[ANPPOM-L] Sobre Metodologia e Epistemologia [x-long]

silvio silvio.ferraz em terra.com.br
Qua Mar 5 12:42:29 BRT 2008


meus caros

acho interessante o debate mas vejo com certo receio.
assim como vejo com receio as normas de 
formatação de revistas e toda forma de 
engessamento de produção em razão de um banco de 
dados eficiente.
as monografias de graduação devem ser movidas por interesse.
a própria exigência de tal monografia acaba 
imprimindo ao curso uma exigência de temas, o que 
no maior das vezes confunde-se com uma espécie de 
foco de perversão acadêmica: temas escolhidos às 
pressas e que muitas vezes não correspondem aos 
interesses do aluno simplesmente pq o aluno, 
durante o curso, não foi instigado a ter 
interesse nenhum.
neste sentido é mais razoável a inexistência de 
tais monografias (embora irreversível esta 
brincadeira começada nas décs. de 80 e 90 - em 
minha graduacão não me lembrod e tais exigências) 
e a possibilidade de escolha, por parte dos 
estudantes, de fazer ou não uma iniciação 
científica na qual desenvolverá um projeto de seu 
interesse junto a uma equipe de pesquisadores que 
envolvem ICs, mestres, doutores, pos-docs e o 
próprio orientador e seus colegas.

toda a hiperformalização nos conduzirá a um 
dureza de relações e à reprodução de trabalhos do 
tipo vida de fulano, a técnica do isntrumeto X, 
histório de tal coisa no brasil, a música na 
corte, quando não os famosos catálogos seguidos 
de entrevista.

mas deixo claro, não desconsidero o debate, 
apenas a hiperdefinição de etapas e critérios, as 
propostas de hugo e clovis são bastante bem 
vindas e trazem importantes questões.

