[ANPPOM-L] Ainda sobre o espet á culo "Luar Trovado", baseado em "Pierrot Lunaire" de Schoenberg

Jos=?ISO-8859-1?B?6SA=?=Luiz Martinez rudrasena em uol.com.br
Qua Jun 13 21:00:06 BRT 2007


Olá Ruy,

Recebi sua mensagem por meio da lista Comuarte (lista dos alunos do curso de
Artes do Corpo da PUC-SP). Estou entendendo que você participou da direção,
correto? Se o projeto não é do Gerald Thomas nem do Lívio Tragtenberg, de
quem é então?

De qualquer forma, o que você está dizendo sobre o "Luar Trovado" é que não
houve tempo de fazer um espetáculo melhor. Isso era claro para qualquer um
da platéia que tivesse experiência com música, ópera, artes cênicas; mesmo
apenas como espectador. Bem, do ponto de vista do público, não nos interessa
se não houve tempo de fazer algo melhor. Aquilo que aconteceu sobre o palco
é o que aconteceu. Nossos julgamentos estéticos e técnicos não podem ser
minimizados por causa da falta de tempo para se fazer melhor. Muito pelo
contrário.

Ainda assim, eu estou contente que o Sesc Pinheiros venha encampando
projetos dessa natureza e envergadura. Eu também assisti às óperas da Jocy
de Oliveira e vejo assim que eles estão envolvidos com formas que são
complexas, caras, mas profundamente interessantes do ponto de vista da
música e do teatro musical. Ainda que o resultado de uma ou outra
experiência não tenha sido feliz. Isso é da natureza da ópera. Algumas são
sucesso, outras não, mas o importante e continuar criando e colocando em
cena para o público.

Agradeço sua participação no debate.

Abraços,
Martinez


-- 
Prof. Dr. José Luiz Martinez
Departamento de Linguagens do Corpo
Faculdade de Comunicação e Filosofia - PUC-SP

Rede Interdisciplinar de Semiótica da Música
http://www.pucsp.br/pos/cos/rism

Musikeion - fórum sobre signficação musical
http://listas.pucsp.br/mailman/listinfo/musikeion
http://listas.pucsp.br/pipermail/musikeion/




------ Forwarded Message

> 
> From: Ruy Filho <ruyfilhosp em yahoo.com.br>
> To: giurocha em hotmail.com
> Subject: Re: FW: [comuarte] Sobre o espetáculo "Luar Trovado", baseado em
> "Pierrot Lunaire" de Schoenberg
> Date: Tue, 12 Jun 2007 01:16:17 -0300 (ART)
> 
> Oi, Giu, não vai dar pra não responder algumas das críticas apresentadas
> nesses emails. Depois vc repassa pra eles, ok?
> Beijos
> RUY FILHO
>  
> O mais importante é salientar que o projeto não é do Gerald, e assim como os
> outros participantes, todos foram convidados. Lívio, Lucila, o maestro e
> músicos, Elke, a Deise, o cenógrafo, a iluminadora, a figurinista. O
> idealizador escolheu os nomes por sua própria conta, juntou todos e deu-lhes
> menos de uma semana para realizar o trabalho. Nem isso, no entanto, pois a
> orquestra conseguiu de fato trabalhar em SP apenas dois dias, o cenário (que
> concordo, é pra lá de decepcionante), tomou quatro dias, a luz outros três. O
> Gerald teve apenas um dia para montar toda a cena, e nem foi possível passar
> sequer um ensaio completo, com música e cena. Como ele disse em várias
> entrevistas, foi entregue para ele um cardápio completo. A Elke tinha que
> cantar, a Lucila e a Deise, idem. Como lidar com tantas discrepâncias? Como
> enfrentar uma produção ingênua para tamanho projeto? E como atribuir esse caos
> ao universo de Schoenberg? A primeira atitude de Gerald foi a de recusar que o
> espetáculo era o Pierrot Lunaire, pois não havia tempo para destrinchar em
> tantas áreas o universo do compositor. Tampouco o suficiente para discutir o
> fato de ser a composição o que Mário de Andrade denominou de "não-música" por
> romper a musicalidade clássica. Não foi possível o encontro entre Maestro e
> Gerald para discutirem conceitos. Essencial quando se trata de encenação de
> óperas. Ainda que PL não seja uma ópera, e sim um recital. Lívio utilizou as
> próprias partituras do Schoenberg transportando-as eletroacusticamente para
> novos timbres e modulações. Ir além demandaria estudos, preparos,
> verticalizações impossíveis para o cronograma. A tentativa de carnavalização
> final, por isso o carro alegórico (inacreditavelmente ruim, o trabalho
> cenográfico), lida com os argumentos de Mário de Andrade e com o conceito de
> carnavalização de Baktin. Trazer o Tom Zé, foi uma maneira de aproximar o
> nosso carnaval-conceito, o tropicalismo, em sua essência, visto ser ele o
> remanescente mais experimental do grupo original. Não deram certo as entradas
> da Deise? Talvez, mas afinal esse era o pacote! Se o espetáculo não funcionou,
> então que se argumente dentro das características do projeto, de suas
> indiossincrasias. Mais do que isso não foi possível fazer. Só posso garantir
> um detalhe, ainda que cheios de equívocos ou seja lá como quiserem denominar,
> a presença de Gerald garantiu a não ralização de absurdo muito piores. Pra
> isso chegávamos as 9 e saímos a meia-noite. Pela tentativa maluca de buscar
> ofuscar os absurdos e realizar, no mínimo que fosse, algo de especial.
> 

