[ANPPOM-L] STF e OMB - uma questão ridícula

Alexandre Torres Porres porres em gmail.com
Qua Ago 17 09:56:07 BRT 2011


André,
Parabéns pelo manifesto.

De repente atuar no meio erudito e popular ao mesmo tempo ajuda a ter outras
perspectivas. Senti falta de você comentar da sua banda de rock (: da qual
meu irmão faz parte aliás :)

Sou novo na lista, foi uma surpresa ler isso aqui. Mas infelizmente
seguiu-se muita verborragia e discussão que não aguento mais. São bemvindas
colocações de pessoas que eu já conheço, admiro e esperava algum
pronunciamento, como Fenerich e Palombini. E aqui vai um pouco dos meus dois
centavos...

Enfim, se um dia conseguirem se entender enquanto essa grande família de
músicos, e organizarem um sindicato que funcione bem mesmo, ótimo,
maravilha. Só que receio ser muito pessimista nesse sentido.

Na falta de um consenso, de tantos gregos e troianos, o que eu vejo é sempre
uma briga de espaço que cria novas segmentações nessa nossa querida família
brasileira. Cada hora um novo pequeno grupo, uma máfia, um território, e
cada qual querendo puxar a brasa à sua sardinha.

Sei que isso é uma condição humana meio inevitável, sempre acontece em certo
grau seja onde for no tempo/espaço e ocasião. Mas a impressão que eu tenho é
que, comparativamente, lá no estrangeiro, existe menos ranço, mais respeito
entre as inúmeras possibilidades de manifestação artística, sem essa
preocupação em proteger a instituição "música".

Será porque há simplesmente mais espaço, daí não precisa tanto dessa guerra
territorial? Será que temos uma cultura de país pobre ainda disputando osso
roído?

Eu não sei...

Sei que, no Brasil, eu e um grupo de amigos encontramos mais liberdade em um
espaço que é fora da música. Como o Festival Internacional de Linguagem
Eletrônica, ou Live Cinema (cadê a música no título desses eventos?). Em
Curitiba me lembro bem que um concerto de música contemporânea do nosso
grupo lotou uma noite do festival de TEATRO, enquanto na oficina de música
de Curitiba foi muito fraco...

Pois bem, espero só que um dia nosso meio musical seja menos reacionário, e
que haja espaço para todas as manifestações possíveis de arte e música,
assim como pesquisa na universidade. Que não se façam vistas grossas a novos
grupos que apareçam, como se fosse uma ameaça a uma verdade universal, e que
se possa haver um simples respeito entre cada macaco no seu galho. O
pensamento por trás do texto do André Fadel possibilita isso.

Porres



Em 11 de agosto de 2011 12:43, André Fadel <andrefadel em gmail.com> escreveu:

>
>
>
> *Uma questão ridícula*
>
>
>
> Um dos grandes males dos dias hoje é haver tantas pessoas que levam música
> a sério. E olha que muitos me tomam como “músico sério”. Isto tudo é uma
> grande bobagem. Independe de eu fazer da música o meu ganha-pão ou não. Tem
> a ver com o entendimento do que música representa para as sociedades. Ou
> para cada um de nós.
>
> Se alguém acha que a má execução de música oferece risco, desculpe-me, mas
> então somos baratas sobrevivendo à hecatombe nuclear midiática, com bombas
> de hidrogênio que já explodiram do calibre de “sertanejo universitário”,
> “leidi gagas”, “bítous” e outras *coisitas más*.
>
> (Parêntese: adoro Scriabin. Adoro Schoenberg. Adoro rock progressivo, Bach,
> Messiaen. Adoro algumas coisas da MPB. Até mesmo do paupérrimo Beatles eu
> escuto uma coisa ou outra. E daí? Daí que eu não me importo com os gostos de
> mais ninguém, e muitos deveriam fazer o mesmo.)
>
> Não me importo se no barzinho ali embaixo estão tocando Iutchú, exceto se o
> volume estiver me incomodando. Não me importo se a articulação que o
> cravista faz numa Partita de Bach é “errada”, “historicamente acurada” ou
> virada do avesso. Se me agradou, tentarei expor meus argumentos para
> conseguir entender aquilo que me agradou - e farei o mesmo se não me
> agradou. É claro que para isso a gente precisa de estudo, leitura,
> conhecimento e vivência. Mas só farei esse esforço se eu *estiver
> realmente a fim*, porque música não é objeto científico. Música é para se
> curtir.
>
> Eu me importo com a dimensão ridícula que algumas discussões podem
> alcançar.
>
> Mesmo quanto àquela música que foi feita para NÃO se curtir, o fato de ela
> ter sido criada já significa que alguém se divertiu com a ideia. Música está
> relacionada com o *prazer*, seja por criá-la, tocá-la, ouvi-la e, para
> aqueles que *estiverem a fim*, analisá-la e dissecá-la como se fosse um
> sapo (com a diferença que, dissecando um sapo a gente aprende biologia e a
> fazer ciência de verdade. Análise musical nunca vai levar à descoberta de
> uma vacina).
>
> A pergunta que todos deveriam se fazer é: *o que a música representa na
> minha vida? Por que ela é importante pra mim, especificamente?*
>
> Há uma grande diferença em refletir sobre isto e querer imputar uma
> importância que na maioria das vezes inexiste para o vizinho. Eu e 99,9% das
> pessoas não estamos nem aí para as análises subjetivas de obras
> desconhecidas de compostores obscuros e que, muitas vezes, são horrorosas
> (para mim!). Eu sei também que quase ninguém se importa com a obra de
> Scriabin, mas eu me importo, e não estou nem aí se outros nem ouviram falar.
> Vou continuar tocando, estudando e divulgando sua obra com o mesmo *prazer
> *, mesmo que haja uma hecatombe de verdade e eu fique sozinho no mundo.
>
> Isto faz de nós uma tribo com infinitas confrarias e precisamos saber
> conviver uns com os outros. Não significa que devemos ficar metendo o dedo
> no nariz alheio.
>
> Quando eu era adolescente, eu me perguntava como é que meus amigos não
> conheciam Bach? Como é que eles não se emocionavam com uma sonata de
> Beethoven? Eu ainda acreditava que a música era uma linguagem universal – o
> que também é uma enorme bobagem.
>
> *Mas que diabo isto tudo tem a ver com a decisão do STF*?
>
> Ora, os Ministros simplesmente conseguiram discernir a natureza da música
> com a natureza de outros campos do conhecimento. Querer policiar a execução
> profissional de algo que se faz para se curtir é a mesma coisa que querer
> criar uma Ordem dos Aeromodelistas, ou uma Ordem dos Passeadores de
> Cachorros. Criar “delegacias” para tutelar se um violonista de bar está
> “autorizado” a exercer sua profissão ali é o cúmulo do ridículo.
>
> O mesmo não acontece com o Conselho de Medicina. Experimente levar sua
> mulher a um obstetra incompetente para ver o que acontece.
>
> Músicos, não se levem tanto a sério, por favor.
>
>
>
> André Fadel
>
> Pianista e compositor
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
> 2011/8/8 SBME . <sbme em sbme.com.br>
>
>> Colegas:
>>
>> Vejo que existe um intenso movimento de colegas em difundir a notícia
>> sobre a decisão do STF.
>> Mas não vejo qualquer iniciativa em incentivar a discussão sobre a
>> questão.
>>
>> Vejo com muita preocupação os argumentos usados pelo ministros para
>> decidir o que decidiram.
>> Refiro-me aos argumentos, e não à decisão.
>>
>> Ellen Gracie alegou que  o registro em entidades só pode ser exigido