abs
silvio


>Prezado interessados no assunto,
>
>Li, com muito interesse, a mensagem do prof. Hugo Ribeiro e pensei 
>contribuir, tentando adicionar elementos para que a discussão 
>prossiga. Inicialmente, peço perdão por minha verborragia e indico a 
>leitura abaixo apenas aos interessados. Se assim ocorrer, peço também 
>sua crítica.
>
>
>(A) ESCOPO DE TRABALHOS DE GRADUAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO
>
>Tenho o costume de conceituar a produção da Monografia de Graduação 
>(Trabalho de Conclusão de Curso) a partir de diferenças entre esse 
>tipo de produção e as teses de Mestrado e Doutorado. Para tanto, 
>tenho utilizado um texto de apresentação, que preparei há alguns anos 
>(provavelmente necessitando revisão), dizendo o seguinte:
>
>A Monografia de Graduação é um tipo de trabalho final ou trabalho de 
>conclusão da graduação, no qual o(a) aluno(a) deve demonstrar sua 
>capacidade de pesquisa. Assim, o(a) aluno(a) deve buscar levantar 
>todo o material (bibliográfico, auditivo, etc., publicados ou não) 
>que seja pertinente ao assunto/tema escolhido, resumindo as opiniões 
>obtidas a partir desse material; até mesmo no sentido de esgotar o 
>levantamento e relato sobre o assunto. Note que o objeto da
>Monografia é a capacidade de pesquisa e relato da totalidade do
>material disponível sobre um assunto/tema específico.* Ainda que 
>nesse relato monográfico cada aluno(a) possa, naturalmente, defender 
>alguma das opiniões previamente consultadas, a Monografia de 
>Graduação não é um trabalho destinado à defesa de nenhuma dessas 
>opiniões ou de suas releituras - tal defesa seria objeto de uma 
>Dissertação ou Tese de Mestrado. Da mesma forma, ainda que o autor 
>(aluno ou aluna) possa formular alguma opinião pessoal a respeito do 
>assunto, a Monografia de Graduação não tem por objetivo a elaboração 
>de proposições originais ou reveladoras de novos rumos para o assunto 
>- tal originalidade ou inovação e sua defesa seriam objetos de uma 
>Tese de Doutorado. Por outro lado, é também natural que opiniões 
>pessoais (originais, ou não) sejam consideradas na avaliação da 
>Monografia, caso elas sejam formuladas pelo(a) aluno(a). 
>Fundamentalmente, porém, é a clareza de exposição, demonstração de 
>capacidade de pesquisa e de domínio do tema proposto que são objeto 
>da Monografia e de sua avaliação pela Comissão Julgadora (banca).
>[nota de rodapé]
>* O relato da totalidade do material disponível, como citado acima, é 
>um dos objetivos do trabalho que deve ser perseguido durante todo o 
>desenvolvimento da pesquisa, mas que encontra limites nas 
>possibilidades acadêmicas fornecidas dentro de cada instituição, ou 
>mesmo dentro do meio acadêmico brasileiro. A despeito dessas 
>possibilidades, porém, o(a) aluno(a) não deve poupar esforços em 
>consultar os materiais necessários, além de demonstrar (na 
>monografia) a efetiva realização desse esforço, ainda que o 
>impedimento tenha se mostrado finalmente intransponível. Não há, 
>naturalmente, formas preconcebidas de demonstrar tal esforço, pois 
>elas serão particulares a cada tipo de trabalho, tema, ou mesmo autor
>(a) e orientador(a).
>
>No contato pessoal com os alunos, procuro clarificar possibilidades 
>de pensar o tema da Graduação como um primeiro passo para o Mestrado 
>e Doutorado - afinal, os trabalhos específicos de cada nível 
>representariam elaborações sucessivas, cada vez mais detalhadas e 
>específicas, de um tema. Reitero ainda, o fato de que defesa, 
>releitura, domínio e capacidade de pesquisa continuam sendo 
>analisadas em um Doutorado, mas que, na Graduação, os parâmetros de 
>julgamento são focados no domínio, capacidade de pesquisa e
>obviamente clareza de exposição. Se existirem propostas inovadoras no 
>trabalho de Graduação, porém, sua clareza e coerência serão 
>integradas à análise feita pela banca, ainda que seu mérito não 
>precise fazer parte dos parâmetros essencias de julgamento (há quem 
>diga que não deveria haver discussão de mérito nem mesmo no Doutorado).
>
>
>(B) TEMAS
>
>Quanto à escolha do tema, não vejo nenhuma necessidade de ser 
>específico ou restritivo em termos de orientação prévia. Uma vez 
>definido um tema pelo aluno, então será feita a devida limitação ou 
>restrição, determinada muito mais por problemas pragmáticos 
