[ANPPOM-Lista] giron: villa-lobos tinha dias de tirano (Gabriel Ferraz)

Ferraz,Gabriel A gabrielferraz em ufl.edu
Sex Abr 20 17:52:59 BRT 2012


Caros colegas que estão discutindo o "caso" Villa-Lobos,

Achei muito interessante que a discussão do suposto caráter 
autoritário de Villa-Lobos acabou tornando-se uma discussão sobre sua 
participação no governo de Vargas. A meu ver, isso demonstra que esse 
aspecto da vida de Villa-Lobos ainda precisa ser melhor entendido na 
literatura. Gostaria de deixar aqui a minha contribuição para essa 
discussão, já que o Canto Orfeônico de Villa-Lobos foi o tema do meu 
doutorado na Universidade da Flórida.

Não estou aqui para fazer propaganda do meu trabalho, nem para 
resumi-lo, mas gostaria de esclarecer alguns pontos importantes sobre o 
assunto, tanto em relação ao comprometimento moral do Villa com o 
regime de Vargas, quanto em relação ao papel da música na formação 
de identidades pessoais e coletivas (isso requer um longo texto). Depois 
de analisar centenas de documentos de fonte primária (cartas, programas 
de concerto, entrevistas, etc), eu não só tenho certeza de que 
Villa-Lobos doutrinou os escolares na ideologia de Vargas, mas como ele 
tinha plena consciência do valor político de suas ações. Em um 
contexto de ditadura nacionalista, seria muita ingenuidade acreditar que 
Villa-Lobos não tinha consciência do que ele estava fazendo no Brasil 
(em um contexto mundial, era amplamente divulgado que regimes Fascistas 
faziam uso da música em concentrações em massa). Na verdade, 
acreditar nisso seria subestimar a inteligência do compositor e sua 
habilidade de adaptação à momentos diferentes em sua vida. (L. M. 
Peppercorn, por exemplo, o chama de camaleão. Apesar do trabalho de 
Peppercorn sobre Villa-Lobos apresentar diversos problemas, eu concordo 
plenamente com essa colocação).


Em relação à educação musical, acho importante frisar que 
Villa-Lobos tinha um projeto educacional antes de Vargas tomar o poder, 
e as metodologias e objetivos do canto orfeônico partiram dele, e não 
do governo. Desde a Primeira República, o canto orfeônico fazia parte 
da educação infantil e era muito forte no estado de São Paulo, onde 
João Gomes Júnior o introduzira por volta de 1912 (Fabiano Lozano 
também foi importante como organizador de Orfeões em Piracicaba). 
Villa-Lobos deu continuidade a essa tradição, mas refoçou os 
elementos de teor nacionalista, patriótico e civicos e disciplina em 
sua abordagem (toda essa informação pode ser encontrada nos textos que 
ele escreveu sobre educação musical). Além disso, parte importante de 
seu método de ensino, eram as chamadas Exortações, que impunham às 
crianças todos os valores e ideias dos hinos escolares. Também 
importante (e não investigado na previamente na literatura), é o fato 
de que ele exortou esses valores para a sociedade do Rio de Janeiro como 
um todo, por meio do Orfeão de Professores, da Orchestra Villa-Lobos e 
da Orquestra Municipal do Rio de Janeiro, que realizavam concertos de 
natureza nacionalista e patriótica, nos quais os professores exortavam, 
com orientação de Villa-Lobos, ideias nacionalistas e patrióticas.

Até aí, não existe o menor problema, uma vez que todos esses 
elementos (educação, concertos didáticos, composição de obras 
nacionalistas, etc) são essenciais como parte do projeto de 
compositores nacionalistas (ver o caso de Grieg, Smetana e Wagner no 
livro Music Makes the Nation: Nationalist Composers and Nation Building 
in Nineteenth-Century Europe de Benjamin Curtis). Tudo isso seria, 
então, bastante normal para Villa-Lobos, que lutava para que o público 
compreendesse e aceitasse a música brasileira (portanto, também a sua 
música). Naquela época, entretanto, a idea de conscientização da 
população sobre quem era o povo brasileiro, bem como a valorização 
dos elementos nacionais, era um tema frequente na obra de intelectuais 
(vide Casa grande e Senzala e Raízes do brasil, dentre outros), e de 
politicos que tinham uma ideologia conectada com o liberalismo, e a 
busca de brasilidade era um tema comum para ambas classes.

O grande problema disso tudo é que Vargas implementou uma ditadura, e 
Villa-Lobos continuou usando seu "sistema" de educação musical para 
"nacionalizar" as crianças e suas famílias. Ele mesmo fala sobre o 
papel das crianças como emissárias da ideologia nacionalista, e, 
inclusive, desenvolveu um sistema de fichas nas quais os pais deveriam 
relatavam mudanças no comportamento dos filhos. O sistema de fichas 
existia também nas próprias escolas, que "mediam" mudanças no 
comportamento dos alunos devido à prática de canto orfeônico (isso 
envolvia a "medição" de seu patriotismo). O sistema de fichas pode 
não ser altamente científico em sua concepção, mas revela objetivos 
bem claros, que vão muito além da educação musical e entram na 
esfera política.

A educação, por si só, já é uma ferramenta política. Quando os 
valores educacionais são impostos em um ambiente de rígida disciplina, 
como fez Villa-Lobos, a educação torna-se doutrinação (ver o 
importante livro de Michael W. Apple, Ideology and Curruclum. 3rd ed. 
New York: RoutledgeFalmer, 2004. Pode-se consultar também, Kazepides, 
Tasos. “Programmatic Definitions in Education: The Case of 
Indoctrination.” In Canadian Journal of Education / Revue canadienne 
de l’éducation 14, no. 3 (Summer, 1989): 387-396; e Thiessen, Elmer 
John. “Initiation, Indoctrination, and Education.” In the Canadian 
Journal of Education / Revue canadienne de l’éducation vol. 10, no. 3 
(Summer, 1985): 229-249; além de muitos outros). Como teorias 
educacionais demonstraram, o doutrinador realmente acredita naquilo que 
está transmitindo aos seus pupilos, e não é necessariamente um 
propagandista. No caso de Villa-Lobos, entretanto, apesar de ele 
acreditar nos valores nacionalistas e patrióticos que disseminou (e 
provavelmente o teria feito independentemente do regime político em 
voga), ele sabia do valor propagandístico de sua obra educacional, não 
apenas nas grandes Concentrações Orfeônicas, que chegaram a reunir 
40.000 crianças no estádio São Januário para cantar hinos 
patrióticos no Sete de Setembro, mas na rotina semanal da educação 
musical da criança.  Além disso, Villa-Lobos sabia do uso de canto 
coral em regimes autoritários na Europa Fascista, e como afirmou 
Arnaldo Contier, ele simpatizava com um Estado forte (não estou, de 
modo algum, deixando implícito que Villa-Lobos era fascista - o que, 
até onde se sabe, ele não era - mas que ele sabia do uso da música 
para promover doutrinas políticas). Dentre outras coisas, Villa-Lobos 
falou que a arte em geral tinha muito mais poder do que a diplomacia, 
revelando sua plena consciência do valor político da arte.

