[ANPPOM-Lista] situação da composição e d a musicologia nos (novos) cursos de música

Alexandre Torres Porres porres em gmail.com
Qua Nov 2 00:24:50 BRST 2011


Correto Sílvio, obrigado pelo feedback. Veio só pra mim tua mensagem, mas
acredito que tenha sido um equívoco, e como não tem nada pessoal, vou
publicar nas listas onde você postou e eu respondi.



> Em 1 de novembro de 2011 00:15, silvioferrazmello <
> silvioferrazmello em uol.com.br> escreveu:
>
>  oi porres,
>>
>> vc está certo sem dúvida...mas tem detalhes que precisamos pensar com
>> calma.
>> nossa área é nova perto das outras, ainda temos um bom número de bolsas e
>> um menor número de candidatos do que em engenharia (é mais fácil um
>> engenheiro desenvolver seu projeto na área de música para garantir uma
>> bolsa do que na área de engenharia)...existem relações que podem surtir em
>> pequenas relações perversas e que farão de nossa área um lugar de emprego e
>> bolsas mais fáceis para aquele q se formou em uma fac. de engenharia cujo
>> concurso para o mestrado está de 30 candidatos para uma vaga...daí o
>> neguinho foge e vem pra música fazer seu mestrado em engenharia da música
>> (uma vaga por candidato)...isto tende a certas perversões...não?
>>
>> abs
>> silvio
>>
>
Então, acho que sim, "perversões" podem existir em qualquer sistema, mas
que a burrocracia acaba sendo sempre uma ferramenta ineficaz. Como prova
temos um país bem "pervertido" e extremamente burrocrata que, mesmo assim,
não consegue combater isso.

No mais, dentro do crivo seletivo, não deve prevalecer uma burrocracia,
mesmo porque temos um extenso processo que termina numa banca. E pergunto
se o sujeito de fato não é alguém que queira desenvolver pesquisa e atuar
em música sem "perversões"?

Eu tenho até um exemplo disso. Troquei ideia com o Marcelo Wanderley quando
fiz meu estágio-sanduíche lá no Canadá. Ele tem formação de engenheiro, fez
um doutorado no IRCAM, e hoje dá aula no departamento de Música da
Universidade de McGill em Montreal. Ele desde que se formou engenheiro
tinha essa intenção de atuar na pesquisa em música e tecnologia, e hoje é
um dos maiores autores na área de interfaces para música.

Pois ele me informou do interesse que tinha em trabalhar no Brasil, mas
que, infelizmente, não poderia, por ter graduação em engenharia, e até
poderia vir atuar em um departamento de engenharia em uma Universidade
brasileira, mas que isso provavelmente lhe tiraria a oportunidade de
trabalhar com música...

Enfim, isso dá voltas e chega a me tocar também. Não tenho graduação em
música e passei pelo crivo da Unicamp. Com provas de análise/harmonia,
história, apresentação de portfolio de peças, apresentação do projeto,
execução em um instrumento, fora a entrevista com a banca. Para entrar no
doutorado na USP tive que repetir uma outra bateria de provas mesmo assim.

Fato é que mesmo no nosso sistema em que supostamente se entende e busca a
ideia que a formação de uma pós é de um nível superior e pra quem tem um
conhecimento do nível de uma graduação na área, ainda assim se pede muito
por aí em editais que o candidato possua graduação e mestrado na área, sem
levar em conta a prevalência de uma titulação maior na área (como um
mestrado, doutorado, pós doutorado, ou até o fato do sujeito dar aula em um
departamento de música em outra instituição e ainda livre docência...)

É como uma inércia burrocrática que não aventa a possibilidade disso não
ser tão engessado. Quase se parte de um paradigma, um pressuposto que, uma
vez que se entrou em uma via, é impossível sair dela, ou permitir alguém de
fora entrar. Todavia, não é esse o caso, pois é permitido!

Enfim, de algo aí conceitualmente errado, e eu acho que precisamos revisar
e discutir. Isso traz diversas implicações também na situação dos cursos de
composição e musicologia, só que não vou trazer tudo agora para não perder
o foco.

E assim trago para a pauta em discussão essas duas coisas:

- Podemos considerar que uma titulação maior na área prevaleça?