>> quando o exercício da profissão sem controle representa um "risco social",
>> "como no caso de médicos, engenheiros ou advogados".
>> Isso é verdade?
>> O mau exercício da profissão de músico intérprete não representa risco
>> social?
>> Imagine um grupo social ouvindo a execução de uma obra contemporânea, nada
>> conhecida, ou conhecida apenas de outro grupo social, mal tocada, cheia de
>> desafinações, erros, saltos, etc. Nessas circunstâncias o público, sem
>> perceber se estava tudo certo ou errado, recebe aquela execução como se ela
>> representasse a realização fiel da partitura.
>> Nesse caso, o mau músico intérprete, realizador da performance cheia de
>> erros, não estaria provocando consequências desastrosas para a sociedade?
>>
>> O ministro Carlos Ayres Britto disse que não seria possível exigir esse
>> registro pois a música é uma arte.
>> O ministro Ricardo Lewandowski, por sua vez, chegou a dizer que seria o
>> mesmo que exigir que os poetas fossem vinculados a uma Ordem Nacional da
>> Poesia para que pudessem escrever.
>>
>> Mas, dentre as artes, a Música é a única que se utiliza do Triângulo da
>> Comunicação para chegar ao público.
>> O pintor, o poeta, o cineasta, o escultor, colocam suas criações
>> artísticas diretamente no suporte, e o público tem acesso à fruição da arte
>> contemplando o suporte diretamente.
>> A música instrumental não vive esse processo simples. O compositor coloca
>> sua criação num suporte, a partitura, plena de signos representativos, que
>> deverão ser decodificados por músicos instrumentistas. Essa decodificação
>> exige profundo conhecimento técnico.
>>
>> À salutar discussão!!!
>> Abraços,
>> Jorge Antunes
>>
>>
>>
>>
>>
>> Em 1 de agosto de 2011 19:49, Rogerio Budasz <rogeriobudasz em yahoo.com>escreveu:
>>
>>>    Matéria da Folha de hoje <
>>> http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/952808-musico-nao-precisa-de-registro-para-exercer-profissao-decide-stf.shtml
>>> >
>>> ==================================================
>>>
>>> Músico não precisa de registro para exercer profissão, decide STF
>>>
>>> FELIPE SELIGMAN
>>> DE BRASÍLIA
>>>
>>> Por unanimidade, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu nesta
>>> segunda-feira (1º) que o músico não precisa ter registro em entidade de
>>> classe para exercer sua profissão.
>>>
>>> Os ministros julgaram o caso de um músico de Santa Catarina que foi à
>>> Justiça ao alegar que, em seu Estado, ele só poderia atuar profissionalmente
>>> se fosse vinculado à Ordem de Músicos do Brasil.
>>>
>>> Em diversos locais do Brasil, músicos são obrigados a apresentar
>>> documento de músico profissional -- a "carteirinha de músico" -- para poder
>>> se apresentar.
>>>
>>> A decisão vale apenas para o caso específico, mas ficou decidido que os
>>> ministros poderão decidir sozinhos pedidos semelhantes que chegarem ao
>>> tribunal. Ou seja, se o registro continuar a ser cobrado, será revertido
>>> quando chegar no tribunal.
>>>
>>> Para a ministra Ellen Gracie, relatora da ação, o registro em entidades
>>> só pode ser exigido quando o exercício da profissão sem controle representa
>>> um "risco social", "como no caso de médicos, engenheiros ou advogados",
>>> afirmou.
>>>
>>> O colega Carlos Ayres Britto disse que não seria possível exigir esse
>>> registro pois a música é uma arte. Ricardo Lewandowski, por sua vez, chegou
>>> a dizer que seria o mesmo que exigir que os poetas fossem vinculados a uma
>>> Ordem Nacional da Poesia para que pudessem escrever.
>>>
>>> Já o ministro Gilmar Mendes lembrou da decisão do próprio tribunal que
>>> julgou inconstitucional a necessidade de diploma para os jornalistas, por
>>> entender que tal exigência feria o princípio da liberdade de expressão.
>>>
>>> ________________________________________________
>>> Lista de discussões ANPPOM
>>> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
>>> ________________________________________________
>>>
>>
>>
>> ________________________________________________
>> Lista de discussões ANPPOM
>> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
>> ________________________________________________
>>
>
>
> ________________________________________________
> Lista de discussões ANPPOM
> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
> ________________________________________________
>
-------------- Próxima Parte ----------
Um anexo em HTML foi limpo...
URL: <http://www.listas.unicamp.br/pipermail/anppom-l/attachments/20110817/f69a388b/attachment.html>


Mais detalhes sobre a lista de discussão Anppom-L