[ANPPOM-Lista] giron: villa-lobos tinha dias de tirano (Gabriel Ferraz)

Ferraz,Gabriel A gabrielferraz em ufl.edu
Seg Abr 23 02:47:18 BRT 2012


Fico muito feliz que meu texto suscitou interesse e reflexão nos 
participantes da lista. Relendo o texto, eu verifiquei alguns erros de 
português, pelos quais me desculpo aqui. Fico contente, entretanto, que 
eles não tenham prejudicado o entendimento das ideias. Para quem 
estiver interessado em ler a dissertação inteira, ela estará online 
muito em breve. Assim que o link estiver disponível eu o postarei aqui.

Apenas como um apêndice nesse assunto, gostaria de deixar aqui uma 
citação do ensaio A Música Nacionalista no Governo Getúlio Vargas, 
que certamente eliminará qualquer dúvida que ainda se possa ter a 
respeito da consciência de Villa-Lobos sobre o papel da sua música na 
formação dos escolares: “Entoando as canções e os hinos 
comemorativos da Pátria, na celebração dos heróis nacionais, a 
infância brasileira vai se impregnando aos poucos dêsse espírito de 
brasilidade que no futuro deverá marcar tôdas as suas ações e todos 
os seus pensamentos, e adquire, sem dúvida, uma consciência musical 
autenticamente brasileira. E as gerações novas, tocadas por esse sopro 
renovador e dinamogênico, colocarão acima de todos os interesses 
humanos o símbolo sagrado da Pátria.” (pg. 12)

Muito bom para a música brasileira, mas também muito bom para Vargas, 
não?

Um abraço a todos,

Gabriel Ferraz

On Mon, 23 Apr 2012 00:42:46 -0300, anppom-l-request em iar.unicamp.br 
wrote:
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>    1. Re: giron: villa-lobos tinha dias de tirano (Gabriel Ferraz)
>       (Marcus S. Wolff)
>
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>
> Message: 1
> Date: Mon, 23 Apr 2012 02:20:56 +0000
> From: "Marcus S. Wolff" <m_swolff em hotmail.com>
> To: <gabrielferraz em ufl.edu>, lista ANPPOM <anppom-l em iar.unicamp.br>
> Subject: Re: [ANPPOM-Lista] giron: villa-lobos tinha dias de tirano
> 	(Gabriel Ferraz)
> Message-ID: <BLU144-W308CA0E485702F1EFB5CAEFA210 em phx.gbl>
> Content-Type: text/plain; charset="windows-1252"
>
>
>
> Olá Gabriel,sua tese parece ser mesmo muito interessante. Em
> relação ao papel da música na formação de identidades pessoais e
> coletivas também tenho seguido os passos de T. Turino, pois o modo
> como ele utiliza a teoria geral dos signos de Peirce e analisa os
> signos musicais possibilita uma compreensão da especificidade das
> linguagens musicais e da dança nos processos de constituição de
> identidades. Escrevi um artigo recentemente sobre isso para o último
> congresso da ABET (WOLFF, Marcus S.
> "Dos Signos Musicais aos Signos de Identidade: uma abordagem 
> semiótica do
> processo de construção de identidades". In: Anais do V Encontro 
> Nacional
> da Associação Brasileira de Etnomusicologia (ENABET), Belém, maio 
> de 2011.
> Disponível em:
>
> <http://abetmusica.org.br/conteudo.php?&sys=downloads>  E sua tese,
> está disponível on-line? Considerando que alguns educadores 
> musicais
> ainda querem utilizar a metodologia dos cantos orfeônicos nos dias 
> de
> hoje, seria ótimo se sua tese fosse publicada em português, lida e
> debatida também nos congressos da ABEM. Agradeço sua 
> contribuição.
> um abraço,Marcus.
>
>
> prof. Dr. Marcus Straubel Wolff
> Mestre em História Social da Cultura (PUC/RJ)
> Doutor em Comunicação e Semiótica (PUC/SP)
> Faculdades de  Música e Comunicação
> Universidade Candido Mendes, RJ.
>
>
>
>
>> Date: Fri, 20 Apr 2012 16:52:59 -0400
>> From: gabrielferraz em ufl.edu
>> To: anppom-l em iar.unicamp.br
>> Subject: Re: [ANPPOM-Lista] giron: villa-lobos tinha dias de tirano 
>> (Gabriel	Ferraz)
>>
>> Caros colegas que estão discutindo o "caso" Villa-Lobos,
>>
>> Achei muito interessante que a discussão do suposto caráter
>> autoritário de Villa-Lobos acabou tornando-se uma discussão sobre 
>> sua
>> participação no governo de Vargas. A meu ver, isso demonstra que 
>> esse
>> aspecto da vida de Villa-Lobos ainda precisa ser melhor entendido na
>> literatura. Gostaria de deixar aqui a minha contribuição para essa
>> discussão, já que o Canto Orfeônico de Villa-Lobos foi o tema do 
>> meu
>> doutorado na Universidade da Flórida.
>>
>> Não estou aqui para fazer propaganda do meu trabalho, nem para
>> resumi-lo, mas gostaria de esclarecer alguns pontos importantes 
>> sobre o
>> assunto, tanto em relação ao comprometimento moral do Villa com o
>> regime de Vargas, quanto em relação ao papel da música na 
>> formação
>> de identidades pessoais e coletivas (isso requer um longo texto). 
>> Depois
>> de analisar centenas de documentos de fonte primária (cartas, 
>> programas
>> de concerto, entrevistas, etc), eu não só tenho certeza de que
>> Villa-Lobos doutrinou os escolares na ideologia de Vargas, mas como 
>> ele
>> tinha plena consciência do valor político de suas ações. Em um
>> contexto de ditadura nacionalista, seria muita ingenuidade acreditar 
>> que
>> Villa-Lobos não tinha consciência do que ele estava fazendo no 
>> Brasil
>> (em um contexto mundial, era amplamente divulgado que regimes 
>> Fascistas
>> faziam uso da música em concentrações em massa). Na verdade,
>> acreditar nisso seria subestimar a inteligência do compositor e sua
>> habilidade de adaptação à momentos diferentes em sua vida. (L. M.
>> Peppercorn, por exemplo, o chama de camaleão. Apesar do trabalho de
>> Peppercorn sobre Villa-Lobos apresentar diversos problemas, eu 
>> concordo
>> plenamente com essa colocação).
>>
>>
>> Em relação à educação musical, acho importante frisar que
>> Villa-Lobos tinha um projeto educacional antes de Vargas tomar o 
>> poder,
>> e as metodologias e objetivos do canto orfeônico partiram dele, e 
>> não
>> do governo. Desde a Primeira República, o canto orfeônico fazia 
>> parte
>> da educação infantil e era muito forte no estado de São Paulo, 
>> onde
>> João Gomes Júnior o introduzira por volta de 1912 (Fabiano Lozano
>> também foi importante como organizador de Orfeões em Piracicaba).
>> Villa-Lobos deu continuidade a essa tradição, mas refoçou os
>> elementos de teor nacionalista, patriótico e civicos e disciplina 
>> em
>> sua abordagem (toda essa informação pode ser encontrada nos textos 
>> que
>> ele escreveu sobre educação musical). Além disso, parte 
>> importante de
>> seu método de ensino, eram as chamadas Exortações, que impunham 
>> às
>> crianças todos os valores e ideias dos hinos escolares. Também
>> importante (e não investigado na previamente na literatura), é o 
>> fato
>> de que ele exortou esses valores para a sociedade do Rio de Janeiro 
>> como
>> um todo, por meio do Orfeão de Professores, da Orchestra 
>> Villa-Lobos e
>> da Orquestra Municipal do Rio de Janeiro, que realizavam concertos 
>> de
>> natureza nacionalista e patriótica, nos quais os professores 
>> exortavam,
>> com orientação de Villa-Lobos, ideias nacionalistas e 
>> patrióticas.
