[ANPPOM-L] Re:praticas interpretativas

Jorge Antunes antunes em unb.br
Sáb Out 22 11:40:45 BRST 2005


Cara Helena:

Concordo totalmente com você.
Acho bem mais pertinentes e coerentes essas duas denominações: "Processos Interpretativos" ou "Teoria e prática da interpretação musical".
Seus argumentos, que evocam os tempos especulativos de Aristóteles, são definitivos.
Realmente a palavra "performance" se reporta à "presença no palco". A palavra "performático" se refere apenas aos aspectos cênicos e gestuais.
O estudo da elocução, "léxis" no dizer de Aristóteles, conceito que se opõe ao de "dianóia", pode ser teórico, estudando-se o processo antes de se chegar ao palco.
Abraço,
Jorge Antunes



Helena Jank wrote:

> Colegas:
>
> Eu não me conformo com a insistência em usar este termo "performance", a
> meu ver completamente equivocado, desde a sua origem.
>
> Vejam meus argumentos:
> Em todos os dicionários que consultei, encontrei este termo _sempre_
> aliado à idéia de _desempenho_.  Mesmo quando usado em relação a
> atividades artísticas, tem a ver com o desempenho no palco, com a
> apresentação pública.  O termo, quando começou a ser usado nas
> univesidades e escolas de música, vinha influenciado pela idéia
> romântica do artista- intérprete / "performer", aquele que tem um
> desempenho espetacular no palco.  Aquele que não se preocupava nem um
> pouco com pesquisa histórica, com análise musical, com "Zeitgeist"
> (ainda mais  - era antagônico a tudo isso).  Só nas últimas décadas do
> sec.XX começou a surgir algo como a "pesquisa em interpretação", até
> hoje ainda um tanto incipiente e sofrendo muito a dificuldade de _se_
> definir corretamente.
> Daí vem também a minha preocupação com o termo.
> A pesquisa em interpretação, como nós a conhecemos hoje,  propõe o
> envolvimento do intérprete com todo o caminho retórico percorrido pelo
> autor quando cria a obra, para levar ao resultado final, que é
> prerrogativa do intérprete.
> - o *exordium*, que é o momento da criação
> - o *dispositio*, que é o momento da organização do discurso: que forma
> terá, como serão trabalhadas suas partes, etc..
> - o *divisio*, que é o momento de elaboração das figuras retóricas, de
> acordo com as intenções do autor e as qualidades do público ao     qual
> o discurso se direciona
> - a *memoria*, que é a preparação do discurso
> - a *actio* (ação) -  /Este é o momento da "performance".
>
> Claro que um excelente desempenho, como entendemos hoje em dia, deve ser
> conseqüência de uma excelente pesquisa, mas insisto em defender que a
> pesquisa não será em "performance" - a pesquisa será nos elementos que
> levarão a uma boa performance.
> Insisto que o corpo teórico e a metodologia própria, que sem dúvida já
> existem, existem para o conceito de "performance" apenas nas duas partes
> finais do discurso retórico: a *memoria* e a *actio*.
>
> /Alguns exemplos:
> o motor a gasolina tem uma melhor performance do que o motor a álcool.
> Esta melhor performance não é resultado da pesquisa em "performance de
> motores", mas em "combustíveis", "projeto e construção de motores",
> "produção de cana de açúcar", "petróleo", etc....
> Para melhorar a performance de um atleta, a pesquisa se desenvolve em:
> "movimento", "alimentação", "aparelhos desportivos"  ... ...
>
> Gostaria que aqueles que defendem o termo procurassem argumentos mais
> sólidos do que apenas: "já estamos acostumados a usar este termo".  Pior
> ainda, quando o termo vira "performance practice": a "prática do
> desempenho" ... ... ... ...
>
> Quero lembrar também que muito da pesquisa em interpretação que fazemos
> hoje não chega ao palco - não se transforma em /performance/:  faz parte
> do processo, quando em elaboração.  Lembro o trabalho que fazem hoje os
> intérpretes  juntamente com os compositores, à procura por novas
> sonoridades,  surgidas do domínio técnico do instrumento, aliado ao
> domínio teórico e à criação. Estes resultados vão aparecer em muitas
> situações desvinculadas da "performance" e não merecem ser desprezados.
>
> Sou por *Processos Interpretativos* - ou, como proposto recentemente
> pela Carol *teoria e prática da interpretação musical*
>
> Sei que isto é um problema para os cursos que já nasceram com o nome de
> "performance", mas não gostaria de me render ao termo só porque alguém,
> muito antes de nós, começou por uma trilha que hoje é errada.
>
> Saudações
> Helena
>
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