[ANPPOM-L] Res: Contraponto sobre possbilidades dos testes específicos

Carlos Palombini cpalombini em gmail.com
Qui Nov 25 02:48:50 BRST 2010


"Os conhecimentos de Música erudita européia" não são fundamentais para
qualquer músico. Para muitos músicos, o *desconhecimento* da música erudita
européia é muito mais importante. Isso acontece em alguns gêneros musicais
pioneiros em torno do som gravado ou eletrônico: é o caso da música concreta
de 1948, que deliberadamente se contrapõe à vanguarda musical de seu tempo,
que ela "ignora"; é o caso do hip-hop, cuja técnica básica é a seleção,
lupagem e montagem de breaks de rhythm and blues, aos quais se sobrepõe uma
espécie de repente (e essa técnica não se origina nas técnicas análogas da
música concreta, mas em procedimentos peculiares à vida musical jamaicana
dos anos 1950-60); é o caso da chicago house, que é uma espécie de disco ---
e convém lembrar que boa parte da disco é música de um refinamento
instrumental inigualado na música pupular (e.g. Motown, Philly Soul,
Salsoul) ---, feita por pessoas sem treinamento musical a partir do
barateamento do equipamento eletrônico na primeira metade dos anos 1980; é o
caso do funk carioca, o primeiro --- e até agora o único --- gênero de
música eletrônica dançante brasileiro, uma espécie de hip-hop nacionalizado.


2010/11/24 Bryan Holmes <bholmesd em yahoo.com>

> Prezado prof. Lemos,
>
> Sim, sim! E eu nem falei em popular, folclórica, étnica ou qualquer outro
> tipo de música. Mas eu considero "músico" a qualquer pessoa que faça música.
> Assim, reafirmo o meu comentário, pois a frase que critico refere-se a algo
> que seria "fundamental" para "*qualquer* músico", a saber, "os
> conhecimentos da 'Música erudita européia'".
>
> Isto pouco tem a ver, pelo menos diretamente, com o que eu pense sobre os
> testes específicos aqui discutidos, mas é apenas uma manifestação a respeito
> de uma afirmação que não pude deixar passar, pois a considero pouco
> rigorosa. De resto, concordo com muito do que vc tem escrito por aqui.
>
> Saudações cordiais,
> Bryan Holmes
>
>
> --- On *Wed, 11/24/10, Daniel Lemos <dal_lemos em yahoo.com.br>* wrote:
>
>
> From: Daniel Lemos <dal_lemos em yahoo.com.br>
> Subject: Re: [ANPPOM-L] Res: Contraponto sobre possbilidades dos testes
> específicos
> To: anppom-l em iar.unicamp.br
> Date: Wednesday, November 24, 2010, 5:12 PM
>
>
>
> Caros,
>
> Respondendo à pergunta do prof. Palombini: "E como você diferencia
> "conteúdo" de "concepção"?"
>
> Quando me refiro à concepção, é a postura metodológica, pedagógica e
> filosófica na qual se alicerça a relação de ensino-aprendizagem em Música.
> Por exemplo: um professor de Música Popular irá abordar um determinado
> conteúdo de forma diferente de um professor de Harmonia Tradicional
> (obviamente se utilizando do senso comum acerca do perfil destes
> profissionais). "Concepção conservatorial" se refere ao modo como o conteúdo
> é tratado neste modelo institucional. Poderíamos, em uma analogia irônica,
> "ensinar Forró aos moldes conservatoriais"...
>
>
> Em observação ao comentário do prof. Holmes:
>
> Retorno a um ponto já mencionado: depende da proposta do Curso que se
> deseja ministrar. Em um curso de Graduação em Música, creio que a referida
> "Música erudita européia"  seja uma bagagem importante. Entretanto, há
> varias formas e níveis de se abordar este conteúdo, mas  não consideraria a
> possibilidade de não abordá-lo. A Música Popular sempre dialogou com a
> Música Erudita, temos exemplos disso em toda a História da Música. Em termos
> de estruturação musical, isto é evidente: de onde vem o temperamento, a
> formação de acordes e o design dos instrumentos musicais típicos utilizados
> na Música Popular?
