RES: [ANPPOM-L] Re:praticas interpretativas

Jose Augusto Mannis jamannis em uol.com.br
Sáb Out 22 13:15:21 BRST 2005


Colegas,

A exposição da Helena é clara, coerente, consistente e convincente.

O desempenho é somente PARTE da atuação de um interprete, que, não se pode
negar, é um processo de CRIAÇÃO MUSICAL, muito mais amplo que a simples e
efêmera atuação em concerto.

O "caminho retórico do intérprete musical" exposto pela Helena é uma boa
ilustração da complexidade da questão.

Sou a favor do termo "teoria e prática da interpretação musical", que aliás
suscita pesquisas sobre diversos aspectos da interpretação até agora pouco
abordados nos trabalhos acadêmicos.

Mannis


-----Mensagem original-----
De: anppom-l-bounces em iar.unicamp.br [mailto:anppom-l-bounces em iar.unicamp.br]
Em nome de Helena Jank
Enviada em: sábado, 22 de outubro de 2005 10:49
Para: Anppom_lista
Assunto: [ANPPOM-L] Re:praticas interpretativas

Colegas:

Eu não me conformo com a insistência em usar este termo "performance", a
meu ver completamente equivocado, desde a sua origem.

Vejam meus argumentos:
Em todos os dicionários que consultei, encontrei este termo _sempre_
aliado à idéia de _desempenho_.  Mesmo quando usado em relação a
atividades artísticas, tem a ver com o desempenho no palco, com a
apresentação pública.  O termo, quando começou a ser usado nas
univesidades e escolas de música, vinha influenciado pela idéia
romântica do artista- intérprete / "performer", aquele que tem um
desempenho espetacular no palco.  Aquele que não se preocupava nem um
pouco com pesquisa histórica, com análise musical, com "Zeitgeist" 
(ainda mais  - era antagônico a tudo isso).  Só nas últimas décadas do 
sec.XX começou a surgir algo como a "pesquisa em interpretação", até 
hoje ainda um tanto incipiente e sofrendo muito a dificuldade de _se_ 
definir corretamente.
Daí vem também a minha preocupação com o termo.
A pesquisa em interpretação, como nós a conhecemos hoje,  propõe o
envolvimento do intérprete com todo o caminho retórico percorrido pelo
autor quando cria a obra, para levar ao resultado final, que é
prerrogativa do intérprete.
- o *exordium*, que é o momento da criação
- o *dispositio*, que é o momento da organização do discurso: que forma
terá, como serão trabalhadas suas partes, etc..
- o *divisio*, que é o momento de elaboração das figuras retóricas, de
acordo com as intenções do autor e as qualidades do público ao     qual
o discurso se direciona
- a *memoria*, que é a preparação do discurso
- a *actio* (ação) -  /Este é o momento da "performance".

Claro que um excelente desempenho, como entendemos hoje em dia, deve ser
conseqüência de uma excelente pesquisa, mas insisto em defender que a
pesquisa não será em "performance" - a pesquisa será nos elementos que
levarão a uma boa performance.
Insisto que o corpo teórico e a metodologia própria, que sem dúvida já
existem, existem para o conceito de "performance" apenas nas duas partes
finais do discurso retórico: a *memoria* e a *actio*.

/Alguns exemplos:
o motor a gasolina tem uma melhor performance do que o motor a álcool.
Esta melhor performance não é resultado da pesquisa em "performance de
motores", mas em "combustíveis", "projeto e construção de motores", 
"produção de cana de açúcar", "petróleo", etc....
Para melhorar a performance de um atleta, a pesquisa se desenvolve em:
"movimento", "alimentação", "aparelhos desportivos"  ... ...

Gostaria que aqueles que defendem o termo procurassem argumentos mais
sólidos do que apenas: "já estamos acostumados a usar este termo".  Pior
ainda, quando o termo vira "performance practice": a "prática do 
desempenho" ... ... ... ...

Quero lembrar também que muito da pesquisa em interpretação que fazemos 
hoje não chega ao palco - não se transforma em /performance/:  faz parte 
do processo, quando em elaboração.  Lembro o trabalho que fazem hoje os 
intérpretes  juntamente com os compositores, à procura por novas 
sonoridades,  surgidas do domínio técnico do instrumento, aliado ao 
domínio teórico e à criação. Estes resultados vão aparecer em muitas 
situações desvinculadas da "performance" e não merecem ser desprezados.

Sou por *Processos Interpretativos* - ou, como proposto recentemente 
pela Carol *teoria e prática da interpretação musical*

Sei que isto é um problema para os cursos que já nasceram com o nome de
"performance", mas não gostaria de me render ao termo só porque alguém, 
muito antes de nós, começou por uma trilha que hoje é errada.

Saudações
Helena



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