RES: [ANPPOM-L] Area academica e area tecnica

ja.mannis ja.mannis em uol.com.br
Ter Abr 10 14:08:03 BRT 2007


Caro JORGE e Cara ADRIANA,

Colegas da Anppom,
 
Caro JORGE, sua iniciativa na UnB de oferecer aos estudantes atividades de
ciência e tecnologia aplicadas à musica, bem como música em contexto
multimeios é de fato muito boa.
 
Também procuramos desenvolver essas práticas na Unicamp, de diversos
aspectos.
 
O que defendo não é ATENDER À DEMANDA DO MERCADO. Isso já fazem as inúmeras
escolas e centros que TREINAM seus alunos. Eles aprendem rotinas, soluções
padrão e muitas atividades fim são de escopo fechado.  Falta FORMAR ALUNOS
que saibam se desenvolver e que tenham bagagem e ferramentas para isso. Os
treinados repetem as soluções que aprenderam nas apostilas. FALTAM
estruturas para FORMACÃO COMPLETA. Para treinamento já existem diversas
opções.
 
As praticas TÉCNICAS são, para mim, muito importantes. Eu mesmo formei minha
maneira de trabalhar e minha abordagem da matéria sonora através de
atividades técnicas. Agora é que estou formulando em formato ACADEMICO, com
um Doutorado, o que desenvolvi. Se tivesse feito outro caminho nao teria
descoberto muitas coisas importantes que descobri, justamente porque fiz
outro trajeto. E acredito que as atividades técnicas tem muitos subsidios à
dar à outras atividades, cientificas / artísticas.
 
Contudo, está claro para mim que seria um equívoco MISTURAR métodos de
ensino e pesquisa (desenvolvimento/criação) entre PERFIL TÉCNICO e PERFIL
CIENTÍFICO (no cientifico incluo o ARTISTA NA UNIVERSIDADE). Mas seria
também um equivoco ignorar e desprezar o FAZER ARTISTICO o FAZER TÉCNICO e
todo tipo de KNOW HOW dos chamados `TÉCNICOS`.
 
Já formei alunos que fizeram trabalhos de acústica em afinação de teclados.
E foi de fato uma atividade excelente. Foram comparados diversos tipos de
afinação e o aluno pode colocar como tal ou tal tipo de afinação se adequam
a tal ou tal estilo de música. A afinação de um teclado pode mesmo suscitar
uma tese de doutorado, dependendo da abordagem.
OK. Não é porque uma tese é feita que já se pode implementar uma DISCIPLINA
sobre a tese e mesmo... UM CURSO todo. Estou de acordo. Mas vejo que
simplesmente o que em um momento é do DOMINIO TÉCNICO num outro pode estar
envolvido em estágios avançados do dominio CIENTIFICO. 
 
Ao mesmo tempo NÃO CABE fazer uma graduação para (por exemplo) AFINADOR DE
PIANO, STAGE MANAGER, COPISTA... pois cada uma dessas atividades ainda não
têm estofo suficiente para isso. Mas isso não significa que a ACADEMIA deva
necessariamente ignorar o que eles fazem. Acho que há coisas muito
importantes na atividade de COPISTA. Eu mesmo fui copista das editoras
SALABERT na França. Aprendi muita coisa e tenho muitas facilidades em gerar
material musical devido a isso. E treino meus alunos em COPIAS e preparação
de material de orquestra. É uma produção bastante complexa.
 
Portanto o CONHECIMENTO INERENTE a essas atividades TÉCNICAS não deve ser
confundido com a ENVERGADURA DAS ATIVIDADES EM SÍ.
 
As atividades de um simples pedreiro nunca foram desprezadas pelos
cientistas, tecnologos, pesquisadores e estudantes de engenharia civil.
 
Existem técnicas que foram desenvolvidas no canteiro de obras e que passaram
ao dominio cientifico depois.
 
Talhar pedras pode parecer primitivo, mas chega a ser uma arte quando esse
TALHAR começa a se tornar expressivo.
 
Contudo, não me parece sensato fazer uma GRADUAÇÃO para MESTRE DE OBRAS (por
exemplo)
 
Mas é muito importante UM ESTUDANTE de ENGENHARIA CIVIL ver e saber o que
faz e como faz um MESTRE DE OBRAS.
 
Se os Mestres de Obras no Brasil tivessem um mínimo de formação, a
construção civil em nosso país seria diferente. A começar pelo desperdício
inutil de material e pelos atropelos de planejamento em um canteiro de
obras. De fato falta uma formação dessas!
 
Porque a Universidade não poderia assegurar uma atividade dessas EM NIVEL
TECNICO?
 
Na Unicamp temos um Colegio Técnico que forma TECNICOS em nivel de SEGUNDO
GRAU.
 
Porque não ter UM COLEGIO TECNICO EM MUSICA em uma universidade, com o por
exemplo faz a Pontifica Universidade Catoloca do Chile em Santiago. Os
alunos podem entrar com 12 anos. E se passarem por todas as avaliações
necessarias e exames etc. chegam ao Doutorado. Senão fazem o ingresso como
todos os outros e entram no curso pela metade, mas em nivel superior.
 
Acredito que a UNIVERSIDADE deva se preocupar com a FORMCAO TËCNICA EM NIVEL
TÉCNICO.
 
