[ANPPOM-Lista] giron: villa-lobos tinha dias de tirano

Marcus S. Wolff m_swolff em hotmail.com
Sáb Abr 14 22:10:29 BRT 2012



Interessante a colocação do prof Pedro Paulo. Concordando com ela, sugiro a leitura da tese de doutorado de Jeanne Venzo Clément intitulada Villa-Lobos, éducateur. (Paris, Sorbonne, 1989) repleta de farta documentação, fontes primárias e secundárias, que demonstram o modo como, com o declarado objetivo de "promover a educação do bom gosto, liberando as novas gerações das influências estrangeiras" (1989: 51) e desejando despertar um "verdadeiro espírito cívico de ordem e disciplina" (idem, ibidem), o compositor/educador aproximou-se do interventor João Alberto em São Paulo, logo após a revolução de 30, mostrando a utilidade do seu projeto pedagógico. Aliás a autora não deixa os leitores pouco familiarizados com a história política brasileira esquecerem que "São Paulo foi o teatro de uma luta entre o Partido Democrático e os chefes da revolução", demonstrando a seguir como os cantos orfeônicos serviram aos interesses de apaziguamento, vistos pelos novos donos do poder como "intenções cívicas e patrióticas". Para um maior aprofundamento  de como as chamadas "sociedades orfeônicas" sustentaram já na França do Segundo Império (séc. XIX) determinados interesses sociais e políticos nada democráticos sugiro o texto de Jane Fulcher, profa da Syracuse University intitulado "The Orphean Societies: Music for the Workers in Second Empire France" já traduzido magistralmente para nosso idioma pelo prof. Samuel Araújo. Segundo a autora,  A. Comte delineava para o Estado um papel importante na disseminação de uma cultura para os pobres, pois estava convencido de que isso viria a estabelecer uma "verdadeira paz e harmonia social", evitando-se assim as reivindicações e os distúrbios que a classe trabalhadora vinha causando. Destaca-se no projeto estético positivista, a música como a arte mais apropriada para se fazer disponível aos trabalhadores, já que podia ser praticada em grandes grupos e aprendia até por analfabetos, fato esse que não passou despercebido pelo maestro Villa-Lobos. Como compreender tal projeto pedagógico sem considerar o contexto político que favoreceu seu desenvolvimento? Como neutralizar um aspecto da criação musical de um compositor, sem pensar nos elos que ligam o compositor a seu contexto, suas opções estético-políticas diante de uma ditadura que veio logo a seguir, seu debate com outros artistas/intelectuais que na mesma época assumiam posturas opostas (como Mário de Andrade) e sem pensar na "recepção" ( na reconstrução dos traços para usar J. Molino) de suas práticas musicais (incluindo neste campo estésico não só as obras como também seu projeto político-pedagógico) ? Bem, após a leitura desses autores, sinto-me incapaz de realizar tal operação de neutralização mas creio que nao seria essa a tarefa de um musicólogo do nosso tempo. saudações cordiais a todos,Marcus Wolff.    
 
 
 
prof. Dr. Marcus Straubel Wolff
Mestre em História Social da Cultura (PUC/RJ)
Doutor em Comunicação e Semiótica (PUC/SP)
Faculdades de  Música e Comunicação
Universidade Candido Mendes, campi Friburgo e Rio, RJ.

 


> Date: Fri, 13 Apr 2012 18:16:25 -0300
> From: ppsalles em usp.br
> To: silvioferrazmello em uol.com.br
> CC: anppom-l em iar.unicamp.br; etnomusicologiabr em yahoogrupos.com.br
> Subject: Re: [ANPPOM-Lista] giron: villa-lobos tinha dias de tirano
> 
> Caro Silvio,
> 
> foi um alento ler suas considerações, com as quais concordo  
> plenamente. Acrescentaria apenas que, a  partir do momento em que o  
> Villa propôs e coordenou um projeto de Educação Musical de âmbito  
> nacional, atingindo a milhares de escolas e dezenas de milhares de  
> estudantes, professores e diretores de escolas, suas ações nesse  
> âmbito tomam um vulto considerável, que devem - é claro - ser  
> analisadas não no nível da fofoca e de análises superficiais, mas no  
> mesmo nível que sua música merece, sempre levando em conta o contexto  
> histórico e ideológico da época - como você bem apontou - e do Estado  
> Novo e suas implicações.