>>
>> Até aí, não existe o menor problema, uma vez que todos esses
>> elementos (educação, concertos didáticos, composição de obras
>> nacionalistas, etc) são essenciais como parte do projeto de
>> compositores nacionalistas (ver o caso de Grieg, Smetana e Wagner no
>> livro Music Makes the Nation: Nationalist Composers and Nation 
>> Building
>> in Nineteenth-Century Europe de Benjamin Curtis). Tudo isso seria,
>> então, bastante normal para Villa-Lobos, que lutava para que o 
>> público
>> compreendesse e aceitasse a música brasileira (portanto, também a 
>> sua
>> música). Naquela época, entretanto, a idea de conscientização da
>> população sobre quem era o povo brasileiro, bem como a 
>> valorização
>> dos elementos nacionais, era um tema frequente na obra de 
>> intelectuais
>> (vide Casa grande e Senzala e Raízes do brasil, dentre outros), e 
>> de
>> politicos que tinham uma ideologia conectada com o liberalismo, e a
>> busca de brasilidade era um tema comum para ambas classes.
>>
>> O grande problema disso tudo é que Vargas implementou uma ditadura, 
>> e
>> Villa-Lobos continuou usando seu "sistema" de educação musical 
>> para
>> "nacionalizar" as crianças e suas famílias. Ele mesmo fala sobre o
>> papel das crianças como emissárias da ideologia nacionalista, e,
>> inclusive, desenvolveu um sistema de fichas nas quais os pais 
>> deveriam
>> relatavam mudanças no comportamento dos filhos. O sistema de fichas
>> existia também nas próprias escolas, que "mediam" mudanças no
>> comportamento dos alunos devido à prática de canto orfeônico 
>> (isso
>> envolvia a "medição" de seu patriotismo). O sistema de fichas pode
>> não ser altamente científico em sua concepção, mas revela 
>> objetivos
>> bem claros, que vão muito além da educação musical e entram na
>> esfera política.
>>
>> A educação, por si só, já é uma ferramenta política. Quando os
>> valores educacionais são impostos em um ambiente de rígida 
>> disciplina,
>> como fez Villa-Lobos, a educação torna-se doutrinação (ver o
>> importante livro de Michael W. Apple, Ideology and Curruclum. 3rd 
>> ed.
>> New York: RoutledgeFalmer, 2004. Pode-se consultar também, 
>> Kazepides,
>> Tasos. ?Programmatic Definitions in Education: The Case of
>> Indoctrination.? In Canadian Journal of Education / Revue canadienne
>> de l?éducation 14, no. 3 (Summer, 1989): 387-396; e Thiessen, Elmer
>> John. ?Initiation, Indoctrination, and Education.? In the Canadian
>> Journal of Education / Revue canadienne de l?éducation vol. 10, no. 
>> 3
>> (Summer, 1985): 229-249; além de muitos outros). Como teorias
>> educacionais demonstraram, o doutrinador realmente acredita naquilo 
>> que
>> está transmitindo aos seus pupilos, e não é necessariamente um
>> propagandista. No caso de Villa-Lobos, entretanto, apesar de ele
>> acreditar nos valores nacionalistas e patrióticos que disseminou (e
>> provavelmente o teria feito independentemente do regime político em
>> voga), ele sabia do valor propagandístico de sua obra educacional, 
>> não
>> apenas nas grandes Concentrações Orfeônicas, que chegaram a 
>> reunir
>> 40.000 crianças no estádio São Januário para cantar hinos
>> patrióticos no Sete de Setembro, mas na rotina semanal da 
>> educação
>> musical da criança.  Além disso, Villa-Lobos sabia do uso de canto
>> coral em regimes autoritários na Europa Fascista, e como afirmou
>> Arnaldo Contier, ele simpatizava com um Estado forte (não estou, de
>> modo algum, deixando implícito que Villa-Lobos era fascista - o 
>> que,
>> até onde se sabe, ele não era - mas que ele sabia do uso da 
>> música
>> para promover doutrinas políticas). Dentre outras coisas, 
>> Villa-Lobos
>> falou que a arte em geral tinha muito mais poder do que a 
>> diplomacia,
>> revelando sua plena consciência do valor político da arte.
>>
>> Apesar de haver muita evidência que demonstra o engajamento de
>> Villa-Lobos com o ideário político de Vargas, o compositor negou 
>> seu
>> interesse pessoal no regime e alegou que tudo que ele queria era um 
>> povo
>> educado e disciplinado. Ora, mas isso não impediu que sua 
>> educação
>> musical fosse usada, também, como ferramenta política; e pior, com 
>> o
>> seu consentimento, porque ele não era bobo e sabia de tudo que 
>> estava
>> acontecendo. Se sua ideologia política não era a mesma de Vargas 
>> (o
>> que pode-se especular indefinidamente, uma vez que as pessoas podem
>> manipular seu discurso de acordo com seus interesses - ver Strauss e
>> Orff na Alemanha Nazista, por exemplo), sua educação musical teve
>> desdobramentos políticos que independiam de sua vontade, e ele 
>> sabia
>> disso, mas não fez objeção. Portanto, no mínimo, ele não se
>> importava com o uso de seu Canto Orfeônico para fins políticos. Ou 
>> se
>> isso teve qualquer importância para ele, não foi suficiente para 
>> que
>> ele se opusesse ao uso político da educação musical.
>>
>>
>> Além disso, a música tem um papel muito importante na formação 
>> de
>> identidades pessoas e coletivas, o que já foi demonstrado em 
>> diversos
>> trabalhos que investiga a semiótica musical (como Nattiez, já 
>> citado
>> pelo prof. Wolff, além de Kofi Agawu, e Thomas Turino). Eu utilizei 
>> as
>> ideias do excelente artigo do etnomusicólogo Thomas Turino, ?Signs 
>> of
>> Imagination, Identity and Experience: A Peircian Semiotic Theory for
>> Music.? Ethnomusicology 43, no.2 (Spring/Summer, 1999): 221-55, como
>> metodologia, e recomendo sua leitura para um entendimento mais
>> científico do poder de comunicação inerente à música. Em suma, 
>> Como
>> Turino explica, segundo a teoria de semiótica de Charles Peirce, 
>> que
>> ele usa como base para sua própria teoria, o índice (no nosso 
>> caso, o
>> signo musical) "refere-se a um signo que está relacionado ao seu 
>> objeto
>> por meio de co-ocorrência em uma experiência real [...] o poder 
>> dos
>> índices deriva do fato de que as relações signo-objeto são 
>> baseadas
>> nas suas co-ocorrências nas experiências de vida das pessoas,
>> portanto, os índices tornam-se intimamente ligados às pessoas 
>> através
>> de experiências reais". Aplicando essa formulação à música, 
>> podemos
>> entender que valores semânticos são anexados a um evento musical 
>> na
>> mente do ouvinte, quando o objeto musical é experimentado em
>> co-ocorrência com outros eventos da ?vida real? do indivíduo. Como
>> Turino afirma: Índices são experimentados como "reais" porque 
>> estão
>> enraizados, muitas vezes redundantemente, na experiência de vida 
>> das
>> pessoas, como memória, tornando-se uma verdadeira argamassa de suas
>> identidades pessoais e sociais. Quando os índices apresentados são
>> vinculados a formações afetivas relacionadas à vida pessoal e
>> comunitária das pessoas - à família, à infância, à um(a) 
>> amante,
>> à experiências de guerra - eles têm forte potencial para criar
>> efeitos emocionais, porque são muitas vezes intuitivamente 
>> apreendidos
>> irreflexivamente como "reais" ou como partes 'verdadeiras' das
>> experiências significadas". Com base nesses preceitos teóricos, eu
>> demonstrei que a educação musical promoveu, por meio de seus 
>> elementos
>> musicais (ritmo, melodia e harmonia), associados às letras dos 
>> hinos e
>> canções exortados por Villa-Lobos e pelos professores, e aos 
>> aspectos
>> socializantes da prática musical em grupo, a formação da 
>> identidade
>> de crianças primeiramente no Rio de Janeiro, e paulatinamente em 
>> outros
>> estados do brasil, que experimentavam, através da música de cunho
>> nacionalista, a mesma ideologia de nação, imaginando-se dessa 
>> forma,
>> como uma comunidade homogênea de ?seres nacionais?. (Vale a pena
>> conhecer o conceito de "comunidades imaginadas" de Benedict 
>> Anderson,
>> para se entender o papel de "índices" de nacionalidade na 
>> formação de
>> uma nação).
