[ANPPOM-L] Qual a música que queremos em nossas Universidades?

Carlos Sandroni carlos.sandroni em gmail.com
Sex Out 12 15:10:53 BRT 2007


Prezado Antunes e demais colegas,

Citando:

"A fuga nº 24 é bem complexa estruturalmente. A lamentação de funeral das
Ilhas Solomos é bem menos complexa estruturalmente.
O estudo da estrutura dos cantos a duas vozes dessas lamentações não garante
sucesso no estudo da estrutura da fuga. Mas o estudo da estrutura da fuga,
garante o sucesso no estudo da estrutura dos cantos a duas vozes das
lamentações fúnebres."

Fim da citação.

"Mais complexo" e "menos complexo", aqui, do ponto de vista do contraponto
europeu. A harmonia de Wagner também é mais complexa que a dos Beatles. Mas
saber harmonia e contraponto nao nos habilitam a compreender nem
formalmente, e muito menos estruturalmente, música vocal das Ilhas
Salomon ou rock. (No caso do rock saber alguns acordes pode às vezes
ajudar).

Se voce analisa polifonias do Pacífico ou dos pigmeus com instrumentos
teóricos de contraponto europeu, o resultado é a primeira e a segunda frases
citada acima. Esta é uma das razões pelas quais a terceira e a quarta frases
citadas acima são, na opinião dos etnomusicólogos, falsas (isto inclui Hugo
Zemp, que estudou a fundo as polifonias das Ilhas Salomon).

Abraços,
Carlos


On 10/12/07, Jorge Antunes <antunes em unb.br> wrote:
>
> Eduardo:
>
> Você está usando a palavra "forma", que nunca utilizei. No escopo de nosso
> debate ela não cabe.
> Você fala em "complexidade formal" e em se "compreender formalmente o
> contraponto".
> Nunca me referi a forma. Sempre estou me referindo a estrutura.
> Estou falando em complexidade estrutural.
> Também nunca disse que a análise se sustenta unicamente pela abordagem
> estrutural e formal.
> As aspectos simbólicos e contextuais hão de vir, numa boa análise, a ser
> estudados profundamente após as análises estrutural e formal.
> Mas aquela ficará solta, descontextualizada e superficial, se estas não se
> estabelecerem antes.
> A fuga nº 24 é bem complexa estruturalmente. A lamentação de funeral das
> Ilhas Solomos é bem menos complexa estruturalmente.
> O estudo da estrutura dos cantos a duas vozes dessas lamentações não
> garante sucesso no estudo da estrutura da fuga. Mas o estudo da estrutura da
> fuga, garante o sucesso no estudo da estrutura dos cantos a duas vozes das
> lamentações fúnebres.
> Veja, estou falando em estrutura. Quanto à forma, os níveis de
> complexidade são altos nos dois casos. As lamentações fúnebres têm, em
> geral, a forma ABAB CBCB. A fuga nº 24, segundo caderno, tem forma de fuga
> tripla, com a complexidade imposta pelo uso de três sujeitos.
> Para completar as análises, aí sim, seria necesssário abordar as questões
> que você menciona. Seria então preciso abordar a religiosidade de Bach, suas
> construções quiasmáticas, sua época, seu entorno, sua fixação na cristologia
> e seu encantamento pelas letras de seu próprio nome (b, a, c, h). Quanto às
> Lamentações fúnebres das imediações da Polinésia, seria necessário, na etapa
> final da análise, considerar a coreografia da dança ritual *suahongi*, as
> escalas usadas, suas simbologias, ritmos, andamentos, textos, o gestual da
> distribuição de alimentos durante o velório, etc.
> Abraço,
> Jorge Antunes
>
>
>
>
>
Carlos Sandroni
Departamento de Música, UFPE
Programa de Pós-Graduação em Música, UFPB
Setembro 2007/Fevereiro 2008:
Pesquisador Associado ao Centre de Recherches en Ethnomusicologie
CNRS - LESC UMR 7186 - Paris
Endereço pessoal na França:
Chez Duflo-Moreau
199, rue de Vaugirard
75015 - Paris
Telefone profissional no Brasil
(81) 2126 8596 (telefone e fax)
(Recados com Anita)
Endereço pessoal no Brasil:
Rua das Pernambucanas, 264/501
Graças - 52011-010
Recife - PE
-------------- Próxima Parte ----------
Um anexo em HTML foi limpo...
URL: <http://www.listas.unicamp.br/pipermail/anppom-l/attachments/20071012/51815998/attachment.html>


Mais detalhes sobre a lista de discussão Anppom-L