>(viabilidade de realização para que o curso seja concluído) do que 
>por áreas de pesquisa ou interesse do orientador ou mesmo da 
>instituição. Neste particular, penso ser fundamental a 
>disponibilização de diversos orientadores, pois a existência de 
>apenas um ou dois é prejudicial à variedade temática, bem como ao bom 
>atendimento e orientação.
>
>Particularmente, não vejo como o objetivo (B) (habilmente 
>discriminado por Hugo Ribeiro -- ver abaixo) possa ser limitado a 
>assuntos brasileiros. Não acho que devamos passar atestado sobre 
>qualquer incapacidade do meio acadêmico brasileiro de "produzir 
>conhecimento [limitado apenas a um] tema pertinente ao contexto 
>musical brasileiro". O prof. Hugo, naturalmente, formulou uma 
>pergunta, não uma resposta - esta é somente minha contribuição à 
>resposta. Penso que devemos permitir maior inclusão internacional, 
>com temas em quaisquer áreas, subáreas, períodos estéticos ou regiões 
>geográficas, produzindo trabalhos com liberdade para servir ao 
>contexto internacional, ou mesmo ao contexto brasileiro, ou ainda ao 
>contexto de qualquer outro país, região, ou regime. É verdade que a 
>instrumentalização eletrônica e crescimento dos acervos de nossas 
>bibliotecas é fundamental para que tal inclusão aconteça 
>efetivamente, mas (como no caso de qualquer pesquisa) não devemos 
>deixar que impedimentos institucionais e financeiros se tornem 
>determinantes ou restritivos de nossas capacidades e iniciativas. 
>(Tenho a certeza que não há aqui nada de novo, mas a compreensão do 
>leitor, pois não pude me furtar a verbalizar estas velhas preocupações.)
>
>Na prática, é claro, não se espera da Graduação a produção de 
>trabalhos seminais, ainda que isso possa ocorrer. Embora exista uma 
>produção de Pós-Graduação no Brasil (em desenvolvimento), a produção 
>de Graduação é ainda muito incipiente. Cabe orientá-la, "fazer o 
>recorte viável do tema e como trazê-lo para uma moldura 
>teórica" (como sugere o Prof. Hugo ao final de sua mensagem), mas 
>cabe também manter aberturas suficientes para que a variedade de 
>tópicos se desenvolva, bem como as formas de sua apresentação - 
>obviamente, sem prejuízo do "bom e velho" trabalho escrito, talvez a 
>única apresentação sobrevivente que possa servir de ligação com as 
>outras áreas (ou disciplinas) e justificativa de trabalho concreto e 
>palpável que satisfaça às nossas instituições acadêmicas.
>
>Quanto à questão do estudo biográfico, mencionado por Hugo Ribeiro, 
>há muito tempo vem sendo discutida sua validade e metodologia. Aos 
>interessados, eu gostaria de sugerir o texto divulgado por Tatjana 
>Markovic como introdução ao Simpósio "(Auto)Biography as 
>Musicological Discourse" (Belgrado, 20-23 Abril, 2008).
>
><http://www.kakanien.ac.at/weblogs/senior_editor/1158482964>
>
>Aguardo as sempre bem-vindas críticas de todos. Gostaria de pedir 
>especialmente a manifestação abalizada sobre o assunto de Vanda 
>Freire e de meu velho colega de graduação André Cavazotti, que tem 
>sido citados repetidas vezes em discussões deste gênero nesta lista 
>eletrônica.
>
>Abraços,
>
>Clóvis de André
>
>P.S. - Com esta contribuição à discussão, não pretendo estabelecer 
>definições ou fechar questões, mas desenvolvê-las e checar minhas 
>próprias opiniões, reelaborando-as com base nas interpretações e 
>críticas daqueles que se dispuserem a também contribuir.
>
>
>On Mar 1, 2008, at 12:16:39 PM, Hugo Ribeiro wrote:
>
>>  Eu levaria a discussão iniciada por Márcio mais adiante...
>  >
>>  Quando pedimos que nossos alunos de graduação façam monografias de 
>>  final
>>  de curso, o objetivo seria:
>>
>>  A) Introduzi-los à metodologia de pesquisa e escrita de textos
>>  científicos (académicos) para prepará-los para um futuro mestrado e
>>  doutorado;
>>
>>  B) Produzir conhecimento científico na área de música através de
>>  pesquisa histórica, bibliográfica, de campo, etc...
>>
>>  C) Ambos.
>>
>>  Se for somente a alternativa "A", então qualquer assunto seria
>>  pertinente, desde estudos que nada tenham relação com a música no 
>>  Brasil
>>  (tal como o nacionalismo presente nos estudos de Chopin)? Se for 
>>  somente
>>  a alternativa "B", então é preciso que seja um tema pertinente ao
>>  contexto musical brasileiro?
>>