Adiante; - Queremos arejar a área de pesquisa em música com formações
realmente híbridas?

Eu sou a favor de respostas positivas para as duas questões, que podem ter
desdobramentos distintos ou não.
Obrigado pela atenção, e espero que os interessados opinem

Alexandre Torres Porres


>
>> On
>>  Oct 31, 2011, at 11:49 PM, Alexandre Torres Porres wrote:
>>
>> Aliás Sílvio, conheço alguns que ocupam cargos de prof de composição que
>> tem graduação em Geologia e Engenharia, ou em música mas não em composição.
>> Afinal, não havia muito curso antigamente, e não eram muito bons, não que
>> hoje já seja ideal.
>>
>> Me pergunto até que ponto um diploma de composição é necessário se o
>> sujeito tem carreira de compositor, com peça tocada em uma bienal, ou peça
>> tocada em festival na Europa, e ainda tem mestrado ou doutorado na área de
>> música. Quando o sujeito compõe uma peça, ninguém olha pro diploma, olha
>> pra peça.
>>
>> Inclusive, se permitem que alguém com uma graduação em outra área faça
>> mestrado em composição, porque exigir concursos em que categoricamente
>> esteja especificado graduação, mestrado e doutorado na área de
>> composição? Na Unicamp, aliás, ainda se aplica uma prova seletiva que até
>> alguns graduados em música não passam. Porque exigir o diploma em música de
>> um sujeito que tem mestrado em um sistema desses?
>>
>> Fora que esse contexto também diz respeito à pesquisa em música. Queremos
>> mesmo somente músicos com formação de conservatório para fazer pesquisa em
>> musicologia?
>>
>> Um historiador não poderia fazer um mestrado em história da música e dar
>> aula de história da música na universidade? Ou queremos somente músicos de
>> conservatório na universidade? Eu creio que isso é um problema com reflexo
>> na situação da UFJF agora, e na atual situação da composição e d a
>> musicologia nos (novos) cursos de música"
>>
>> Eu realmente gostaria de ouvir a opinião dos colegas a respeito disso.
>>
>> Obrigado
>>
>>
>> Em 30 de outubro de 2011 11:32, silvioferrazmello <
>> silvioferrazmello em uol.com.br> escreveu:
>>
>>> pergunta:
>>> se em concursos para cargos em departamentos de música em universidade
>>> públicas exige-se que o diploma seja em engenharia ou produção, pq um aluno
>>> viria cursar composição já que estes postos em quase todas está preenchido?
>>> abs
>>> silvio
>>>
>>> On Oct 29, 2011, at 6:39 PM, jamannis em uol.com.br wrote:
>>>
>>> > Na unicamp tinhamos 10 vagas para composicao ate a licenciantura
>>> comecar.
>>> > Agora sao 5 vagas.
>>> > Mas a procura tb caiu, penso que deviddo ao fato de haver um
>>> descompasso entre o que se aprende e aquilo que de fato se operacionaliza
>>> no exercicio pratico profissional hoje em dia.
>>> >
>>> > Ha urgencia de um redesenho do curso de composicao, disciplinas a
>>> serem incluidas e outras a serem remodeladas e revistas.
>>> >
>>> > Tb o tipo de aula deve ser revisto. Se nossa pratica e essencialmente
>>> ao redor da heuristica eh preciso que as atividades praticadas em aula
>>> estejam dirigidas a esse objtivo. Ou seja, eh necessario rever a
>>> metodologia de ensino.
>>> >
>>> > Inventar metodologias em funcao das necessidades dos alunos seria o
>>> mais desejavel, mas eh tb o mais dificil.
>>> >
>>> > Abs
>>> >
>>> > Mannis
>>> >
>>> > --
>>> > José Augusto Mannis
>>> > +55 19 81163160
>>> > jamannis em uol.com.br
>>> >
>>> > -----Original Message-----
>>> > From: josé henrique padovani <zepadovani em gmail.com>
>>> > Sender: sonologia-l-bounces em listas.unicamp.br
>>> > Date: Sat, 29 Oct 2011 12:40:44
>>> > To: <anppom-l em iar.unicamp.br>; "Pesquisadores em Son ologia
>>> (Música)"<sonologia-l em listas.unicamp.br>
>>> > Reply-To: Pesquisadores em Sonologia (Música)
>>> > <sonologia-l em listas.unicamp.br>
>>> > Subject: [Sonologia-l] situação da composição e d
