[ANPPOM-L] Re: Choro e anais

Hermilson Garcia do Nascimento nascimento em fafcs.ufu.br
Qui Mar 15 11:31:15 BRT 2007


Olá Liliana, 

Interessante sua postura de escrever diretamente à lista suas idéias acerca 
do tema. Acho que a lista deveria se voltar mais a esse tipo de mensagens, 
em vez das auto-promocionais que por vezes nos chegam. A propósito de seu 
comentário, o Cliff é um bom e ativo pianista que conhece bem o choro, mas é 
um músico dos Estados Unidos, você tem que dar um desconto, são outras as 
suas motivações. Particularmente penso que essas aproximações são perigosas 
quando feitas em escala muito "macro", como essa que constantemente fazem 
entre Bossa Nova e Jazz: uma prática particular do samba x um conjunto de 
práticas muito amplo, ainda que limitado ao Cool Jazz. Bebop então, nem 
pensar, a Bossa Nova é sua completa negação, mesmo por que distam entre si 
uma eternidade, a o caminho quase intransponível que vai da canção ao reduto 
 - por excelência - da música instrumental. Em compensação, nota-se 
claramente uma espécie de neobop entre os ingredientes da improvisação de um 
Hamilton de Holanda. Uma noção muito útil nesse contexto poderia ser a da 
fricção de musicalidades, tal como a desenvolve o Acácio Piedade. 

Abraços. 


Liliana Bollos escreveu: 

> Caro Sandroni, a propósito de seu email sobre improvisação no choro, acabei lendo o trabalho de Clifford Korman, que lhe foi sugerido, também pela minha área de interesse. Realmente há poucos trabalhos sobre improvisação em geral, há muitos trabalhos historiográficos, mas sem análise musical, tornam-se vagos. 
> 
> Sobre o que li hoje, antes de haver influência do jazz, o choro vem das danças de salão da época de D.João, que já li em muitos livros, sobretudo da polca européia, depois amaxixada. O próprio ragtime americano tb. influenciou-se da mesma fonte, assim como da forma de 3 partes AABBACCA. 
> 
> O que acho que devemos separar bem é "qual é o jazz a que o choro se relaciona!". Não dá para falar em jazz - bebop e cool jazz, que são esses nomes que aqui o pessoal sempre fala. Quando se fala em bossa nova, tudo bem, mas com o choro, é bem no começo. O ragtime era uma música escrita como os tangos brasileiros de Ernesto Nazareth. A improvisação no choro apareceu com as rodas, principalmente anos 20. Já ouvi gravação com Pixinguinha (8 Batutas) improvisando ao mesmo tempo que outro sopro solava a melodia, acho que era "Um a zero". Outro exemplo é do Jacob do Bandolim (Choro assanhado). 
> 
> As improvisações eram sempre em cima da harmonia, do acorde, baseado na melodia, que foi a base do começo da improvisação. No jazz, década de 1920 foi a dixieland, apesar que ser chamada de jazz de branco, é que se impôs de um lado e do outro o New Orleans com improvisações coletivas, melódicas, variações da melodia, principalmente o clarinete. Só mais tarde, anos 40, com o bebop de Charlie Parker, Dizzy Gillespie, T. Monk e Bud Powell, é que a improvisação se tornou mais solta da melodia, com padrões harmônicos baseados em determinadas escalas previamente estabelecidas, estudadas, assimiladas.  
> 
> A base da improvisação do choro, assim como no início dos standards de jazz (até o swing, anos 30) é a melodia (com variações). O choro não fez uso da escala de blues, que foi outra base importante para a evolução da harmonia no jazz. 
> 
> Termino com 2 exemplos bem brasileiros: Há uma peça incrivelmente bela de Nazareth intitulada "Improviso", formalmente escrita. Também li (não sei onde) que o flautista Joaquim da Silva Callado tocou um "desafio" com um flautista famoso de sua época em que fizeram muitas variações, e o Callado venceu o outro. E isso foi bem antes da grande influência do jazz sobre nós, que foi na década de 30 - época de ouro. Peço que desculpe, caso este email não for bem recebido. 
> 
> Um abraço, 
> 
> Liliana Bollos 
> 
>   ----- Original Message ----- 
>   From: Carlos Sandroni 
>   To: 'anppom-l' 
>   Sent: Saturday, March 10, 2007 11:31 PM
>   Subject: [ANPPOM-L] Choro e anais 
> 
> 
>   Prezados(as) Colegas, 
> 
>   Gostaria de saber se há alguém trabalhando sobre improvisação no choro. Agradeço qualquer informação neste sentido.
>   A propósito, procurei na página da ANPPOM os trabalhos dos congressos mais recentes, e não encontrei. Como estes congressos tiveram anais em formato digital, creio que seria simples disponibizá-los online. Fica a sugestão. 
>   Abraços,
>   Carlos 
> 
>   -- 
>   Carlos Sandroni
>   Departamento de Música, UFPE
>   Contatos vigentes até maio 2007:
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HERMILSON G. NASCIMENTO
Professor Assistente
Universidade Federal de Uberlândia
nascimento em fafcs.ufu.br 





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