[ANPPOM-Lista] situação da composição e da musicologia nos (novos) cursos de música

Jorge Antunes antunes em unb.br
Qua Nov 2 20:22:26 BRST 2011


Oi, Alexandre:

Muito obrigado por seus relatos e esclarecimentos.
Ele nos dá uma luz mas, ao mesmo tempo, reforça a minha convicção sobre a
existência de grandes incógnitas.
A propósito, acabou recentemente o prazo legal para que as escolas
implementem os dispositivos legais.
Como, de acordo com a lei, os professores de Educação Musical não precisam
ter formação específica, seria muito bom se pudéssemos ter uma análise da
conjuntura agora (alô Magali): quais serão as formações predominantes dos
"educadores musicais" que estão ingressando nesse novo mercado de trabalho?
Outra coisa: você sabe quem é o orientador do Radicetti?
Abraço,
Jorge Antunes






Em 2 de novembro de 2011 14:57, Alexandre Negreiros <
alexandrenegreiros em yahoo.com.br> escreveu:

> Oi Jorge,
>
> Antes de tudo, creio que o Felipe Radicetti seja a pessoa gabaritado a
> prestar esclarecimentos detalhados quanto ao processo. Ele não só o
> vivenciou ativamente, assumindo pessoalmente e com ônus próprio a condução
> de diversas ações vitais para a conquista, como voltou a ele como
> pesquisador no mestrado, sistematizando os dados e efeitos dessa memorável
> passagem.
>
> A minha impressão, algumas vezes como espectador privilegiado, foi a de
> que nenhum desses envolvidos no esforço que você cita se arrogou a
> manifestar "oficialmente" a sua opção pessoal quanto ao "tipo" de educação
> musical a ser implementado, salvo em rodas informais e sempre com a
> distância humilde de neófitos em tão espinhoso assunto. Desde que se
> construiu a opção por esta bandeira, no interior daquele grupo, houve a
> consciência de que o tema era por demais complexo para que propostas nesse
> sentido restassem a cargo de não especialistas. Exatamente por isso, lá
> atrás a Magali Kleber, então já ativa militante na ABEM, foi trazida às
> discussões e ofereceu inúmeras orientações além de indicações de outros
> estudiosos, que foram chamados a ilustrar os debates técnicos com suas
> posições. Lembro das presenças da então presidente da ISME, a Liane
> Hentschke, do Sérgio Figueiredo, então presidente da ABEM, do Ricardo
> Breim, do João Guilherme Ripper, e outros.
>
> As presenças dos artistas que cita, por usufruírem de, vamos dizer
> assim, "expressão midiática", tinham consciência do papel estratégico de
> suas visibilidades na inserção e posicionamento desse tema na pauta dos
> legisladores. Estes chafurdam em meio a 500 outros assuntos, sempre
> prioritários e importantíssimos para cada base de pressão da sociedade
> brasileira. Não fosse por eles, é provável que nossa proposta ainda
> estivesse submersa em comissões atoladas, como tantas permanecem por
> décadas. O Ivan, a Cristina e a Fernanda, com quem pude conviver um pouco
> mais, certamente só se posicionaram como notáveis interessados, tal como eu
> e também outros tantos temos o direito de ser. Talvez a mídia tenha dado
> relevância ao que disseram, mas estou certo de que os próprios, assim como
> o Ministério da Educação e os condutores do processo, hoje, os percebem
> como curiosos, e nada mais.
>
> O que é de se chamar atenção é a incapacidade do somatório de
> especialistas de nossa classe em convergir, ou transigir em suas posições
> para que se alcance um, ou alguns modelos que tornem efetivo o corolário
> daquele esforço. Em recente debate, uma crítica me fez muito refletir: a
> inserção do ensino de história da África ocorreu quase ao mesmo tempo de