>>
>> Não por acaso, as Concentrações Orfeônicas tornaram-se um 
>> símbolo
>> do regime de Vargas. O próprio Carlos Drummond, que participou 
>> desses
>> eventos, afirmou: "A multidão em torno vivia uma emoção 
>> brasileira e
>> cósmica, estávamos tão unidos uns aos outros, tão participantes 
>> e ao
>> mesmo tempo tão individualizados e ricos de nós mesmos, na 
>> plenitude
>> de nossa capacidade sensorial, era tão belo e esmagador, que para
>> muitos não havia outro jeito senão chorar; chorar de pura 
>> alegria.?
>> E um outro participante relatou à Cacilda Guimarães Fróes, profa. 
>> de
>> Canto Orfeônico: ?A emoção era geral. O espetáculo surpreende 
>> pelo
>> imprevisto. Um gesto do Maestro Villa-Lobos, que comandava o
>> espetáculo, ergue-se cantando, aquela imensa massa de crianças, na
>> mais eloquente demonstração de disciplina e civismo. Os corações
>> fremem de entusiasmo e vêem-se lágrimas até nos olhos de gente
>> grande. Nas arquibancadas, os alunos formavam o relevo do quadro.
>> Villa-Lobos o ponto alto, culminante da paisagem. Naquele dia, como 
>> em
>> nenhum outro, senti a presença da Pátria. Ela estava ali 
>> palpitando na
>> alegria dos escolares, no entusiasmo do povo vibrando 
>> conosco?.Volvi,
>> então um olhar para minha bandeira. Nunca me pareceu tão bela, 
>> tão
>> imponente em sua majestade.? Nesse ambiente altamente emocional, a
>> música se cristalizava como parte de uma experiência coletiva, na 
>> qual
>> patriotismo e nacionalismo funcionavam como "identificadores comuns"
>> entre as pessoas. Nesses eventos (que ocorreram dezenas de vezes 
>> durante
>> o ano, em diversas datas comemorativas e celebrações escolares e
>> políticas) a música se tornava, portanto, um índice carregado de
>> forte valor político.
>>
>> Dessa forma, o argumento "Maquiavélico" de que Villa-Lobos queria
>> apenas promover música brasileira e educar as crianças, não o 
>> isentam
>> de participar e disseminar a ideologia nacionalista do governo, e, 
>> dessa
>> forma, contribuir ativamente (e conscientemente) para a 
>> doutrinação
>> (sim, a palavra é forte, mas, nesse contexto, é a que define o que 
>> ele
>> fez) dos escolares. Se por um lado isso foi bom para a cultura 
>> nacional
>> (e também para o maior entendimento e aceitação da música de 
>> Villa),
>> por outro, contribuiu enormemente para o regime de Vargas. Essas 
>> ideias
>> não são mutuamente exclusivas.
>>
>> Isso não diminui o gênio do compositor de forma alguma. O que ele 
>> fez
>> pela música brasileira, sua criatividade e sua percepção do 
>> momento
>> que o Brasil vivia, não são comprometidos pelo papel político que 
>> ele
>> desempenhou. Sua linguagem musical "híbrida" que, como aspecto
>> intrínseco de linguagens nacionalistas, tornaram sua música um
>> veículo de disseminação de elementos "locais" no exterior, ao 
>> mesmo
>> tempo em que os apresentava, no Brasil, dentro de uma estética 
>> moderna
>> também cultivada na Europa, merecem ser admirados independentemente 
>> de
>> seu engajamento com Vargas. A importância de Villa-Lobos para a 
>> música
>> no Brasil (e no mundo), portanto, não se abala.
>>
>> Mas é importante entender que Villa-Lobos, como todos os outros 
>> seres
>> humanos, viveu dentro de contextos sociais, sem os quais a 
>> realização
>> de sua obra jamais seria possível. É sob esse prima que devemos
>> investigar o papel verdadeiro de sua obra educacional: dentro de um
>> contexto social e político. Não é também importante entender que 
>> em
>> 1930, quando Villa voltou para o Brasil, existia uma grande 
>> antipatia
>> por sua música, e nem mesmo os músicos o respeitavam - ver os 
>> artigos
>> dobre o Villa em Música Doce Música, de M. de Andrade - e que 
>> depois
>> de participar do governo de Vargas, Villa-Lobos tornou-se uma
>> celebridade mundial, mesmo sem ter composto tão ativamente como em
>> períodos anteriores? Como demonstram os programas de concerto
>> executados dentro do seu plano educacional, ele promoveu 
>> massivamente
>> sua obra durante o governo Vargas, e isso contribuiu, 
>> indelévelmente,
>> para que ele passasse a figurar entre os cânones musicais do 
>> Brasil, o
>> que não era verdade quando ele começou seu projeto educacional. 
>> Por
>> exemplo, em 1935, ele conseguiu, finalmente, realizar a premiére de 
>> seu
>> Uirapuro, cuja composicão iniciou-se em 1917 e findou-se em 1934 
>> (não
>> se sabe exatamente quanto do material foi composto em 1917 e quanto 
>> foi
>> "re-estruturado" - como o próprio Villa se refere ao seu trabalho 
>> na
>> obra - em 1934).
>>
>> Para concluir, em muitos casos, os fatos e suas consequências falam
>> mais verdades do que os compositores, principalmente quando existe
>> política envolvida. Para abordarmos o assunto sob um ponto de vista
>> científico, devemos ouvir esses fatos antes de mais nada, e depois
>> interpretá-los à luz da história. Mas para isso precisamos
>> primeiramente conhecer esses fatos, e, depois, tirarmos o 
>> tapa-ouvido.
>>
>> Obrigado pela atenção. Espero que o texto (longo, mas necessário,
>> acredito) possa contribuir para uma reflexão científica sobre o
>> assunto e ajudar a desmitificar valores construídos sobre o Villa.
>> Gênio, sim... mas, sobretudo, humano.
>>
>> Gabriel Ferraz
>>
>>
>>
>>
>>
>>
>>
>> On Fri, 20 Apr 2012 12:12:23 -0300, anppom-l-request em iar.unicamp.br
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>> > Enviar submissões para a lista de discussão Anppom-l para
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>> > Quando responder, por favor edite sua linha Assunto assim ela 
>> será
>> > mais específica que "Re: Contents of Anppom-l digest..."
>> >
>> >
>> > Tópicos de Hoje:
>> >
>> >    1. I Encontro Nacional de Mulheres da Música Popular 
>> Brasileira
>> >       (Carlos Palombini)
>> >    2. Re: giron: villa-lobos tinha dias de tirano (Marcus S. 
>> Wolff)
>> >
>> >
>> >
>> > 
>> ----------------------------------------------------------------------
>> >
>> > Message: 1
>> > Date: Wed, 18 Apr 2012 17:40:19 -0300
>> > From: Carlos Palombini <cpalombini em gmail.com>
>> > To: anppom-l em iar.unicamp.br, 	etnomusicologiabr
>> > 	<etnomusicologiabr em yahoogrupos.com.br>,  Pesquisadores em 
>> Sonologia
>> > 	(Música) 	<sonologia-l em listas.unicamp.br>
>> > Subject: [ANPPOM-Lista] I Encontro Nacional de Mulheres da Música
>> > 	Popular Brasileira
>> > Message-ID:
>> > 
>> 	<CAJWibmHYD_cg-w0OwOHBNSge6a_jVYQ42Y1zNwcgi8j115MtLw em mail.gmail.com>
>> > Content-Type: text/plain; charset="windows-1252"
>> >
>> > Inédita no país, a iniciativa abre um importante espaço de
>> > debates, de
>> > trocas de vivências musicais e de experiências profissionais,
>> > analisando o
>> > mercado e a atual política cultural e tecendo considerações 
>> sobre
>> > a
>> > produção feminina na música popular.
