[ANPPOM-L] FWD: Flo Menezes e Lauro Machado Coelho sobre Villa-Lobos

Jos=?ISO-8859-1?B?6SA=?=Luiz Martinez rudrasena em uol.com.br
Seg Ago 13 12:59:15 BRT 2007


Prezado Lauro Machado Coelho,

chegaram-me a meu conhecimento comentários (sempre benvindos quando vêm
de críticos de sua estatura) acerca de minha recente entrevista na UOL,
pelas vias de um blog
e de uma recomendação a minha entrevista por parte do jornalista João L.
Sampaio,
a quem tomo a liberdade de enviar uma cópia desta minha mensagem,
juntamente com outras pessoas que me são caras.

Refiro-me mais precisamente às linhas abaixo, escritas por você, transcritas
ao final desta minha mensagem.

Gostaria de registrar aqui minhas impressões, dada a responsabilidade de
homens
da imprensa que são tanto vc quanto o João L. Sampaio.

Minha entrevista na UOL
(http://p.php.uol.com.br/tropico/html/textos/2880,1.shl),
respondendo a perguntas muito bem elaboradas pelo filósofo
e crítico de cinema Humberto Pereira da Silva (a quem tb envio esta
mensagem, para
seu conhecimento), versa sobre diversos aspectos de minha postura estética e
é, sem sombras de dúvidas, uma das melhores que concedi até hoje, ao longo
de meu
percurso criativo.

Nela falo de diversos aspectos de minha produção, elucidando inclusive
muitas
das noções que introduzo em meus escritos e pelas vias de minha obra
musical:

* conceito de maximalismo
* noção de ³laborinto² (em Berio etc)
* noção de ³perder-se para achar e procurar²
* referências a Trotsky
* comentário sobre a relevância da tonalidade e sobre sua prática no dia a
dia 
* sobre os ³sistemas² em arte e sobres seus ³esgotamentos²
* sobre o capitalismo tardio
* sobre a pertinência de novas proposições estéticas e o Novo
* noção de especulação no terremo na criação musical
* a relação entre música e afetos
* noção de que ³gosto se discute² em arte
* noção da música como ³matemática dos afetos²
* a música como a mais difícil das artes
* a questão da ³tecnicidade musical²
* a música como uma espécie de ³maçonaria²
* a importância de se ouvir o silêncio
* o papel inovador de Cage
* a relação novos meios / novos sons
* a relação entre meios e fins em arte
* a relação entre sons e contexto
* a defesa da radicalidade estética (de cunho adorniano)
* a relevância da autenticidade na criação artística
* a tripartição poundiana entre mestria, invenção e diluição em arte
* a questão em torno da genialidade e a noção de gênio
* comentários sobre a MPB
* as diferenças e desavenças nos meandros da Música Nova
* cometários sobre a música dos DJs
* música e sociedade
* a importância dos ritos e sua relatividade
* a noção de u-topia
* a questão acerca da música ³européia², que tanto me imputam
* a proposta utópica de uma nacionalidade post-mortem
* comentário sobre o nacionalismo
* Freud e o Novo 
* a perversão e o Velho
* sobre Wagner 
* defesa da pretensão em oposição à presunção e à prepotência
* os resíduos da história e sua relação com a criação atual
* Demócrito, Merleau-Ponty, Barthes
* a relação entre música e matemática
* a relação entre a complexidade maximalista e a velocidade da luz
* a defesa das simultaneidades, do labirinto criativo, das ramificações
* sobre o acorde de Tristão e as entidades harmônicas
* relação entre ruptura e progresso: noção de ³transgresso²
* a arte como campo flexível
* os baluartes da vanguarda musical
* a situação da música no Brasil
* comentário sobre Villa-Lobos
* aspectos (parâmetros) da textura sonora
* o serialismo integral e a aversão cega dos nacionalistas
* a diferença entre a complexidade em Berio e em Ferneyhough
* balanço crítico da Nova Complexidade de Ferneyhough
* a noção de Manoury sobres arquipélagos da contemporaneidade
* sistemas de referência comum em música e sua superação na atualidade
* a importância das novas tecnologias
* sobre a divulgação da música
* minhas atuações à frente do Studio PANaroma
* a condenação das concessões em arte
* a referência à imagem do ³rio² em arte (Joyce, Berio, Heráclito etc)

Por tudo isto, espanta-me (sem surpreender-me!) como algumas pessoas se
ativeram
ao ³simples² e direto comentário que fiz acerca da obra de Villa-Lobos
e se silenciaram sobre todas as demais questões, a meu ver MUITO mais
importantes
do que essa discussão. (Até mesmo email anônimo e desrespeitoso cheguei a
receber...
não tiveram sequer a coragem de assinar a mensagem).