>  
>> 
>> From: José Luiz Martinez <rudrasena em uol.com.br>
>> Reply-To: To: ANPPOM lista <anppom-l em iar.unicamp.br>,Musikeion
>> <musikeion em pucsp.br>,"Comuarte (lista)" <comuarte em yahoogrupos.com.br>,Fórum
>> Semiótico de Brasília <absbsemiotica em grupos.com.br>,Etnomusicologia br
>> <etnomusicologiabr em yahoogrupos.com.br>,"kodaly_dalcroze em yahoogrupos.com.br"
>> <kodaly_dalcroze em yahoogrupos.com.br>
>> Subject: [comuarte] Sobre o espetáculo "Luar Trovado", baseado em "Pierrot
>> Lunaire" de Schoenberg
>> Date: Mon, 11 Jun 2007 22:51:43 -0300
>> 
>> Caros colegas,
>> 
>> Eu e o Fernando Iazzetta assistimos o espetáculo "Luar Trovado", baseado em
>> "Pierrot Lunaire" de Schoenberg, sábado passado. O espetáculo aconteceu no
>> teatro do Sesc Pinheiros, em São Paulo. A direção cênica é assinada por
>> Gerald Thomas e a direção musical é de Lívio Tratenberg.
>> 
>> Embora eu e o Fernando não tenhamos nos encontrado no teatro, concordamos
>> sobre o resultado. Repasso agora para as listas onde foi realizada (alguns
>> dias antes do espetáculo) uma proveitosa discussão sobre Pierrot, Deise
>> Tigrona, bizarrices, etc. as mensagens trocadas hoje entre eu, o Fernando e
>> mais alguns colegas.
>> 
>> Confesso que toda a nossa discussão na lista da Anppom e na Musikeion foi me
>> instigando. Eu estava curioso para ver o "Luar Trovado". Afinal, o
>> espetáculo portava boas promessas como a obra de Schoenberg com tradução de
>> Augusto de Campos e diversos convidados que no mínimo garantiriam algo de
>> bizarro. A partitura de "Pierrot Lunaire" foi executada corretamente. Mas,
>> infelizmente, o espetáculo foi decepcionante. Valeu apenas pela iniciativa.
>> Que outras experiências venham à luz e que o Sesc possa continuar bancando
>> algo fundamental em ópera contemporânea. Criar e colocar em cena para que o
>> público veja e julgue.
>> 
>> Gostaria de advertir que concordamos em não omitir ou utilizar quaisquer
>> eufemismos para os títulos dos funks cantados pela Deise Tigrona. Assim,
>> aqueles que possivelmente se ofenderiam com palavras de baixo calão, por
>> favor, desconsiderem essa mensagem e não leiam o que segue.
>> 
>> Cordialmente,
>> Martinez
>> 
>> -- 
>> Prof. Dr. José Luiz Martinez
>> Departamento de Linguagens do Corpo
>> Faculdade de Comunicação e Filosofia - PUC-SP
>> 
>> Rede Interdisciplinar de Semiótica da Música
>> http://www.pucsp.br/pos/cos/rism
>> 
>> Musikeion - fórum sobre signficação musical
>> http://listas.pucsp.br/mailman/listinfo/musikeion
>> http://listas.pucsp.br/pipermail/musikeion/
>> 
>> **********************************************************************
>> 
>> Caro Fernando,
>> 
>> Eu também estava lá no sábado, pena que a gente não se encontrou na saída
>> para bebericar uma crítica ferina ao espetáculo, chamado de ópera. Eu
>> pretendia escrever alguma coisa na lista da Anppom e na Musikeion. Afinal,
>> depois de tanta conversa, nossos colegas devem estar curiosos. Você
>> permitiria que eu citasse sua mensagem e postasse na lista da Anppom? Será
>> que teremos que usar eufemismos para o funk "a porra da boceta é minha"?
>> 
>> Eu concordo com tudo o que você disse. E acrescentaria o desnível entre as
>> composições do Lívio Tratenberg e as peças do "Pierrot" de Schoenberg. É uma
>> responsabiliade muito grande você compor peças para serem executadas ao lado
>> de um clássico do séc. XX. Na minha opinião, as do Lívio eram todas muito
>> fracas, inclusive as eletroacústicas. Outra coisa difícil de aguentar eram
>> as "interações" entre a Lucila Tratenberg e a Adélia Issa. A coisa foi
>> colocada como um conflito entre as duas cantoras, inclusive resvalando sobre
>> uma politicamente incorreta briga entre a gorda e a magra (respectivamente