> 
> Forte abraço, Pedro Paulo Salles
>                USP
> ......................................
> 
> Citando silvioferrazmello <silvioferrazmello em uol.com.br>:
> 
> > Caro Carlos,
> >
> > Diversas das frases atribuídas a Villa-Lobos no texto são o jargão da época.
> > Não só ele mas uma multidão dizia o mesmo sobre a arte popular e  
> > sobre qualquer coisa que fosse moderna.
> > Não só ele mas uma turba batia em alunos, espancava colegas, brigava  
> > nas ruas...
> > Agora, muito do que se fala de Villa são piadas de costume e ele  
> > gostava que as inventassem..
> > Talvez fossem adepto da frase janista: "falem mal mas falem de mim"
> > De fato cultuava as bobagens a seu respeito, e deixava que  
> > proliferassem por variações e mais variações.
> > Mas o que falta mesmo é sempre a referência de cada uma das blagues,  
> > quem contou, quando contou, qual a ocasião em que se  
> > encontravam...quem? exatamente quem?
> >
> > Mas é triste é ver que sempre retornamos o método da fofóca de  
> > revista de variedades quando se trata de Villa.
> > Sua composição mesmo fica em segundo plano ou fica sob a frase "um  
> > grande compositor, precisa ser melhor estudado e blablablablabla".
> >
> > Lendo a reportagem me perguntei:
> > Quem são as "professoras revoltadas pelo teu trato" da folha  
> > datilografada sem assinatura? Aquelas mesmas que nos batiam nas mãos  
> > com réguas para mantermos o pulso no lugar qdo tínhamos aula de  
> > piano, ou as que nos faziam cantar o Hino Nacional com todas as  
> > crases e vírgulas..."cantem com as vírgulas....não esqueçam as  
> > crases"? ou o autor do texto acredita que eram professoras que  
> > trabalhavam sob o método Paulo Freire.
> > O mundo era outro, a norma era outra, e um texto rápido nunca escapa  
> > de ser ter grandes equívocos.
> >
> > Guanabarino: Que bom que ele não conseguiu conter a obra de Villa! E  
> > sorte que Villa não chegava aos extremos de um Varèse, Guanabarino o  
> > teria lançado literalmente à fogueira já que achincalhava tudo que  
> > sua visão pré-republicana não compreendia.
> >
> > No mais, se Villa deu uns cascudos em Vasco Mariz, ora professores  
> > que davam cascudos, professores que atiravam apagador em alunos,  
> > professores que nos mandavam ficar de costas no canto da sala, ir  
> > ajoelhar no milho, ter as mãos langanhadas por palmatórias, escrever  
> > na frente de seus colegas mil vezes uma frase estúpida  
> > qualquer...não me parece que isto tudo tenha sido uma prática  
> > exclusiva de Villa-Lobos ou de minha professora de música no ginásio  
> > (30 anos depois de Villa).
> >
> > O problema de toda leitura contemporânea é tentar analisar o passado  
> > pelos padrões atuais...ora, Villa não era politicamente correto, nem  
> > teria como ser, ninguém era politicamente correto.
> >
> > Então...já que não teremos mais que conviver com o sujeito  
> > Villa-Lobos, porque retomar as fofocas de vida íntima?
> > Não é já passada a hora de divulgarmos trabalhos de peso na análise  
> > da obra de Villa, na análise de seu contexto sócio-político, do que  
> > artigos rápidos de jornal que acabam contribuindo mais ainda à  
> > distorção desnecessárias?
> >
> > Recomendo a leitura do livro de Paulo de Tarso, a biografia escrita  
> > por Tarasti, as análises que Marcos Lacerda realizou dos Choros, e  
> > outros tantos trabalhos que por alegria caem às mãos e que iluminam  
> > um pouco do que foi abrir caminho no meio do mato para fazer  
> > adentrar nestas terras um pouco de música de invenção.
