[ANPPOM-L] STF e OMB - uma questão ridícula

luciano cesar lucianocesar78 em yahoo.com.br
Sex Ago 12 22:22:21 BRT 2011


Concordo, música ruim não mata e não pode ser decidida através do veredicto de uma "ordem". Jorge Antunes é um reacionário, por melhor que ele fale em nome do socialismo.

Luciano Cesar Morais

--- Em qui, 11/8/11, André Fadel <andrefadel em gmail.com> escreveu:

De: André Fadel <andrefadel em gmail.com>
Assunto: [ANPPOM-L] STF e OMB - uma questão ridícula
Para: 
Cc: "ANPPOM" <anppom-l em iar.unicamp.br>
Data: Quinta-feira, 11 de Agosto de 2011, 12:43

 
  

Uma questão ridícula
 
Um dos grandes males dos dias hoje é haver tantas pessoas que levam música a sério. E olha que muitos me tomam como “músico sério”. Isto tudo é uma grande bobagem. Independe de eu fazer da música o meu ganha-pão ou não. Tem a ver com o entendimento do que música representa para as sociedades. Ou para cada um de nós. 

Se alguém acha que a má execução de música oferece risco, desculpe-me, mas então somos baratas sobrevivendo à hecatombe nuclear midiática, com bombas de hidrogênio que já explodiram do calibre de “sertanejo universitário”, “leidi gagas”, “bítous” e outras coisitas más.

(Parêntese: adoro Scriabin. Adoro Schoenberg. Adoro rock progressivo, Bach, Messiaen. Adoro algumas coisas da MPB. Até mesmo do paupérrimo Beatles eu escuto uma coisa ou outra. E daí? Daí que eu não me importo com os gostos de mais ninguém, e muitos deveriam fazer o mesmo.)

Não me importo se no barzinho ali embaixo estão tocando Iutchú, exceto se o volume estiver me incomodando. Não me importo se a articulação que o cravista faz numa Partita de Bach é “errada”, “historicamente acurada” ou virada do avesso. Se me agradou, tentarei expor meus argumentos para conseguir entender aquilo que me agradou - e farei o mesmo se não me agradou. É claro que para isso a gente precisa de estudo, leitura, conhecimento e vivência. Mas só farei esse esforço se eu estiver realmente a fim, porque música não é objeto científico. Música é para se curtir. 

Eu me importo com a dimensão ridícula que algumas discussões podem alcançar.
Mesmo quanto àquela música que foi feita para NÃO se curtir, o fato de ela ter sido criada já significa que alguém se divertiu com a ideia. Música está relacionada com o prazer, seja por criá-la, tocá-la, ouvi-la e, para aqueles que estiverem a fim, analisá-la e dissecá-la como se fosse um sapo (com a diferença que, dissecando um sapo a gente aprende biologia e a fazer ciência de verdade. Análise musical nunca vai levar à descoberta de uma vacina). 

A pergunta que todos deveriam se fazer é: o que a música representa na minha vida? Por que ela é importante pra mim, especificamente?

Há uma grande diferença em refletir sobre isto e querer imputar uma importância que na maioria das vezes inexiste para o vizinho. Eu e 99,9% das pessoas não estamos nem aí para as análises subjetivas de obras desconhecidas de compostores obscuros e que, muitas vezes, são horrorosas (para mim!). Eu sei também que quase ninguém se importa com a obra de Scriabin, mas eu me importo, e não estou nem aí se outros nem ouviram falar. Vou continuar tocando, estudando e divulgando sua obra com o mesmo prazer, mesmo que haja uma hecatombe de verdade e eu fique sozinho no mundo.

Isto faz de nós uma tribo com infinitas confrarias e precisamos saber conviver uns com os outros. Não significa que devemos ficar metendo o dedo no nariz alheio.

Quando eu era adolescente, eu me perguntava como é que meus amigos não conheciam Bach? Como é que eles não se emocionavam com uma sonata de Beethoven? Eu ainda acreditava que a música era uma linguagem universal – o que também é uma enorme bobagem.

Mas que diabo isto tudo tem a ver com a decisão do STF? 
Ora, os Ministros simplesmente conseguiram discernir a natureza da música com a natureza de outros campos do conhecimento. Querer policiar a execução profissional de algo que se faz para se curtir é a mesma coisa que querer criar uma Ordem dos Aeromodelistas, ou uma Ordem dos Passeadores de Cachorros. Criar “delegacias” para tutelar se um violonista de bar está “autorizado” a exercer sua profissão ali é o cúmulo do ridículo.