Apesar de haver muita evidência que demonstra o engajamento de 
Villa-Lobos com o ideário político de Vargas, o compositor negou seu 
interesse pessoal no regime e alegou que tudo que ele queria era um povo 
educado e disciplinado. Ora, mas isso não impediu que sua educação 
musical fosse usada, também, como ferramenta política; e pior, com o 
seu consentimento, porque ele não era bobo e sabia de tudo que estava 
acontecendo. Se sua ideologia política não era a mesma de Vargas (o 
que pode-se especular indefinidamente, uma vez que as pessoas podem 
manipular seu discurso de acordo com seus interesses - ver Strauss e 
Orff na Alemanha Nazista, por exemplo), sua educação musical teve 
desdobramentos políticos que independiam de sua vontade, e ele sabia 
disso, mas não fez objeção. Portanto, no mínimo, ele não se 
importava com o uso de seu Canto Orfeônico para fins políticos. Ou se 
isso teve qualquer importância para ele, não foi suficiente para que 
ele se opusesse ao uso político da educação musical.


Além disso, a música tem um papel muito importante na formação de 
identidades pessoas e coletivas, o que já foi demonstrado em diversos 
trabalhos que investiga a semiótica musical (como Nattiez, já citado 
pelo prof. Wolff, além de Kofi Agawu, e Thomas Turino). Eu utilizei as 
ideias do excelente artigo do etnomusicólogo Thomas Turino, “Signs of 
Imagination, Identity and Experience: A Peircian Semiotic Theory for 
Music.” Ethnomusicology 43, no.2 (Spring/Summer, 1999): 221-55, como 
metodologia, e recomendo sua leitura para um entendimento mais 
científico do poder de comunicação inerente à música. Em suma, Como 
Turino explica, segundo a teoria de semiótica de Charles Peirce, que 
ele usa como base para sua própria teoria, o índice (no nosso caso, o 
signo musical) "refere-se a um signo que está relacionado ao seu objeto 
por meio de co-ocorrência em uma experiência real [...] o poder dos 
índices deriva do fato de que as relações signo-objeto são baseadas 
nas suas co-ocorrências nas experiências de vida das pessoas, 
portanto, os índices tornam-se intimamente ligados às pessoas através 
de experiências reais". Aplicando essa formulação à música, podemos 
entender que valores semânticos são anexados a um evento musical na 
mente do ouvinte, quando o objeto musical é experimentado em 
co-ocorrência com outros eventos da “vida real” do indivíduo. Como 
Turino afirma: Índices são experimentados como "reais" porque estão 
enraizados, muitas vezes redundantemente, na experiência de vida das 
pessoas, como memória, tornando-se uma verdadeira argamassa de suas 
identidades pessoais e sociais. Quando os índices apresentados são 
vinculados a formações afetivas relacionadas à vida pessoal e 
comunitária das pessoas - à família, à infância, à um(a) amante, 
à experiências de guerra - eles têm forte potencial para criar 
efeitos emocionais, porque são muitas vezes intuitivamente apreendidos 
irreflexivamente como "reais" ou como partes 'verdadeiras' das 
experiências significadas". Com base nesses preceitos teóricos, eu 
demonstrei que a educação musical promoveu, por meio de seus elementos 
musicais (ritmo, melodia e harmonia), associados às letras dos hinos e 
canções exortados por Villa-Lobos e pelos professores, e aos aspectos 
socializantes da prática musical em grupo, a formação da identidade 
de crianças primeiramente no Rio de Janeiro, e paulatinamente em outros 
estados do brasil, que experimentavam, através da música de cunho 
nacionalista, a mesma ideologia de nação, imaginando-se dessa forma, 
como uma comunidade homogênea de “seres nacionais”. (Vale a pena 
conhecer o conceito de "comunidades imaginadas" de Benedict Anderson, 
para se entender o papel de "índices" de nacionalidade na formação de 
uma nação).

Não por acaso, as Concentrações Orfeônicas tornaram-se um símbolo 
do regime de Vargas. O próprio Carlos Drummond, que participou desses 
eventos, afirmou: "A multidão em torno vivia uma emoção brasileira e 
cósmica, estávamos tão unidos uns aos outros, tão participantes e ao 
mesmo tempo tão individualizados e ricos de nós mesmos, na plenitude 
de nossa capacidade sensorial, era tão belo e esmagador, que para 
muitos não havia outro jeito senão chorar; chorar de pura alegria.” 
E um outro participante relatou à Cacilda Guimarães Fróes, profa. de 
Canto Orfeônico: “A emoção era geral. O espetáculo surpreende pelo 
imprevisto. Um gesto do Maestro Villa-Lobos, que comandava o 
espetáculo, ergue-se cantando, aquela imensa massa de crianças, na 
mais eloquente demonstração de disciplina e civismo. Os corações 
fremem de entusiasmo e vêem-se lágrimas até nos olhos de gente 
grande. Nas arquibancadas, os alunos formavam o relevo do quadro. 
Villa-Lobos o ponto alto, culminante da paisagem. Naquele dia, como em 
nenhum outro, senti a presença da Pátria. Ela estava ali palpitando na 
alegria dos escolares, no entusiasmo do povo vibrando conosco….Volvi, 
então um olhar para minha bandeira. Nunca me pareceu tão bela, tão 
imponente em sua majestade.” Nesse ambiente altamente emocional, a 
música se cristalizava como parte de uma experiência coletiva, na qual 
patriotismo e nacionalismo funcionavam como "identificadores comuns" 
entre as pessoas. Nesses eventos (que ocorreram dezenas de vezes durante 
o ano, em diversas datas comemorativas e celebrações escolares e 
políticas) a música se tornava, portanto, um índice carregado de 
forte valor político.