>>  E se estiver relacionado com o contexto musical brasileiro, mas 
>>  abordar,
>>  por exemplo, um compositor local, inexpressivo musicalmente, mas 
>>  somente
>>  pelo fato de ter sido politicamente influente na área? Qual o tipo de
>>  trabalho que pode ser fruto de um tema de pesquisa como esse? E 
>>  qual sua
>>  relevância?
>>
>>  Se for a alternativa "C", então o "bicho pega"...
>>
>>  Na verdade a questão que se impõe aqui é sobre os pressupostos básicos
>>  de qualquer recorte do tema a ser estudado:
>>
>>  a) importância;
>>  b) pertinência;
>>  c) contribuição;
>>  d) viabilidade;
>>  e) atualidade.
>>
>>  Acho que uma das preocupações de Márcio, e brevemente será a minha
>>  também, seria qual o tipo de temas possíveis e relevantes a serem
>>  abordados nas monografias de conclusão de curso de alunos de graduação
>>  (no meu caso, de Licenciatura em Música). Apesar de que cada
>>  universidade tem autonomia para definir suas áreas de pesquisa e os
>>  princípios e recortes teóricos que irão guiar essa área de atuação,
>>  ainda assim creio que seria um bom ponto de partida termos livros ou
>>  textos da área de música comentando sobre quais temas possíveis de 
>>  serem
>>  abordados e exemplificando como tal abordagem seria relevante para a
>>  área de música no Brasil.
>>
>>  Isso porque acho que uma biografia (digo, com que ele casou, se teve
>>  filhos, etc...) de um pianista do século XIX não vai me interessar em
>>  nada se não houver uma relação entre suas informações biográficas com
>>  suas escolhas musicais (escola que estudou, professores, onde deu 
>>  aulas,
>>  quais concursos participou) e principalmente, como isso teria
>>  influenciado as gerações futuras com as quais ele teve algum contato.
>>
>>  O livro "Música e Pesquisa - novas abordagens", de Vanda Freire e 
>>  André
>>  Cazazotti, é um bom início. Existe um excelente capítulo sobre os
>>  pressupostos e métodos. Mas a maior parte do livro foca muito na
>>  fenomenologia, nos deixando órfãos de outras linhas teórico-
>>  filosóficas.
>>  Quando digo que estamos precisando de livros de Pesquisa em Música,
>>  estou falando sobre textos que nos proporcione um estudo 
>>  epistemológico
>>  da área e orientações sobre possíveis linhas de pesquisa e explicações
>>  teórico-práticas sobre as mesmas, por exemplo:
>>
>>  1) (Etno)Musicologia Histórica*;
>  > 2) Etnomusicologia;
>>  3) Práticas Interpretativas;
>>  4) Análise Musical;
>>  5) Teoria da Música;
>>  6) etc...
>>
>>  * Não é Pablo?
>>
>>  Isso porque, em disciplinas gerais de Metodologia da Pesquisa, dada 
>>  por
>>  professores de outras áreas, pode até ajudar os alunos a selecionar
>>  temas, a como fazer o recorte viável do tema e como trazê-lo para uma
>>  moldura teórica. Mas sem ser um professor que conheça as 
>>  vicissitudes da
>>  área de Música, dificilmente conseguiria exemplificar de forma a
>>  facilitar a compreensão dos alunos. Minha esposa, professora de 
>>  Direito,
>>  sempre reclamava que os professores de Metodologia da Pesquisa na
>>  universidade que ela dava aulas (geralmente da área de sociologia,
>>  história, etc...) não conseguiam trazer exemplos palpáveis para os
>>  alunos de Direito entenderem como selecionar temas e recortes teóricos
>>  na sua área. Livros e textos como esse que estou propondo iria ajudar
>>  aos alunos a saberem quais as linhas de pesquisa existentes em 
>>  música, e
>>  como se adaptar a elas.
>>
>>  É isso.
>>
>>  Hugo Ribeiro
>>  Núcleo de Música - UFS
>  >
>>
>>  ________________________________________________
>>  Lista de discussões ANPPOM
>>  http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
>>  ________________________________________________
>>
>
>
>
>
>Clóvis de André
><candre em buffalo.edu>
><clovis.deandre em ajato.com.br>
>
>--------------------------------------------
>Faculdade Santa Marcelina    &
>Faculdade Integral Cantareira
>História da Música (Professor)
>São Paulo, SP (BRASIL)
>--------------------------------------------
>PhD in Historical Musicology
>SUNY-Buffalo (USA)
>
>
>
>________________________________________________
>Lista de discussões ANPPOM
>http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
>________________________________________________
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