>
> Sds,
>
>
> Daniel Lemos
> Professor Assistente I
> Curso de Música - http://musica.ufma.br
> Departamento de Artes (DEART)
> Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
>
> --- Em *qua, 24/11/10, Bryan Holmes <bholmesd em yahoo.com>* escreveu:
>
>
> De: Bryan Holmes <bholmesd em yahoo.com>
> Assunto: Re: [ANPPOM-L] Res: Contraponto sobre possbilidades dos testes
> específicos
> Para: anppom-l em iar.unicamp.br
> Data: Quarta-feira, 24 de Novembro de 2010, 12:37
>
> Prezado prof. Lemos,
>
> Com todo o respeito, manifesto não apenas meu desacordo com seguinte frase,
> mas minha certeza de que é falaz:
> Os conhecimentos da "Música erudita européia" são fundamentais sim para a
> formação de qualquer músico.
>
> Só não me peça para exemplificar, pois uma lista de exemplos que desmentem
> o supracitado pode ser descomunal e não estou com o tempo suficiente.
>
> Cordialmente,
>
> --
> *Bryan Holmes*
> CBM-CEU
>
>
> --- On *Wed, 11/24/10, Daniel Lemos <dal_lemos em yahoo.com.br>* wrote:
>
>
> From: Daniel Lemos <dal_lemos em yahoo.com.br>
> Subject: Re: [ANPPOM-L] Res: Contraponto sobre possbilidades dos testes
> específicos
> To: anppom-l em iar.unicamp.br
> Date: Wednesday, November 24, 2010, 11:34 AM
>
>
> Caros,
>
> A idéia do prof. Palombini justamente exibe esta necessidade de
> reformulação do ensino universitário de Música, só não compactuo com a forma
> como ela foi exposta. Os conhecimentos da "Música erudita européia" são
> fundamentais sim para a formação de qualquer músico. O que precisamos
> repensar é se nossos Cursos formam profissionais capacitados para inserir-se
> numa sociedade em constante mutação. Algumas perguntas que podem nos guiar:
>
> "Quais os campos de atuação do músico atualmente?"
> "Como a Universidade pode prover conhecimentos básicos necessários a este
> exercício?"
>
> Precisamos não nos livrar dos conteúdos conservatoriais, mas das CONCEPÇÕES
> conservatoriais.
>
>
> Um abraço a todos,
>
>
>
> Daniel Lemos
> Professor Assistente I
> Curso de Música - http://musica.ufma.br
> Departamento de Artes (DEART)
> Universidade Federal do Maranhão (UFMA)
>
> --- Em *qua, 24/11/10, Eduardo Patricio <epatricio em yahoo.com>* escreveu:
>
>
> De: Eduardo Patricio <epatricio em yahoo.com>
> Assunto: [ANPPOM-L] Res: Contraponto sobre possbilidades dos testes
> específicos
> Para: "Carlos Palombini" <cpalombini em gmail.com>, anppom-l em iar.unicamp.br
> Data: Quarta-feira, 24 de Novembro de 2010, 10:27
>
>
>
>
> É. Pela mensagem do André Machado, me parece que a posição do Palombini
> (e/ou reflexos dela) foi agora melhor captada.
> A questão central seria menos sobre a existência ou não de testes
> específicos e mais a respeito da necessidade de um questionamento acerca dos
> objetivos e proposições dos cursos de música no Brasil - que apresentam sim
> um certo descolamento da realidade (histórico-social), e, que fique claro,
> não se trata aqui de uma questão puramente de mercado.
>
> Saudações
>
> Eduardo Patrício
>
>
> _____________________________________
> Eduardo Patrício
> http://www.eduardopatricio.com.br
> +55 41 8434-0480
>
>
> ------------------------------
> *De:* Carlos Palombini <cpalombini em gmail.com>
> *Para:* anppom-l em iar.unicamp.br
> *Enviadas:* Quarta-feira, 24 de Novembro de 2010 1:02:13
> *Assunto:* Re: [ANPPOM-L] Contraponto sobre possbilidades dos testes
> específicos
>
> Voilà!