Dessa forma, o argumento "Maquiavélico" de que Villa-Lobos queria 
apenas promover música brasileira e educar as crianças, não o isentam 
de participar e disseminar a ideologia nacionalista do governo, e, dessa 
forma, contribuir ativamente (e conscientemente) para a doutrinação 
(sim, a palavra é forte, mas, nesse contexto, é a que define o que ele 
fez) dos escolares. Se por um lado isso foi bom para a cultura nacional 
(e também para o maior entendimento e aceitação da música de Villa), 
por outro, contribuiu enormemente para o regime de Vargas. Essas ideias 
não são mutuamente exclusivas.

Isso não diminui o gênio do compositor de forma alguma. O que ele fez 
pela música brasileira, sua criatividade e sua percepção do momento 
que o Brasil vivia, não são comprometidos pelo papel político que ele 
desempenhou. Sua linguagem musical "híbrida" que, como aspecto 
intrínseco de linguagens nacionalistas, tornaram sua música um 
veículo de disseminação de elementos "locais" no exterior, ao mesmo 
tempo em que os apresentava, no Brasil, dentro de uma estética moderna 
também cultivada na Europa, merecem ser admirados independentemente de 
seu engajamento com Vargas. A importância de Villa-Lobos para a música 
no Brasil (e no mundo), portanto, não se abala.

Mas é importante entender que Villa-Lobos, como todos os outros seres 
humanos, viveu dentro de contextos sociais, sem os quais a realização 
de sua obra jamais seria possível. É sob esse prima que devemos 
investigar o papel verdadeiro de sua obra educacional: dentro de um 
contexto social e político. Não é também importante entender que em 
1930, quando Villa voltou para o Brasil, existia uma grande antipatia 
por sua música, e nem mesmo os músicos o respeitavam - ver os artigos 
dobre o Villa em Música Doce Música, de M. de Andrade - e que depois 
de participar do governo de Vargas, Villa-Lobos tornou-se uma 
celebridade mundial, mesmo sem ter composto tão ativamente como em 
períodos anteriores? Como demonstram os programas de concerto 
executados dentro do seu plano educacional, ele promoveu massivamente 
sua obra durante o governo Vargas, e isso contribuiu, indelévelmente, 
para que ele passasse a figurar entre os cânones musicais do Brasil, o 
que não era verdade quando ele começou seu projeto educacional. Por 
exemplo, em 1935, ele conseguiu, finalmente, realizar a premiére de seu 
Uirapuro, cuja composicão iniciou-se em 1917 e findou-se em 1934 (não 
se sabe exatamente quanto do material foi composto em 1917 e quanto foi 
"re-estruturado" - como o próprio Villa se refere ao seu trabalho na 
obra - em 1934).

Para concluir, em muitos casos, os fatos e suas consequências falam 
mais verdades do que os compositores, principalmente quando existe 
política envolvida. Para abordarmos o assunto sob um ponto de vista 
científico, devemos ouvir esses fatos antes de mais nada, e depois 
interpretá-los à luz da história. Mas para isso precisamos 
primeiramente conhecer esses fatos, e, depois, tirarmos o tapa-ouvido.

Obrigado pela atenção. Espero que o texto (longo, mas necessário, 
acredito) possa contribuir para uma reflexão científica sobre o 
assunto e ajudar a desmitificar valores construídos sobre o Villa. 
Gênio, sim... mas, sobretudo, humano.

