[ANPPOM-L] STF e OMB

Rogerio Budasz rogeriobudasz em yahoo.com
Sáb Ago 13 19:29:48 BRT 2011


Caro Maestro Jorge Antunes,
Longe de mim querer afastá-lo do tema inicial. Minha preocupação ainda é quanto a quem vai nos avaliar e em que base. Aliás, pela mesma razão não engulo o famigerado Qualis dos livros, porque logo virá um Qualis das composições musicais, e aí salve-se quem puder.Mas para ficar só na argumentação da sua última mensagem, se Guimarães Rosa e Mário de Andrade tivessem seguido os ditames da Academia, coitada da literatura brasileira. E existem exemplos às centenas de milhares pelo mundo afora que para ser um bom músico não é necessária graduação ou pós-graduação. Se tivemos que fazer graduação e pós-graduação para sermos bons músicos esse não é de maneira alguma o único caminho possível. Talvez seja o único caminho para um determinado tipo de música e um determinado tipo de repertório, ao qual, não por coincidência, chamamos "acadêmico". Mesmo assim, é possível que esse caminho, que não existia antes da
 Revolução Francesa, deixe de ser viável no futuro. Nos milhares de anos de história da civilização o episódio da música de concerto e da instituição do conservatório talvez não venha a ser mais que isso, um episódio que durou uns três ou quatro séculos... Daí não será o meu grito de "eu sou relevante!", ou "o que eu faço é relevante!" que vai mudar as coisas. Mas não sou tão pessimista a respeito, haja visto que mesmo nas sociedades em que impera a lei do mercado, como o senhor cita, a música acadêmica vai indo bem e não será o Brasil o primeiro país do ocidente a extinguir o ensino superior de música.
abraços,Rogério


--- On Sat, 8/13/11, SBME . <sbme em sbme.com.br> wrote:

From: SBME . <sbme em sbme.com.br>
Subject: Re: [ANPPOM-L] STF e OMB
To: "Rogerio Budasz" <rogeriobudasz em yahoo.com>
Cc: "ANPPOM" <anppom-l em iar.unicamp.br>
Date: Saturday, August 13, 2011, 1:23 PM

Olá, caro colega Rogerio:

"Não se revoltaram as vanguardas do passado contra critérios rançosos de 
competência artística? Quem estabelece os critérios para a avaliação da 
competência artística, a academia ou o artista individual? Não estaremos
 criando um monstro que vai nos morder daqui a pouco?"

Evidentemente é a academia que deve estabelecer os critérios para a avaliação da competência. Isso não pode ser feito por algum artista individual ou algum grupo escolhido por sufrágio em pleito político.

Sua indagação faz-me voltar àquela observação de que pouco se sabe da Ordem dos Músicos do Brasil no que concerne sua criação, a motivação que levou José Siqueira à luta para sua criação, e ao próprio texto da lei que a criou.

O artigo 28 da Lei Nº 3.857, de 22 de dezembro de 1960 em suas alíneas a, b, c, d, e, e f estebele justamente isso: que os egressos da Academia, dos Conservatórios, etc etc são admitidos e recebem suas habilitações automaticamente sem burocracias ou testes.


Mas, meu caro amigo Rogério, você está me envolvendo e conseguindo fazer com que eu me afaste de meu tema inicial. Você está me levando a opinar sobre a OMB.

Não me sinto ainda suficientemente informado para opinar sobre a decisão do STF. A questão que me indignou não foi a decisão do STF. O que me indignou foi o conjunto de argumentos encontrados pelos Ministros para justificar a decisão. Entre os argumentos, aquele que dizia: a não regulamentação da profissão de músico não causa danos sociais.

Afirmações menos drásticas, ideologias e cientificismos menos radicais, já fazem com que a área da Música seja pouco prestigiada e até menosprezada dentro das Universidades. As afirmações dos Ministros do STF, se levadas ao pé da letra e desenvolvidas, servirão de munição para o tiro de misericórdia no ensino superior da Música. Esses pensamentos têm resultado em situações preocupantes, junto à própria demanda da sociedade. Na UnB, por exemplo, vivemos a seguinte situação: é cruel a luta por vagas, no vestibular, em todas as áreas, menos na Música, onde muitas vezes as vagas não são preenchidas por causa da falta de candidatos. Creio que a comunidade externa já se convence de que para ser profissional de qualquer área é preciso fazer a graduação e a pós-graduação, mas não para ser músico.

Abraço,
Jorge Antunes





Em 13 de agosto de 2011 13:12, Rogerio Budasz <rogeriobudasz em yahoo.com> escreveu:

Maestro,Entendo a sua preocupação e solidarizo-me com a sua angústia, mas me parece que o senhor está falando de duas coisas distintas. 
Uma coisa é a defesa do músico perante o empregador e facilitando o seu acesso à seguridade social, coisas que o Sindicato deveria fazer.Mas não acredito que a OMB deva ter algum papel em regulamentar a arte. Volto a tocar no mesmo ponto: vamos agora entregar a um Zhdanov ou Goebbels tupiniquim a fiscalização da nossa competência artística? O senhor se submeteria a ter um burocrata da OMB avaliando a "competência técnico-musical" de sua obra? 

Não se revoltaram as vanguardas do passado contra critérios rançosos de competência artística? Quem estabelece os critérios para a avaliação da competência artística, a academia ou o artista individual? Não estaremos
 criando um monstro que vai nos morder daqui a pouco?Ou, voltando ao assunto anterior, será que a sua preocupação nesse ponto não é apenas com os intérpretes e operadores de som? Mais ou menos como a célebre queixa de Stravinsky sobre intérpretes que "interpretavam" demais? Mesmo assim, não consta que ele tivesse pensado em delegar a algum burocrata que fiscalizasse isso.

abraçoRogério

--- On Sat, 8/13/11, SBME . <sbme em sbme.com.br> wrote:

O que defendo não tem nada a ver com jdanovismo, stalinismo, dirigismo estético. Tem a ver somente com competência artística, competência técnico-musical, ou seja, com tudo aquilo que lutamos construir em nosso trabalho nas Universidades.



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