>> Adélia e Lucila). Musicalmente era fraquíssimo. Num ponto da cena entrava um
>> clarone e uma tuba, mas os dois músicos passavam sem nenhuma interação
>> cênica com as duas. Se é para fazer uma cena grotesca e politicamente
>> incorreta, que se faça direito!
>> 
>> O diálogo ficou mesmo entre a Deise e os músicos fazendo o "Pierrot". O
>> público aplaudia fortemente a funqueira. Poderia ter sido construído por aí.
>> Mas era uma simples alternância. Os músicos e a Adélia ficavam no escuro e
>> entrava a Deise. A Deise saia e voltavam os músicos. Seria melhor do que
>> toda a cenografia obvia e efeitos desperdiçados. Até uma encenação de
>> algumas das canções de Schoenberg teria sido melhor. "Lavadeira Lívida", por
>> exemplo, poderia ter uma cena correspondente com a bailarina. Qualquer coisa
>> seria melhor do que aquele casal de atores fazendo piquenique na lua, ou um
>> fotógrafo que entrava em cena disparando o flash, personagens completamente
>> inexpressivos e dispensáveis. Ainda que óbvio por outro lado, eu preferiria
>> que o cenário fosse uma favela. Seria mais instigante do que o pastiche
>> lunar.
>> 
>> Acho que a Elke Maravilha (dublando horrivelmente sua voz gravada, num texto
>> fraco e mal interpretado) representa bem a idéia central da direção cênica
>> de colocar alguns ícones da mídia, mais pelo nome do que pela atuação, para
>> compor algo muito bizarro, mas que no fim implodiu pela inconsistência
>> musical e cênica.
>> 
>> Para mim a amplificação da voz da Adélia tinha um problema técnico. Não sei
>> se você (Fernando) concorda. Mas estava tudo bem enquanto ela cantava em pp
>> ou mf, mas quando ela ia para o f e ff a amplificação fazia a voz da Adélia
>> ficar insuportavelmente forte, encobrindo completamente os instrumentos.
>> Faltou aí um compressor?
>> 
>> A história do Tom Zé era o que faltava para acabar com toda a "ópera".
>> Talvez o G. Thomas tenha percebido ao final que nada daquilo parava de pé e
>> resolveu transformar tudo em programa de auditório. Ao menos disfarçou a
>> reação da platéia...
>> 
>> Abraços,
>> Martinez
>> 
>> On 10/06/2007 02:50, "Fernando Iazzetta" <iazzetta em usp.br> wrote:
>> 
>>>> Meus caros, 
>>>> 
>>>> Foi alarme falso. Me dei ao trabalho de ir conferir o pierrot com funk. A
>>>> deise tigrona funkeou com "a buceta é minha, eu dou pra quem eu quiser", a
>>>> Elke maravilha fez um "dueto" com a lucilia tragtemberg e a adelia issa
>>>> cantou direitinho umas partes do pierrot schoenberguiano. Tudo normal.
>>>> Fizeram boa música até.
>>>> 
>>>> O bizarro ficou mesmo por conta do Gerald Thomas e põe bizarro nisso. O
>>>> espetáculo é horroroso, dos cenários à direção de cena, parecia trabalho de
>>>> estudantes de artes cênicas que ainda não entenderam como se juntam idéias
>>>> >>>> e realização.
>>>> 
>>>> Para completar no finalzinho da encenação o G Thomas entrou no palco e
>>>> falou que no Brasil tem um cara mais fantástico e radical que Schoenberg, e
>>>> chamou o Tom Zé que levantou da primeira fila da platéia e fez um discurso
>>>> gaguejado em que misturou assuntos como "o cromatismo de Mahler" com a
>>>> buceta da tigrona e por aí vai... De repente chamaram o Danilo Miranda
>>>> (manda-chuva do SESC), depois o cara que fez a cenografia, depois a deise
>>>> tigrona com a Elke, todo mundo se cumprimentou palco (tudo bem, os músicos
>>>> ficaram num canto sem saber o que fazer). Quando a coisa começou a sair de
>>>> controle o G Thomas pediu para baixar a cortina, e... acabou!
>>>> 
>>>> Tão bizarro que muita gente não sabia se era pra bater palma ou se a
>>>> "coisa" ia recomeçar depois de um intervalo.
>>>> 
>>>> 
>>>> Abraços, fernando
>>>> 
>>>> 
>> 

------ End of Forwarded Message






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