Gabriel Ferraz







On Fri, 20 Apr 2012 12:12:23 -0300, anppom-l-request em iar.unicamp.br 
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>    1. I Encontro Nacional de Mulheres da Música Popular Brasileira
>       (Carlos Palombini)
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> Message: 1
> Date: Wed, 18 Apr 2012 17:40:19 -0300
> From: Carlos Palombini <cpalombini em gmail.com>
> To: anppom-l em iar.unicamp.br, 	etnomusicologiabr
> 	<etnomusicologiabr em yahoogrupos.com.br>,  Pesquisadores em Sonologia
> 	(Música) 	<sonologia-l em listas.unicamp.br>
> Subject: [ANPPOM-Lista] I Encontro Nacional de Mulheres da Música
> 	Popular Brasileira
> Message-ID:
> 	<CAJWibmHYD_cg-w0OwOHBNSge6a_jVYQ42Y1zNwcgi8j115MtLw em mail.gmail.com>
> Content-Type: text/plain; charset="windows-1252"
>
> Inédita no país, a iniciativa abre um importante espaço de 
> debates, de
> trocas de vivências musicais e de experiências profissionais, 
> analisando o
> mercado e a atual política cultural e tecendo considerações sobre 
> a
> produção feminina na música popular.
>
> Contemplando os espaços acadêmicos e os espaços culturais da 
> cidade de
> Pelotas - o meio urbano e o rural -, a programação, 
> descentralizada,
> pretende a aproximação entre eles, incluindo atividades em espaços
> alternativos como O Templo das Águas. Debates e Rodas de conversa ,
> oficinas e wokshops terão espaço na UFPEL, além de shows em 
> diversos
> espaços da cidade.
>
> Pelotas é um centro cultural que vem se destacando, no Rio Grande do 
> Sul,
> por suas atividades musicais. No ano de seu bicentenário, este 
> encontro
> traz ao município vozes importantes da cena cultural brasileira, 
> atraindo
> olhares e ouvidos atentos para a arte e sensibilidade femininas em 
> nossa
> cultura.
> O Encontro Nacional de Mulheres da Música Popular Brasileira ? 
> Pelotas/RS
> tem a proposta de se tornar um evento fixo no calendário da cidade e 
> da
> música popular no Brasil.
>
> Para mais informações sobre os shows, oficinas e debates e demais 
> detalhes,
> basta acessar encontrodemulheresdampb.blogspot.com.br
> Organização: Janete Flores, Isabel Nogueira e Landa Ciccone
> Produção: Circo Sem Lona
> Contato: jamilhaoflores em hotmail.com
>
> Blog do evento: http://encontrodemulheresdampb.blogspot.com.br/
>
> 
> http://musicologiafeminista.ning.com/profiles/blogs/i-encontro-nacional-de-mulheres-da-musica-popular-brasileira
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> --
> carlos palombini
> www.researcherid.com/rid/F-7345-2011
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>
> Message: 2
> Date: Thu, 19 Apr 2012 06:20:52 +0000
> From: "Marcus S. Wolff" <m_swolff em hotmail.com>
> To: <lucianocesar78 em yahoo.com.br>, etnomusicologia lista
> 	<etnomusicologiabr em yahoogrupos.com.br>, lista ANPPOM
> 	<anppom-l em iar.unicamp.br>
> Subject: Re: [ANPPOM-Lista] giron: villa-lobos tinha dias de tirano
> Message-ID: <BLU144-W20C650DA023FF4F2A57FBFA3D0 em phx.gbl>
> Content-Type: text/plain; charset="iso-8859-1"
>
>
>
>
>  Prezado Luciano,gostaria de lembrá-lo que Jean Molino, já em
> meados dos anos 70 escrevendo na "Musique en Jeu", percebia que a
> análise da obra musical e de sua estrutura, isto é, a análise do
> que chamou de "nível neutro" era algo provisório, pois dependente
> dos critérios utilizados, podendo ser superada pela introdução de
> novos critérios ou de novas informações oriundas de outros níveis
> (poiético e estésico). Aqui poderia se incluir também o 
> anedótico,
> ao lado de outros signos que carregam informações sobre a criação
> de uma obra, as reações que causou nos alunos de Villa-Lobos, ou em
> outros setores da sociedade (intelectuais, políticos, etc).Já em 
> seu
> artigo intitulado "O Fato Musical e a Semiologia da Música", Molino
> considerava o "fato musical" como "fato social total", indo muito
> além da análise do fenômeno sonoro em si mesmo. Sim, devo 
> concordar
> que a música seja muito mais do que seu uso pelos regimes 
> ditatoriais
> ou os discursos sobre ela, mas não é possível isolar o que 
> chamamos
> de música sem correr  riscos de cair no etnocentrismo e numa grande
> alienação em nome de uma suposta autonomia da arte pouco
> comprovável. Para voltar a Molino, "nao há maior perigo do que o do
> etnocentrismo que nos conduz a distinguir em toda parta uma música
> restrita (que corresponde à nossa concepção do fato musical" como
> sendo o único tipo de música autêntica e uma área secundária,
> complementar que designamos e rejeitamos chamando-a de 
> interpretação
> simbólica ou significação - um tipo de apêndice acrescentado à
> música pura sem mudar seu caráter" (1990, p. 114-115 - cito aqui a
> tradução para o inglês de 1990, mas o artigo original na "Musique
> en Jeu" vol. 17 foi publicado em fr. em 1975!). Por outro lado, Jean
> J. Nattiez, que de certo modo levou adiante as colocações de 
> Molino,
> explorou a interação entre as 3 dimensões do fato musical,
> demonstrando como o signo musical é um fragmento da experiência
> humana, observando que "um signo ou coleção de signos, ao qual um
> complexo infinito de interpretantes (outros signos gerados na mente 
> do
> percebedor) está ligado pode ser chamado de forma simbólica" (Music
> and Discourse 1990, pág.4). Não se trata exatamente de uma 
> relação
> de causa e efeito, mas de uma relação triangular complexa entre o
> signo (no caso da obra musical), o objeto que representa para um ou
> vários agentes sociais e os interpretantes que gera na mente de um
> percebedor ou de um grupo de ouvintes, podendo o processo de semiose
> constituir uma rede ilimitada. Portanto, seguindo essa abordagem,  a
> própria avaliação crítica da obra pelo musicólogo seria, nessa
> abordagem, um interpretante possível e jamais a verdade absoluta,
> como desejavam os positivistas. Infelizmente nao tenho tempo de
> resumir toda essa teoria que já desde os anos 70, considerou o
> entrelaçamento das dimensões poiética (da criação musical), com 
> a
> dimensão  da forma simbólica, de seus traços acessíveis através
> da experiencia do "percebedor",  com a dimensão estésica na qual se
> constrói um sentido no curso de um processo de semiose.O diálogo 
> das
> ciências sociais, especialmente a história e a antropologia com a