>> >
>> > Contemplando os espaços acadêmicos e os espaços culturais da
>> > cidade de
>> > Pelotas - o meio urbano e o rural -, a programação,
>> > descentralizada,
>> > pretende a aproximação entre eles, incluindo atividades em 
>> espaços
>> > alternativos como O Templo das Águas. Debates e Rodas de conversa 
>> ,
>> > oficinas e wokshops terão espaço na UFPEL, além de shows em
>> > diversos
>> > espaços da cidade.
>> >
>> > Pelotas é um centro cultural que vem se destacando, no Rio Grande 
>> do
>> > Sul,
>> > por suas atividades musicais. No ano de seu bicentenário, este
>> > encontro
>> > traz ao município vozes importantes da cena cultural brasileira,
>> > atraindo
>> > olhares e ouvidos atentos para a arte e sensibilidade femininas em
>> > nossa
>> > cultura.
>> > O Encontro Nacional de Mulheres da Música Popular Brasileira ?
>> > Pelotas/RS
>> > tem a proposta de se tornar um evento fixo no calendário da 
>> cidade e
>> > da
>> > música popular no Brasil.
>> >
>> > Para mais informações sobre os shows, oficinas e debates e 
>> demais
>> > detalhes,
>> > basta acessar encontrodemulheresdampb.blogspot.com.br
>> > Organização: Janete Flores, Isabel Nogueira e Landa Ciccone
>> > Produção: Circo Sem Lona
>> > Contato: jamilhaoflores em hotmail.com
>> >
>> > Blog do evento: http://encontrodemulheresdampb.blogspot.com.br/
>> >
>> >
>> > 
>> http://musicologiafeminista.ning.com/profiles/blogs/i-encontro-nacional-de-mulheres-da-musica-popular-brasileira
>> > <http://encontrodemulheresdampb.blogspot.com.br/>
>> > --
>> > carlos palombini
>> > www.researcherid.com/rid/F-7345-2011
>> > -------------- Próxima Parte ----------
>> > Um anexo em HTML foi limpo...
>> > URL:
>> >
>> > 
>> <http://iar.unicamp.br/pipermail/anppom-l/attachments/20120418/2375514f/attachment.htm>
>> >
>> > ------------------------------
>> >
>> > Message: 2
>> > Date: Thu, 19 Apr 2012 06:20:52 +0000
>> > From: "Marcus S. Wolff" <m_swolff em hotmail.com>
>> > To: <lucianocesar78 em yahoo.com.br>, etnomusicologia lista
>> > 	<etnomusicologiabr em yahoogrupos.com.br>, lista ANPPOM
>> > 	<anppom-l em iar.unicamp.br>
>> > Subject: Re: [ANPPOM-Lista] giron: villa-lobos tinha dias de 
>> tirano
>> > Message-ID: <BLU144-W20C650DA023FF4F2A57FBFA3D0 em phx.gbl>
>> > Content-Type: text/plain; charset="iso-8859-1"
>> >
>> >
>> >
>> >
>> >  Prezado Luciano,gostaria de lembrá-lo que Jean Molino, já em
>> > meados dos anos 70 escrevendo na "Musique en Jeu", percebia que a
>> > análise da obra musical e de sua estrutura, isto é, a análise 
>> do
>> > que chamou de "nível neutro" era algo provisório, pois 
>> dependente
>> > dos critérios utilizados, podendo ser superada pela introdução 
>> de
>> > novos critérios ou de novas informações oriundas de outros 
>> níveis
>> > (poiético e estésico). Aqui poderia se incluir também o
>> > anedótico,
>> > ao lado de outros signos que carregam informações sobre a 
>> criação
>> > de uma obra, as reações que causou nos alunos de Villa-Lobos, ou 
>> em
>> > outros setores da sociedade (intelectuais, políticos, etc).Já em
>> > seu
>> > artigo intitulado "O Fato Musical e a Semiologia da Música", 
>> Molino
>> > considerava o "fato musical" como "fato social total", indo muito
>> > além da análise do fenômeno sonoro em si mesmo. Sim, devo
>> > concordar
>> > que a música seja muito mais do que seu uso pelos regimes
>> > ditatoriais
>> > ou os discursos sobre ela, mas não é possível isolar o que
>> > chamamos
>> > de música sem correr  riscos de cair no etnocentrismo e numa 
>> grande
>> > alienação em nome de uma suposta autonomia da arte pouco
>> > comprovável. Para voltar a Molino, "nao há maior perigo do que o 
>> do
>> > etnocentrismo que nos conduz a distinguir em toda parta uma 
>> música
>> > restrita (que corresponde à nossa concepção do fato musical" 
>> como
>> > sendo o único tipo de música autêntica e uma área secundária,
>> > complementar que designamos e rejeitamos chamando-a de
>> > interpretação
>> > simbólica ou significação - um tipo de apêndice acrescentado 
>> à
>> > música pura sem mudar seu caráter" (1990, p. 114-115 - cito aqui 
>> a
>> > tradução para o inglês de 1990, mas o artigo original na 
>> "Musique
>> > en Jeu" vol. 17 foi publicado em fr. em 1975!). Por outro lado, 
>> Jean
>> > J. Nattiez, que de certo modo levou adiante as colocações de
>> > Molino,
>> > explorou a interação entre as 3 dimensões do fato musical,
>> > demonstrando como o signo musical é um fragmento da experiência
>> > humana, observando que "um signo ou coleção de signos, ao qual 
>> um
>> > complexo infinito de interpretantes (outros signos gerados na 
>> mente
>> > do
>> > percebedor) está ligado pode ser chamado de forma simbólica" 
>> (Music
>> > and Discourse 1990, pág.4). Não se trata exatamente de uma
>> > relação
>> > de causa e efeito, mas de uma relação triangular complexa entre 
>> o
>> > signo (no caso da obra musical), o objeto que representa para um 
>> ou
>> > vários agentes sociais e os interpretantes que gera na mente de 
>> um
>> > percebedor ou de um grupo de ouvintes, podendo o processo de 
>> semiose
>> > constituir uma rede ilimitada. Portanto, seguindo essa abordagem,  
>> a
>> > própria avaliação crítica da obra pelo musicólogo seria, 
>> nessa
>> > abordagem, um interpretante possível e jamais a verdade absoluta,
>> > como desejavam os positivistas. Infelizmente nao tenho tempo de
>> > resumir toda essa teoria que já desde os anos 70, considerou o
>> > entrelaçamento das dimensões poiética (da criação musical), 
>> com
>> > a
>> > dimensão  da forma simbólica, de seus traços acessíveis 
>> através
>> > da experiencia do "percebedor",  com a dimensão estésica na qual 
>> se
>> > constrói um sentido no curso de um processo de semiose.O diálogo
>> > das
>> > ciências sociais, especialmente a história e a antropologia com 
>> a
>> > semiótica e a semiologia tem dado muitos frutos que valeria a 
>> pena
>> > acompanhar de perto. Mesmo nos congressos da IASPM-AL, conforme 
>> nos
>> > informa Juan Pablo González (Nueva Musicologia y Música popular
>> > Latinoamericana, 2007) essa necessidade de interação e diálogo 
>> da
>> > musicologia com outras disciplinas sociais e humanas tem gerado 
>> uma
>> > renovação  que vem rompendo com o isolamento do discurso 
>> analítico
>> > musicológico que tem passado a dialogar  com os estudos 
>> culturais,
>> > de
>> > gênero, da performance, da nova história, sociologia e
>> > antropologia.
>> > Bem, só para pensarmos nisso coletivamente. um abraço
>> > cordial,Marcus.
>> >
>> >
>> > prof. Dr. Marcus Straubel Wolff
>> > Mestre em História Social da Cultura (PUC/RJ)
>> > Doutor em Comunicação e Semiótica (PUC/SP)
>> > Faculdades de  Música e Comunicação
>> > Universidade Candido Mendes, RJ.