Quando vc ³sai em defesa² de Villa-Lobos (que vc afirma ser uma ³chuva no
molhado²,
com o quê sinceramente discordo!), tece comentários bastante pertinentes, e
concordo
com boa parte deles, especificamente com relação às boas obras de sua
autoria a que vc se referiu.

Minha opinião acerca do que vem a constituir um GRANDE compositor não se
altera, porém,
substancialmente em nada: a proporção entre as obras medíocres e as obras
geniais
tem de ser nitidamente favorável, na balança, às obras geniais, e isto de
modo
muito claro e evidente, como foram os casos de Webern, Berg, Schoenberg,
Berio, Stockhausen, Stravinsky
(e não de compositore menores, tais como Shostakóvitch, Martinu e Milhaud,
que vc
cita como exemplos ­ sei que estou pondo lenha na fogueira, mas é minha
opinião sincera...).

Ademais, não vejo como pertinente a comparação entre a música que se
praticou a partir
do início do século XX, em plena era da indústria cultural e diante das
³rupturas² com
os velhos códigos, ³promulgadas² por Schoenberg e outros, com as práticas da
música
barroca, clássica e mesmo romântica: os critérios de excelência, naquelas
épocas
(sobretudo na música barroca e clássica) dobravam-se comumente às exigências
de uma produção
ininterrupta, socialmente subalterna às ³necessidades² religiosas ou das
cortes.
Algo, pois, bem diverso da época dita ³moderna², em que o critério da
criação autônoma,
por mais relativa que possa ser tal autonomia, norteia o pensador,
e na qual se deve constantemente ³parar para pensar², para que quando se
faça algo,
se faça o MELHOR e sobretudo o que se DESEJA fazer!
Pensemos, por exemplo, em Berg, Webern ou Boulez, com o rigor de suas
(poucas, porém vastas, ao menos no que tange às suas ramificações
posteriores) obras!!!

Concluindo, é preciso que acordemos para a discussão de tantos outros
aspectos
mais interessantes do que nos sentirmos afetados ou agredidos diante da
constatação
de que artistas pouco exigentes, como Villa-Lobos, e que escreviam pelos
cotovelos,
apenas terão reconhecimento como ³gênios² dentro dos limites, bastante
restritos,
de nossa ³nação brasileira².

Grande abraço a todos.

___
Comentário de Lauro Machado:

A respeito da entrevista de Flo Menezes:
Ninguém é "forçado a venerar Villa-Lobos como o gênio nacional", é claro.
Mas é uma simples questão de justiça reconhecer que o Brasil nunca produziu
outro compositor tão completo.
A obra de Villa-Lobos é irregular, sim. Como todo compositor que escreve com
extrema facilidade, o excepcional, em sua obra, se acotovela com o medíocre,
é verdade. Isso acontece com outros autores do século XX (sem mencionar os
prolíficos autores do Barroco ou do Classicismo). Eu citaria Dimitri
Shostakóvitch, Bohuslav Martinu e Darius Milhaud, que são igualmente
ecléticos e desiguais. Mas nem por isso questionamos a genialidade deles.

Na verdade, que outro compositor brasileiro praticou todos os gêneros --
inclusive a ópera -- com igual número de acertos? (a afirmação de Flo
Menezes de que as peças medíocres superam as excepcionais não resiste,
acredito, a uma simples avaliação aritmética).

Não são só as Bachianas e os Chôros, no domínio da música orquestral.
Os quartetos de cordas estão entre as coleções mais importantes do século
XX. 
E a música para piano tem verdadeiras preciosidades, entre elas, coisas como
as Cirandas e o Guia Prático -- recentemente gravado pela Clara Sverner -
que mapeam a riqueza melódica e rítmica do cancioneiro luso-brasileiro.
Há, na música de câmara, coisas de uma originalidade gritante, como o
Noneto.
E o repertório das canções é um setor a ser ainda explorado com mais
profundidade.

Sair em defesa de Villa-Lobos, a esta altura do campeonato, é chover no
molhado, eu sei. Só queria dizer que não preciso fazer esforço algum para me
orgulhar de o Brasil ter produzido um artista dessa estatura.
___

Flo Menezes 
CP 141
06803-971 - Embu - SP
Brasil

- - -
Compositor &
Diretor Artístico do
Studio PANaroma
e do
PUTS ­ PANaroma/Unesp: Teatro Sonoro

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