[ANPPOM-L] Res: Contraponto sobre possbilidades dos testes específicos

Guilherme Castro somba.guilherme em gmail.com
Qua Nov 24 13:35:27 BRST 2010


Car em s colegas,

depois de acompanhar com bastante interesse a discussão, resolvi opinar,
mesmo diante da minha pouca experiência de docência no ensino superior. Faço
parte de uma instituição (Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix -
BH) que não se utiliza de prova específica de música como forma de seleção
de ingressantes ao curso de licenciatura em música. Após alguma experiência,
ainda não tenho uma opinião formada e fechada, mas mesmo assim, há ainda
fortes questionamentos em mim sobre a necessidade de provas específicas.
Concordo em muitos pontos com o Prof. Palombini e o prof. André, e faço os
mesmos questionamentos levantados pelo prof. Daniel. Penso que a prática
musical atual pode nos dar muitos indícios sobre os caminhos para o ensino
unversitário de música. Essa prática é diversa e multifacetada, como o
próprio campo da música em si. Uma vez que a partitura (a as práticas que
ela suscita) é uma forma de representação musical em meio a outras
possíveis, mesmo que arraigada historicamente na cultura ocidental de
influência européia, não vejo que tal quesito seja particularmente
importante *como forma de seleção*, uma vez que, mesmo com os desafios
didáticos que isso possa trazer ao ensino superior, noto que é possível
conciliar seu ensino com outras questões importantes como senso crítico,
compreensão histórico-cultural, prática musical em conjunto, auralidade e
oralidade, etc, em um visão de ensino de música mais holistica.

Isso não que dizer que tal requisito não seja importante. Para certas
práticas musicais (orquestras, prática instrumental em concerto, entre
outras), a leitura e prática musical a partir de partituras ou outras
representações textuais são questões relevantes, pertinentes e próprias como
pré-requisito para o exercício de tais práticas.

No entanto, isso é apenas uma das áreas de atuação musical no contexto
atual, onde práticas musicais em estúdio (mais norteadas por questões
aurais), improvisação em música popular (sob as mais variadas formas), bem
como os estudos musicológicos nas áreas de cognição, musicoterapia, práticas
musicais sociais (manifestações folclóricas, por exemplo, entre outro sem
número de manifestações), educação musical, entre outras, nos mostra como
tal abordagem para seleção de ingressantes pode ser, de certa forma, um
pouco excludente.

Muitas vezes me deparo com alunos que, com a motivação certa, desenvolvem-se
muito mais como músicos e educadores do que outros alunos com mais
facilidade e mais bagagem. Ao mesmo tempo, por vezes a própria dificuldade
que o conteúdo musical oferece (ainda mais com toda a carga mitificadora que
por vezes é atribuída ao campo da música) seleciona já os alunos ao longo do
curso.

Dito isso tudo, só sei que, após mais de um século de representação musical
fonográfica como a maior fonte de transmissão de valores musicais, o que
acarretou mudanças em todas as formas de prática musical, penso que alguma
reflexão mais aprofundada sobre o perfil do alunos, os conceitos,
metodologias e os quesitos para o ensino superior de música precisam ser
reavaliados, para que a própria área acadêmica de música de faça mais
presente, forte, representativa e significativa, retomando o que o próprio
campo da música tem sido tradicionalmente ao longo da história do
conhecimento humano.

sem mais, despeço-me

Guilherme Castro
Coordenador - Licenciatura em Música
Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix - BH

Em 24 de novembro de 2010 11:34, Daniel Lemos <dal_lemos em yahoo.com.br>escreveu:

>
> Caros,
>
> A idéia do prof. Palombini justamente exibe esta necessidade de
> reformulação do ensino universitário de Música, só não compactuo com a forma
> como ela foi exposta. Os conhecimentos da "Música erudita européia" são
> fundamentais sim para a formação de qualquer músico. O que precisamos
> repensar é se nossos Cursos formam profissionais capacitados para inserir-se
> numa sociedade em constante mutação. Algumas perguntas que podem nos guiar:
>
> "Quais os campos de atuação do músico atualmente?"
> "Como a Universidade pode prover conhecimentos básicos necessários a este
> exercício?"
>
> Precisamos não nos livrar dos conteúdos conservatoriais, mas das CONCEPÇÕES
> conservatoriais.
>
>
> Um abraço a todos,
>
>
>
>
> Daniel Lemos
> Professor Assistente I
> Curso de Música - http://musica.ufma.br
> Departamento de Artes (DEART)
> Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
>
> --- Em *qua, 24/11/10, Eduardo Patricio <epatricio em yahoo.com>* escreveu:
>
>
> De: Eduardo Patricio <epatricio em yahoo.com>
> Assunto: [ANPPOM-L] Res: Contraponto sobre possbilidades dos testes
> específicos
> Para: "Carlos Palombini" <cpalombini em gmail.com>, anppom-l em iar.unicamp.br
> Data: Quarta-feira, 24 de Novembro de 2010, 10:27
>
>
>
>
>
> É. Pela mensagem do André Machado, me parece que a posição do Palombini
> (e/ou reflexos dela) foi agora melhor captada.
> A questão central seria menos sobre a existência ou não de testes
> específicos e mais a respeito da necessidade de um questionamento acerca dos
> objetivos e proposições dos cursos de música no Brasil - que apresentam sim
> um certo descolamento da realidade (histórico-social), e, que fique claro,
> não se trata aqui de uma questão puramente de mercado.
>
> Saudações
>
> Eduardo Patrício
>
>
> _____________________________________
> Eduardo Patrício
> http://www.eduardopatricio.com.br
> +55 41 8434-0480
>
>
> ------------------------------
> *De:* Carlos Palombini <cpalombini em gmail.com>
> *Para:* anppom-l em iar.unicamp.br
> *Enviadas:* Quarta-feira, 24 de Novembro de 2010 1:02:13
> *Assunto:* Re: [ANPPOM-L] Contraponto sobre possbilidades dos testes
> específicos
>
> Voilà!
>
> 2010/11/24 André Luís Cardoso Machado <andrelcmac em ig.com.br<http://mc/compose?to=andrelcmac@ig.com.br>
> >
>
> Olá, se me permitem
>
> O ensino superior em música é todo baseado na tradição européia que
> culminou na música erudita contemporânea. Os jovens que ingressam nas
> faculdades de música, como todos os outros, são um pouco
> inconsequentes. Se julgam poderosos e pensam poder vencer a realidade
> e se tornar grandes solistas ou reconhecidos compositores. Porém essas
> possibilidades já não existem, já tem algum tempo. O máximo que se
> pode conseguir é um reconhecimentozinho acadêmico. Não dá pra ganhar
> dinheiro nem com a música tradicional nem com a contemporânea. A não
> ser sob a égide do estado que não oferece(e nem deveria) vagas para
> todos.
> Em qualquer outra área a academia se veria obrigada a mudar seus
> rumos. Mas em nossa área específica, amparada inclusive por uma
> equivocada visão de toda a sociedade de que nossos valores são muito
> diferentes do resto, mantem-se tudo como está.
> Me parece que mudar o enfoque acadêmico vigente é como a reforma
> política. Todos sabem que ela é necessária, mas quem tem poder para
> realizá-la são os menos interessados.
>
> Abraço a todos
> André Machado
>
> Em 23/11/10, Carlos Palombini<cpalombini em gmail.com<http://mc/compose?to=cpalombini@gmail.com>>
> escreveu:
> > É outra possibilidade. Infelizmente, muito pouco na política da Capes e
> nada
> > na política do CNPq aponta nesta direção.
> >
> > 2010/11/23 Flavio <flateb em gmail.com<http://mc/compose?to=flateb@gmail.com>