> >
> > abs
> > Silvio Ferraz
> >
> >
> >
> >
> >
> > On Apr 6, 2012, at 7:03 PM, Carlos Palombini wrote:
> >
> >> via Liliane Kans (FB)
> >>
> >> HISTÓRIA
> >> Villa-Lobos tinha dias de tirano
> >>
> >> Documentos inéditos mostram que o compositor tratava mal suas  
> >> alunas, brigava e regia a massa com batuta de aço
> >>
> >> LUÍS ANTÔNIO GIRON
> >>
> >>
> >> HOBBY
> >> Villa-Lobos joga bilhar na Associação Brasileira de Imprensa (1957)  
> >> Na quinta-feira 2 de junho de 1932, as professoras do  
> >> recém-instalado Curso de Pedagogia da Música e Canto Orfeônico do  
> >> Rio de Janeiro, cansadas de receber maus-tratos do compositor  
> >> Heitor Villa-Lobos, redigiram uma carta anônima ao carrasco. No  
> >> início dos anos 1930, depois de uma década na Europa, ele esbanjava  
> >> poder e surtos de estrelismo, mas isso não conteve as ofendidas.  
> >> 'Se continuas a ameaçar-nos com os poderes absolutos de que te  
> >> prezas faremos uma representação ao Diretor Geral', ameaçam as  
> >> missivistas. 'Não vês que tudo é contraproducente quando o chefe  
> >> não sabe ter atitudes? Não percebes que as colegas se podem  
> >> infiltrar desses teus modos estúpidos e passar a fazer o mesmo com  
> >> as criancinhas?' Encerram o ataque com a indicação: 'As professoras  
> >> revoltadas pelo teu trato'.
> >>
> >> A folha, datilografada e sem assinatura, encontra-se na Biblioteca  
> >> Nacional, no Rio (consta do espólio do maestro Sílvio Salema,  
> >> assistente de Villa), e só agora vem à luz, com outros papéis -  
> >> recortes, partituras, cartas e fotografias - arquivados ali e no  
> >> Museu Villa-Lobos. As duas instituições cariocas abrigam documentos  
> >> que esclarecem a ação e a obra do mais celebrado e executado  
> >> compositor erudito brasileiro. Com base nos materiais que vêm sendo  
> >> vasculhados, acontece uma alteração sensível da imagem de  
> >> Villa-Lobos para a posteridade. O tratado definitivo sobre o  
> >> assunto ainda está por ser escrito, mas uma horda de pesquisadores  
> >> corre e concorre para realizar a façanha. Uma silhueta diferente do  
> >> músico promete delinear-se ao final da competição. Tudo indica que  
> >> o 'índio de casaca', o simpático inspirador da música popular  
> >> brasileira - e de filmes como Villa-Lobos, uma Vida de Paixão  
> >> (2000), de Zelito Viana, que reduz o artista à caricatura -, saia  
> >> do palco para dar lugar ao ditador agressivo, defensor da 'arte  
> >> elevada' contra a música popular - e sobretudo paladino de seus  
> >> interesses particulares.
> >>
> >> Inimigos íntimos
> >> Críticos, professores e colegas tentaram derrubar o músico
> >>
> >> ATAQUES
> >> O crítico Oscar Guanabarino e outros malharam o músico em vida  
> >> Villa-Lobos sofreu ataques desde que começou a apresentar suas  
> >> peças de vanguarda, no Rio, em 1918. Foi chamado de bárbaro, louco,  
> >> petulante, autodidata. Durante a Semana de Arte Moderna de 22, em  
> >> São Paulo, foi saudado pelo público com uma saraivada de batatas.  
