[ANPPOM-L] [Fwd: carta aberta dos docentes do IFCH ao Reitor da Unicamp]]

Alexandre Ficagna alexandre_ficagna em yahoo.com.br
Sáb Jul 4 10:56:00 BRT 2009


Sônia, o assunto extrapola nossa área, mas creio ser relevante para todos que se preocupam com os rumos da universidade pública.

Cordialmente,

Alexandre Ficagna
Ms. Processos Criativos
www.myspace.com/alexandreficagna


CARTA ABERTA DOS DOCENTES DO IFCH AO REITOR DA UNICAMP



O IFCH EM ESTADO DE EMERGÊNCIA





Ao Magnífico Reitor da Unicamp

Professor Dr. Fernando Costa





            O IFCH está agonizando. O trabalho de pelo menos duas décadas,
que resultou na excelência desse Instituto, está em sério
risco de extinguir-se.

            Nos últimos anos, temos encaminhado à Reitoria diversos
ofícios justificando pormenorizadamente a necessidade urgente
de novas contratações de docentes e nossas demandas não têm
sido atendidas. No contexto da limitada política de
contratações vigente, é preciso sublinhar que as quatro vagas
destinadas ao IFCH no ano de 2009 são absolutamente
insuficientes para recompor o quadro docente no patamar em que
esse se encontrava há 15 anos.

            Atendendo a necessidades acadêmicas ou a exigências da LDB, a
Graduação e a Pós-Graduação do IFCH experimentaram nos últimos
quinze anos uma expansão de cursos, de cargas horárias e de
vagas discentes sem precedentes. Desde 1994, o número de vagas
oferecidas no vestibular pelos cinco cursos de graduação
aumentou 28% (de 140 para 180 em 2008) - sem contar as vagas
do curso de Arquitetura, criado em 1998 e do qual participam
professores do IFCH - e o total de alunos matriculados na
graduação passou de 707 em 1998 para 1048 em 2008 (um aumento
de 48%). Chegamos assim ao índice de 11,6 alunos por
professor, superior à média da Unicamp que é de 8,3, conforme
pode ser constatado no Anuário Estatístico da Unicamp (2009).
No mesmo período, os cursos na pós-graduação passaram de 5
mestrados e 4 doutorados para 7 mestrados e 11 doutorados - e
o total de alunos matriculados aumentou de 741 em 1998 para
885 em 2008. Se contarmos os alunos de graduação e
pós-graduação, num total de 1933 em 2008, a relação número de
alunos por professor sobe para 21,5. Nesse ano, também segundo
o Anuário Estatístico da Unicamp, o IFCH era a terceira
unidade em número de alunos na graduação e a segunda em número
de programas e alunos de mestrado e doutorado, ficando atrás
apenas da FCM. No mesmo período, entretanto, o número de
docentes diminuiu drasticamente. Éramos 128 docentes em 1994,
101 em 1998, 90 em 2008 - e somos hoje apenas 89: uma
diminuição de 30% do corpo docente.

            Isso não significa apenas sobrecarga de trabalho. Certamente
há mais cursos a serem dados e mais alunos a serem orientados,
mais bancas para participar, mais coordenações de programas
para serem exercidas. Ao mesmo tempo, as demandas por projetos
e pareceres cresceram, assim como aumentou muito a pressão
para ocupar cargos administrativos e acadêmicos. O crescimento
de nossa produção e dos indicadores numéricos que contabilizam
nossas atividades cotidianas básicas esconde, entretanto, uma
crise acadêmica substantiva.

            É lamentável constatar, por exemplo, que nossos alunos podem
concluir a Graduação ou a Pós-Graduação sem a chance de cursar
disciplinas eletivas importantes, simplesmente por falta de
professores especialistas para ministrá-las. O vínculo entre
as aulas e a experiência de pesquisa, que sempre caracterizou
os cursos do IFCH está se perdendo: diante da necessidade de
cobrir a oferta de disciplinas obrigatórias, muitos de nossos
professores não têm mais a oportunidade de oferecer
disciplinas nas áreas em que atuam e publicam - e nas quais
são nacional e internacionalmente reconhecidos. Nesse quadro é
praticamente impossível pensar em criar novas disciplinas na
graduação, mesmo as que têm sido demandadas pelos alunos nas
avaliações de curso feitas a cada semestre.

            Áreas importantes de conhecimento na Antropologia, na Ciência
Política, na Demografia, na Filosofia, na História e na
Sociologia estão desguarnecidas, por falta de docentes
especialistas para ministrar aulas, coordenar pesquisas e
orientar novos pesquisadores. Há linhas de pesquisa na
pós-graduação e nos centros de pesquisa que tiveram uma
produção acadêmica densa e expressiva que praticamente
desapareceram por falta de professores plenos. Há cursos de
pós-graduação que estão na iminência de fechar áreas e linhas
de pesquisa, pois contam com apenas um professor. Não temos
condições, portanto, de criar novas áreas de pesquisa que
seriam necessárias para continuar a oferecer um ensino de
ponta e acompanhar os avanços científicos e as novas demandas
da sociedade.