>> >
>> >
>> > Date: Tue, 17 Apr 2012 16:06:26 -0700
>> > From: lucianocesar78 em yahoo.com.br
>> > Subject: Re: [ANPPOM-Lista] giron: villa-lobos tinha dias de 
>> tirano
>> > To: ppsalles em usp.br; silvioferrazmello em uol.com.br;
>> > anppom-l em iar.unicamp.br; etnomusicologiabr em yahoogrupos.com.br;
>> > m_swolff em hotmail.com
>> >
>> > Prezado Marcus,
>> >
>> >    Creio que relacionar numa relação causal o projeto musical de
>> > Villa-Lobos com as ditaduras, o de Comte com o silenciamento da
>> > classe
>> > trabalhadora, ou atrocidades do segundo império frances com uma
>> > abrangencia no alcance da educação musical é tão falho quanto 
>> o
>> > pensamento difundido entre a burguesia de que fazer deixa as 
>> pessoas
>> > melhores, mais pacíficas e tranquilas. Ou seja, invertemos a
>> > avaliação do uso da música pelos regimes de poder, mas ficamos 
>> na
>> > mesma situação de observá-la a partir de seus usos. E a música 
>> é
>> > muito mais que isso.
>> >    A classe trabalhadora reinvindicaria mais com mais acesso a
>> > cultura e a música faz parte dessa formação ampla que gera
>> > cidadãos mais criticos. Para chegar nisso o que é urgente é que 
>> se
>> > autonomize a música dos mexericos, mesmo que seja
>> >  importantíssimo entender as relações de poder nos seus
>> > desenvolvimentos e recepções junto aos Estados. Mas esse
>> > assuntotambém é autônomo da musicologia e não pode obnublar a
>> > avaliação crítica da obra, da qual se diz ainda muito pouco. 
>> Creio
>> > que esse ponto, levantado pelo Paulo, Silvio, etc. é ainda 
>> crucial.
>> >    Cordial abraço!
>> >
>> > Luciano Morais
>> >
>> > --- Em sáb, 14/4/12, Marcus S. Wolff <m_swolff em hotmail.com>
>> > escreveu:
>> >
>> > De: Marcus S. Wolff <m_swolff em hotmail.com>
>> > Assunto: Re: [ANPPOM-Lista] giron: villa-lobos tinha dias de 
>> tirano
>> > Para: ppsalles em usp.br, silvioferrazmello em uol.com.br, "lista 
>> ANPPOM"
>> > <anppom-l em iar.unicamp.br>, "etnomusicologia lista"
>> > <etnomusicologiabr em yahoogrupos.com.br>
>> > Data: Sábado, 14 de Abril de 2012, 22:10
>> >
>> >
>> >
>> >
>> >
>> >
>> > Interessante a colocação do prof Pedro Paulo. Concordando com 
>> ela,
>> > sugiro a leitura da tese de doutorado de Jeanne Venzo Clément
>> > intitulada Villa-Lobos, éducateur. (Paris, Sorbonne, 1989) 
>> repleta
>> > de
>> > farta documentação, fontes primárias e secundárias, que
>> > demonstram
>> > o modo como, com o declarado objetivo de "promover a educação do
>> > bom
>> > gosto, liberando as novas gerações das influências 
>> estrangeiras"
>> > (1989: 51) e desejando despertar um "verdadeiro espírito cívico 
>> de
>> > ordem e disciplina" (idem, ibidem), o compositor/educador
>> > aproximou-se
>> > do interventor João Alberto em São Paulo, logo após a 
>> revolução
>> > de 30, mostrando a utilidade do seu projeto pedagógico. Aliás a
>> > autora não deixa os leitores pouco familiarizados com a história
>> > política brasileira esquecerem que "São Paulo foi o teatro de 
>> uma
>> > luta entre o Partido Democrático e os chefes da revolução",
>> > demonstrando a seguir como os cantos orfeônicos serviram aos
>> > interesses de
>> >  apaziguamento, vistos pelos novos donos do poder como 
>> "intenções
>> > cívicas e patrióticas". Para um maior aprofundamento  de como as
>> > chamadas "sociedades orfeônicas" sustentaram já na França do
>> > Segundo Império (séc. XIX) determinados interesses sociais e
>> > políticos nada democráticos sugiro o texto de Jane Fulcher, 
>> profa
>> > da
>> > Syracuse University intitulado "The Orphean Societies: Music for 
>> the
>> > Workers in Second Empire France" já traduzido magistralmente para
>> > nosso idioma pelo prof. Samuel Araújo. Segundo a autora,  A. 
>> Comte
>> > delineava para o Estado um papel importante na disseminação de 
>> uma
>> > cultura para os pobres, pois estava convencido de que isso viria a
>> > estabelecer uma "verdadeira paz e harmonia social", evitando-se 
>> assim
>> > as reivindicações e os distúrbios que a classe trabalhadora 
>> vinha
>> > causando. Destaca-se no projeto estético positivista, a música 
>> como
>> > a arte mais apropriada para se fazer disponível aos
>> >  trabalhadores, já que podia ser praticada em grandes grupos e
>> > aprendia até por analfabetos, fato esse que não passou 
>> despercebido
>> > pelo maestro Villa-Lobos. Como compreender tal projeto pedagógico
>> > sem
>> > considerar o contexto político que favoreceu seu desenvolvimento?
>> > Como neutralizar um aspecto da criação musical de um compositor,
>> > sem
>> > pensar nos elos que ligam o compositor a seu contexto, suas 
>> opções
>> > estético-políticas diante de uma ditadura que veio logo a 
>> seguir,
>> > seu debate com outros artistas/intelectuais que na mesma época
>> > assumiam posturas opostas (como Mário de Andrade) e sem pensar na
>> > "recepção" ( na reconstrução dos traços para usar J. Molino) 
>> de
>> > suas práticas musicais (incluindo neste campo estésico não só 
>> as
>> > obras como também seu projeto político-pedagógico) ? Bem, após 
>> a
>> > leitura desses autores, sinto-me incapaz de realizar tal 
>> operação
>> > de
>> > neutralização mas creio que nao seria essa a tarefa de um
>> > musicólogo do
>> >  nosso tempo. saudações cordiais a todos,Marcus Wolff.
>> >
>> >
>> >
>> > prof. Dr. Marcus Straubel Wolff
>> > Mestre em História Social da Cultura (PUC/RJ)
>> > Doutor em Comunicação e Semiótica (PUC/SP)
>> > Faculdades de  Música e Comunicação
>> > Universidade Candido Mendes, campi Friburgo e Rio, RJ.
>> >
>> >
>> >
>> >
>> >> Date: Fri, 13 Apr 2012 18:16:25 -0300
>> >> From: ppsalles em usp.br
>> >> To: silvioferrazmello em uol.com.br
>> >> CC: anppom-l em iar.unicamp.br; etnomusicologiabr em yahoogrupos.com.br
>> >> Subject: Re: [ANPPOM-Lista] giron: villa-lobos tinha dias de 
>> tirano
>> >>
>> >> Caro Silvio,
>> >>
>> >> foi um alento ler suas considerações, com as quais concordo
>> >> plenamente. Acrescentaria apenas que, a  partir do momento em que 
>> o
>> >> Villa propôs e coordenou um projeto de Educação Musical de
>> >> âmbito
>> >> nacional, atingindo a milhares de escolas e dezenas de milhares 
>> de
>> >> estudantes, professores e diretores de escolas, suas ações 
>> nesse
>> >> âmbito tomam um vulto considerável, que devem - é claro - ser
>> >> analisadas não no
>> >  nível da fofoca e de análises superficiais, mas no
>> >> mesmo nível que sua música merece, sempre levando em conta o
>> >> contexto
>> >> histórico e ideológico da época - como você bem apontou - e 
>> do
>> >> Estado
>> >> Novo e suas implicações.
>> >>
>> >> Forte abraço, Pedro Paulo Salles
>> >>                USP
>> >> ......................................