> >> As polêmicas só escassearam no fim da década de 40, quando obteve  
> >> consagração mundial com suas turnês pelos Estados Unidos e pela  
> >> Europa e conseguiu calar quase todos os opositores. O maior deles  
> >> chamava-se Oscar Guanabarino (1851-1937). Esse professor de piano e  
> >> folhetinista atuou como flagelo do modernismo e do nacionalismo. Fã  
> >> do canto lírico de Carlos Gomes, iniciou fama de mal-humorado por  
> >> volta de 1890, ao atacar os primeiros músicos que usavam o folclore  
> >> em suas peças. Quando Villa-Lobos apareceu com suas suítes  
> >> sincopadas e dissonantes, o velho crítico fulminou-o com todo o seu  
> >> arsenal de conceitos. Os dois chegaram a trocar bengaladas em um  
> >> concerto nos anos 20. Guanabarino atacou-o até morrer. Na coluna  
> >> Pelo Mundo das Artes, do Jornal do Commercio (uma das últimas a  
> >> levar a rubrica de 'folhetim'), em 1934, comentou uma festa  
> >> orfeônica organizada pelo compositor informando que 'a concorrência  
> >> foi diminutíssima - apenas 100 pessoas na platéia, se tanto, o que  
> >> quer dizer que o público rejeita o sr. Villa-Lobos e a sua música,  
> >> mesmo quando lhe é oferecida gratuitamente'. Guanabarino inspirou  
> >> novos rivais, como Gondim da Fonseca e Carlos Maul (1887-1971).  
> >> Este último publicou, em 1962, o ensaio A Glória Escandalosa de  
> >> Villa-Lobos.  Ali, acusava o compositor de haver rapinado o  
> >> folclore. Villa-Lobos achava graça das acusações. A posteridade não  
> >> as levou a sério. #Q#
> >> Reprodução
> >>
> >> HUMILHADAS
> >> Integrantes do Orfeão dos Professores redigiram em 1932 uma carta  
> >> (acima) ameaçando o regente Heitor Villa-Lobos
> >> Os documentos, examinados com exclusividade por ÉPOCA, dão conta de  
> >> que Villa-Lobos possuía um gênio incontrolável e não recuava ante  
> >> nenhum tipo de obstáculo. Exemplo disso é a advertência das alunas  
> >> que constituíam o Orfeão dos Professores sobre sua falta de  
> >> didática. A carta, se foi recebida (não há evidências a esse  
> >> respeito), não surtiu efeito, porque o regente defendia como  
> >> expedientes o rigor para adultos e a palmatória para crianças.  
> >> Assim aconteceu num ensaio ao ar livre, na frente do prédio de seu  
> >> Conservatório de Canto Orfeônico, na Praia Vermelha, em meados de  
> >> 1936. O músico, trajado com uma espalhafatosa casaca colorida,  
> >> tentava reger um coral de milhares de meninos. Um grupo mais  
> >> barulhento não se aquietava, nem com a intervenção de um escoteiro  
> >> encarregado de organizar a multidão. A garotada começou, então, a  
> >> brigar. 'Villa saiu do pódio furioso e acabou com a bagunça,  
> >> distribuindo cascudos para todo lado', lembra o tal escoteiro, que  
> >> viria a se tornar o mais importante biógrafo de Villa-Lobos: Vasco  
> >> Mariz. 'Até eu levei um!'Aos 82 anos, o embaixador aposentado e  
> >> musicólogo carioca orgulha-se de ter travado relações anos depois  
> >> com Villa-Lobos e feito sua biografia. Publicada pela primeira vez  
> >> em 1949 pelo Itamaraty a partir de seis meses de entrevistas com o  
> >> compositor, Villa-Lobos, Compositor Brasileiro chegará à 12ª edição  
> >> no próximo ano pela editora Francisco Alves, com acréscimos como  
> >> cartas, iconografia, os episódios em torno das concentrações  
> >> orfeônicas e atualização biográfica e discográfica, já que a vasta  
> >> obra do compositor nunca foi tão executada e estudada no mundo. São  
> >> duas centenas de gravações recentes, além de 70 livros sobre o  
> >> artista. A primeira edição da biografia de Mariz desagradou ao  
> >> biografado por causa da passagem do cascudo. 'Villa se distanciou  
> >> de mim por um bom tempo, porque achava que eu o tinha descrito como  
> >> violento', revela o biógrafo. 'Foi um caso divertido e, quando lhe  
> >> contei, Villa deu gargalhadas. Ao ler, mudou de idéia. Depois, por  
> >> meio de sua mulher, Mindinha, fizemos as pazes. Mesmo com modos  
> >> grosseiros com quem dependia dele, foi muito amado.'