> semiótica e a semiologia tem dado muitos frutos que valeria a pena
> acompanhar de perto. Mesmo nos congressos da IASPM-AL, conforme nos
> informa Juan Pablo González (Nueva Musicologia y Música popular
> Latinoamericana, 2007) essa necessidade de interação e diálogo da
> musicologia com outras disciplinas sociais e humanas tem gerado uma
> renovação  que vem rompendo com o isolamento do discurso analítico
> musicológico que tem passado a dialogar  com os estudos culturais, 
> de
> gênero, da performance, da nova história, sociologia e 
> antropologia.
> Bem, só para pensarmos nisso coletivamente. um abraço
> cordial,Marcus.
>
>
> prof. Dr. Marcus Straubel Wolff
> Mestre em História Social da Cultura (PUC/RJ)
> Doutor em Comunicação e Semiótica (PUC/SP)
> Faculdades de  Música e Comunicação
> Universidade Candido Mendes, RJ.
>
>
> Date: Tue, 17 Apr 2012 16:06:26 -0700
> From: lucianocesar78 em yahoo.com.br
> Subject: Re: [ANPPOM-Lista] giron: villa-lobos tinha dias de tirano
> To: ppsalles em usp.br; silvioferrazmello em uol.com.br;
> anppom-l em iar.unicamp.br; etnomusicologiabr em yahoogrupos.com.br;
> m_swolff em hotmail.com
>
> Prezado Marcus,
>
>    Creio que relacionar numa relação causal o projeto musical de
> Villa-Lobos com as ditaduras, o de Comte com o silenciamento da 
> classe
> trabalhadora, ou atrocidades do segundo império frances com uma
> abrangencia no alcance da educação musical é tão falho quanto o
> pensamento difundido entre a burguesia de que fazer deixa as pessoas
> melhores, mais pacíficas e tranquilas. Ou seja, invertemos a
> avaliação do uso da música pelos regimes de poder, mas ficamos na
> mesma situação de observá-la a partir de seus usos. E a música é
> muito mais que isso.
>    A classe trabalhadora reinvindicaria mais com mais acesso a
> cultura e a música faz parte dessa formação ampla que gera
> cidadãos mais criticos. Para chegar nisso o que é urgente é que se
> autonomize a música dos mexericos, mesmo que seja
>  importantíssimo entender as relações de poder nos seus
> desenvolvimentos e recepções junto aos Estados. Mas esse
> assuntotambém é autônomo da musicologia e não pode obnublar a
> avaliação crítica da obra, da qual se diz ainda muito pouco. Creio
> que esse ponto, levantado pelo Paulo, Silvio, etc. é ainda crucial.
>    Cordial abraço!
>
> Luciano Morais
>
> --- Em sáb, 14/4/12, Marcus S. Wolff <m_swolff em hotmail.com> 
> escreveu:
>
> De: Marcus S. Wolff <m_swolff em hotmail.com>
> Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] giron: villa-lobos tinha dias de tirano
> Para: ppsalles em usp.br, silvioferrazmello em uol.com.br, "lista ANPPOM"
> <anppom-l em iar.unicamp.br>, "etnomusicologia lista"
> <etnomusicologiabr em yahoogrupos.com.br>
> Data: Sábado, 14 de Abril de 2012, 22:10
>
>
>
>
>
>
> Interessante a colocação do prof Pedro Paulo. Concordando com ela,
> sugiro a leitura da tese de doutorado de Jeanne Venzo Clément
> intitulada Villa-Lobos, éducateur. (Paris, Sorbonne, 1989) repleta 
> de
> farta documentação, fontes primárias e secundárias, que 
> demonstram
> o modo como, com o declarado objetivo de "promover a educação do 
> bom
> gosto, liberando as novas gerações das influências estrangeiras"
> (1989: 51) e desejando despertar um "verdadeiro espírito cívico de
> ordem e disciplina" (idem, ibidem), o compositor/educador 
> aproximou-se
> do interventor João Alberto em São Paulo, logo após a revolução
> de 30, mostrando a utilidade do seu projeto pedagógico. Aliás a
> autora não deixa os leitores pouco familiarizados com a história
> política brasileira esquecerem que "São Paulo foi o teatro de uma
> luta entre o Partido Democrático e os chefes da revolução",
> demonstrando a seguir como os cantos orfeônicos serviram aos
> interesses de
>  apaziguamento, vistos pelos novos donos do poder como "intenções
> cívicas e patrióticas". Para um maior aprofundamento  de como as
> chamadas "sociedades orfeônicas" sustentaram já na França do
> Segundo Império (séc. XIX) determinados interesses sociais e
> políticos nada democráticos sugiro o texto de Jane Fulcher, profa 
> da
> Syracuse University intitulado "The Orphean Societies: Music for the
> Workers in Second Empire France" já traduzido magistralmente para
> nosso idioma pelo prof. Samuel Araújo. Segundo a autora,  A. Comte
> delineava para o Estado um papel importante na disseminação de uma
> cultura para os pobres, pois estava convencido de que isso viria a
> estabelecer uma "verdadeira paz e harmonia social", evitando-se assim
> as reivindicações e os distúrbios que a classe trabalhadora vinha
> causando. Destaca-se no projeto estético positivista, a música como
> a arte mais apropriada para se fazer disponível aos
>  trabalhadores, já que podia ser praticada em grandes grupos e
> aprendia até por analfabetos, fato esse que não passou despercebido
> pelo maestro Villa-Lobos. Como compreender tal projeto pedagógico 
> sem
> considerar o contexto político que favoreceu seu desenvolvimento?
> Como neutralizar um aspecto da criação musical de um compositor, 
> sem
> pensar nos elos que ligam o compositor a seu contexto, suas opções
> estético-políticas diante de uma ditadura que veio logo a seguir,
> seu debate com outros artistas/intelectuais que na mesma época
> assumiam posturas opostas (como Mário de Andrade) e sem pensar na
> "recepção" ( na reconstrução dos traços para usar J. Molino) de
> suas práticas musicais (incluindo neste campo estésico não só as
> obras como também seu projeto político-pedagógico) ? Bem, após a
> leitura desses autores, sinto-me incapaz de realizar tal operação 
> de
> neutralização mas creio que nao seria essa a tarefa de um
> musicólogo do
>  nosso tempo. saudações cordiais a todos,Marcus Wolff.
>
>
>
> prof. Dr. Marcus Straubel Wolff
> Mestre em História Social da Cultura (PUC/RJ)
> Doutor em Comunicação e Semiótica (PUC/SP)
> Faculdades de  Música e Comunicação
> Universidade Candido Mendes, campi Friburgo e Rio, RJ.
>
>
>
>
>> Date: Fri, 13 Apr 2012 18:16:25 -0300
>> From: ppsalles em usp.br
>> To: silvioferrazmello em uol.com.br
>> CC: anppom-l em iar.unicamp.br; etnomusicologiabr em yahoogrupos.com.br
>> Subject: Re: [ANPPOM-Lista] giron: villa-lobos tinha dias de tirano