>> >>
>> >> Citando silvioferrazmello <silvioferrazmello em uol.com.br>:
>> >>
>> >> > Caro Carlos,
>> >> >
>> >> > Diversas das frases atribuídas a Villa-Lobos no texto são o
>> >> jargão da época.
>> >> > Não só ele mas uma multidão dizia o mesmo sobre a arte 
>> popular
>> >> e
>> >> > sobre qualquer coisa que fosse moderna.
>> >> > Não só ele mas uma turba batia em alunos, espancava colegas,
>> >> brigava
>> >> > nas ruas...
>> >> > Agora, muito do que se fala de Villa são piadas de costume e 
>> ele
>> >> > gostava que as
>> >  inventassem..
>> >> > Talvez fossem adepto da frase janista: "falem mal mas falem de
>> >> mim"
>> >> > De fato cultuava as bobagens a seu respeito, e deixava que
>> >> > proliferassem por variações e mais variações.
>> >> > Mas o que falta mesmo é sempre a referência de cada uma das
>> >> blagues,
>> >> > quem contou, quando contou, qual a ocasião em que se
>> >> > encontravam...quem? exatamente quem?
>> >> >
>> >> > Mas é triste é ver que sempre retornamos o método da fofóca 
>> de
>> >> > revista de variedades quando se trata de Villa.
>> >> > Sua composição mesmo fica em segundo plano ou fica sob a 
>> frase
>> >> "um
>> >> > grande compositor, precisa ser melhor estudado e 
>> blablablablabla".
>> >> >
>> >> > Lendo a reportagem me perguntei:
>> >> > Quem são as "professoras revoltadas pelo teu trato" da folha
>> >> > datilografada sem assinatura? Aquelas mesmas que nos batiam
>> >  nas mãos
>> >> > com réguas para mantermos o pulso no lugar qdo tínhamos aula 
>> de
>> >> > piano, ou as que nos faziam cantar o Hino Nacional com todas as
>> >> > crases e vírgulas..."cantem com as vírgulas....não esqueçam 
>> as
>> >> > crases"? ou o autor do texto acredita que eram professoras que
>> >> > trabalhavam sob o método Paulo Freire.
>> >> > O mundo era outro, a norma era outra, e um texto rápido nunca
>> >> escapa
>> >> > de ser ter grandes equívocos.
>> >> >
>> >> > Guanabarino: Que bom que ele não conseguiu conter a obra de
>> >> Villa! E
>> >> > sorte que Villa não chegava aos extremos de um Varèse,
>> >> Guanabarino o
>> >> > teria lançado literalmente à fogueira já que achincalhava 
>> tudo
>> >> que
>> >> > sua visão pré-republicana não compreendia.
>> >> >
>> >> > No mais, se Villa deu uns cascudos em Vasco Mariz, ora 
>> professores
>> >> > que davam
>> >  cascudos, professores que atiravam apagador em alunos,
>> >> > professores que nos mandavam ficar de costas no canto da sala, 
>> ir
>> >> > ajoelhar no milho, ter as mãos langanhadas por palmatórias,
>> >> escrever
>> >> > na frente de seus colegas mil vezes uma frase estúpida
>> >> > qualquer...não me parece que isto tudo tenha sido uma prática
>> >> > exclusiva de Villa-Lobos ou de minha professora de música no
>> >> ginásio
>> >> > (30 anos depois de Villa).
>> >> >
>> >> > O problema de toda leitura contemporânea é tentar analisar o
>> >> passado
>> >> > pelos padrões atuais...ora, Villa não era politicamente 
>> correto,
>> >> nem
>> >> > teria como ser, ninguém era politicamente correto.
>> >> >
>> >> > Então...já que não teremos mais que conviver com o sujeito
>> >> > Villa-Lobos, porque retomar as fofocas de vida íntima?
>> >> > Não é já passada a hora de divulgarmos
>> >  trabalhos de peso na análise
>> >> > da obra de Villa, na análise de seu contexto sócio-político, 
>> do
>> >> que
>> >> > artigos rápidos de jornal que acabam contribuindo mais ainda 
>> à
>> >> > distorção desnecessárias?
>> >> >
>> >> > Recomendo a leitura do livro de Paulo de Tarso, a biografia
>> >> escrita
>> >> > por Tarasti, as análises que Marcos Lacerda realizou dos 
>> Choros,
>> >> e
>> >> > outros tantos trabalhos que por alegria caem às mãos e que
>> >> iluminam
>> >> > um pouco do que foi abrir caminho no meio do mato para fazer
>> >> > adentrar nestas terras um pouco de música de invenção.
>> >> >
>> >> > abs
>> >> > Silvio Ferraz
>> >> >
>> >> >
>> >> >
>> >> >
>> >> >
>> >> > On Apr 6, 2012, at 7:03 PM, Carlos Palombini wrote:
>> >> >
>> >> >> via Liliane Kans (FB)
>> >> >>
>> >> >> HISTÓRIA
>> >> >> Villa-Lobos
>> >  tinha dias de tirano
>> >> >>
>> >> >> Documentos inéditos mostram que o compositor tratava mal suas
>> >> >> alunas, brigava e regia a massa com batuta de aço
>> >> >>
>> >> >> LUÍS ANTÔNIO GIRON
>> >> >>
>> >> >>
>> >> >> HOBBY
>> >> >> Villa-Lobos joga bilhar na Associação Brasileira de Imprensa
>> >> (1957)
>> >> >> Na quinta-feira 2 de junho de 1932, as professoras do
>> >> >> recém-instalado Curso de Pedagogia da Música e Canto 
>> Orfeônico
>> >> do
>> >> >> Rio de Janeiro, cansadas de receber maus-tratos do compositor
>> >> >> Heitor Villa-Lobos, redigiram uma carta anônima ao carrasco. 
>> No
>> >> >> início dos anos 1930, depois de uma década na Europa, ele
>> >> esbanjava
>> >> >> poder e surtos de estrelismo, mas isso não conteve as 
>> ofendidas.
>> >> >> 'Se continuas a ameaçar-nos com os poderes absolutos de que
>> >  te
>> >> >> prezas faremos uma representação ao Diretor Geral', ameaçam 
>> as
>> >> >> missivistas. 'Não vês que tudo é contraproducente quando o
>> >> chefe
>> >> >> não sabe ter atitudes? Não percebes que as colegas se podem
>> >> >> infiltrar desses teus modos estúpidos e passar a fazer o 
>> mesmo
>> >> com
>> >> >> as criancinhas?' Encerram o ataque com a indicação: 'As
>> >> professoras
>> >> >> revoltadas pelo teu trato'.
>> >> >>
>> >> >> A folha, datilografada e sem assinatura, encontra-se na
>> >> Biblioteca
>> >> >> Nacional, no Rio (consta do espólio do maestro Sílvio 
>> Salema,
>> >> >> assistente de Villa), e só agora vem à luz, com outros 
>> papéis
>> >> -
>> >> >> recortes, partituras, cartas e fotografias - arquivados ali e 
>> no
>> >> >> Museu Villa-Lobos. As duas instituições cariocas abrigam
>> >> documentos
>> >> >> que esclarecem a ação e
>> >  a obra do mais celebrado e executado
>> >> >> compositor erudito brasileiro. Com base nos materiais que vêm
>> >> sendo
>> >> >> vasculhados, acontece uma alteração sensível da imagem de
>> >> >> Villa-Lobos para a posteridade. O tratado definitivo sobre o
>> >> >> assunto ainda está por ser escrito, mas uma horda de
>> >> pesquisadores
>> >> >> corre e concorre para realizar a façanha. Uma silhueta 
>> diferente
>> >> do
>> >> >> músico promete delinear-se ao final da competição. Tudo 
>> indica
>> >> que
>> >> >> o 'índio de casaca', o simpático inspirador da música 
>> popular
>> >> >> brasileira - e de filmes como Villa-Lobos, uma Vida de Paixão
>> >> >> (2000), de Zelito Viana, que reduz o artista à caricatura -,
>> >> saia
>> >> >> do palco para dar lugar ao ditador agressivo, defensor da 
>> 'arte
>> >> >> elevada' contra a música popular - e sobretudo paladino de 
>> seus
>> >
>> >> >> interesses particulares.