> >>
> >> PRINCIPAIS OBRAS
> >>
> >> Segundo o gênero
> >>
> >> 6 Óperas
> >> 12 Sinfonias
> >> 13 Peças para violão-solo
> >> 13 Poemas sinfônicos
> >> 17 Quartetos de corda
> >> 27 Concertos
> >>
> >> Estranho homem esse, capaz de maltratar os alunos, despertar o ódio  
> >> da crítica, e, ainda assim, ser admirado. Mariz caracteriza-o como  
> >> um eterno menino, pronto para cometer uma traquinagem ou um gesto  
> >> ditatorial. Rebate, no entanto, a acusação que lhe fazem os  
> >> acadêmicos atuais de que era um colaborador do fascismo de Vargas.  
> >> 'Ele não tinha cor política', lembra o estudioso. 'Queria divulgar  
> >> sua música. Vaidoso, não tinha paciência com a mediocridade. Mas,  
> >> se você soubesse manobrá-lo, conseguia tudo dele.'
> >>
> >> Para a pesquisadora Mercedes Reis Pequeno, autora da monumental  
> >> Bibliografia Musical Brasileira (disponível na internet no site  
> >> www.abm.org.br), simpatizar com o compositor podia ser difícil.  
> >> 'Era de temperamento muito desigual e não conquistava à primeira  
> >> vista. Muito seguro de seu valor, convencido mesmo, mas ao mesmo  
> >> tempo, em certas circunstâncias, quase ingênuo. Mas, quando  
> >> confiava, era para valer. Inimigos, quem não os tem nessa vida?'
> >>
> >> #Q#
> >> Fatos da vida do autor das 'Bachianas'
> >> Nascido em 5 de março de 1887 em uma família de classe média,  
> >> Villa-Lobos, ou Tuhu, seu apelido, não teve educação formal. O pai,  
> >> Raul, era músico amador e lhe ensinou as primeiras notas
> >> 	1922 ? ENFANT TERRIBLE
> >> Brilhou e foi vaiado na Semana de Arte Moderna de São Paulo
> >> 1926 ? EM PARIS
> >> Conviveu com músicos de vanguarda como Edgard Varèse (à esq.)
> >> 	1932 ? NO RIO
> >> Fundou o Orfeão dos Professores. Seu assistente era o maestro  
> >> Sílvio Salema (foto de 1952)
> >> 1940 ? MULTIDÃO
> >> Um coral de 40 mil alunos cantou no estádio do Vasco, sob direção  
> >> do músico (no alto, ao microfone)
> >> 	1955 ? CONSAGRAÇÃO
> >> Rege a Orquestra da Filadélfia durante ensaio em uma de suas turnês  
> >> pelos Estados Unidos
> >> 1959 ? FINALE
> >> Lançou a última peça, Concerto Grosso, para Orquestra de Sopros.  
> >> Morreu de câncer no Rio, em 17 de novembro	#Q#
> >> O músico lancetou-os com a ponta da batuta afiada - e, às vezes, do  
> >> taco de bilhar, seu passatempo favorito. Começou por estocar os  
> >> compositores populares, ou, como preferia, folclóricos. No início  
> >> da década de 40, por exemplo, chamou o samba-exaltação 'Aquarela do  
> >> Brasil', de Ari Barroso, de oportunista. Escreveu que a música  
> >> folclórica não passava da 'acepção mínima' da música. Oque não o  
> >> impediu de se aproveitar de temas dos chorões com quem havia tocado  
> >> em noitadas na juventude, como o de 'Rasga Coração', com melodia de  
> >> Anacleto de Medeiros e letra de Catulo da Paixão Cearense, base  
> >> para os 'Choros no 10' (1925), para orquestra e coro. Por conta da  
> >> apropriação, ele amargou um processo de plágio, do qual veio a ser  
> >> inocentado só depois da morte.