>>
>> Caro Silvio,
>>
>> foi um alento ler suas considerações, com as quais concordo
>> plenamente. Acrescentaria apenas que, a  partir do momento em que o
>> Villa propôs e coordenou um projeto de Educação Musical de 
>> âmbito
>> nacional, atingindo a milhares de escolas e dezenas de milhares de
>> estudantes, professores e diretores de escolas, suas ações nesse
>> âmbito tomam um vulto considerável, que devem - é claro - ser
>> analisadas não no
>  nível da fofoca e de análises superficiais, mas no
>> mesmo nível que sua música merece, sempre levando em conta o 
>> contexto
>> histórico e ideológico da época - como você bem apontou - e do 
>> Estado
>> Novo e suas implicações.
>>
>> Forte abraço, Pedro Paulo Salles
>>                USP
>> ......................................
>>
>> Citando silvioferrazmello <silvioferrazmello em uol.com.br>:
>>
>> > Caro Carlos,
>> >
>> > Diversas das frases atribuídas a Villa-Lobos no texto são o 
>> jargão da época.
>> > Não só ele mas uma multidão dizia o mesmo sobre a arte popular 
>> e
>> > sobre qualquer coisa que fosse moderna.
>> > Não só ele mas uma turba batia em alunos, espancava colegas, 
>> brigava
>> > nas ruas...
>> > Agora, muito do que se fala de Villa são piadas de costume e ele
>> > gostava que as
>  inventassem..
>> > Talvez fossem adepto da frase janista: "falem mal mas falem de 
>> mim"
>> > De fato cultuava as bobagens a seu respeito, e deixava que
>> > proliferassem por variações e mais variações.
>> > Mas o que falta mesmo é sempre a referência de cada uma das 
>> blagues,
>> > quem contou, quando contou, qual a ocasião em que se
>> > encontravam...quem? exatamente quem?
>> >
>> > Mas é triste é ver que sempre retornamos o método da fofóca de
>> > revista de variedades quando se trata de Villa.
>> > Sua composição mesmo fica em segundo plano ou fica sob a frase 
>> "um
>> > grande compositor, precisa ser melhor estudado e blablablablabla".
>> >
>> > Lendo a reportagem me perguntei:
>> > Quem são as "professoras revoltadas pelo teu trato" da folha
>> > datilografada sem assinatura? Aquelas mesmas que nos batiam
>  nas mãos
>> > com réguas para mantermos o pulso no lugar qdo tínhamos aula de
>> > piano, ou as que nos faziam cantar o Hino Nacional com todas as
>> > crases e vírgulas..."cantem com as vírgulas....não esqueçam as
>> > crases"? ou o autor do texto acredita que eram professoras que
>> > trabalhavam sob o método Paulo Freire.
>> > O mundo era outro, a norma era outra, e um texto rápido nunca 
>> escapa
>> > de ser ter grandes equívocos.
>> >
>> > Guanabarino: Que bom que ele não conseguiu conter a obra de 
>> Villa! E
>> > sorte que Villa não chegava aos extremos de um Varèse, 
>> Guanabarino o
>> > teria lançado literalmente à fogueira já que achincalhava tudo 
>> que
>> > sua visão pré-republicana não compreendia.
>> >
>> > No mais, se Villa deu uns cascudos em Vasco Mariz, ora professores
>> > que davam
>  cascudos, professores que atiravam apagador em alunos,
>> > professores que nos mandavam ficar de costas no canto da sala, ir
>> > ajoelhar no milho, ter as mãos langanhadas por palmatórias, 
>> escrever
>> > na frente de seus colegas mil vezes uma frase estúpida
>> > qualquer...não me parece que isto tudo tenha sido uma prática
>> > exclusiva de Villa-Lobos ou de minha professora de música no 
>> ginásio
>> > (30 anos depois de Villa).
>> >
>> > O problema de toda leitura contemporânea é tentar analisar o 
>> passado
>> > pelos padrões atuais...ora, Villa não era politicamente correto, 
>> nem
>> > teria como ser, ninguém era politicamente correto.
>> >
>> > Então...já que não teremos mais que conviver com o sujeito
>> > Villa-Lobos, porque retomar as fofocas de vida íntima?
>> > Não é já passada a hora de divulgarmos
>  trabalhos de peso na análise
>> > da obra de Villa, na análise de seu contexto sócio-político, do 
>> que
>> > artigos rápidos de jornal que acabam contribuindo mais ainda à
>> > distorção desnecessárias?
>> >
>> > Recomendo a leitura do livro de Paulo de Tarso, a biografia 
>> escrita
>> > por Tarasti, as análises que Marcos Lacerda realizou dos Choros, 
>> e
>> > outros tantos trabalhos que por alegria caem às mãos e que 
>> iluminam
>> > um pouco do que foi abrir caminho no meio do mato para fazer
>> > adentrar nestas terras um pouco de música de invenção.
>> >
>> > abs
>> > Silvio Ferraz
>> >
>> >
>> >
>> >
>> >
>> > On Apr 6, 2012, at 7:03 PM, Carlos Palombini wrote:
>> >
>> >> via Liliane Kans (FB)
>> >>
>> >> HISTÓRIA
>> >> Villa-Lobos
>  tinha dias de tirano
>> >>
>> >> Documentos inéditos mostram que o compositor tratava mal suas
>> >> alunas, brigava e regia a massa com batuta de aço
>> >>
>> >> LUÍS ANTÔNIO GIRON
>> >>
>> >>
>> >> HOBBY
>> >> Villa-Lobos joga bilhar na Associação Brasileira de Imprensa 
>> (1957)
>> >> Na quinta-feira 2 de junho de 1932, as professoras do
>> >> recém-instalado Curso de Pedagogia da Música e Canto Orfeônico 
>> do
>> >> Rio de Janeiro, cansadas de receber maus-tratos do compositor
>> >> Heitor Villa-Lobos, redigiram uma carta anônima ao carrasco. No
>> >> início dos anos 1930, depois de uma década na Europa, ele 
>> esbanjava
>> >> poder e surtos de estrelismo, mas isso não conteve as ofendidas.
>> >> 'Se continuas a ameaçar-nos com os poderes absolutos de que
>  te
>> >> prezas faremos uma representação ao Diretor Geral', ameaçam as
>> >> missivistas. 'Não vês que tudo é contraproducente quando o 
>> chefe
>> >> não sabe ter atitudes? Não percebes que as colegas se podem
>> >> infiltrar desses teus modos estúpidos e passar a fazer o mesmo 
>> com
>> >> as criancinhas?' Encerram o ataque com a indicação: 'As 
>> professoras
>> >> revoltadas pelo teu trato'.
>> >>
>> >> A folha, datilografada e sem assinatura, encontra-se na 
>> Biblioteca
>> >> Nacional, no Rio (consta do espólio do maestro Sílvio Salema,
>> >> assistente de Villa), e só agora vem à luz, com outros papéis 
>> -
>> >> recortes, partituras, cartas e fotografias - arquivados ali e no
>> >> Museu Villa-Lobos. As duas instituições cariocas abrigam 
>> documentos
>> >> que esclarecem a ação e
>  a obra do mais celebrado e executado
>> >> compositor erudito brasileiro. Com base nos materiais que vêm 
>> sendo