Mais uma vez: Não conjugar PERFIS DIFERENTES: TECNICO é TËCNICO, CIENTIFICO
é CIENTIFICO. CONTUDO não ISOLAR os conhecimentos entre ambos, e sim
integrá-los, de modo que UM SAIBA DO OUTRO.
 
Assim, um AFINADOR DE PIANO poderia ser formado numa universidade. A
Proposta da ADRIANA é muito boa: poderia ser uma atividade de EXTENSÃO.
Algumas atividades técnicas poderiam ser um MESTRADO PROFISSIONALIZANTE,
como por exemplo, ENGENHEIRO DE SOM. 
 
E considero que a integração de um DJ seria muito importante. O FAZER do DJ
é muito importante. Vem do fazer do RADIO, das tradicoes ORAIS. É o fazer
sobre a MIDIA. É a poética que brota do suporte. Não cabe uma GRADUACAO em
DJ. Por enquanto isso é óbvio. Mas gostaria muito de pensar em uma discplina
onde os alunos possam saber quais são as bases da expressão de um DJ. E a
partir daí poderem extrair metodos expressivo, tecnicas de ação, gestos de
linguagem. De fato, os produtos de um DJs de modo geral são pertinentes a
estilos e estietcias particulares. Mas se mudarmos o material e os
objetivos, temos um novo instrumento (no sentido tradicional do termo e não
no sentido schaefferiano).
 
Considerando os CURSOS SUPERIORES DE MUSICA no Brasil há uma falta evidente
de estruturas para assegurar formação solida em musica em nivel de segundo
grau.
 
Os alunos acabam tendo que fazer um CURSO SUPERIOR de 5 ANOS no qual os 2
primeiros são o CONSERVATORIO 'espremido'.
 
A Universidade poderia assegurar a FORMACAO DE SEGUNDO GRAU especializada,
associada `as escolas de sua cidade, e depois, pouco a pouco, a GRADUACÃO se
reduziria de 5 anos para 3 anos. Nossos alunos estariam com Pos-Graduacao
completa (Ms + Dr) aos 25 anos. Isso não ocorre muito agora.
 
Assim, ao escolher um curso técnico em música, um estudante de segundo grau
poderia OPTAR por TECNICO EM MUSICA em uma MODALIDADE "X" na qual ele possa
adquirir conhecimentos para AFINADOR DE PIANO entre outros. Poderia também
EVIDENTEMENTE fazer uma MODALIDADE TECNICA "Y" para INTERPRETE
INSTRUMENTISTA. Ou Talvez "W" para COMPOSICAO. Ou mesmo "Z" para
Etnomusicologia básica, etc. Há muitas possibilidades. Não estão todas aqui,
somente algumas para exemplificar. Talvez nem sejam as denominações certas,
pois estou pensando junto com Vcs. Mas seria algo nesse caminho o que vejo.
 
Cordial abraço
 
Mannis
 
 
 
 
 
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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De: anppom-l-bounces em iar.unicamp.br [mailto:anppom-l-bounces em iar.unicamp.br]
Em nome de  Lopes Moreira
Enviada em: terça-feira, 10 de abril de 2007 08:52
Para: ANPPOM
Assunto: Re: [ANPPOM-L] Area academica e area tecnica


Caros colegas,
 
Não seria papel da extensão universitária o oferecimento de cursos para a
formação de Técnicos, Copistas, DJs, Técnicos em sonorização, Afinadores de
Piano, Produtores, Redator de Release, Assistente de som, etc? 
 
Abraços a todos,
Adriana Lopes Moreira (USP)

  _____  

De: anppom-l-bounces em iar.unicamp.br [mailto:anppom-l-bounces em iar.unicamp.br]
Em nome de Jorge Antunes
Enviada em: segunda-feira, 9 de abril de 2007 11:55
Para: anppom-l em iar.unicamp.br
Assunto: [ANPPOM-L] Area academica e area tecnica


Caro Mannis: 

Acho que estamos quase de acordo. 
Mas existe um aspecto que, por ser comum em minha seara, pensei que fosse
óbvio e também comum nas outras Universidades brasileiras. 
Aqui na UnB o estudante que faz o curso de Composição faz, além das
disciplinas tradicionais (harmonia, contraponto, fuga, análise,
instrumentação, orquestração, etc), estas outras: Prática de Gravação,
Tecnologia Musical (síntese, análise, ressíntese, C-sound, softwares),
Acústica Musical (a Física do som, Psicoacústica e Acústica de Salas),
Música Eletroacústica (softwares de gravação, processamento, montagem,
edição, mixagem). 
A penúltima vez que ministrei Estágio Supervisionado em Composição Musical
(disciplina do último semestre, em que se prepara o concerto de formatura),
fizemos realização conjunta com o Departamento de Comunicação: os formandos
em Composição Musical compuseram as trilhas sonoro-musicais para os filmes
dos formandos em Cinema. 
O que temo é, na Universidade, para atender à demanda do mercado, começarmos
a abrir cursos de um e dois anos para formação de Técnicos, Copistas, DJs,
Técnicos em sonorização, Afinadores de Piano, Produtores, Redator de
Release, Assistente de som, etc. 
Profissionais nessas áreas, com excelência, devem ser formados. Mas não na
Universidade. Técnicos na área musical, aqui em Brasília, são formados no
Ensino Médio: na Escola de Música de Brasília. 
Em todas as Unidades da Federação deveria haver Ensino Médio e Técnico
nessas áreas técnicas. 
Abraço, 
Jorge Antunes 

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