>>> > a musicologia nos (novos) cursos de música
>>> >
>>> > Olá a todos,
>>> >
>>> > Recebi algumas respostas ao e-mail original e estou encaminhando essa
>>> > resposta às listas e, privadamente, às pessoas responderam diretamente
>>> a
>>> > mim. Espero, no futuro, poder delinear melhor um panorama a partir do
>>> > que recebi (ou vier a receber). No momento ando consideravelmente
>>> > atarefado e, de toda maneira, minha intenção é mais aquela de estimular
>>> > um debate do que a de realizar um estudo.
>>> >
>>> > Em síntese:
>>> >
>>> > Cursos mais tradicionais (UFMG, UFBA, UFRJ, Unesp, etc.) possuem
>>> > graduação em composição, possuindo até 20 vagas p/ a área (Bahia). Me
>>> > parece, no entanto que, na maioria dos cursos, o preenchimento de vagas
>>> > fica no máximo em 10. Não estou certo de que seja assim em SP (se
>>> alguém
>>> > souber os números por favor diga). [SP é, evidentemente, um caso a
>>> parte
>>> > e conta com uma estrutura acadêmica singular, em grande parte devido à
>>> > sua situação econômica, às universidades estaduais, mas também, é
>>> claro,
>>> > devido à tradição da área e ao esforço pessoal de compositores do
>>> estado.]
>>> >
>>> > Já os cursos novos, em sua maioria, estão dedicados quase
>>> exclusivamente
>>> > à implantação da licenciatura, o que, a princípio, é compreensível e
>>> > justificável nesse momento histórico específico (tendo em vista a
>>> > necessidade de formar professores p/ a educação básica). Não me parece
>>> > justificável, entretanto, o fato de não se implantar novos cursos de
>>> > composição em um momento de criação de novos centros acadêmicos ligados
>>> > à música usando-se, para isso, o argumento da prioridade de se criar
>>> > cursos de licenciatura. Ao meu ver, esse é um antagonismo artificial e
>>> > prejudicial ao amadurecimento da área da música no país.
>>> >
>>> > Ao meu ver, a depreciação da composição (e da musicologia) certamente
>>> > causa outros efeitos que esse baixo número de ingressantes/formandos
>>> > nessas habilitações. Afeta, por exemplo, o próprio ambiente acadêmico
>>> > que formará os futuros licenciados em música do país. Se é
>>> inegavelmente
>>> > urgente criar as condições para que surjam novos professores de música,
>>> > devemos pensar que esses professores se formam em um habitat
>>> > universitário: e se não existirem modelos nesses ambientes que coloquem
>>> > a criação e a pesquisa musicológica como atividades/posturas/valores
>>> > importantes, penso que a própria formação desses professores (e de seus
>>> > futuros alunos) estará seriamente comprometida.
>>> >
>>> > Por fim, acredito que essa situação deveria ser ao menos discutida de
>>> > maneira menos reservada às salas de reuniões de departamentos, já que é
>>> > de interesse público.
>>> >
>>> > Abraços e obrigado a todos os que me escreveram pelo retorno,
>>> > (desculpem-me não responder individualmente a cada um)
>>> >
>>> > José Henrique
>>> >
>>> > --
>>> > http://zepadovani.info
>>> > _______________________________________________
>>> > sonologia-l mailing list
>>> > sonologia-l em listas.unicamp.br
>>> > https://www.listas.unicamp.br/mailman/listinfo/sonologia-l
>>> > ________________________________________________
>>> > Lista de discussões ANPPOM
>>> > http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
>>> > ________________________________________________
>>>
>>> ________________________________________________
>>> Lista de discussões ANPPOM
>>> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
>>> ________________________________________________
>>>
>>
>>
>>
>
-------------- Próxima Parte ----------
Um anexo em HTML foi limpo...
URL: <http://www.listas.unicamp.br/pipermail/anppom-l/attachments/20111102/8619bba9/attachment.html>


Mais detalhes sobre a lista de discussão Anppom-L