> >>
> >> 'Villa-Lobos não gostava de música popular, como querem muitos  
> >> estudiosos', afirma o musicólogo Flávio Silva, que há dois anos  
> >> pesquisa os papéis do compositor e se candidata a ser um dos  
> >> primeiros a chegar à esperada grande interpretação. 'O canto  
> >> orfeônico formava sua plataforma e seu ponto de honra. Distinguia a  
> >> 'música elevada' da restante. É engano pensar que ele gostava do  
> >> som recreativo.'
> >>
> >> Até hoje raramente abordado, o período em que o músico implementou  
> >> projeto do canto orfeônico - de 1930 a 1945, os dois primeiros anos  
> >> em São Paulo e o restante no Distrito Federal - é o mais rico em  
> >> intrigas, manifestações e atos públicos em torno das idéias do  
> >> compositor. Aos poucos, ele ganha perspectiva histórica. Também foi  
> >> o momento em que Villa-Lobos, na chefia da trilha sonora da  
> >> ditadura Vargas, feriu o  maior número de pessoas, de normalistas a  
> >> críticos profissionais. Recebeu o troco e sua produtividade cresceu  
> >> na razão direta dos contra-ataques. Ela se revelou tão intensa que  
> >> ainda hoje estão para ser descobertos discos e partituras que ele  
> >> produziu com diversos coros. Com uma bolsa da Fundação Vitae,  
> >> Flávio Silva levantou 20 gravações, inclusive pelo Orfeão dos  
> >> Professores. 'Algumas gravações têm qualidade,  e o grupo conseguiu  
> >> bom desempenho', julga.
> >>
> >>
> >> 'Proclamo o valor de todas as manifestações populares da música  
> >> como quem cultiva uma fonte de essências originais, nunca   
> >> apresentando-a como expressão de um povo civilizado'
> >>
> >> HEITOR VILLA-LOBOS,
> >> discurso em 15 de outubro de 1939
> >>
> >> O resultado só podia ser obtido pela mão forte do regente, que se  
> >> fazia sentir no moral das professoras e na moleira da criançada.  
> >> Seu sonho, ou 'plano de ataque', como dizia, era despertar o  
> >> interesse dos jovens e formar um público para a sua música por meio  
> >> do canto coletivo. Com o Guia Prático - 137 peças para diversas  
> >> formações -, desejava espalhar corais pelo Brasil em manifestações  
> >> cívicas em grandes estádios. A prática coral nas escolas não visava  
> >> a grandes artistas, mas a preparar o gosto comunitário para uma  
> >> 'fisionomia musical brasileira', como disse em discurso que  
> >> pronunciou no salão Assírio do Teatro Municipal do Rio em 15 de  
> >> outubro de 1939, segundo original da Biblioteca Nacional: 'Sei bem  
> >> que o gosto e a opinião pública não se impõem, mas educam-se'. O  
> >> projeto, contudo, murchou aos poucos. Todos os especialistas  
> >> entrevistados fazem uníssono ao dizer que a situação da educação  
> >> musical nas escolas brasileiras é péssima, quando não inexistente,  
> >> e a lição de Villa-Lobos foi esquecida, bem como suas idéias. Ele  
> >> perdeu a guerra para a música popular por força do rádio, que  
> >> consagrou o samba e jogou a arte erudita ao segundo plano.
> >>
> >> 'Villa-Lobos escreveu e defendeu muitas bobagens', diz Flávio  
> >> Silva. 'Poucas idéias dele se sustentam hoje.' Sua herança se  
> >> concentra na obra, embora a maior parte dela ainda precise ser  
> >> divulgada. O público brasileiro não conhece mais que uma dezena de  
> >> melodias do compositor - não por acaso, quase todas escritas no  
> >> período em que o maestro, vulto oficial, tangia professoras e  
> >> alunos para os estádios.
> >>
> >> Fotos e reproduções dos textos: Biblioteca Nacional/Divisão de  
> >> Música e Arquivo Sonoro
> >>
> >> http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR59656-6011,00.html
> >>
> >> --
> >> carlos palombini
> >> www.researcherid.com/rid/F-7345-2011
> >> ________________________________________________
> >> Lista de discussões ANPPOM
> >> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
> >> ________________________________________________
> >
> >
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> ________________________________________________
> Lista de discussões ANPPOM
> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
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