            A projeção internacional de nossos docentes é notória e
facilmente verificável em uma consulta aos currículos e grupos
de pesquisa da Plataforma Lattes. Os Anuários Estatísticos da
UNICAMP também reconhecem essa liderança intelectual e
acadêmica: desde 2006, pelo menos, temos sido a primeira
Unidade em produtividade intelectual em termos proporcionais
(em relação à quantidade de docentes), e a segunda em termos
numéricos absolutos. A CAPES também reconhece essa liderança,
já que nossos programas de pós-graduação vêm conseguindo
manter notas altas: um programa com nota 7, dois com nota 6 e
quatro com nota 5; nos últimos anos, várias das teses
defendidas no IFCH obtiveram prêmios da CAPES, do Arquivo
Nacional e da ANPOCS. Esta liderança está sendo ameaçada pela
estagnação de contratações e a conseqüente sobrecarga de
trabalho; não é sem sacrifícios que vimos conseguindo manter a
qualidade e a excelência do nosso desempenho acadêmico e
científico.

            O futuro é alarmante: em 2010 teremos 42 aposentáveis, 6 dos
quais pela compulsória. Ou seja: em um ano podemos perder 47%
do atual quadro docente do Instituto, perfazendo uma possível
diminuição total de 63% do corpo docente do IFCH entre 1994 e
2010 (queda de 128 professores para 47). Com tantas perdas
acumuladas, está em risco também a larga experiência do
trabalho que conseguimos acumular até aqui. É eloqüente o que
esses dados apontam: o corpo docente está envelhecendo. A
formação de grupos de pesquisa demanda a construção de
patamares comuns de trabalho conjunto, o amadurecimento de
discussões e a consolidação de eixos de investigação. Essa não
é uma tarefa que possa ser simplesmente transmitida por
escrito: demanda convivência, laços institucionais e trocas
intelectuais que não podem ser empreendidas da noite para o
dia. Novos docentes necessariamente devem conviver com seus
colegas mais experientes. A convivência é um modo de formar
novos quadros e manter a continuidade na excelência da
pesquisa e da docência que tem nos caracterizado. Há,
portanto, prejuízos evidentes se continuarmos a contar com uma
reposição das vagas em futuro indefinido ou depois que
departamentos e linhas de pesquisa estiverem extintos.

            Também é preocupante nossa posição no cenário científico
nacional. Nos últimos anos, temos assistido a uma incorporação
crescente de novos docentes (muitos dos quais formados por
nós) em outras universidades, por meio de concursos públicos.
O quadro é particularmente alarmante quando comparado ao das
universidades federais, que hoje oferecem salários mais altos
do que os nossos. Ou quando comparado à própria USP que, na
última reunião com o Fórum das Seis, anunciou a contratação de
1285 docentes na atual gestão - um número surpreendente diante
das melancólicas 55 contratações previstas para este ano pela
Unicamp. Em breve os Programas de Pós-Graduação do IFCH
poderão perder pontos nas avaliações da CAPES, deixando de ser
competitivos na disputa por recursos e na procura dos
estudantes por uma formação de excelência.

            Diante deste quadro crítico, não basta simplesmente repor a
perda de 39 docentes que sofremos nos últimos 15 anos. É
preciso mais que isso. Queremos redimensionar o quadro docente
de acordo com as necessidades acadêmicas de nossos cursos,
considerando a expansão dos últimos anos, e assegurar a
dinâmica criativa das linhas de pesquisa para continuar a
desenvolver um trabalho de excelência. Queremos também ter o
direito de realizar uma expansão de nossas atividades
assentada nos desdobramentos de nossas pesquisas e na
combinação entre elas e o exercício da docência.

            É preciso, portanto, que a Reitoria da Unicamp reflita sobre o
seu próprio projeto para o futuro do IFCH e reavalie o
tratamento que tem dispensado às nossas necessidades ao longo
dos últimos anos, sob pena de que o patrimônio que duramente
construímos ao longo dos anos soçobre em meio ao descaso e à
indiferença. Não podemos aceitar que seja esse o projeto para
o futuro do IFCH. O IFCH e a UNICAMP não podem sobreviver por
muito mais tempo apenas com base na reputação construída ao
longo da sua história. Restaurar e ampliar esse patrimônio é
uma responsabilidade inescapável da atual Reitoria.

            Convidamos, pois, o Reitor de nossa Universidade a vir ao IFCH
o quanto antes. Esperamos que essa visita possa ser agendada
rapidamente, pois precisamos ter a garantia de uma política de
contratações que atenda de fato a essas demandas:
reivindicamos medidas urgentes para que possamos continuar a
trabalhar. Estamos em ESTADO DE EMERGÊNCIA!



