[ANPPOM-L] Teste de Aptidão

[Daniel Lemos]

Caro Prof. Gerardo,

Fico admirado por vocês adotarem uma postura particular no cenário musical brasileiro, realmente é uma atitude valente. Compreendo perfeitamente a preocupação de vocês em prover o máximo de acessibilidade por parte da população à Música, em especial no atual contexto, que em 2011 exigirá a presença obrigatória do conteúdo de Música na disciplina de Artes na escola regular. Infelizmente não pudemos conversar na ABEM Nordeste porque optei em ir à ABEM Norte; certamente seria um encontro muito esclarecedor.

Com relação à exigência pelo "Teste de Aptidão" aqui na UFMA - que de fato concentra-se na exigência por conteúdos musicais, não na comprovação de aptidões para a Música - foi, em princípio, baseado na iniciativa da maioria dos Cursos de Licenciatura em Música do Brasil. Entretanto, os próprios alunos que ingressaram no 1o Semestre de 2010, devido ao caráter elementar do teste realizado para ingresso neste período, reclamaram da dificuldade em acompanhar as disciplinas, fato que nos levou a elaborar uma prova mais difícil para 2o/2010. Creio que diante de nossas estratégias de ensino-aprendizagem e pelas características de nosso corpo docente, não conseguimos trabalhar sem que o ingressante tenha uma base mínima de conhecimento musical. E mesmo assim, há alunos que se formarão sem a preparação que idealizamos - aí ressalto o seu comentário, que optar por ser professor requer estudos pelo resto da vida, mas me preocupo se
 realmente estamos instruindo nossos alunos nesse sentido. O papel do professor passa a ser oferecer ferramentas para que os alunos possam providenciar os conhecimentos que os interessam de forma independente, ou seja, "virem-se". A experiência de vocês comprova a possibilidade de trabalhar com alunos que não tenham conhecimentos musicais prévios, porém, temos que fazer esta experiência aqui para ver se podemos aplicá-la em nossa realidade, fato que enfrentaria resistência, naturalmente, por parte de alguns membros do corpo docente.

Com relação à questão da aptidão em si, concordo contigo. Já é cientificamente comprovado que são raríssimos os indivíduos que não apresentam nenhuma aptidão musical por completo. Diante disso, tenho utilizado o termo "aptidão" mais por seu uso histórico na área mesmo. Esta temática foi alvo de debate inclusive na Pró-Reitoria de Ensino da UFMA.

Quanto à questão de oferecer maior acessibilidade à Música para a sociedade maranhense, pretendemos criar um Curso de Extensão em Iniciação Musical, com atuação dos alunos que estiverem cursando Estágio. Será uma experiência boa tanto para a comunidade interessada quanto aos alunos do Curso de Música. Entendemos que, a nível básico e/ou fundamental, nossos alunos proverão a acessibilidade da Música para a população, sendo a Universidade responsável indireta por isto. Entretanto, como nosso curso é recente - assim como o da UEMA, a
Universidade Estadual do Maranhão, que também tem um curso de Música -
ainda não tivemos tempo de perceber os resultados.

Ainda, fico preocupado com a possibilidade do Curso Superior de Música - sem as exigências musicais de ingresso - tomar o lugar do Curso Básico, podendo a Universidade ocupar um lugar que compete a outros profissionais - nossos próprios alunos, fato que poderia restringir o campo de atuação dos professores de Música. Aqui no Maranhão há acesso gratuito ao ensino inicial de Música através da Escola de Música do Estado do Maranhão, que possui cursos Básico Geral e Técnico em Instrumentos e Canto, além de projetos sociais provindos de iniciativas particulares.

Por fim, agradeço a atenção que os professores da UFC tem para com este assunto, pois vou trazer estas idéias à discussão com os professores da UFMA.

Abraço e sucesso,

Daniel Lemos

Coordenador do Curso de Música

Professor Assistente I - Departamento de Artes (DEART/CCH)

Universidade Federal do Maranhão (UFMA)



      
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