>> >> vasculhados, acontece uma alteração sensível da imagem de
>> >> Villa-Lobos para a posteridade. O tratado definitivo sobre o
>> >> assunto ainda está por ser escrito, mas uma horda de 
>> pesquisadores
>> >> corre e concorre para realizar a façanha. Uma silhueta diferente 
>> do
>> >> músico promete delinear-se ao final da competição. Tudo indica 
>> que
>> >> o 'índio de casaca', o simpático inspirador da música popular
>> >> brasileira - e de filmes como Villa-Lobos, uma Vida de Paixão
>> >> (2000), de Zelito Viana, que reduz o artista à caricatura -, 
>> saia
>> >> do palco para dar lugar ao ditador agressivo, defensor da 'arte
>> >> elevada' contra a música popular - e sobretudo paladino de seus
>
>> >> interesses particulares.
>> >>
>> >> Inimigos íntimos
>> >> Críticos, professores e colegas tentaram derrubar o músico
>> >>
>> >> ATAQUES
>> >> O crítico Oscar Guanabarino e outros malharam o músico em vida
>> >> Villa-Lobos sofreu ataques desde que começou a apresentar suas
>> >> peças de vanguarda, no Rio, em 1918. Foi chamado de bárbaro, 
>> louco,
>> >> petulante, autodidata. Durante a Semana de Arte Moderna de 22, em
>> >> São Paulo, foi saudado pelo público com uma saraivada de 
>> batatas.
>> >> As polêmicas só escassearam no fim da década de 40, quando 
>> obteve
>> >> consagração mundial com suas turnês pelos Estados Unidos e 
>> pela
>> >> Europa e conseguiu calar quase todos os opositores. O maior deles
>> >> chamava-se Oscar Guanabarino (1851-1937). Esse
>  professor de piano e
>> >> folhetinista atuou como flagelo do modernismo e do nacionalismo. 
>>>> >> do canto lírico de Carlos Gomes, iniciou fama de mal-humorado 
>> por
>> >> volta de 1890, ao atacar os primeiros músicos que usavam o 
>> folclore
>> >> em suas peças. Quando Villa-Lobos apareceu com suas suítes
>> >> sincopadas e dissonantes, o velho crítico fulminou-o com todo o 
>> seu
>> >> arsenal de conceitos. Os dois chegaram a trocar bengaladas em um
>> >> concerto nos anos 20. Guanabarino atacou-o até morrer. Na coluna
>> >> Pelo Mundo das Artes, do Jornal do Commercio (uma das últimas a
>> >> levar a rubrica de 'folhetim'), em 1934, comentou uma festa
>> >> orfeônica organizada pelo compositor informando que 'a 
>> concorrência
>> >> foi diminutíssima - apenas 100 pessoas na platéia, se tanto, o 
>> que
>
>> >> quer dizer que o público rejeita o sr. Villa-Lobos e a sua 
>> música,
>> >> mesmo quando lhe é oferecida gratuitamente'. Guanabarino 
>> inspirou
>> >> novos rivais, como Gondim da Fonseca e Carlos Maul (1887-1971).
>> >> Este último publicou, em 1962, o ensaio A Glória Escandalosa de
>> >> Villa-Lobos.  Ali, acusava o compositor de haver rapinado o
>> >> folclore. Villa-Lobos achava graça das acusações. A 
>> posteridade não
>> >> as levou a sério. #Q#
>> >> Reprodução
>> >>
>> >> HUMILHADAS
>> >> Integrantes do Orfeão dos Professores redigiram em 1932 uma 
>> carta
>> >> (acima) ameaçando o regente Heitor Villa-Lobos
>> >> Os documentos, examinados com exclusividade por ÉPOCA, dão 
>> conta de
>> >> que Villa-Lobos possuía um gênio incontrolável e não recuava 
>> ante
>>
>  >> nenhum tipo de obstáculo. Exemplo disso é a advertência das 
> alunas
>> >> que constituíam o Orfeão dos Professores sobre sua falta de
>> >> didática. A carta, se foi recebida (não há evidências a esse
>> >> respeito), não surtiu efeito, porque o regente defendia como
>> >> expedientes o rigor para adultos e a palmatória para crianças.
>> >> Assim aconteceu num ensaio ao ar livre, na frente do prédio de 
>> seu
>> >> Conservatório de Canto Orfeônico, na Praia Vermelha, em meados 
>> de
>> >> 1936. O músico, trajado com uma espalhafatosa casaca colorida,
>> >> tentava reger um coral de milhares de meninos. Um grupo mais
>> >> barulhento não se aquietava, nem com a intervenção de um 
>> escoteiro
>> >> encarregado de organizar a multidão. A garotada começou, 
>> então, a
>> >> brigar. 'Villa saiu do
>  pódio furioso e acabou com a bagunça,
>> >> distribuindo cascudos para todo lado', lembra o tal escoteiro, 
>> que
>> >> viria a se tornar o mais importante biógrafo de Villa-Lobos: 
>> Vasco
>> >> Mariz. 'Até eu levei um!'Aos 82 anos, o embaixador aposentado e
>> >> musicólogo carioca orgulha-se de ter travado relações anos 
>> depois
>> >> com Villa-Lobos e feito sua biografia. Publicada pela primeira 
>> vez
>> >> em 1949 pelo Itamaraty a partir de seis meses de entrevistas com 
>> o
>> >> compositor, Villa-Lobos, Compositor Brasileiro chegará à 12ª 
>> edição
>> >> no próximo ano pela editora Francisco Alves, com acréscimos 
>> como
>> >> cartas, iconografia, os episódios em torno das concentrações
>> >> orfeônicas e atualização biográfica e discográfica, já que 
>> a vasta
>> >> obra do compositor nunca foi tão
>  executada e estudada no mundo. São
>> >> duas centenas de gravações recentes, além de 70 livros sobre o
>> >> artista. A primeira edição da biografia de Mariz desagradou ao
>> >> biografado por causa da passagem do cascudo. 'Villa se distanciou
>> >> de mim por um bom tempo, porque achava que eu o tinha descrito 
>> como
>> >> violento', revela o biógrafo. 'Foi um caso divertido e, quando 
>> lhe
>> >> contei, Villa deu gargalhadas. Ao ler, mudou de idéia. Depois, 
>> por
>> >> meio de sua mulher, Mindinha, fizemos as pazes. Mesmo com modos
>> >> grosseiros com quem dependia dele, foi muito amado.'
>> >>
>> >> PRINCIPAIS OBRAS
>> >>
>> >> Segundo o gênero
>> >>
>> >> 6 Óperas
>> >> 12 Sinfonias
>> >> 13 Peças para violão-solo
>> >> 13 Poemas
>  sinfônicos
>> >> 17 Quartetos de corda
>> >> 27 Concertos
>> >>
>> >> Estranho homem esse, capaz de maltratar os alunos, despertar o 
>> ódio
>> >> da crítica, e, ainda assim, ser admirado. Mariz caracteriza-o 
>> como
>> >> um eterno menino, pronto para cometer uma traquinagem ou um gesto
>> >> ditatorial. Rebate, no entanto, a acusação que lhe fazem os
>> >> acadêmicos atuais de que era um colaborador do fascismo de 
>> Vargas.
>> >> 'Ele não tinha cor política', lembra o estudioso. 'Queria 
>> divulgar
>> >> sua música. Vaidoso, não tinha paciência com a mediocridade. 
>> Mas,
>> >> se você soubesse manobrá-lo, conseguia tudo dele.'
>> >>
>> >> Para a pesquisadora Mercedes Reis Pequeno, autora da monumental