>
> 2010/11/24 André Luís Cardoso Machado <andrelcmac em ig.com.br>
>
> Olá, se me permitem
>
> O ensino superior em música é todo baseado na tradição européia que
> culminou na música erudita contemporânea. Os jovens que ingressam nas
> faculdades de música, como todos os outros, são um pouco
> inconsequentes. Se julgam poderosos e pensam poder vencer a realidade
> e se tornar grandes solistas ou reconhecidos compositores. Porém essas
> possibilidades já não existem, já tem algum tempo. O máximo que se
> pode conseguir é um reconhecimentozinho acadêmico. Não dá pra ganhar
> dinheiro nem com a música tradicional nem com a contemporânea. A não
> ser sob a égide do estado que não oferece(e nem deveria) vagas para
> todos.
> Em qualquer outra área a academia se veria obrigada a mudar seus
> rumos. Mas em nossa área específica, amparada inclusive por uma
> equivocada visão de toda a sociedade de que nossos valores são muito
> diferentes do resto, mantem-se tudo como está.
> Me parece que mudar o enfoque acadêmico vigente é como a reforma
> política. Todos sabem que ela é necessária, mas quem tem poder para
> realizá-la são os menos interessados.
>
> Abraço a todos
> André Machado
>
> Em 23/11/10, Carlos Palombini<cpalombini em gmail.com> escreveu:
> > É outra possibilidade. Infelizmente, muito pouco na política da Capes e
> nada
> > na política do CNPq aponta nesta direção.
> >
> > 2010/11/23 Flavio <flateb em gmail.com>
> >
> >> Pelo visto, pode-se mesmo dizer que nada do que se faz na tal "área
> >> específica" de música presta ( "análises interpretativas",
> >> "instrumentista-pesquisador que nem toca nem faz pesquisa",
> >> "compositor-pesquisador cuja pesquisa é dizer o que quer que seja da
> >> música
> >> que só é ouvida por seus próprios colegas" etc.). Faltou apenas incluir
> a
> >> categoria de egrégios "pesquisadores" que não tocam, não cantam, não
> >> compõem, não diferenciam uma colcheia de um violão, costumam fugir de
> sala
> >> de aula e de orientações, mas encontram-se muito bem instalados e pagos
> >> em... Escolas de Música (vejam que coisa!). Enfim, acabemos com esse
> tipo
> >> também, pessoal, e assim podemos apagar todas as luzes de tão nefasta
> >> área,
> >> entregando os prédios (e principalmente a verba pública que alimenta,
> por
> >> exemplo, muitas bolsas de pesquisa) para a sociedade fazer de tudo isso
> um
> >> melhor uso.
> >>
> >>  Flavio Barbeitas.
> >>
> >>
> >> 2010/11/23 Carlos Palombini <cpalombini em gmail.com>
> >>
> >> Não, acabamos apenas com a prova de habilidades específicas, o que
> >>> resultará no fim do Conservatório Universitário, e no fim também das
> >>> intermináveis discussões sobre a "especificidade" da área, sobre
> quantos
> >>> artigos vale um concerto, sobre o número de artigos que substitui uma
> >>> dissertação na pós-graduação em performance, acabamos com as "análises
> >>> interpretativas" e tantos outros males, como o
> instrumentista-pesquisador
> >>> que nem toca nem faz pesquisa (ou faz de conta que faz, e se publica
> >>> porque
> >>> as revistas precisam de artigos para satisfazer as exigências de
> >>> periodicidade da Capes), com o compositor-pesquisador cuja pesquisa é
> >>> dizer
> >>> o que quer que seja da música que só é ouvida por seus próprios
> colegas,
> >>> e
> >>> poderemos pensar numa formação adequada e específica para
> >>> instrumentistas,
> >>> compositores, musicólogos, educadores etc. Não seria um benefício?
> >>>
> >>> 2010/11/23 Fernando Pereira Binder <fernandobinder em yahoo.com.br>
> >>>
> >>>> Muito bem,
> >>>>
> >>>> Primeiro acabamos com a prova de habilidades específicas para música.
