[ANPPOM-L] A luta da OSB não é Trabalhista, apenas

Leonardo Fuks cyclophonica em yahoo.com
Sex Mar 11 11:57:03 BRT 2011


Colegas da ANPPOM, permitam-me veicular esta carta, cujo teor considero 
relacionado a todas as instâncias musicais no país. 

       A luta da OSB não é Trabalhista, apenas


As questões suscitadas pelo atual "case" da OSB não se restringem a ela mesma, 
nem a uma causa trabalhista coletiva.
De fato, os Sindicatos dos Músicos, do Brasil e mesmo de outros países, estão 
plenamente engajados nesta luta desde o primeiro momento, apoiando a comissão de 
músicos da OSB.
Temos visto uma enorme comunidade de músicos de alto nível, em todo o mundo e em 
diversas línguas, se posicionarem contra este processo de "avaliação de 
desempenho" , como ironicamente batizaram esta re-audição de músicos efetivos. 
Este repúdio generalizado não tem raízes simplesmente humanísticas. Todos 
afirmam que este sistema não é aceitável, não é usado em qualquer lugar e não 
funciona.
Além disso, os resultados de mídia e marketing da OSB, sempre tão zelosa neste 
aspecto, serão provavelmente desastrosos. Não é assim que se promove a cultura, 
a educação, a sensibilidade, a organização do trabalho humano, a criatividade ou 
a paz.
Entretanto, para quem vê a questão de fora, pode parecer ser uma briga entre 
músicos, o que não é absolutamente o caso.
Plenos de apoio interno e de solidariedade, ainda que velada, de amplos setores 
sociais, esta luta aguarda novos aliados.
Chegou a hora dos compositores apoiarem os seus instrumentistas, ainda que lhes 
custe um eventual boicote temporário por parte de um regente e de um diretor 
artístico, ambos coincidentes na mesma pessoa.
Chegou a hora de regentes de todo o país se posicionarem, não só um ou outro, 
que até o momento poderiam ser indevidamente tachados de "rivais políticos" da 
atual direção da OSB.
Nenhum dos patrocinadores se manifestou publicamente, mas certamente estão 
contabilizando os prós (quais serão?) e os contras de endossarem um processo tão 
polêmico quanto agressivo e impopular.
É apropriada a hora para que educadores das artes, aqueles todos que apoiam o 
ensino de música nas escolas, se posicionem sobre o assunto.
Os estudantes de música ainda não se posicionaram, seria de grande valor 
ouvirmos suas expectativas e opiniões.
Devem dar seu parecer os músicos ditos "populares", que empregam nossos músicos 
de orquestra, e mesmo orquestras inteiras, em seus shows e gravações.
O Ministério da Cultura do Brasil, que viabiliza grande parte dos patrocínios 
através das leis de incentivo, com renúncias fiscais importantes, deve estar 
nesta discussão, pois ajudaria na interlocução com as partes, para além de 
questões trabalhistas e de marketing empresarial.
Os musicólogos, críticos e membros das academias de música, sobretudo a ABM - 
fundada e patrocinada pela herança material de Villa-Lobos, serão muito 
benvindos com suas opiniões, sugestões e decisões.
Os assinantes da OSB, que devem ser profundamente respeitados, aparentemente 
ainda não sabem o que fazer diante desta programação que configura falsidade 
ideológica e propaganda enganosa, ao utilizarem um grupo de valiosos estudantes 
como "tapume sonoro" para as pretendidas obras de re-engenharia na orquestra.
O prefeito do RJ e sua Secretaria de Cultura , que gastam 6 milhões de sua verba 
anual já tão limitada, ainda não se posicionaram.
Músicos instrumentistas de todo o mundo falam em voz clara e alta. O resto AINDA 
é silêncio.
Que toda esta questão extrapole a esfera aparentemente trabalhista, das causas 
coletivas líquidas e certas para os Músicos, e se torne assunto visível sobre 
cultura, educação e sobre promover e fazer cultura numa sociedade moderna e 
igualitária.
Ou tudo isto não terá passado do ruído caótico orquestral que antecede mais um 
concerto de um regente poderoso, monárquico e autoritário.
 
Leonardo Fuks, PhD
Docente da Escola de Música da UFRJ


      
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