>> >> Bibliografia Musical Brasileira (disponível na internet no site
>>
>  >> www.abm.org.br), simpatizar com o compositor podia ser difícil.
>> >> 'Era de temperamento muito desigual e não conquistava à 
>> primeira
>> >> vista. Muito seguro de seu valor, convencido mesmo, mas ao mesmo
>> >> tempo, em certas circunstâncias, quase ingênuo. Mas, quando
>> >> confiava, era para valer. Inimigos, quem não os tem nessa vida?'
>> >>
>> >> #Q#
>> >> Fatos da vida do autor das 'Bachianas'
>> >> Nascido em 5 de março de 1887 em uma família de classe média,
>> >> Villa-Lobos, ou Tuhu, seu apelido, não teve educação formal. O 
>> pai,
>> >> Raul, era músico amador e lhe ensinou as primeiras notas
>> >> 	1922 ? ENFANT TERRIBLE
>> >> Brilhou e foi vaiado na Semana de Arte Moderna de São Paulo
>> >> 1926 ? EM PARIS
>> >> Conviveu com músicos de vanguarda como
>  Edgard Varèse (à esq.)
>> >> 	1932 ? NO RIO
>> >> Fundou o Orfeão dos Professores. Seu assistente era o maestro
>> >> Sílvio Salema (foto de 1952)
>> >> 1940 ? MULTIDÃO
>> >> Um coral de 40 mil alunos cantou no estádio do Vasco, sob 
>> direção
>> >> do músico (no alto, ao microfone)
>> >> 	1955 ? CONSAGRAÇÃO
>> >> Rege a Orquestra da Filadélfia durante ensaio em uma de suas 
>> turnês
>> >> pelos Estados Unidos
>> >> 1959 ? FINALE
>> >> Lançou a última peça, Concerto Grosso, para Orquestra de 
>> Sopros.
>> >> Morreu de câncer no Rio, em 17 de novembro	#Q#
>> >> O músico lancetou-os com a ponta da batuta afiada - e, às 
>> vezes, do
>> >> taco de bilhar, seu passatempo favorito. Começou por estocar os
>> >> compositores populares, ou, como preferia, folclóricos. No 
>> início
>
>> >> da década de 40, por exemplo, chamou o samba-exaltação 
>> 'Aquarela do
>> >> Brasil', de Ari Barroso, de oportunista. Escreveu que a música
>> >> folclórica não passava da 'acepção mínima' da música. Oque 
>> não o
>> >> impediu de se aproveitar de temas dos chorões com quem havia 
>> tocado
>> >> em noitadas na juventude, como o de 'Rasga Coração', com 
>> melodia de
>> >> Anacleto de Medeiros e letra de Catulo da Paixão Cearense, base
>> >> para os 'Choros no 10' (1925), para orquestra e coro. Por conta 
>> da
>> >> apropriação, ele amargou um processo de plágio, do qual veio a 
>> ser
>> >> inocentado só depois da morte.
>> >>
>> >> 'Villa-Lobos não gostava de música popular, como querem muitos
>> >> estudiosos', afirma o musicólogo Flávio Silva, que há dois 
>> anos
>> >> pesquisa os
>  papéis do compositor e se candidata a ser um dos
>> >> primeiros a chegar à esperada grande interpretação. 'O canto
>> >> orfeônico formava sua plataforma e seu ponto de honra. 
>> Distinguia a
>> >> 'música elevada' da restante. É engano pensar que ele gostava 
>> do
>> >> som recreativo.'
>> >>
>> >> Até hoje raramente abordado, o período em que o músico 
>> implementou
>> >> projeto do canto orfeônico - de 1930 a 1945, os dois primeiros 
>> anos
>> >> em São Paulo e o restante no Distrito Federal - é o mais rico 
>> em
>> >> intrigas, manifestações e atos públicos em torno das idéias 
>> do
>> >> compositor. Aos poucos, ele ganha perspectiva histórica. Também 
>> foi
>> >> o momento em que Villa-Lobos, na chefia da trilha sonora da
>> >> ditadura Vargas, feriu o  maior número de pessoas, de 
>> normalistas a
>
>> >> críticos profissionais. Recebeu o troco e sua produtividade 
>> cresceu
>> >> na razão direta dos contra-ataques. Ela se revelou tão intensa 
>> que
>> >> ainda hoje estão para ser descobertos discos e partituras que 
>> ele
>> >> produziu com diversos coros. Com uma bolsa da Fundação Vitae,
>> >> Flávio Silva levantou 20 gravações, inclusive pelo Orfeão dos
>> >> Professores. 'Algumas gravações têm qualidade,  e o grupo 
>> conseguiu
>> >> bom desempenho', julga.
>> >>
>> >>
>> >> 'Proclamo o valor de todas as manifestações populares da 
>> música
>> >> como quem cultiva uma fonte de essências originais, nunca
>> >> apresentando-a como expressão de um povo civilizado'
>> >>
>> >> HEITOR VILLA-LOBOS,
>> >> discurso em 15 de outubro de 1939
>> >>
>>
>  >> O resultado só podia ser obtido pela mão forte do regente, que 
> se
>> >> fazia sentir no moral das professoras e na moleira da criançada.
>> >> Seu sonho, ou 'plano de ataque', como dizia, era despertar o
>> >> interesse dos jovens e formar um público para a sua música por 
>> meio
>> >> do canto coletivo. Com o Guia Prático - 137 peças para diversas
>> >> formações -, desejava espalhar corais pelo Brasil em 
>> manifestações
>> >> cívicas em grandes estádios. A prática coral nas escolas não 
>> visava
>> >> a grandes artistas, mas a preparar o gosto comunitário para uma
>> >> 'fisionomia musical brasileira', como disse em discurso que
>> >> pronunciou no salão Assírio do Teatro Municipal do Rio em 15 de
>> >> outubro de 1939, segundo original da Biblioteca Nacional: 'Sei 
>> bem
>> >> que o gosto e a
>  opinião pública não se impõem, mas educam-se'. O
>> >> projeto, contudo, murchou aos poucos. Todos os especialistas
>> >> entrevistados fazem uníssono ao dizer que a situação da 
>> educação
>> >> musical nas escolas brasileiras é péssima, quando não 
>> inexistente,
>> >> e a lição de Villa-Lobos foi esquecida, bem como suas idéias. 
>> Ele
>> >> perdeu a guerra para a música popular por força do rádio, que
>> >> consagrou o samba e jogou a arte erudita ao segundo plano.
>> >>
>> >> 'Villa-Lobos escreveu e defendeu muitas bobagens', diz Flávio
>> >> Silva. 'Poucas idéias dele se sustentam hoje.' Sua herança se
>> >> concentra na obra, embora a maior parte dela ainda precise ser
>> >> divulgada. O público brasileiro não conhece mais que uma dezena 
>> de
>> >> melodias do compositor - não por
>  acaso, quase todas escritas no
>> >> período em que o maestro, vulto oficial, tangia professoras e
>> >> alunos para os estádios.
>> >>
>> >> Fotos e reproduções dos textos: Biblioteca Nacional/Divisão de
>> >> Música e Arquivo Sonoro
>> >>
>> >> 
>> http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR59656-6011,00.html
>> >>
>> >> --
>> >> carlos palombini
>> >> www.researcherid.com/rid/F-7345-2011
>> >> ________________________________________________
>> >> Lista de discussões ANPPOM
>> >> http://iar.unicamp.br/mailman/listinfo/anppom-l
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