RES: [ANPPOM-L]Qual a música que queremos em nossas Universidades?

eduardo luedy eluedy em yahoo.com
Sex Out 12 11:02:46 BRT 2007


Caro Pablo,

Você toca num tema muito oportuno e que pode servir de
paralelo para nossas discussões aqui: assumir que a
gramática normativa dá conta de abranger a diversidade
linguistica brasileira é partir de um pressuposto
bastante semelhante ao dos que defendem que somente
através do ensino do contraponto poderemos ser músicos
de verdade. [Sei que essas inferências são mais minhas
ou seja, que vc pode não estar pensando exatamente
assim, mas estou escrevendo com pressa :-) ]
Línguistas (ou mais apropriadamente, sociolinguistas)
têm batido muito nesta tecla: no processo de
letramento o mais importante é fazer com que nossos
alunos e alunas desenvolvam capacidades de ler e
interpretar textos escritos e de se expressar tanto
verbalmente quanto na forma escrita. Isso pressupõe
inclusive o domínio da chamada "norma culta" [com
todas as aspas possíveis aí, né?, uma vez que assumir
que há uma norma "culta" significa assumir que as
demais normas seriam "incultas", o que é um equívoco
para nós relativistas]. Mas essa atitude dos
sociolinguistas não exclui a existência e a
valorização de outras normas, de variedades legítimas
de uso da lingua portuguesa [o que, por sua vez
pressupõe a noção de que a lingua não é uma entidade
abstrata, autônoma; ao contrário, a noção é de que a
língua é dinâmica e social e culturamente
referenciada].
Daí que a noção de "erro" e de "sofisticação" é,
desculpem o clichê, relativa!
Não seria interessante que a gente pudesse se inspirar
nas contribuições dos sociolinguistas e desenvolver um
ensino de música mais contextualizado, menos canônico,
mais crítico? Em tempo, recomendo a leitura de um
livrinho do Sírio Possenti: "por que (não) ensinar
gramática nas escolas".

Abraços a todos e todas,

Eduardo Luedy

--- Pablo Sotuyo Blanco <psotuyo em ufba.br> wrote:

> Caro Hugo...
> Entendo as suas palavras... mas se fosse tentar
> compreende-las posso correr
> o risco de querer tirar do currículo mínimo
> obrigatório disciplinas tais
> como ortografia e gramática da língua portuguesa (ou
> de qualquer outra
> língua...). Como ficaria, então, a nossa comunicação
> escrita e a nossa
> história comum? Que futuro teríamos enquanto
> cientistas?
> 
> Saudações,
> 
> ======================================
> Pablo Sotuyo Blanco
> Programa de Pós-Graduação em Música
> Escola de Música
> Universidade Federal da Bahia
> ======================================
> e-mailto: psotuyo em ufba.br
> homepage: http://www.ufba.br/~psotuyo/
> ======================================
> 
> 
>   -----Mensagem original-----
>   De: anppom-l-bounces em iar.unicamp.br
> [mailto:anppom-l-bounces em iar.unicamp.br]Em nome de
> Hugo Leonardo Ribeiro
>   Enviada em: sexta-feira, 12 de outubro de 2007
> 03:57
>   Para: anppom-l em iar.unicamp.br; eduardo luedy
>   Assunto: Re: [ANPPOM-L]Qual a música que queremos
> em nossas Universidades?
> 
> 
>   Realmente, parece que voltamos uns cem anos. Há
> tempos não lia um discurso
> evolucionista desse...
>   Pensar a análise musical somente em seus aspectos
> formais-tecnicistas é
> muito reducionista. É como se descartássemos toda a
> contribuição da
> Etnomusicologia e da New Musicology (altamente
> influenciada pela primeira)
> para a compreensão das experiências musicais. Talvez
> Nicholas Cook tenha
> realmente ficado "biruta" quando escreveu "agora
> somos todos
> (etno)musicólgos".
>  
>
http://www.ictus.ufba.br/index.php/ictus/article/viewFile/110/84
> 
>   ********
>   Será que vocês acham que sou um garotinho
> revoltado com essas disciplinas?
> Algo estranho para alguém que se formou em
> Composição na UFBA, e cuja área
> de atuação é justamente as disciplinas de
> contraponto, harmonia e análise.
> Falando em contraponto, quem já deu uma olhada em
> minha edição do Gradus ad
> Parnassum em português (quem sabe até o final do ano
> eu finalmente tenha a
> paciência de completar a tradução completa...)?
>   http://www.hugoribeiro.com.br/textos/fux.pdf
> 
>   Para não falar em minha tese de doutorado em
> etnomusicologia (sob
> orientação de Manuel Veiga), recheada de análise
> musical tradicional, sem a
> qual não conseguiria entender a música das bandas
> estudadas. Mas,
> obviamente, como todo bom etnomusicólogo, meu olhar
> analítico não se
> restringiu somente aos aspectos sonoros...
>   http://www.hugoribeiro.com.br/textos/tese_crua.pdf
> 
>   ******
>   Nunca disse que não gostava de contraponto ou
> harmonia. O que eu
> questionei é se essas disciplinas devem fazer parte
> do currículo obrigatório
> de todos que pretendam um curso superior em música?
> 
>   Durante esse encontro da ABEM teve um momento que
> pudemos discutir um
> pouco sobre a importância em se definir quais as
> teorias sobre música que
> estão subjacentes aos currículos dos cursos de
> graduação e música no Brasil.
> Ou seja, quais as bases epistemológicas sobre as
> quais definimos qual o
> conhecimento musical deve ser exigido como o mínimo
> para se reconhecer
> determinado músico como merecedor de um diploma de
> graduado em música. Digo
> dessa forma porque, atualmente, existe um conjunto
> de disciplinas centrais
> que são consideradas como condição "sine qua non"
> para qualquer um que
> deseje se formar em música. Seja ele um compositor,
> regente, violinista ou
> educador musical. Refletir sobre essas bases
> epistemológicas é importante
> para se definir o que e como avaliar. E mais ainda,
> voltando para o assunto
> que gerou toda essa discussão, definir qual o
> conhecimento que deve ser
> exigido numa prova de conhecimento específico de
> música.
> 
>   Mas o que é triste mesmo, é constatar que alguns
> profissionais se recusam
> a refletir sobre suas práticas e quais as teorias
> que as orientam,
> preferindo não se envolver nos processos de
> reformulação curricular, ou
> mesmo na produção de conhecimento acadêmico sobre
> sua área de atuação.
> Lembro-me de um concurso que participei há pouco
> tempo atrás, no qual um dos
> candidatos havia nos dito (aos demais candidatos),
> pouco antes da divulgação
> do resultado, que compositor não tem que escrever
> artigos, não tem que ir
> para congresso, não tem que se envolver em questões
> pedagógicas. Compositor
> tem que compor. E que uma tese de doutorado de um
> compositor deveria ser
> somente uma composição e pronto. E olha que ele
> havia acabado de retornar de
> um doutorado nos E.U.A.
> 
>   São profissionais como esses que acabam
> transformando nossas graduações em
> música em conservatórios musicais...
> 
>   *******
>   Interessante também como, em uma lista tão grande,
> tal assunto só desperte
> interesse de quatro pessoas (2x2). Talvez seja hora
> de eu me abster. Talvez
> Luedy faça o mesmo. Não estou afim de representar
> uma bandeira tão
> controversa, mesmo que seja somente pelo prazer de
> exercitar a retórica, e
> sofrer as consequências sozinho. Afinal, quem é esse
> tal de Hugo, de
> Sergipe?
>   Aliás, onde fica Sergipe mesmo? :)
> 
>   Um abraço de caranguejo,
> 
>   Hugo Ribeiro
> 



       
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