santos*.
> Coordenadora do PPGM/UFPB
> Universidade Federal da Paraíba.
> Fone 83 999263560
> ________________________________________
> anppom-l em listas.unicamp.br
> Lista de Discussão dos Associados da ANPPOM - Associação Nacional de
> Pesquisa e Pós-Graduação em Música
> https://www.listas.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
>
> Conforme deliberado na Assembleia Geral da ANPPOM realizada em Belo
> Horizonte, em 24/08/2016, esta lista é moderada e não veicula mensagens
> contendo ANEXOS.
>


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