> nossa vitória, mas o movimento negro atuou de forma mais efetiva e sua
> implementação já é visível, enquanto isso a música bate cabeça entre
> cabeçudos, em vez de tambores, o os especialistas capacitados não conseguem
> ser o suficiente para pôr em prática a conquista, que ameaça se perder caso
> se torne uma obrigação legal desprezada, rejeitada pela sociedade. Ninguém
> vai usar a polícia pra isso! A insistência pelo sistema perfeito nos impede
> de aos poucos construir o razoável, uma pena.
>
> Abçs!
>
> Alexandre
>
>
> Em 02/11/2011, às 10:24, Jorge Antunes escreveu:
>
> Caro Alexandre:
>
> Quando usei a expressão "*carregados pelos industriais da música comercial
> *", eu não pretendia dizer ou insinuar que artistas tiveram suas
> passagens e estadias pagas pelas gravadoras multinacionais. Eu quis me
> referir apenas às motivações e aos objetivos que levavam aqueles cantores
> populares a viajarem e fazerem lobby. Esses objetivos –sempre transpareceu–
> se resumiriam em implementar uma educação musical daquele tipo a que eu
> chamaria deseducação musical: a prática, em sala de aula, de fabricação de
> mentes jovens potenciais futuros consumidores de música popular comercial.
> Aí sim, caro Alexandre, pode ser que eu esteja enganado. Você então
> poderia me esclarecer.
> Por favor, informe qual tipo de Educação Musical a Daniela Mercury, o Zezé
> de Camargo, o Luciano, o Ivan Lins, a Cristina Saraiva, a Joyce e a
> Fernanda Abreu pretendem ver implantado nas escolas?
> Abraço,
> Jorge Antunes
>
>
>>
>> Em 01/11/2011, às 09:58, Alexandre Negreiros escreveu:
>>
>> Olá Jorge e Daniel,
>>
>> Primordial que se cultive o debate e propostas em torno desse tema, e
>> aguardo ansioso a implementação da lei, com todas as incertezas que conduz.
>> Mas preciso ressalvar a notícia de que Ivan e Daniela teriam ido ao
>> Congresso conduzidos pelos industriais da música comercial: as passagens de
>> ambos, na época, foram custeadas ou por gabinetes de políticos que nos
>> apoiavam, ou pelo Sindicato dos Músicos do Rio de Janeiro, ou pelos
>> próprios bolsos. Tivemos o apoio puramente conceitual de diversas
>> organizações ligadas à música, dentre elas a ABMI, que se interessava que
>> apoiássemos o projeto que hoje está prestes a ser votado chamado PEC da
>> música, com incentivos tributários (tardios, é certo) à produção
>> fonográfica, equiparando-a ao livro. A dissertação do Felipe Radicetti, na
>> Unirio, descreve em detalhes a história.
>>
>> Abçs!
>> Alexandre
>>
>>
>> Em 30/10/2011, às 12:15, Jorge Antunes escreveu:
>>
>> Oi, Daniel:
>>
>> Aguardo ansioso seu projeto político-pedagógico.
>> Minha simpatia e luta pelos cursos na área de Performance estão na
>> reserva, no frigorífico, a espera de descongelamento.
>> A explosão delas poderá acontecer, dependendo do repertório a ser
>> programado e preconizado, e do espaço a ser dado à música erudita
>> contemporânea de hoje.
>> Abraço,
>> Jorge Antunes
>>
>>
>> Em 30 de outubro de 2011 11:35, Daniel Lemos <dal_lemos em yahoo.com.br>escreveu:
>>
>>>
>>> Caro prof. Jorge Antunes,
>>>
>>> Muito obrigado por sua mensagem! Não havia visto a situação dessa forma,
>>> agradeço por me despertar para uma visão diferente. O canto orfeônico
>>> certamente tem suas raízes no ensino tradicional de Música, e sabemos da
>>> problemática em torno das ideologias pedagógicas que prega. A Educação
>>> Musical realmente tem este compromisso: quanto maior o contato da sociedade
>>> brasileira com a Música de forma saudável, espontânea e livre dos "traumas