>> >> >>
>> >> >> Inimigos íntimos
>> >> >> Críticos, professores e colegas tentaram derrubar o músico
>> >> >>
>> >> >> ATAQUES
>> >> >> O crítico Oscar Guanabarino e outros malharam o músico em 
>> vida
>> >> >> Villa-Lobos sofreu ataques desde que começou a apresentar 
>> suas
>> >> >> peças de vanguarda, no Rio, em 1918. Foi chamado de bárbaro,
>> >> louco,
>> >> >> petulante, autodidata. Durante a Semana de Arte Moderna de 22, 
>> em
>> >> >> São Paulo, foi saudado pelo público com uma saraivada de
>> >> batatas.
>> >> >> As polêmicas só escassearam no fim da década de 40, quando
>> >> obteve
>> >> >> consagração mundial com suas turnês pelos Estados Unidos e
>> >> pela
>> >> >> Europa e conseguiu calar quase todos os opositores. O maior 
>> deles
>> >> >> chamava-se Oscar Guanabarino (1851-1937). Esse
>> >  professor de piano e
>> >> >> folhetinista atuou como flagelo do modernismo e do 
>> nacionalismo.
>> >> Fã
>> >> >> do canto lírico de Carlos Gomes, iniciou fama de mal-humorado
>> >> por
>> >> >> volta de 1890, ao atacar os primeiros músicos que usavam o
>> >> folclore
>> >> >> em suas peças. Quando Villa-Lobos apareceu com suas suítes
>> >> >> sincopadas e dissonantes, o velho crítico fulminou-o com todo 
>> o
>> >> seu
>> >> >> arsenal de conceitos. Os dois chegaram a trocar bengaladas em 
>> um
>> >> >> concerto nos anos 20. Guanabarino atacou-o até morrer. Na 
>> coluna
>> >> >> Pelo Mundo das Artes, do Jornal do Commercio (uma das últimas 
>> a
>> >> >> levar a rubrica de 'folhetim'), em 1934, comentou uma festa
>> >> >> orfeônica organizada pelo compositor informando que 'a
>> >> concorrência
>> >> >> foi diminutíssima - apenas 100 pessoas na platéia, se tanto, 
>> o
>> >> que
>> >
>> >> >> quer dizer que o público rejeita o sr. Villa-Lobos e a sua
>> >> música,
>> >> >> mesmo quando lhe é oferecida gratuitamente'. Guanabarino
>> >> inspirou
>> >> >> novos rivais, como Gondim da Fonseca e Carlos Maul 
>> (1887-1971).
>> >> >> Este último publicou, em 1962, o ensaio A Glória Escandalosa 
>> de
>> >> >> Villa-Lobos.  Ali, acusava o compositor de haver rapinado o
>> >> >> folclore. Villa-Lobos achava graça das acusações. A
>> >> posteridade não
>> >> >> as levou a sério. #Q#
>> >> >> Reprodução
>> >> >>
>> >> >> HUMILHADAS
>> >> >> Integrantes do Orfeão dos Professores redigiram em 1932 uma
>> >> carta
>> >> >> (acima) ameaçando o regente Heitor Villa-Lobos
>> >> >> Os documentos, examinados com exclusividade por ÉPOCA, dão
>> >> conta de
>> >> >> que Villa-Lobos possuía um gênio incontrolável e não 
>> recuava
>> >> ante
>> >>
>> >  >> nenhum tipo de obstáculo. Exemplo disso é a advertência das
>> > alunas
>> >> >> que constituíam o Orfeão dos Professores sobre sua falta de
>> >> >> didática. A carta, se foi recebida (não há evidências a 
>> esse
>> >> >> respeito), não surtiu efeito, porque o regente defendia como
>> >> >> expedientes o rigor para adultos e a palmatória para 
>> crianças.
>> >> >> Assim aconteceu num ensaio ao ar livre, na frente do prédio 
>> de
>> >> seu
>> >> >> Conservatório de Canto Orfeônico, na Praia Vermelha, em 
>> meados
>> >> de
>> >> >> 1936. O músico, trajado com uma espalhafatosa casaca 
>> colorida,
>> >> >> tentava reger um coral de milhares de meninos. Um grupo mais
>> >> >> barulhento não se aquietava, nem com a intervenção de um
>> >> escoteiro
>> >> >> encarregado de organizar a multidão. A garotada começou,
>> >> então, a
>> >> >> brigar. 'Villa saiu do
>> >  pódio furioso e acabou com a bagunça,
>> >> >> distribuindo cascudos para todo lado', lembra o tal escoteiro,
>> >> que
>> >> >> viria a se tornar o mais importante biógrafo de Villa-Lobos:
>> >> Vasco
>> >> >> Mariz. 'Até eu levei um!'Aos 82 anos, o embaixador aposentado 
>> e
>> >> >> musicólogo carioca orgulha-se de ter travado relações anos
>> >> depois
>> >> >> com Villa-Lobos e feito sua biografia. Publicada pela primeira
>> >> vez
>> >> >> em 1949 pelo Itamaraty a partir de seis meses de entrevistas 
>> com
>> >> o
>> >> >> compositor, Villa-Lobos, Compositor Brasileiro chegará à 
>> 12ª
>> >> edição
>> >> >> no próximo ano pela editora Francisco Alves, com acréscimos
>> >> como
>> >> >> cartas, iconografia, os episódios em torno das 
>> concentrações
>> >> >> orfeônicas e atualização biográfica e discográfica, já 
>> que
>> >> a vasta
>> >> >> obra do compositor nunca foi tão
>> >  executada e estudada no mundo. São
>> >> >> duas centenas de gravações recentes, além de 70 livros 
>> sobre o
>> >> >> artista. A primeira edição da biografia de Mariz desagradou 
>> ao
>> >> >> biografado por causa da passagem do cascudo. 'Villa se 
>> distanciou
>> >> >> de mim por um bom tempo, porque achava que eu o tinha descrito
>> >> como
>> >> >> violento', revela o biógrafo. 'Foi um caso divertido e, 
>> quando
>> >> lhe
>> >> >> contei, Villa deu gargalhadas. Ao ler, mudou de idéia. 
>> Depois,
>> >> por
>> >> >> meio de sua mulher, Mindinha, fizemos as pazes. Mesmo com 
>> modos
>> >> >> grosseiros com quem dependia dele, foi muito amado.'
>> >> >>
>> >> >> PRINCIPAIS OBRAS
>> >> >>
>> >> >> Segundo o gênero
>> >> >>
>> >> >> 6 Óperas
>> >> >> 12 Sinfonias
>> >> >> 13 Peças para violão-solo
>> >> >> 13 Poemas
>> >  sinfônicos
>> >> >> 17 Quartetos de corda
>> >> >> 27 Concertos
>> >> >>
>> >> >> Estranho homem esse, capaz de maltratar os alunos, despertar o
>> >> ódio
>> >> >> da crítica, e, ainda assim, ser admirado. Mariz caracteriza-o
>> >> como
>> >> >> um eterno menino, pronto para cometer uma traquinagem ou um 
>> gesto
>> >> >> ditatorial. Rebate, no entanto, a acusação que lhe fazem os
>> >> >> acadêmicos atuais de que era um colaborador do fascismo de
>> >> Vargas.
>> >> >> 'Ele não tinha cor política', lembra o estudioso. 'Queria
>> >> divulgar
>> >> >> sua música. Vaidoso, não tinha paciência com a 
>> mediocridade.
>> >> Mas,
>> >> >> se você soubesse manobrá-lo, conseguia tudo dele.'
>> >> >>
>> >> >> Para a pesquisadora Mercedes Reis Pequeno, autora da 
>> monumental
>> >> >> Bibliografia Musical Brasileira (disponível na internet no 
>> site
>> >>
>> >  >> www.abm.org.br), simpatizar com o compositor podia ser 
>> difícil.
