[ANPPOM-L] o postscriptum
Carlos Palombini
palombini em terra.com.br
Qui Nov 3 18:33:29 BRST 2005
Em relação ao "postscriptum para a carta de Salvador", e em particular à
afirmação:
"O equívoco maior ocorre com a exclusão de Teoria da Música e sua
inclusão no bojo das Musicologias, na proposta da ANPPOM. Têm pouco em
comum. Teoria da Música, milenar, é entendida hoje predominantemente
como o estudo da estrutura de música e de como esta estrutura funciona.
Seus aspectos principais são relacionados à Teoria Composicional e à
Teoria Analítica. Já as Musicologias, termo recente, cunhado em torno de
1919, correspondem às ciências musicais (Musikwiesenschaft) [sic] e têm
hoje um sentido muito mais restrito tratando essencialmente do factual,
do documentado, do verificável, do analisável e positivístico (Cf. J.
Kerman, 1985:12).
Ela contém equívocos facilmente constatáveis. O termo Musicologia é bem
mais antigo, aparecendo na famosa tabela de Adler em 1885, como o sabe
muito bem Norton Dudeque, da UFPR, que a traduziu e publicou. No Oxford,
ele aparece desde 1909. É sintomático que a situação "atual" da
musicologia seja descrita aqui com referência a um texto de 20 anos
atrás. Para quem tiver dúvidas, basta dar uma olhada na lista de
disciplinas constantes do departamento de musicologia da UCLA hoje
(<www.humnet.ucla.edu/humnet/musicology/undergrad/undergrad_program.html>,
e notem que se trata de um programa de graduação):
"History of Rock and Roll, The Beatles, Film Music, American Popular
Song, History of Opera, The Symphony, Bach, Mozart, Beethoven, History
of Jazz, American Musicals, Electronic Dance Music, Music & Gender, and
Gay & Lesbian Popular Music."
Tampouco a Teoria de Música "é entendida hoje predominantemente como o
estudo da estrutura de música e de como esta estrutura funciona," como
deve ter ficado claro para todos aqueles que assistiram à apresentação
de Thomas Christensen, presidente da Sociedade de Teoria da Música (SMT)
de 1999 a 2001, na Anppom 2005. O "estudo da estrutura de música e de
como esta estrutura funciona" é tarefa da análise musical ("that part of
the study of music that takes as its starting-point the music itself,
rather than external factors"), mas a análise musical não constitui a
totalidade do campo teórico da música. Justamente, uma das tarefas da
teoria da música, tem sido desmontar esta crença anacrônica (cf. Kant)
na "música em si". De modo semelhante, a melhor musicologia hoje, a mais
radical, está ciente da inexistência do "factual" (cf. Nietzsche).
O que o postscriptum apresenta como "o hoje", se apresentaria melhor
como "o anteontem".
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