>>> da pedagogia musical tradicional", maiores os benefícios para todos:
>>> amadores, admiradores e profissionais. E de fato, qualquer defesa destes
>>> "ícones da Música Popular" em prol da Educação Musical certamente é de se
>>> desconfiar.
>>>
>>> A minha preocupação maior é que as Universidades brasileiras tem dado
>>> muita atenção à formação de profissionais capazes de atuar na Educação
>>> Básica, capazes de adotar metodologias apropriadas a este contexto. Porém,
>>> pela natureza dessa formação e das precárias condições que eles
>>> hipoteticamente encontrariam nas escolas brasileiras, o ensino da
>>> Performance é praticamente deixado de lado na formação destes. É esta a
>>> situação que me preocupa, e também a vários colegas daqui. A ampliação da
>>> área também precisa acontecer dessa forma.
>>>
>>> Estamos trabalhando em um projeto político-pedagógico para fundação de
>>> um Bacharelado que emergirá da Licenciatura com poucos custos à
>>> Universidade, engajado em ampliar as possibilidades de atuação profissional
>>> dos bacharéis e adotando idéias muito positivas da Educação Musical. Em
>>> breve enviarei o projeto para lista para que todos possam discutir, e quem
>>> sabe motivar a abertura desta habilitação em outras Universidades que
>>> fundaram a Licenciatura há alguns anos.
>>>
>>> Grande abraço,
>>>
>>>
>>> Daniel Lemos
>>>
>>> Curso de Música/DEART - musica.ufma.br
>>> Grupo de Pesquisa em Ensino da Performance Musical -
>>> musica.ufma.br/ensaio
>>> Perfil no academia.edu - ufma.academia.edu/dlemos
>>> Blog Audio Arte - audioarte.blogspot.com
>>> Universidade Federal do Maranhão
>>>
>>>
>>> --- Em *dom, 30/10/11, Jorge Antunes <antunes em unb.br>* escreveu:
>>>
>>>
>>> De: Jorge Antunes <antunes em unb.br>
>>> Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] situação da composição e da musicologia nos
>>> (novos) cursos de música
>>> Para: anppom-l em iar.unicamp.br, dal_lemos em yahoo.com.br
>>> Data: Domingo, 30 de Outubro de 2011, 11:10
>>>
>>>
>>> Caro Daniel:
>>>
>>> Você, tal como vários outros colegas, usa a frase "volta do ensino de
>>> Música na Educação Básica".
>>> Proponho que se passe a usar, no lugar da frase acima, o seguinte:
>>> "início do ensino de Música na Educação Básica".
>>>
>>> Não há como pensar na "volta" de algo que nunca houve.
>>>
>>> O que houve no passado foi a educação cívica através da música, com a
>>> prática do chamado "canto orfeônico", disciplina que fazia com que os
>>> estudantes passassem a ter raiva da Música.
>>>
>>> Quanto aos novos cursos e à grande clientela de Educação Musical e das
>>> Licenciaturas, acho isso bastante bom e promissor e necessário.
>>> Temos que construir novas cabeças que possam ocupar o mercado que se
>>> abrirá. As "majors", indústrias multinacionais do disco e da música popular
>>> comercial estão de olho nesse nicho que se abre. Não é à toa que
>>> personalidades da música popular, como Ivan Lins e Daniela Mercury,
>>> frequentam o Congresso Nacional fazendo lobby pela Educação Musical,
>>> carregados pelos industriais da música comercial.
>>>
>>> Abraço,
>>> Jorge Antunes
>>>
>>>
> ________________________________________________
> Lista de discussões ANPPOM
> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
> ________________________________________________
>
>
>
-------------- Próxima Parte ----------
Um anexo em HTML foi limpo...
URL: <http://www.listas.unicamp.br/pipermail/anppom-l/attachments/20111102/5e0179ce/attachment.html>


Mais detalhes sobre a lista de discussão Anppom-L