O mesmo não acontece com o Conselho de Medicina. Experimente levar sua mulher a um obstetra incompetente para ver o que acontece.

Músicos, não se levem tanto a sério, por favor.
 
André Fadel
Pianista e compositor
 
 
 
 
 
 
 


 
2011/8/8 SBME . <sbme em sbme.com.br>

Colegas:

Vejo que existe um intenso movimento de colegas em difundir a notícia sobre a decisão do STF.

Mas não vejo qualquer iniciativa em incentivar a discussão sobre a questão.

Vejo com muita preocupação os argumentos usados pelo ministros para decidir o que decidiram.
Refiro-me aos argumentos, e não à decisão.


Ellen Gracie alegou que  o registro em entidades só pode ser exigido quando o exercício da profissão sem controle representa um "risco social", "como no caso de médicos, engenheiros ou advogados".

Isso é verdade?
O mau exercício da profissão de músico intérprete não representa risco social?
Imagine um grupo social ouvindo a execução de uma obra contemporânea, nada conhecida, ou conhecida apenas de outro grupo social, mal tocada, cheia de desafinações, erros, saltos, etc. Nessas circunstâncias o público, sem perceber se estava tudo certo ou errado, recebe aquela execução como se ela representasse a realização fiel da partitura.

Nesse caso, o mau músico intérprete, realizador da performance cheia de erros, não estaria provocando consequências desastrosas para a sociedade?

O ministro Carlos Ayres Britto disse que não seria possível exigir esse registro pois a música é uma arte.

O ministro Ricardo Lewandowski, por sua vez, chegou a dizer que seria o mesmo que exigir que os poetas fossem vinculados a uma Ordem Nacional da Poesia para que pudessem escrever.

Mas, dentre as artes, a Música é a única que se utiliza do Triângulo da Comunicação para chegar ao público.

O pintor, o poeta, o cineasta, o escultor, colocam suas criações artísticas diretamente no suporte, e o público tem acesso à fruição da arte contemplando o suporte diretamente.
A música instrumental não vive esse processo simples. O compositor coloca sua criação num suporte, a partitura, plena de signos representativos, que deverão ser decodificados por músicos instrumentistas. Essa decodificação exige profundo conhecimento técnico.


À salutar discussão!!!
Abraços,
Jorge Antunes






Em 1 de agosto de 2011 19:49, Rogerio Budasz <rogeriobudasz em yahoo.com> escreveu:








Matéria da Folha de hoje <http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/952808-musico-nao-precisa-de-registro-para-exercer-profissao-decide-stf.shtml>

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Músico não precisa de registro para exercer profissão, decide STF

FELIPE SELIGMAN
DE BRASÍLIA

Por unanimidade, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu nesta segunda-feira (1º) que o músico não precisa ter registro em entidade de classe para exercer sua profissão.


Os ministros julgaram o caso de um músico de Santa Catarina que foi à Justiça ao alegar que, em seu Estado, ele só poderia atuar profissionalmente se fosse vinculado à Ordem de Músicos do Brasil.

Em diversos locais do Brasil, músicos são obrigados a apresentar documento de músico profissional -- a "carteirinha de músico" -- para poder se apresentar.


A decisão vale apenas para o caso específico, mas ficou decidido que os ministros poderão decidir sozinhos pedidos semelhantes que chegarem ao tribunal. Ou seja, se o registro continuar a ser cobrado, será revertido quando chegar no tribunal.


Para a ministra Ellen Gracie, relatora da ação, o registro em entidades só pode ser exigido quando o exercício da profissão sem controle representa um "risco social", "como no caso de médicos, engenheiros ou advogados", afirmou.


O colega Carlos Ayres Britto disse que não seria possível exigir esse registro pois a música é uma arte. Ricardo Lewandowski, por sua vez, chegou a dizer que seria o mesmo que exigir que os poetas fossem vinculados a uma Ordem Nacional da Poesia para que pudessem escrever.


Já o ministro Gilmar Mendes lembrou da decisão do próprio tribunal que julgou inconstitucional a necessidade de diploma para os jornalistas, por entender que tal exigência feria o princípio da liberdade de expressão.


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