[ANPPOM-L] Rememorando um MUSICO no dia da morte de Pinochet

Jorge Antunes antunes em unb.br
Seg Dez 11 17:42:16 BRST 2006


Colegas musicistas:

Morreu o General Augusto Pinochet. O fim dessa figura merece, sobretudo para as novas gerações, a evocação do contra-exemplo que deu, pautada que foi sua vida pela violência autoritária e pela corrupção. Há uma coincidência histórica: no dia em que a humanidade celebra o 58º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, seu maior violador vivo deixa de existir. A História reservará ao ditador Pinochet algo mais que o esquecimento: o lugar desonroso que cabe aos truculentos, aos torturadores, aos traidores, num plano oposto aos que seu regime fascista destruiu, entre os quais o músico VICTOR JARA.
Pinochet deu o golpe truculento em 11 de setembro de 1973. Nesse dia o estádio de futebol de Santiago foi usado como campo de concentração para a prisão de milhares de chilenos. Entre eles estava um jovem compositor de música popular, líder do movimento chamado Nueva-Canción. Esse é o mesmo movimento que em Cuba recebeu o nome de Nueva-Trova e que no Brasil foi chamado Música de Protesto. Na América Latina, participando daquele movimento estético e político, se destacavam jovens músicos na faixa dos 20 anos de idade: Silvio Rodriguez, Pablo Milanez, Chico Buarque, Carlos Varella, Benjamin Acevedo e aquele jovem prisioneiro de Pinochet: Victor Jara.
No estádio de futebol, Victor estava com seu violão. Para confortar os compatriotas prisioneiros no campo-de-futebol-concentração, ele começou a tocar seu instrumento. Os militares mandaram ele parar de tocar. Ele não parava. Agarraram-no e o arrastaram para um canto. Executaram cruelmente o único recurso que não mais lhe permitiria tocar violão: com um facão cortaram as duas mãos de Victor. Seus gritos ecoaram no estádio. Mas, teimosa e bravamente, Victor misturava seus gritos a cantos melancólicos com alguns versos fortes e de protesto de suas canções. Aqueles trechos musicais lancinantes de conhecidas melodias da Nueva-Canción, que haviam embalado a campanha presidencial de Salvador Allende, precisavam ser calados pelos milicos. Um tiro na cabeça do Victor Jara sem mãos, sangue aos borbotões saindo de pulsos dilacerados, acabou com uma das maiores promessas da música latinoamericana.
Pela memória do músico Victor Jara, assassinado em 11 de setembro de 1973.
Abraço a tod em s,
Jorge Antunes
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