Campinas, 30 de junho de 2009



Os Docentes do IFCH:

Álvaro Gabriel Bianchi Mendez  - matrícula 286817

Amnéris A. Maroni - matrícula 075663

Andrei Koerner - matrícula 285394

Ângela Maria Carneiro Araújo - matrícula 103872

Arley Ramos Moreno - matrícula 087467

Armando Boito - matrícula 075701

Bela Feldman Bianco - matrícula 054810

Bruno Speck - matrícula 256021

Cláudio Henrique de Moraes Batalha - matrícula 165115

Cristina Meneguello - matrícula 278611

Daniel Joseph Hogan - matrícula 038229

Emília Pietrafesa de Godoi - matrícula  252531

Enéias Forlin - matrícula 288083

Evelina Dagnino - matrícula 039098

Fátima Rodrigues Évora - matrícula 174947

Fernando Antonio Lourenço - matrícula 106844

Fernando Teixeira da Silva - matrícula 286457

Gilda Figueiredo Portugal Gouvea - matrícula 039802

Guita G. Debert - matrícula 106330

Heloisa André Pontes - matrícula 118559

Itala M. L. D'Ottaviano - matrícula 040436

Jesus José Ranieri - matrícula 287264

John Manuel Monteiro - matrícula 252557

Jorge Sidney Coli Junior - matrícula 116335

José Alves de Freitas Neto - matrícula 287069

José Carlos Pinto de Oliveira - matrícula 237108

José Marcos Pinto da Cunha - matrícula 268593

José Oscar de Almeida Marques - matrícula087467

Josué Pereira da Silva - matrícula 272787

Laymert Garcia dos Santos - matrícula 057614

Leandro Karnal - matrícula 273597

Leila da Costa Ferreira - matrícula: 220884

Leila Mezan Algranti  - matrícula 165263

Luciana Ferreira Tatagiba - matrícula 286986

Luiz César Marques Filho - matrícula 198935

Luzia Margareth Rago - matrícula 117021

Marcelo Siqueira Ridenti - matrícula 274941

Marcio Bilharinho Naves - matrícula 053554

Marcos Lutz-Müller - matrícula 288083

Marcos Nobre - matrícula 237574

Maria Coleta Ferreira Albino de Oliveira - matrícula 073466

Maria Filomena Gregori - matrícula 222861

Maria Helena Guimarães de Castro - matrícula 088595

Maria Lygia Quartim de Moraes - matrícula 249068

Maria Stella Bresciani - matrícula 043842

Mauro W. B. de Almeida - matrícula 048071

Michael McDonald Hall - matrícula 043222

Nelson Alfredo Aguilar - matrícula 214141

Néri de Barros Almeida  - matrícula 286112

Omar Ribeiro Thomaz - matrícula 28293

Oswaldo Giacoia Junior - matrícula 251470

Paulo Celso Miceli - matrícula 117030

Rachel Meneguello - matrícula 152790

Renato Ortiz - matrícula 206547

Ricardo Antunes - matrícula 144061

Rita de Cássia Lahoz Morelli - matrícula 220752

Robert Wayne Andrew Slenes - matrícula 087092

Roberto Luiz do Carmo - matrícula 290280

Roberto Romano - matrícula 069311

Ronaldo de Almeida - matrícula 286526

Rosana Baeninger - matrícula 273996

Rubem Murilo Leão Rêgo - matrícula 045721

Sebastião Velasco e Cruz - matrícula 129062

Shiguenoli  Miyamoto  - matrícula    20.4722

Silvana Barbosa Rubino - matrícula 285534

Silvia Hunold Lara - matrícula 14634-9

Suely Kofes - matrícula 043851

Thomas Patrick Dwyer - matrícula 100455

Tirza Aidar - matrícula 292552

Valeriano Mendes Ferreira Costa - matrícula 274887

Vanessa R. Lea - matrícula 079154

Walquiria Domingues Leão Rego - matricula 224812

Yara Adário Frateschi - matrícula 287070



Professores Colaboradores:

Arlete Moysés Rodrigues - matrícula 283825

Caio Toledo - matrícula 28374-0

Elide Rugai Bastos - matrícula 292167

Izabel Andrade Marson - matrícula 220426

Luis Orlandi - matrícula 292557

Maria Clementina Pereira Cunha - matrícula 053309

Mariza Correa - matrícula 290598

Vera H. F. P. Borges Itala M. L. D'Ottaviano197980
_______________________________________________
Lista-ib-l mailing list
Lista-ib-l em listas.unicamp.br
https://www.listas.unicamp.br/mailman/listinfo/lista-ib-l





      ____________________________________________________________________________________
Veja quais são os assuntos do momento no Yahoo! +Buscados
http://br.maisbuscados.yahoo.com
-------------- Próxima Parte ----------
Um anexo em HTML foi limpo...
URL: <http://www.listas.unicamp.br/pipermail/anppom-l/attachments/20090704/d38de517/attachment.html>
-------------- Próxima Parte ----------
Um anexo não-texto foi limpo...
Nome: Carta aberta dos docentes do IFCH ao reitor da	Unicamp.doc
Tipo: application/msword
Tamanho: 40448 bytes
Descrição: não disponível
URL: <http://www.listas.unicamp.br/pipermail/anppom-l/attachments/20090704/d38de517/attachment.doc>


Mais detalhes sobre a lista de discussão Anppom-L