> >
> >
> >> Pelo visto, pode-se mesmo dizer que nada do que se faz na tal "área
> >> específica" de música presta ( "análises interpretativas",
> >> "instrumentista-pesquisador que nem toca nem faz pesquisa",
> >> "compositor-pesquisador cuja pesquisa é dizer o que quer que seja da
> >> música
> >> que só é ouvida por seus próprios colegas" etc.). Faltou apenas incluir
> a
> >> categoria de egrégios "pesquisadores" que não tocam, não cantam, não
> >> compõem, não diferenciam uma colcheia de um violão, costumam fugir de
> sala
> >> de aula e de orientações, mas encontram-se muito bem instalados e pagos
> >> em... Escolas de Música (vejam que coisa!). Enfim, acabemos com esse
> tipo
> >> também, pessoal, e assim podemos apagar todas as luzes de tão nefasta
> >> área,
> >> entregando os prédios (e principalmente a verba pública que alimenta,
> por
> >> exemplo, muitas bolsas de pesquisa) para a sociedade fazer de tudo isso
> um
> >> melhor uso.
> >>
> >>  Flavio Barbeitas.
> >>
> >>
> >> 2010/11/23 Carlos Palombini <cpalombini em gmail.com<http://mc/compose?to=cpalombini@gmail.com>
> >
> >>
> >> Não, acabamos apenas com a prova de habilidades específicas, o que
> >>> resultará no fim do Conservatório Universitário, e no fim também das
> >>> intermináveis discussões sobre a "especificidade" da área, sobre
> quantos
> >>> artigos vale um concerto, sobre o número de artigos que substitui uma
> >>> dissertação na pós-graduação em performance, acabamos com as "análises
> >>> interpretativas" e tantos outros males, como o
> instrumentista-pesquisador
> >>> que nem toca nem faz pesquisa (ou faz de conta que faz, e se publica
> >>> porque
> >>> as revistas precisam de artigos para satisfazer as exigências de
> >>> periodicidade da Capes), com o compositor-pesquisador cuja pesquisa é
> >>> dizer
> >>> o que quer que seja da música que só é ouvida por seus próprios
> colegas,
> >>> e
> >>> poderemos pensar numa formação adequada e específica para
> >>> instrumentistas,
> >>> compositores, musicólogos, educadores etc. Não seria um benefício?
> >>>
> >>> 2010/11/23 Fernando Pereira Binder <fernandobinder em yahoo.com.br<http://mc/compose?to=fernandobinder@yahoo.com.br>
> >
> >>>
> >>>> Muito bem,
> >>>>
> >>>> Primeiro acabamos com a prova de habilidades específicas para música.
> >>>> Depois acabamos com a prova geral (português, história, etc...).
> >>>> Daí acabamos com a alfabetização.
> >>>> Re-instituímos a igreja como guardiã do conhecimento ocidental
> (começada
> >>>> na última eleição).
> >>>> Pronto, voltamos todos à Idade Média em 4 etapas!
> >>>>
> >>>> Fernando Binder
> >>>>
> >>>>  Em 22/11/2010, às 10:07, Carlos Palombini escreveu:
> >>>>
> >>>>
> >>>>
> >>>>  2) Não exigir conhecimentos específicos desvaloriza a Lei
> 11.769/2008,
> >>>>> uma árdua conquista da área de Música que simboliza sua valorização,
> >>>>> pois
> >>>>> esta é comumente tratada de forma amadora pela sociedade. Atualmente,
> >>>>> há uma
> >>>>> verdadeira "indústria educacional" em torno da Educação Básica, pois
> >>>>> sua
> >>>>> função mais comum é oferecer acesso à Universidade, desvalorizando
> sua
> >>>>> própria utilidade educacional. Nesse contexto, há o risco de muitos
> se
> >>>>> perguntarem: "pra que estudar Música se para entrar no Curso de
> Música
> >>>>> não é
> >>>>> necessário estudar Música?";
> >>>>>
> >>>>
> >>>> Há um erro básico aqui: supor que estudar música seja solfejar, tocar
> um
> >>>> instrumento (ou cantar), ou compor. Como é isso que a maioria de
> nossos
> >>>> colegas sabe fazer, esse erro não será democraticamente erradicado. A
> >>>> prova
> >>>> específica tem a função de perpetuá-lo.
> >>>>
> >>>>
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