> >>>> Depois acabamos com a prova geral (português, história, etc...).
> >>>> Daí acabamos com a alfabetização.
> >>>> Re-instituímos a igreja como guardiã do conhecimento ocidental
> (começada
> >>>> na última eleição).
> >>>> Pronto, voltamos todos à Idade Média em 4 etapas!
> >>>>
> >>>> Fernando Binder
> >>>>
> >>>>  Em 22/11/2010, às 10:07, Carlos Palombini escreveu:
> >>>>
> >>>>
> >>>>
> >>>>  2) Não exigir conhecimentos específicos desvaloriza a Lei
> 11.769/2008,
> >>>>> uma árdua conquista da área de Música que simboliza sua valorização,
> >>>>> pois
> >>>>> esta é comumente tratada de forma amadora pela sociedade. Atualmente,
> >>>>> há uma
> >>>>> verdadeira "indústria educacional" em torno da Educação Básica, pois
> >>>>> sua
> >>>>> função mais comum é oferecer acesso à Universidade, desvalorizando
> sua
> >>>>> própria utilidade educacional. Nesse contexto, há o risco de muitos
> se
> >>>>> perguntarem: "pra que estudar Música se para entrar no Curso de
> Música
> >>>>> não é
> >>>>> necessário estudar Música?";
> >>>>>
> >>>>
> >>>> Há um erro básico aqui: supor que estudar música seja solfejar, tocar
> um
> >>>> instrumento (ou cantar), ou compor. Como é isso que a maioria de
> nossos
> >>>> colegas sabe fazer, esse erro não será democraticamente erradicado. A
> >>>> prova
> >>>> específica tem a função de perpetuá-lo.
> >>>>
> >>>>
> >>>> --
> >>>> Carlos Palombini
> >>>> cpalombini em gmail.com
> >>>>
> >>>> ________________________________________________
> >>>> Lista de discussões ANPPOM
> >>>> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
> >>>> ________________________________________________
> >>>>
> >>>>
> >>>>   _____________________
> >>>> Ajude a manter minha caixa postal limpa, não inclua meu endereço de
> >>>> email
> >>>> em listas de qualquer espécie. Obrigado. Fernando.
> >>>> Please, help me to keep my inbox clean. Do not include my email
> address
> >>>> in any sort of of list. Thank You. Fernando.
> >>>>
> >>>>
> >>>>
> >>>
> >>>
> >>> --
> >>> Carlos Palombini
> >>> cpalombini em gmail.com
> >>>
> >>>
> >>> ________________________________________________
> >>> Lista de discussões ANPPOM
> >>> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
> >>> ________________________________________________
> >>>
> >>
> >>
> >> ________________________________________________
> >> Lista de discussões ANPPOM
> >> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
> >> ________________________________________________
> >>
> >
> >
> >
> > --
> > Carlos Palombini
> > cpalombini em gmail.com
> >
>
>
>
>
> --
> Carlos Palombini
> cpalombini em gmail.com
>
>
>
>
> -----Anexo incorporado-----
>
> ________________________________________________
> Lista de discussões ANPPOM
> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
> ________________________________________________
>
>
>
>
> -----Inline Attachment Follows-----
>
> ________________________________________________
> Lista de discussões ANPPOM
> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
> ________________________________________________
>
>
>
> -----Anexo incorporado-----
>
> ________________________________________________
> Lista de discussões ANPPOM
> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
> ________________________________________________
>
>
>
>
> -----Inline Attachment Follows-----
>
> ________________________________________________
> Lista de discussões ANPPOM
> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
> ________________________________________________
>
>
>
> ________________________________________________
> Lista de discussões ANPPOM
> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
> ________________________________________________
>



-- 
Carlos Palombini
cpalombini em gmail.com
-------------- Próxima Parte ----------
Um anexo em HTML foi limpo...
URL: <http://www.listas.unicamp.br/pipermail/anppom-l/attachments/20101125/cb35c438/attachment.html>


Mais detalhes sobre a lista de discussão Anppom-L