>> >> >> 'Era de temperamento muito desigual e não conquistava à
>> >> primeira
>> >> >> vista. Muito seguro de seu valor, convencido mesmo, mas ao 
>> mesmo
>> >> >> tempo, em certas circunstâncias, quase ingênuo. Mas, quando
>> >> >> confiava, era para valer. Inimigos, quem não os tem nessa 
>> vida?'
>> >> >>
>> >> >> #Q#
>> >> >> Fatos da vida do autor das 'Bachianas'
>> >> >> Nascido em 5 de março de 1887 em uma família de classe 
>> média,
>> >> >> Villa-Lobos, ou Tuhu, seu apelido, não teve educação 
>> formal. O
>> >> pai,
>> >> >> Raul, era músico amador e lhe ensinou as primeiras notas
>> >> >> 	1922 ? ENFANT TERRIBLE
>> >> >> Brilhou e foi vaiado na Semana de Arte Moderna de São Paulo
>> >> >> 1926 ? EM PARIS
>> >> >> Conviveu com músicos de vanguarda como
>> >  Edgard Varèse (à esq.)
>> >> >> 	1932 ? NO RIO
>> >> >> Fundou o Orfeão dos Professores. Seu assistente era o maestro
>> >> >> Sílvio Salema (foto de 1952)
>> >> >> 1940 ? MULTIDÃO
>> >> >> Um coral de 40 mil alunos cantou no estádio do Vasco, sob
>> >> direção
>> >> >> do músico (no alto, ao microfone)
>> >> >> 	1955 ? CONSAGRAÇÃO
>> >> >> Rege a Orquestra da Filadélfia durante ensaio em uma de suas
>> >> turnês
>> >> >> pelos Estados Unidos
>> >> >> 1959 ? FINALE
>> >> >> Lançou a última peça, Concerto Grosso, para Orquestra de
>> >> Sopros.
>> >> >> Morreu de câncer no Rio, em 17 de novembro	#Q#
>> >> >> O músico lancetou-os com a ponta da batuta afiada - e, às
>> >> vezes, do
>> >> >> taco de bilhar, seu passatempo favorito. Começou por estocar 
>> os
>> >> >> compositores populares, ou, como preferia, folclóricos. No
>> >> início
>> >
>> >> >> da década de 40, por exemplo, chamou o samba-exaltação
>> >> 'Aquarela do
>> >> >> Brasil', de Ari Barroso, de oportunista. Escreveu que a 
>> música
>> >> >> folclórica não passava da 'acepção mínima' da música. 
>> Oque
>> >> não o
>> >> >> impediu de se aproveitar de temas dos chorões com quem havia
>> >> tocado
>> >> >> em noitadas na juventude, como o de 'Rasga Coração', com
>> >> melodia de
>> >> >> Anacleto de Medeiros e letra de Catulo da Paixão Cearense, 
>> base
>> >> >> para os 'Choros no 10' (1925), para orquestra e coro. Por 
>> conta
>> >> da
>> >> >> apropriação, ele amargou um processo de plágio, do qual 
>> veio a
>> >> ser
>> >> >> inocentado só depois da morte.
>> >> >>
>> >> >> 'Villa-Lobos não gostava de música popular, como querem 
>> muitos
>> >> >> estudiosos', afirma o musicólogo Flávio Silva, que há dois
>> >> anos
>> >> >> pesquisa os
>> >  papéis do compositor e se candidata a ser um dos
>> >> >> primeiros a chegar à esperada grande interpretação. 'O 
>> canto
>> >> >> orfeônico formava sua plataforma e seu ponto de honra.
>> >> Distinguia a
>> >> >> 'música elevada' da restante. É engano pensar que ele 
>> gostava
>> >> do
>> >> >> som recreativo.'
>> >> >>
>> >> >> Até hoje raramente abordado, o período em que o músico
>> >> implementou
>> >> >> projeto do canto orfeônico - de 1930 a 1945, os dois 
>> primeiros
>> >> anos
>> >> >> em São Paulo e o restante no Distrito Federal - é o mais 
>> rico
>> >> em
>> >> >> intrigas, manifestações e atos públicos em torno das 
>> idéias
>> >> do
>> >> >> compositor. Aos poucos, ele ganha perspectiva histórica. 
>> Também
>> >> foi
>> >> >> o momento em que Villa-Lobos, na chefia da trilha sonora da
>> >> >> ditadura Vargas, feriu o  maior número de pessoas, de
>> >> normalistas a
>> >
>> >> >> críticos profissionais. Recebeu o troco e sua produtividade
>> >> cresceu
>> >> >> na razão direta dos contra-ataques. Ela se revelou tão 
>> intensa
>> >> que
>> >> >> ainda hoje estão para ser descobertos discos e partituras que
>> >> ele
>> >> >> produziu com diversos coros. Com uma bolsa da Fundação 
>> Vitae,
>> >> >> Flávio Silva levantou 20 gravações, inclusive pelo Orfeão 
>> dos
>> >> >> Professores. 'Algumas gravações têm qualidade,  e o grupo
>> >> conseguiu
>> >> >> bom desempenho', julga.
>> >> >>
>> >> >>
>> >> >> 'Proclamo o valor de todas as manifestações populares da
>> >> música
>> >> >> como quem cultiva uma fonte de essências originais, nunca
>> >> >> apresentando-a como expressão de um povo civilizado'
>> >> >>
>> >> >> HEITOR VILLA-LOBOS,
>> >> >> discurso em 15 de outubro de 1939
>> >> >>
>> >>
>> >  >> O resultado só podia ser obtido pela mão forte do regente, 
>> que
>> > se
>> >> >> fazia sentir no moral das professoras e na moleira da 
>> criançada.
>> >> >> Seu sonho, ou 'plano de ataque', como dizia, era despertar o
>> >> >> interesse dos jovens e formar um público para a sua música 
>> por
>> >> meio
>> >> >> do canto coletivo. Com o Guia Prático - 137 peças para 
>> diversas
>> >> >> formações -, desejava espalhar corais pelo Brasil em
>> >> manifestações
>> >> >> cívicas em grandes estádios. A prática coral nas escolas 
>> não
>> >> visava
>> >> >> a grandes artistas, mas a preparar o gosto comunitário para 
>> uma
>> >> >> 'fisionomia musical brasileira', como disse em discurso que
>> >> >> pronunciou no salão Assírio do Teatro Municipal do Rio em 15 
>> de
>> >> >> outubro de 1939, segundo original da Biblioteca Nacional: 'Sei
>> >> bem
>> >> >> que o gosto e a
>> >  opinião pública não se impõem, mas educam-se'. O
>> >> >> projeto, contudo, murchou aos poucos. Todos os especialistas
>> >> >> entrevistados fazem uníssono ao dizer que a situação da
>> >> educação
>> >> >> musical nas escolas brasileiras é péssima, quando não
>> >> inexistente,
>> >> >> e a lição de Villa-Lobos foi esquecida, bem como suas 
>> idéias.
>> >> Ele
>> >> >> perdeu a guerra para a música popular por força do rádio, 
>> que
>> >> >> consagrou o samba e jogou a arte erudita ao segundo plano.
>> >> >>
>> >> >> 'Villa-Lobos escreveu e defendeu muitas bobagens', diz Flávio
>> >> >> Silva. 'Poucas idéias dele se sustentam hoje.' Sua herança 
>> se
>> >> >> concentra na obra, embora a maior parte dela ainda precise ser
>> >> >> divulgada. O público brasileiro não conhece mais que uma 
>> dezena
>> >> de
>> >> >> melodias do compositor - não por
>> >  acaso, quase todas escritas no
>> >> >> período em que o maestro, vulto oficial, tangia professoras e
>> >> >> alunos para os estádios.
>> >> >>
>> >> >> Fotos e reproduções dos textos: Biblioteca Nacional/Divisão 
>> de
>> >> >> Música e Arquivo Sonoro
>> >> >>
>> >> >>
>> >> 
>> http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR59656-6011,00.html
>> >> >>
>> >> >> --
>> >> >> carlos palombini
>> >> >> www.researcherid.com/rid/F-7345-2011
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